Cristal escrita por Mia


Capítulo 8
Capítulo 7 - Loucura Lùcida


Notas iniciais do capítulo

Hello /



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— Entre.

Lana recolheu seu punho e girou a maçaneta, enfiando sua cabeça na sala. Tarcísio estava sentado atrás da mesa de mogno simples, com os braços apoiados nos braços da sua cadeira e uma expressão confortável no rosto enquanto encarava Luce, encolhida a sua frente.

— Pode entrar – ele murmurou.

Lana entrou de vez na sala, evitando expressar a surpresa que sentia. Quando perguntou a Tatiane onde o professor poderia está a recepcionista deu a entender que estava sozinho, não com Luce, e pela maneira raivosa que era encarada pela garota Lana chegou a pensar se seria o assunto da conversa que tinha interrompido.

— Queria falar mesmo com você Lana – Tarcísio começou, inclinando-se enquanto exibia um sorriso, seu óculos sem aros estava em cima da mesa e ele parecia menos velho do que tinha visto mais cedo na sua aula. A maneira como sorria e como seus olhos castanhos a fitavam fazia parecer que ele não era tão mais velho que Alec, seu irmão. – Você pode sentar, por favor?

Lana olhou pra Luce que ocupava a outra única cadeira da sala.

— Mas Luce...

— Ela já estava de saída – Tarcísio olhou pra ela sugestivamente e seu sorriso desapareceu.

Luce suspirou audivelmente antes de ficar de pé e abandonar sua sala, fechando a porta com demasiada força.

— Veio entregar o trabalho? – Tarcísio perguntou quando Lana tinha permanecido estática, parada perto da porta.

Ela olhou pra folha que tinha trago e em um estalo lembrou do que deveria fazer ali. Aproximou-se da mesa e colocou seu trabalho timidamente perto das outras folhas.

— Se o senhor ainda receber, sim.

Tarcísio a pegou, analisando com uma atenção clinica e perspicaz, ergueu seus olhos pra Lana e ele estava sério outra vez.

— Você fez o trabalho sozinha?

— Ah... Sim.

— Então por que colocou o nome de Thor?

— Ele era minha dupla – deu de ombros – parecia certo colocar.

Não tinha sido só isso, é claro, ele a tinha ofendido e silenciosamente a atormentado por horas quando estava na biblioteca, tentando a todo custo terminar uma síntese e ler o livro ao mesmo tempo, parecia ser a solução mais obvia riscar seu nome e deixa-lo sem nota, mas Lana não queria chateá-lo, talvez o gesto nobre – e deveras idiota – o fizesse enxergar que ela estava se esforçando e então seria deixada em paz, mesmo que ele parecesse não se importar com algo tão irrelevante como a nota de um trabalho de Literatura.

— Sei... – Tarcísio resmungou, deixando seu trabalho onde estivera. O professor ergueu o rosto novamente, encostando-se na cadeira grande e acolchoada – Por que saiu daquele jeito da minha aula Lana?

— Eu... Estava passando mal – não era uma mentira ao todo – desculpe ter saído sem avisar.

— Você foi á enfermaria?

— Não professor. Estou melhor agora.

Tarcísio estreitou seus olhos.

— Lana... Thor tentou algo contra você? Ou qualquer outro aluno? Ele é o tipo de sujeito que deve manter distância, mas você já deve saber disso.

Eu sei. E estou tentando.

— Professor... O que o senhor realmente sabe sobre ele?

Tarcísio pareceu vacilar por um instante, pego de surpresa por sua pergunta repentina, como Lana também estava, mas ela queria desesperadamente saber porque um professor deveras ocupado estava tão preocupado com as companhias de uma aluna aleatória.

— Ele não é alguém pra você. Basicamente isso.

Ele não é o cara certo. Você pode conseguir algo melhor que isso. Ele não é alguém pra você, no fim tudo significava a mesma coisa. Alec colocava defeito em todos os caras bonitos com quem Lana saia e John sempre assentia, reafirmando as insanidades ciumentas do filho. Que tipo de pessoa ela era que não se encaixava com alguém? Com ninguém aparentemente? Era uma pergunta curiosa já que segundo Thor sua personalidade era quase um lixo. Ela riu só com o pensamento do que Alec diria se o visse, a maneira como anda, como fala, e principalmente como a trata, e quis rir mais alto com o tom sugestivo de Tarcísio, como se ela e Thor tivesse algum relacionamento que fosse além do ódio que nutriam um pelo outro.

