Chiquitito Coração escrita por Nadia Luz


Capítulo 3
Capítulo 3




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— Ai Carol – disse ela, mais tarde, quando todas estavam se arrumando – eu to com dor de garganta! Acho que não vou pode ir no baile.

— Ué minha princesa, mas você estava se sentindo bem até agora! Deixa eu ver – disse a moça, se aproximando da pequena, lhe pedindo que abrisse a boca e colocasse a língua para fora. Não viu nada estranho. – Parece tudo bem meu amor.

— Pra mim a Dani só está inventando essa dor pra não deixar a Maria sozinha em casa com a Carol – disse Tati. Dani mostrou a língua em retorno.

— Não é! Eu to com dor na garganta!

— Tudo bem meninas, se você prefere assim minha princesa, tudo bem.

— Ai que boba Dani, vai perder um festão! – disse Ana

— Tudo o que ela faz é bobo

— Bia! – repreendeu Mili.

A noite chegou, todos foram para a festa e Carol ficou sozinha com as pequenas no orfanato. Ernestina, Cintia e Carmen queriam continuar com as suas buscas pelo tesouro e não contavam com a presença de Carolina na casa. Quando Ernê disse que ela cuidaria das meninas, que ela poderia ir pra casa, ela se recusou. Por isso Ernestina as trancou no quarto. Maria não conseguiu se divertir. Carol sugeriu que elas assistissem um filme, mas Dani não deixava que ela escolhesse. Depois foram montar quebra-cabeça, mas a Dani não deixava a Maria colocar as peças. Mas isso tudo já era tanto perto do que ela já teve durante toda a vida, que ela ainda assim ficava feliz e satisfeita. Logo ela começou a se sentir um pouco cansada. Mais cansada do que o normal. Ela sentiu como se fosse cair e por isso segurou no braço de Carol.

— Oi pequena – disse ela, antes de olhar para a menina. Quando olhou notou que tinha algo errado – pequena?

— Solta o braço da Carol! Só eu posso segurar o braço dela – disse Dani, pegando o braço de Maria e tirando-o a força, fazendo com que a caçula voltasse a sentir a tontura e se desiquilibrasse.

— Daniela, já chega! Dá licença! – disse Carol, indo ao encontro da pequena e notando como ela estava pálida. Segurou sua mão e notou que ela estava tremendo, por isso a pegou no colo e a colocou em sua cama. – Princesa eu vou buscar um suquinho pra você tá bom? E vou ligar para o Fernando. – ela disse, depois de se certificar se ela não estava com febre.

— Ai Carol! – disse Dani se sentando na cama de Tati e forçando uma tosse – eu to passando mal. – Carol olhou para a mais velha que conhecia como a palma de sua mão e sabia que ela estava mentindo.

— Eu vou buscar o celular para chamar o Fernando e ele vai te examinar também Dani – disse ela, sabendo que era a melhor saída.    Quando tentou abrir a porta, notou que estava trancada e sentiu um frio na barriga. – Dani, você trancou a porta?

— Não! Por quê? – perguntou a menina, parando de fazer drama, por ter sentido na voz de Carol que algo era sério. Ela podia ser muito mimada e carente, as vezes até maldosa, mas era uma boa menina.

— Não está abrindo, estamos trancadas para dentro! Ernê! Chico! – gritou ela batendo na porta. Ela correu novamente até a cama de Maria e notou que ela estava aparentemente dormindo. Sentiu que suas mãos estavam muito geladas e quando ela a chacoalhou ela percebeu que a pequena tentava abrir os olhos, mas continuava inconsciente. Ela começou a ficar muito preocupada.

— Carol, o que tá acontecendo?

— Eu não tenho certeza princesa, mas precisamos abrir essa porta de algum jeito!

As duas bateram e gritaram na porta chamando por alguém e ninguém parecia ouvir. Carolina sentiu o desespero chegando e Dani ficou assustada, sem saber o que fazer, começou a chorar. Finalmente Chico ouviu os gritos e subiu correndo para saber o que estava acontecendo. Ele destrancou a porta que tinha sido trancada por fora e viu Carol saindo em disparada, até a sala para pegar o celular que tinha deixado em sua bolsa e ligou para o Fernando.

— Alô, meu amor!

­— Fernando, você pode vir aqui?

— O que aconteceu Carol? Pensei que queria ter um tempo com as meninas...

— É a Maria. Eu não sei se é alguma coisa grave, mas ela não está bem.

— O que aconteceu? – perguntou ele já vestindo seu sapato para ir até o orfanato, que ficava em frente a sua casa.

— Eu não sei, eu não tinha notado nada... e ela não fala, eu devia ter prestado mais atenção, mas...

— Carol, você não tem culpa, mas preciso que me conte o que houve.

— Eu não sei, estávamos montando o quebra-cabeça e ela de repente se segurou no meu braço com força. Quando eu vi, percebi que estava extremamente pálida e parecia que ia desmaiar. Ela ficou tonta, quase caiu e então eu a coloquei na cama.

