Cristal escrita por Mia


Capítulo 3
Capítulo 2 - Hostilidades




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Lana estava particularmente ansiosa naquela manha, era seu primeiro dia e tinha uma marca feia de travesseiro no rosto. Depois que Luce tinha saído do seu quarto ela não se preocupou com as malas ou com as horas, apenas tomou banho e deitou de cabelo molhado e vestindo apenas uma toalha que tinha encontrado no armário, não havia despertadores pra tocar e em algum ponto da noite seu celular descarregou, ela não fazia ideia que horas eram quando acordou no impulso, ouvindo um barulho de passos e vozes do lado de fora.

Ela era a completa imagem do desleixo e tinha consciência disso, por sorte encontrara o uniforme ao seu lado na cama, mas tinha dormido em cima e agora ele estava amassado, tanto quanto seu cabelo e sabia que seus olhos estavam maiores e inchados. Aquele dia não poderia ficar pior. Ou poderia. Olhou pela terceira vez o mapa que tinha nas mãos enquanto corria pelos corredores de Lorenzo, o caminho parecia o certo, no entanto quando erguia seus olhos e encarava ao redor não encontrava a tal porta que sinalizava “refeitório”, ao invés via várias e várias portas que não indicavam nada. Lana parou e lembrou-se de uma das regras, não chegar atrasada. Estou definitivamente lascada.

Amassou o mapa quando sentia que estava atrasada demais pra ter uma refeição decente, talvez fosse simplesmente mais inteligente procurar sua sala de aula, o que deveria ter sido seu passo seguinte se não tivesse esquecido seu horário.

Deus, por quê?

Lana resistiu com bravura ao impulso de sentar no chão e chorar, não havia muitas pessoas por ali, algumas garotas passavam por ela e riam aos cochichos, os garotos apenas ignoravam sua presença e seu aparente desespero. Ela não se importava em ser ignorada ou alvo de piadas, era algo com que podia lidar, mas precisava pedir ajuda e a posição de seus novos colegas intimidava qualquer plano de aproximação. Sentar e chorar não pareciam mais um plano tão terrível, talvez fosse atrair compaixão afinal. Lana andou até um dos bancos que era encostado a parede e sentou, encolhendo as pernas timidamente, precisava urgentemente de um plano B.

Ela olhou ao redor de novo, achando um rapaz sentado na ponta do mesmo banco que estava. Ele estava de costas pra ela e meio curvado, parecia ocupado digitando em algo, algo interessante demais pra deixar que notasse na patética garota que dividia o lugar com ele. Lana sabia que não estava na sua melhor forma, e dadas ás circunstancias talvez o melhor fosse o rapaz loiro e bonito manter-se ocupado mesmo. Ela estava quase desistindo do seu catastrófico primeiro dia quando uma cabelereira loira e comprida surgiu em seu campo de visão, ela quase corria e por pouco Lana não a perdeu de vista de novo.

— Jasmim! – ela gritou quando viu que a garota sumiria em um dos corredores. Jasmim estacou e virou de frente pra ela, suas sobrancelhas finas e loiras estavam franzidas, mas pareceu relaxar quando reconheceu Lana. Lana quase chorou de alivio quando a viu caminhar em sua direção.

— O que você ainda está fazendo aqui e por que não foi pro refeitório? Passei no seu quarto, mas Luce disse que você estava sozinha agora – Jasmim perguntou quando chegou mais perto, seus olhos azuis a encaravam de cima a baixo críticos e questionadores, Lana de repente ficou autoconsciente da roupa amassada e o rosto inchado. – O que aconteceu com você?

— Alguém estava perdida – era uma voz agradável e levemente divertida.

Lana olhou pro lado e percebeu que tinha a atenção do rapaz bonito e loiro, ele sorria pra ela, nas mãos estava seu celular e suas pernas esticadas na frente do corpo, parecia leve e refrescante. Ela desviou os olhos sentindo-se corar e preferiu ignorá-lo. Plano B; bancar a novata inalcançável.

— Me enrolei toda hoje de manhã – confessou envergonhada, os olhos de Jasmim estreitaram mais e ela parecia encará-la com desdém – acabei me atrasando...

— Atrasos são inaceitáveis, mas agora já é tarde, não da mais tempo de você comer – ela disse revirando os olhos, Lana estava começando a repensar se teria sido uma boa ideia pedir socorro a Jasmim.

— Isso é normal – o rapaz disse de novo antes de rir – Lorenzo é muito grande, você devia ter pedido ajuda.

