Cristal escrita por Mia


Capítulo 7
Capítulo 6 - Relativo Demais


Notas iniciais do capítulo

Palmas pra mim que estou conseguindo postar certinho nos dias prometidos, não é?

Então, antes de ir direto para o capítulo 6 queria dizer aos novos leitores, BEM-VINDOOOOS, fico feliz por lerem até aqui ♥ espero que gostem
Até as notas finais



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O dia estava relativamente frio, do lado de dentro daquele quarto escuro e fechado ainda era possível ouvir a chuva forte do lado de fora, as gotas agressivas que batiam na janela provocando ruídos e ao mesmo tempo trazendo pro ambiente uma sensação agradável e confortante, Lana gostava do calor que sentia dentro daquele pequeno ninho que tinha feito pra si com suas cobertas, gostava o bastante pra ignorar que era segunda-feira e faltavam dez minutos pra está atrasada.

Não queria abandonar sua pequena caverna segura, a cada vez que colocava a cabeça pra fora parecia que os olhos cinzas de Thor surgiam estreitos e hostis, ela não sabia o quão sérias e profundas suas palavras eram, mas estava com medo – mesmo que jamais fosse admitir – e não queria provocar o bolo negro e perigoso que era sua sorte.

Lana encolheu-se ainda mais quando ouviu o celular apitando. Tinha só mais cinco minutos de paz antes que alguém entrasse no seu quarto e a arrastasse pra enfermaria mais próxima, ou que fosse forçada a assinar uma advertência e obrigada a falar com os pais. Pesou na balança imaginaria o que seria pior, lidar com Sonia e John, depois de ter ignorado todas aquelas mensagens e os telefonemas, ou lidar com Thor, o garoto bonito de olhos incomuns e perigosos. Lana suspirou desligando o celular e abandonando seu mini casulo, sua queda por coisas bonitas estava chegando a um nível extremamente perigoso.

Jasmim era a ultima pessoa que esperava ver sentada na sua porta naquela manhã, mesmo que não existisse uma lista de pessoas que esperasse ver, ainda sim Lana estava surpresa pela presença um tanto simpática da loira. Ela fechou a porta do seu quarto devagar e esperou.

— Pensei que teria que bater – Jasmim murmurou apontando pra porta perfeitamente trancada.

Lana sentou ao seu lado. – Bom dia pra você também.

Jasmim deu de ombros e passou a inspecionar as unhas, ignorando os ponteiros e as poucas garotas que corriam atrasadas pelos corredores.

— Você sumiu na sexta e sumiu o final de semana inteiro, o que aconteceu?

— Muitas coisas. Encontrei com Isaac como você falou que deveria fazer, depois encontrei Thor e por ultimo fui pro meu quarto que alias estava aconchegante demais pra abandona-lo.

— Isso eu sei, Isaac também sumiu. Depois de um tempo fui atrás de vocês e nenhum dos três estavam lá. Onde estavam? – Jasmim baixou a mão e encarou Lana, suas sobrancelhas e seus lábios estavam franzidos. Era uma expressão irritantemente suspeita. Lana não gostava dela.

— Eu não estava com ele se é o que quer saber. Quando o deixei ele parecia um pouco bêbado – Lana deu de ombros – só Deus sabe o que ele poderia ter feito.

Jasmim mediu Lana com seus olhos, como se procurasse algo suspeito no seu rosto, mas Lana sabia que ela não encontraria, ela não estava mentindo, ela não sabia de Isaac e nem se preocupava em saber, no momento Lana queria levantar daquele chão sujo e seguir logo pra sua sala. Quando o sinal acima da cabeça delas apitou alto e estridente encontrou sua deixa e ficou de pé.

— Você não está escondendo nada, não é?

Ela estava escondendo os beijos, é claro, mas o primeiro havia sido tão insignificante e momentâneo que não considerava algo crucial pra ser compartilhado, talvez se ninguém falasse dele Lana poderia fingir que nada tinha acontecido, e o segundo agressivo o suficiente pra assombrá-la e ser trancado a sete chaves no cofre das profundezas das suas memorias.