— Mais algum sintoma?

— Ela estava com as mãozinhas extremamente frias e não conseguia se manter acordada

— Você notou algo estranho na respiração?

— Não sei, parecia estar respirando rápido. Eu disse que ia pegar um suco e alguma coisa pra ela comer, porque achei que podia ser a pressão baixa.

— Faça isso amor, eu já to chegando.

Carol desligou o celular e correu até a cozinha. Percebeu o quanto estava nervosa quando quase derrubou o suco, por estar com a mão tremendo. Ficou assustada porque o Fernando não tentou acalma-la, nem disse que não era nada. Quando voltou a subir encontrou Dani muito assustada e Chico sentado ao lado da cama de Maria.

— Como ela está?

— Ela está conseguindo ficar acordada – respondeu ele. – Mas tá toda molinha.

— Como assim molinha? – disse ela se aproximando.

— O que ela tem Carol?

— Não é nada meu amor – disse ela para a Dani e em seguida assumindo o lugar de Chico ao lado de Maria. Ele segurou o copo de suco e o biscoito salgado que ela havia trazido. – tudo bem minha princesa, já vai passar. Vamos comer esse biscoitinho pra essa sensação ruim passar, certo?

A menina estava sem o mínimo apetite e estava prestes a recusar a comida quando ouviram a campainha. Chico pediu que Dani fosse abrir a porta e logo ela voltou na companhia do Fernando.

— Oi amor – disse Carol

— Oi!! – disse ele, já voltando a atenção para a pequena – o que temos aqui, hein? – Carolina lhe cedeu seu lugar ao lado da menina – o que a minha princesinha tá sentindo?

Ele pegou seu estetoscópio e começou a examinar a pequena.

— Respira fundo e solta – ela fez o que ele pediu e voltou a sentir-se muito cansada, fechando os olhos – Maria, olha aqui pro tio Fernando. Você tá com sono? – ela concordou. – Você já comeu os biscoitos que a Carol trouxe? Ahh, mas eles são tão gostosos! E você precisa comer!

Ele fez com que ela comesse os biscoitos e tomasse o suco, enquanto ele tirava mais uma amostra de sangue de seu braço. De repente a menina começou a ter uma crise, não conseguia respirar direito e ele foi ao seu socorro imediatamente. Logo percebeu o que poderia ajudar e alcançou em sua maleta uma bombinha asmática, aplicando na boca da menina, instruindo-a sobre como aspirar o remédio. Logo a crise passou e ele disse que ela precisava descansar. Ela nem pareceu ouvir o que ele tinha dito, porque já estava adormecida. Todos saíram do quarto para que pudessem apagar as luzes.

— Fala Fernando, o que tá acontecendo?

— Carol, tudo o que eu posso dizer são suspeitas, fortes suspeitas, mas ainda assim preciso dos exames para confirmar.

— Tá, mas suspeitas de que?

— Eu acredito que o problema de imunidade da Maria, que é uma condição que com o tempo pode tornar-se um problema autoimune, ainda que em situações isoladas, tenha evoluído em algum aspecto específico que lhe atacou o coração.

— O coração? Ai meu Deus

— É... Parece que isso está causando uma insuficiência cardíaca. Por isso ela se sente fraca e tem as extremidades frias. A crise respiratória também é comum nesses casos. Mas eu preciso dos exames para saber em que nível de desenvolvimento estas condições se encontram.

— Ela estava indo tão bem! O que aconteceu? – disse Carol, passando as mãos no cabelo, preocupada.

— Carol, você fez tudo certo, ela estava mesmo indo bem, e ainda está! Ela já ganhou bastante peso, cresceu 1cm e diminuiu muito o índice de anemia. Só que isso é uma característica do organismo dela, que nós vamos aprender a cuidar e ela vai continuar tendo uma vida normal. Amanhã vamos leva-la para fazer os exames e aí vamos ter certeza de como agir, tá bom? Vem cá – ele disse abraçando sua namorada. – vai dar tudo certo.

— Eu sei, eu sei. É que... eu me preocupo Fernando. Com ela tudo parece diferente, eu não só quero que ela seja feliz, eu preciso que ela seja feliz.

— Eu sei meu amor, eu sei. Ela chegou aqui há alguns meses e mudou as nossas vidas e nós prometemos que nunca vamos deixar ela sofrer de novo. E é isso que estamos fazendo.

— Eu amo ela Fernando

— Eu também e muito! Ela tem esse poder de encantar a gente! E eu te garanto que ela é e sempre vai ser a minha prioridade, eu juro.

— Grata meu amor – disse ela, recebendo um selinho.

— O que é que tá acontecendo aqui? – perguntou Ernestina entrando na sala, deixando Carolina enfurecida.

— O que tá acontecendo é que alguém trancou a porta do quarto e a Maria passou mal, isso é o que tá acontecendo.

