— Você está bem? – Ben estalou os dedos na frente do seu rosto e sorriu, quando Lana desnuviou sua mente e o encarou – Em que mundo estava?

Ela forçou um sorriso e desviou o rosto, piscando confusa pro livro sobre suas pernas, por um instante as palavras ficaram emboladas e ela não conseguia ler nada, a não ser as palavras Céu e Inferno, curiosamente. Ergueu o rosto pro garoto de novo.

— Tentando entender isso, mas parece grego pra mim.

Ben olhou por sobre o ombro dela, para o exemplar velho de Divina Comédia que Lana tinha pegado na biblioteca. Teria uma prova sobre ele dali a uma semana e não sabia quase nada da sua história, seu trabalho, como esperou, foi feito as pressas e não tinha conseguido metade dos pontos que ele valia. Pelo menos Thor estava igualmente ferrado, era esse seu único consolo.

— É um pouco confuso, também passei por isso ano passado quando o professor decidiu mandar fazer uma analise sobre ele – Ben continuou – essa parte que você está lendo, Dante está na verdade descrevendo o inferno, sabe, como comedia ele começa triste e termina feliz, quando Dante alcança o paraíso.

— Parece fácil assim – ela murmurou verdadeiramente agradecida.

Ben deu de ombros, recostando-se no banco, voltando pra sua posição original.

Lana sutilmente olhou ao redor, já estava acostumada em ter a sensação de está sendo observada, mas pela primeira vez não encontrara Thor, semiescondido, com seus olhos estreitos como quem estava tentando decifrá-la, longe de deixa-la segura ou confortável, seu novo comportamento a estava assustando. E se ele tivesse mexido com o beijo de ontem? Por isso a estava evitando? Era bem mais simples lidar com o Thor que tinha conhecido ali, o prepotente e cínico, do que com um Thor atraído e evasivo, ela não sabia o que encontrar nesse Thor, e a resposta a deixava preocupada.

— Está viajando de novo – a voz descontraída de Ben murmurou ao seu lado, Lana voltou seus olhos pra ele rapidamente – Está pensando em Luce?

Luce? A garota que subitamente começou a evita-la e discretamente odiá-la?

— Ela não fala mais comigo – ela murmurou não conseguindo esconder sua voz magoada.

A expressão de Ben murchou um pouco.

— Sabia que isso aconteceria depois daquele dia...

— Que dia?

— Na festa, quando você beijou o Isaac.

Lana fechou o livro, decididamente deixando-o de lado.

— Vocês viram?

— E quem não viu? Vocês não foram exatamente discretos sabe. – Ben olhou pros lados, como querendo averiguar se estavam mesmo sozinhos – Luce com certeza te falou sobre ele, ela sempre faz isso, parece sua missão pessoal manter todos os amigos afastados do Isaac.

— Sim mas...

— Você tem que aprender duas coisas sobre aquela cabeça de cenoura. Primeira, ela realmente odeia o Isaac, segunda, ela é muito protetora com seus amigos, se ela te avisou e você a ignorou provavelmente se sentiu traída, por isso está te evitando.

De todas as razoes que havia passado por sua cabeça, curiosamente, Lana não pensara nessa, e agora parecia tão obvio, ela se sentiu a pior pessoa do universo, havia traído Luce pelo que mesmo? Ah sim, três minutos de um beijo molhado que nem lembrava mais. Ela era patética.

— Você sabe onde ela está? – perguntou, voltando seus olhos pra Ben, ele a encarava satisfeito.

— Na sala dos representantes, primeira porta no primeiro piso do prédio educacional.

Educacional era como eles chamavam o prédio onde ficava a biblioteca e as salas de aula. Lana sorriu pra ele e ficou de pé, agradecendo enquanto quase corria pelo jardim, não foi difícil achar a porta que Ben tinha apontado, ela estava entreaberta, Lana parou por um segundo e respirou fundo, refazendo o discurso de desculpas que viera pensando no caminho até ali, quando colocou a mão timidamente na porta pronta pra empurrá-la uma voz alterada e familiar a parou. Luce estava gritando com alguém.

— Eu quero que você se exploda! Estou pouco me lixando pro que você acha que sabe sobre mim!

Lana encarou a barreira de madeira, pronta pra dar meia-volta, mas quando identificou a segunda pessoa ali, ela parou estática. Ele também estava alterado.

— Você é uma covarde. Uma estupida. Não é porque nos tivemos alguma porcaria no passado que isso significa que tenho que te dá algum tipo de satisfação.

— Não o quero perto dos meus amigos, não o quero me rodeando, não...

Luce tinha sido interrompida. Antes que Lana pensasse duas vezes no que estava fazendo ela pressionou sua mão com mais força e a porta cedeu sob seu toque. No centro da sala, rodeados de cartazes e mesas vazias, Isaac pressionava o rosto de Luce contra o seu, ele era tão mais alto que ela, precisava se curvar, mas isso não parecia incomodá-lo ou impedi-lo de beijá-la. Ali.

Eles tinham algo. É claro. Porque mais Luce teria ficado tão enfurecida pelo beijo que aconteceu entre eles? Ou o odiava tanto? Parecia tão obvio agora, mas mesmo assim Lana estava parada, vendo quando Luce gritou e o afastou pra longe, viu o rosto decepcionado de Isaac, extremamente magoado, e ela lembrou do beijo entre eles e não conseguiu evitar aquela sensação amarga de ter sido usada.

Luce limpou o rosto com as costas da mão e virou pra porta, pela primeira vez dando-se conta de sua presença ali. Lana girou nos calcanhares e correu, ignorando os chamados nas suas costas, encontrando com alivio seu quarto e trancando a porta com afinco.