Lana deu de ombros e começou a andar.

— Você não vem?

Jasmim demorou um pouco pra segui-la, parecia realmente preocupada com algo, ou desconfiada demais do que Lana tinha dito e não fazia questão alguma de esconder, estavam atrasadas o suficiente pra pularem o café da manha e passarem direto pras salas de aula, mesmo assim, tinham poucos alunos no corredor, Lana acelerou seus passos quando encontrou sua sala de aula. Segundo seu horário as duas primeiras aulas eram de Literatura, era a primeira vez que tinha aula com aquele professor, devia ter lembrado disso quando decidiu, por livre escolha psicológica, atrasar seus não tão mais preciosos dez minutos.

Ela se despediu de Jasmim com um breve “até logo” e entrou na sala de aula, todos a encararam quase que imediatamente, era tarde, mas só agora havia notado que o professor, encostado na sua mesa e com um livro de bolso nas mãos, estava no meio da aula. Ele era mais jovem do que tinha imaginado, mas seu rosto era severo demais e seu cabelo estava penteado pra trás, dando a ele uma aparência mais velha do que ela sabia que ele de fato tinha.

— Você é a aluna nova? – ele perguntou, quebrando o silencio constrangedor.

Lana assentiu.

— Eu sou o Tarcísio, professor de Literatura, e você está – Tarcísio livrou uma das mãos pra erguer o óculos de grau sem aro que escorregou por seu nariz fino – Terrivelmente atrasada. Poderia se sentar por favor?

Lana assentiu de novo, se sentindo ainda mais patética por fazê-lo, e correu com os olhos pela sala agora cheia, ignorou os olhares de desaprovação e mirou na cadeira onde costumava sentar, na segunda fileira atrás de Luce que agora estava ocupada por uma garota estranha que usava óculos grandes demais pro seu rosto pequeno. Ela andou devagar, concentrando-se com maestria para não esbarrar em alguém e sentou na ultima cadeira, da ultima fileira, onde não poderia ver o professor com clareza e o burburinho era alto o suficiente pra irritá-la. Lana jogou sua mochila em cima da mesa e sentou, sutilmente colocando o cabelo entre seu rosto e os olhos cinzas que ela sabia que a encarava da cadeira ao lado.

Tarcísio esperou pacientemente até que sentasse, e retomou a leitura do seu livro. Lana tinha interrompido sua analise a respeito do poema de Dante, Divina Comédia, ela sabia vagamente o que era aquilo ou o que representava. Alec, seu irmão, vez ou outra tagarelava sobre mitos ou histórias antigas que tinha lido a respeito de alguém, não era algo que a interessasse, porém, Lana estava sentada ereta e com seus olhos presos, acompanhando cada movimento do seu jovem professor.

Não queria olhar pro lado e encarar Thor, ela sabia que ele estava encarando-a, sentia seus olhos cinzas quase pinicarem sua pele de um jeito desconfortável. Tarcísio por fim fechou seu livro e sorriu pra todos, quase imediatamente carteiras foram arrastadas desfazendo as fileiras perfeitamente enfileiradas, Lana encarava todos confusa, tinha visto Tarcísio falar, gesticular e sorrir, mas não tinha escutado uma só palavra do que tinha dito.

— Ele quer que formemos duplas e façamos uma analise sobre o livro que leu – Thor ia dizendo enquanto encostava sua cadeira ao lado de Lana.

Lana fechou os olhos, sentindo seu coração subitamente gelado, todo o esforço para ignorá-lo acabara de descer pelo ralo.

— Vou fazer dupla com a Luce – murmurou ainda sem olhá-lo, procurando a amiga com os olhos entre as cabeças que se mexiam pra lá e pra cá.

— Ela já achou companhia – Thor disse divertido pegando o queixo de Lana e mirando na garota ruiva que sorria pra menina dos óculos grandes, elas estavam sentadas de frente uma pra outra, Lana sentiu seu coração antes congelado partir decepcionado.