— Nossa, mas como isso foi acontecer? A mudinha tá bem?

— Você toma cuidado com o jeito que fala da Maria – disse o Fernando – amor, não vale a pena discutir agora, tá tudo bem.

— Então beleza – disse a zeladora – eu to indo buscar a pirralhada na festinha. Quando eu voltar fico de olho na mudinha, podem ir descansar.

— Mas nunca! Hoje eu vou dormir aqui com ela, daqui eu não saio.

— E onde você pretende dormir? Na cama das meninas?

— Tem duas camas sobrando lá Ernê.

— Você que sabe. – disse ela saindo.

— Amor – disse Fernando depois de Ernestina sair – eu não acho uma boa ideia, pode ficar estranho para as meninas e elas podem ficar preocupadas.

— Mas eu não posso deixar ela aqui Fernando.

— O que você acha de levarmos ela lá pra casa? Tem o quarto de visitas e ela pode ficar lá e você dorme comigo. Aí amanhã cedo já vamos fazer os exames pra acabar logo com isso.

— Acho que é uma boa ideia. É... pode ser! Eu vou arrumar as coisas dela então e depois eu vou explicar pra Dani.

— Eu vou subir com você.

Os dois subiram novamente para o quarto e Fernando sentou no chão ao lado da cama de Maria, fazendo carinho em seu rosto e no seu cabelo, com um carinho e uma admiração tão grandes, que quando Carol viu sorriu emocionada. Ela gostava se saber que ele realmente entendia o que ela a fazia sentir. Os dois sentiam o mesmo amor por aquela menina. Ela pegou uma muda do uniforme da menina, sem conseguir deixar de notar como ele era pequeno perto de todos os outros. Pegou uma calcinha, as meias, o tênis e foi até o banheiro para pegar sua escova de cabelo, a escova de dentes. Desceu até a cozinha para pegar uma medida de nutrem e as vitaminas para o café da manhã da menina. Quando terminou de juntar tudo procurou a Dani, que estava assistindo a TV junto com o Chico para se distrair.

— Oi minha princesa, posso falar com você? – o Chico se levantou para deixa-las a sós, mas Carol mencionou gestualmente que não era necessário.

— Pode – respondeu a menina simplesmente.

— Eu vou levar a Maria para dormir lá na casa do Fernando.

— Por quê? Você vai junto?

— Eu vou junto sim, eu preciso ir.

— Ah Carol não é justo! Você só liga pra ela!

— Não é nada disso meu amor, eu te amo e sempre estou com você quando você precisa, não é? – a menina concordou – então, é a mesma coisa com a Maria. Ela está doentinha e precisa de cuidados, amanhã vamos leva-la lá no hospital.

— Ela vai ficar bem?

— Vai sim minha linda, não se preocupe

— Foi culpa minha? Por que eu empurrei ela?

— Claro que não foi culpa sua – disse Carol abraçando sua amadinha – vai ficar tudo bem, amanhã quando você voltar da escola ela já vai estar aqui de novo.

— E você?

— Eu também! Vou estar bem aqui e te encher de beijinhos. – disse ela enchendo a menina de beijinhos.

— Eu posso assistir mais um pouco de TV?

— Pode. A Ernê foi buscar todo mundo no baile, então o Chico já está avisado que quando eles chegarem você vai pra cama, combinado? – a menina concordou e com isso Carol pegou a bolsa que tinha preparado para a caçula e voltou até o quarto. Quando entrou encontrou Fernando sentado ali, exatamente como estava quando saiu, olhando exclusivamente para a menina, acariciando seu rosto e cantando uma música baixinho. Parecia o pai dela e isso a fazia sentir-se mais atraída por ele. Passou ligeiramente pela sua cabeça a imagem dos três como uma família. Foi sem querer, mas mesmo assim a fez sorrir. – Eu to pronta – sussurrou ela, chamando a atenção do namorado. Ele apenas concordou e se levantou, pegando a caçula no colo com o maior cuidado do mundo.

— Me ajuda aqui com a coberta – ele sussurrou – é melhor garantir que ela não tome friagem. – Carol foi até o armário e pegou uma mantinha menos pesada do que a que estava na cama e colocou sobre a menina. Os dois seguiram caminho até a casa dele. Quando chegaram Carol pegou as chaves no bolso do namorado que estava com as mãos ocupadas e abriu o portão e a porta, abrindo caminho para que ele entrasse com a garota. Depois de trancar o portão Carol entrou e seguiu Fernando até o quarto de visitas, onde encontrou seu namorado acomodando a pequenina na cama, por baixo das cobertas. Ele terminou de cobri-la e então lhe deu um beijo na testa. Carol deixou a bolsa na poltrona do outro lado do quarto e fez o mesmo. – Vem amor, você também precisa descansar – disse ele, apagando a luminária e levando a namorada para o quarto.


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