— Entendo – ela murmurou – Não precisa se preocupar professor, sei perfeitamente o que quis dizer.

Lana não esperou pelo seu comando e caminhou até a porta, desfazendo-se rapidamente dos avisos de Tarcísio, ela e Thor não tinham um relacionamento, não havia necessidade de avisos e era desconcertante a maneira invasiva que o professor havia se dirigido a ela.

Assim que entrou de volta no largo corredor viu, com um muita surpresa, uma figura familiar caminhar em sua direção, ele mascava alguma coisa e andava despreocupadamente. Lana sentiu aquela velha cólera subir no seu peito e sentiu ódio da sua expressão confortável e seu jeito inabalável. Andou com passos duros parando em frente a Thor, seus punhos estavam cerrados e dessa vez não pouparia esforços em mantê-los longe daquele rosto cínico.

— O que veio fazer aqui? Estava me seguindo?

Thor desceu seus olhos até ela e suspirou teatralmente, parando de mascar.

— Aqui é um lugar aberto para outros alunos além de você – olhou ao redor e voltou a encará-la – mas é curioso, não vejo seu nome em placas aqui. Por que tenho que te dá satisfação então?

Lana respirou fundo e contou até dez. Estava sentindo seu corpo tremer e uma raiva homicida atormentar sua razão, Thor a havia seguido até a biblioteca, passara os últimos cinco horários lá, longe o suficiente pra ouvi-la mas perto o suficiente pra ela sentir seus olhos observando cada gesto que fazia, como se não bastasse, agora tinha surgido ali, magicamente no mesmo corredor onde ela estava.

— Você quer me enlouquecer? – grunhiu abrindo os olhos, ele permanecia calmo, como se não fosse o alvo de toda raiva que ela suprimia – Coloquei seu nome no trabalho, mesmo sabendo que fiz tudo sozinha, tá bom pra você? Se não me deixar em paz vou prestar queixa contra você!

Thor riu, debochado demais pra parecer natural, ele não sabia rir? Rir de verdade, por diversão?

— Não lembro de ter pedido alguma coisa pra você – falou por fim – Fique a vontade pra prestar queixa, aproveite e de uma olhada na minha longa lista de delitos. Ficará impressionada. – Thor apanhou seu queixo e o ergueu, seus dedos longos acariciaram o rosto de Lana deixando um rastro quente por onde passavam, ela odiava saber que estava corando com seu toque inesperado – Será no mínimo interessante.

— Como você pode ser tão cínico e irritante? – ela murmurou.

Ele se afastou quase que imediatamente, sua expressão azedando enquanto lhe dava as costas. Ela correu pra alcança-lo.

— Por que você me odeia?

Thor olhou pra baixo, ele parecia um pouco esquisito.

— Por que você me odeia?

— Porque você é idiota, prepotente, arrogante, sádico, covarde e – Lana suspirou, fingindo está cansada – a lista é longa.

Thor apenas riu, mas sua risada tinha um tom rouco e um pouco forçado.

— Eu não lembro de ter feito algo pra te deixar tão....

— Irritado? – murmurou, parando. Thor virou de frente a ela – Você é irritante, mas isso também não é justificativa, várias outras garotas aqui são mais irritantes ainda, você é intrometida? Um pouco. Você é dissimulada? É o que parece. Mas nada disso lhe parece motivos o suficiente, não é?

Lana encolheu seus ombros, um pouco envergonhada, encontrando nas afirmações de Thor um pouco da verdade que ela ignorava deliberadamente.

— Existe uma linha tênue entre o amor e o ódio, mas uma garotinha tola como você não poderia saber disso.

— Vai acrescentar tola na longa lista de adjetivos que tem pra mim? – Lana torceu suas mãos, sentindo a velha raiva retornar, mas tinha algo mais no rosto de Thor, nas suas palavras, na maneira esquisita que ele vasculhava seu rosto, algo que fez seu estomago dá saltos – Espera... O que você acabou de dizer?

Thor piscou e desviou o rosto, como se só agora se desse conta da frase sem sentido que tinha dito.