— Não importa – disse livrando-se dele, segurou a alça da mochila e ficou de pé – Vou procurar outra pessoa pra fazer dupla.

Pela primeira vez desde que chegara Lana o encarou, Thor estava relaxado da mesma forma que sempre estava em todas as aulas, era desconcertante olhar pra ele, nada parecia abalá-lo, enquanto ela tinha certeza que suas pernas tremiam e seu rosto estava vermelho.

Ele pegou seu braço e a forçou a sentar de volta. – Você não vai, ninguém vai fazer o trabalho com você se eu não deixar.

— Então faço sozinha.

— Não seja idiota – Thor a soltou e cruzou seus braços. – Vamos fazer juntos.

Lana ainda tinha duas ou mais frases pra usar como resposta, entre elas você é um maldito de um canalha, mas tudo parecia em vão, de um jeito ou de outro ela sabia que algo assim aconteceria em breve, agora só podia esperar que Thor cansasse de brincar com ela e voltasse a sua forma, seja essa qual for, antes dos seus caminhos terem se cruzado.

Tarcísio estava andando de dupla em dupla com uma prancheta nas mãos, anotando nomes, dando ideias e coordenadas, quando ergueu a cabeça e os viu, ele apressou-se entre os alunos e parou em frente a carteira de Lana. Parecia ansioso.

— Vocês será uma dupla?

Um sorriso debochado brincou nos lábios de Thor, ele inclinou-se na sua cadeira e uniu suas mãos, encarando Tarcísio.

— Sim. Algum problema professor?

Tarcísio o ignorou, focando seus olhos em Lana.

— Está tudo bem pra você Lana? Se sentir desconfortável pode pedir pra alguém trocar.

Lana encarou Luce e a garota que não conhecia de novo, a única pessoa que ela conhecia fora Thor era Luce, mas ela estava focada demais na sua companheira pra perceber qualquer outra coisa, parecia ignorá-la de propósito.

— Tudo professor, mas, não é definitivo, não né? – ela murmurou, esperando que só ele ouvisse.

Tarcísio sorriu enquanto escrevia algo na sua prancheta.

— Não Lana, pode ficar tranquila, qualquer duvida basta me chamar.

— Você não cansa de ser falsa? – Thor perguntou quando eles estavam sozinhos novamente.

— O que?

— Você faz essa cara de cachorro abandonado pra conseguir alguma coisa e quase imediatamente os caras te dão tudo o que quer, mas no fundo é teimosa e birrenta. Você não cansa?

Lana largou o lápis que tinha acabado de pegar e o encarou. Thor parecia está falando sério.

— Do que você está falando agora?

Ele suspirou alto, impaciente, como sempre fazia quando ela o respondia com outra pergunta.

— Você usa esses seus olhos grandes pra manipular as pessoas – Thor inclinou-se sobre ela deslizando sua mão sob o rosto de Lana até colocar uma mecha atrás da sua orelha – e depois finge que não sabe o que está fazendo, você tem noção do quanto isso me irrita?

— Tudo que faço irrita você – ela grunhiu, tirando a mão dele do seu rosto – e, por favor, não me toque mais.

Thor umedeceu seus lábios, chegando ainda mais perto de Lana, ele estava quase ultrapassando o limite que sua cadeira impunha.

— Só Isaac pode então? Eu vi o jeito como você o pegou e depois largou, como se não fosse nada – Thor a segurou pelo queixo e o ergueu, tendo uma visão melhor dos seus olhos – Você é uma coisinha peçonhenta.

Lana sentiu seus olhos umedecerem e os fechou, mesmo sabendo que agora seu nariz estava vermelho, livrando-se das garras de Thor.

— E você é um pedaço de merda ambulante, não é porque eu te odeio que tenho que odiar a todos, e você não sabe nada, absolutamente nada, sobre mim. – Lana ficou de pé, recolhendo suas coisas e pegando a mochila, abandonando a sala. Ela sentia seus olhos doerem pelo esforço que fazia pra mantê-los secos, ela odiava a maneira como as palavras de Thor a desestabilizaram, como a machucaram. Ela não era falsa, não era manipuladora, ela era apenas normal, não tinha nada a ver com o que a mente doentia dele dizia a seu respeito.

Eu não sou assim, repetia pra si mesmo, enquanto quase corria, alcançou a biblioteca e isolou-se lá, aliviada por encontra-la vazia. Eu definitivamente não sou.

ººº

Thor jogou a pequena bola pra cima e a apanhou de novo, repetiu o gesto até que a voz irritante de Sophia se calasse, quando ela notou que não estava sendo ouvida.

— Vai ficar me ignorando pra sempre? – a garota pegou o pequeno objeto e o jogou. Thor o viu quicar até desaparecer por baixo das prateleiras.

— Se você fizer isso de novo arranco suas mãos, começando pelos dedos, um por um. – ergueu-se do sofá onde estivera deitado e sentou, encarando Sophia a sua frente, sentada de pernas cruzadas, ela deslizou para o espaço que Thor tinha acabado de liberar.

— Nós precisamos conversar, em um lugar particular, agora.

— Aqui está quase deserto, vai servir, e eu não vou te levar pro meu quarto, se quiser uma cama pra esquentar procure o Isaac – ele sorriu, vendo satisfeito o rosto dela aprofundar-se em um vermelho envergonhado e furioso.

— Você é um idiota, mas o pior é que você se orgulha disso. – Sophia arrumou a coluna, revirando os olhos, e tornou a falar em um tom mais baixo – Eu recebi uma mensagem.

— E?

— Parece que a tal garota surgiu, de novo, não sei como eles descobriram, e aparentemente ela está aqui.

Thor cruzou os braços, tomando o cuidado pra manter sua expressão neutra.

— E?

— Como assim e? Você sabe o que isso significa. Temos que descobrir quem é e eliminá-la de vez. – Sophia mordeu o lábio inferior e murmurou, quase que pra si mesmo – Á anos eles não entravam em contato conosco, me pergunto o que aconteceu.

Thor alternava olhares entre Sophia e Lana, sentada a alguns metros, longe o suficiente para não escutá-los. Desde que abandonara a sala ela estava sentada naquela mesa, ignorando qualquer coisa que não fosse seus cadernos e livros espalhados ao seu redor, Thor estava quase deixando sua posição para ir atormentá-la mais uma vez quando Sophia surgiu, frustrando seus planos e com uma conversa desinteressante demais pra mantê-lo acordado. Agora ela murmurava uma série de estratégias, elaborava uma lista de possíveis pessoas e Thor queria mais que tudo, manda-la simplesmente calar a boca.

Era o que teria feito, mas pelo canto do olho viu um garoto moreno e baixo se aproximar de Lana, sentando-se na cadeira ao lado dela. Ela estava fazendo aquilo de novo. Aquilo de sorrir sem mostrar os dentes e desviar os olhos, como se tivesse envergonhada, seu rosto ficava corado antes que ela erguesse a cabeça e sorrisse mais abertamente, o suficiente pra mostrar as duas covinhas que tinha na bochecha, Thor não conseguia vê-las agora, mas sabia que estavam lá. Ela nunca fez aquilo pra ele. Pra ele ela sempre mostrou seu pior lado, a parte instável do seu temperamento.

O garoto, que agora Thor tentava insistentemente lembrar o nome, aproximou-se mais e começou a apontar nos livros que Lana tinha aberto. Ela tinha conseguido de novo, mais um havia caído no seu rosto corado e nas suas covinhas.

— Não precisa dessa ladainha – ele murmurou, interrompendo a frase de Sophia – Já sei o que devemos fazer.

— Como assim já sabe? – a descrença dela o teria enfurecido se ele não tivesse olhando pra Lana agora, ainda sentada, sorrindo, com suas covinhas visíveis.

— Só cala a boca e me escuta. – murmurou, um plano magicamente estava começando a criar linhas e formas na sua cabeça.


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Notas finais do capítulo

Eita, e agora?



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