— Você quer me enlouquecer, é isso? É esse o seu plano? Você quer testar minha sanidade em uma brincadeira estúpida de gato e rato, de solta e puxa, ou seja lá qualquer outra definição idiota que tenha pra isso?

Ele riu, dessa vez visivelmente forçado, sem humor, antes de voltar a encará-la.

— Estou conseguindo?

Ele era definitivamente um sádico, Lana pensou, sentindo sua expressão contorcer-se em uma careta pouco atraente. Não estava enlouquecendo de verdade, mas nunca tinha duvidado tanto de si mesma como agora, pensou na analista que esperava por ela todas as sextas-feiras e na estrada de loucuras que havia caminhado até agora, nos pais super protetores, no irmão ciumento, na vida e escolhas limitadas que sempre teve, inesperadamente olhar para Thor sempre a fazia lembrar disso, dessa impotência, ele a fazia se sentir assim, impotente, era um sentimento sufocante. Lana desviou seu rosto evitando a todo custo olhar pro seu rosto cínico.

— Parece que sim – Thor murmurou pra si mesmo, baixo demais pra qualquer ouvido humano ouvir, um turbilhão de emoções passava pelo rosto de Lana, emoções desconhecidas e duvidosas, pensamentos que ele queria a todo custo poder decifrar.

Thor era impulsivo, nunca soube muito bem como controlar seus desejos como via Isaac fazer com maestria, nunca tinha precisado treinar isso, tampouco, suas emoções o deixavam instáveis e volátil, a um momento atrás queria apenas jogar aquela garota contra a parede e machuca-la, mas agora seus dedos erguiam até ela, como sempre acontecia sem seu comando, e trazia seu rosto pro dele de novo, ignorando a surpresa naqueles olhos grandes ou no local em que estavam, na possibilidade de serem pegos, ele não ligava pra isso realmente.

Lana tinha uma expressão até engraçada enquanto o via se aproximar, sentiu os punhos dela afastarem-no fracamente, seu rosto fechar em uma careta, mas Thor escorregou seus dedos dentro do cabelo dela e segurou sua cintura com a outra mão, apertando-a nele como desejou fazer desde que tinha colocado os olhos nela na primeira vez que pisara ali, pressionou seus lábios e saboreou aquele gosto doce, sentindo o sabor do gloss que ela usava e surpreso quando sua língua não encontrou resistência em saboreá-la. Pensou no seu quarto, lembrou da cama arrumada de casal que tinha e no quanto Lana ficaria linda entre seus lençóis.

Um pigarro alto e estridente ecoou pelas paredes daquele corredor, foi como um choque que os atravessou e empurrou Lana pra longe. Ela se sentia quente e seu rosto ardia como brasa, olhou pra origem do som, encontrando uma Tatiane que a encarava atônita e tremula, os papeis que trazia escorregaram pro chão, Lana correu ajoelhando-se junto com ela apanhando as folhas espalhadas.

— Obrigada senhorita – a recepcionista murmurou. Ela evitava o rosto de Lana.

— Tatiane... Desculpe. Isso não vai mais se repetir. Prometo.

Tatiane ergueu os olhos pra ela, de um jeito hesitante e assentiu, respondendo o apelo mudo que estava no rosto de Lana.

— Ela não vai falar nada, não é? – a voz de Thor soou a cima delas, chamando a atenção das duas, ele tinha uma sobrancelha negra e grossa erguida e encarava Tatiane de um jeito estranho que arrepiou os poucos pelos que Lana tinha. – Á ninguém.

A recepcionista ficou de pé, apertando as folhas recém recuperadas contra si, e encarando Thor com os lábios franzidos.

— Com licença – murmurou em seguida caminhou com pressa, passando por Lana de cabeça baixa.

— Você não precisava ameaça-la – ela resmungou, já de pé, quando ficaram sozinhos.

Thor escondeu os punhos dentro dos bolsos da frente e deu de ombros.

— É assim que as coisas aqui funcionam.

— Funcionam pra você não é?

Ele riu encarando-a.

— Você vai me agradecer por isso depois, pode apostar.

Ele não esperou por sua resposta. Thor a encarou de cima a baixo, de um jeito tão intenso e lento que novamente acendeu algo dentro de Lana, e sorriu, deixando-a para trás. Daquela vez ela não se preocupou em alcança-lo.


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Notas finais do capítulo

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