Jura?

— Verdade... Eu devia ter pensado nisso – Lana murmurou ficando de pé, estava profundamente envergonhada – vou pra minha sala, com licença.

— Você sabe onde fica? – o garoto perguntou de novo.

— Claro que sei – Lana girou nos calcanhares e refez o caminho, ele devia dá algum lugar.

— Qual seu ano? – o garoto surgiu ao seu lado. Ela olhou pra ele e o viu guardar o celular no bolso traseiro da calça.

— Segundo...

— Ah... – ele parou e sorriu, de novo, apontando com o polegar para o corredor nas suas costas – É pra lá.

O garoto riu quando a expressão de Lana desmanchou e riu mais ainda quando ela corou e passou por ele de cabeça baixa, seguindo a direção contrária que andava anteriormente.

— Desculpe ter rido de você, mas sua expressão foi muito engraçada – ele disse ao seu lado de novo.

Lana o encarou séria.

— Fico feliz por divertir você – ela murmurou com raiva.

O garoto riu de novo, mais alto dessa vez.

— Quase não ouvi o que você disse. Ok escuta – ele segurou seu braço a forçando parar – Desculpe, de novo. Vamos começar de novo certo? Eu sou o Isaac, e você?

Lana o encarou e sem querer sorriu. Isaac era ainda mais bonito de perto e quando sorria, seu rosto era magro e limpo pra um garoto da sua idade, seus olhos eram verdes claros e além de loiro seu cabelo também era perfeitamente bagunçado, as pontas firmes em várias direções diferentes, formando um redemoinho bonito que pareciam ondas sedosas. De novo ela lembrou-se da marca de travesseiro no seu rosto e corou, desviando seus olhos.

— Lana... – murmurou em resposta.

— Ok Lana, vou te deixar na sua sala – Isaac recomeçou a andar enfiando suas mãos nos bolsos, Lana começou a acompanha-lo de perto – Sua primeira aula deve ser filosofia, é sempre o mesmo horário, ano após ano, Lorenzo é um mausoléu em todos os sentidos.

— Sim... Parece parado no tempo.

— Mas você vai gostar daqui, principalmente das festas, também estranhei no início...

— Pensei que festas estivessem proibidas.

Isaac olhou pra ela e piscou, sorrindo.

— Existem as regras e existe quem as quebre. Na maior parte das vezes que acontece a direção faz vista grossa, não precisa se preocupar com isso.

Se você for uma boa menina vai poder nos visitar nos fins de semana.

Não. Obrigada.

— Quando será a próxima? – perguntou de repente, se deu conta do quanto havia parecido prepotente quando Isaac a encarou surpreso.

— Talvez hoje, semana que vem quem sabe – deu de ombros. – Mal chegou e já quer infringir as regras? Parece que está no lugar certo então.

Lana baixou os olhos e corou. Era difícil explicar a Isaac que queria de alguma forma afrontar os pais e ser punida, durante um mês sem finais de semanas livres, por exemplo, mas o quanto soaria infantil? Talvez até menos do que realmente se sentia.

Forçou um sorriso e voltou a encará-lo.

— Você é de que turma?

— Terceiro. Esse é meu último ano aqui. – Isaac olhava pra frente e andava calmamente, mas de repente parou, segurando com firmeza no braço de Lana forçando-a a parar também.

Ela arqueou sua sobrancelha e esperou, mas ele não a encarava, seus olhos estavam estreitos e pareciam hostis e intimidadores, quando Lana acompanhou seu olhar viu um garoto caminhando até eles, ele não usava uma gravata como os demais garotos dali, os primeiros botões da sua camisa social estavam abertos e exibindo um peitoral branco e duro, seu cabelo era ainda mais bagunçado que o de Isaac, mas não charmoso, suas mexas escuras e espessas estavam revoltadas e desleixadas, quando ele chegou mais perto e parou em frente deles Lana conseguiu ver a cor dos seus olhos com mais precisão, eram olhos metálicos e ainda mais claros que os olhos de John, seu pai, eles eram cinza, era a primeira vez que via olhos assim, ela não conseguia parar de encarar.

— Você é a garota nova? – ele perguntou, sua voz era grave e forte.

Lana piscou e sentiu seu rosto afundar em um vermelho constrangedor.

— S-sim. Eu acho. Quero dizer. Não. Não sou a única.

O garoto franziu as sobrancelhas e Lana percebeu o quanto eram grossas e negras.

— Quem mais veio com você?

— Jasmim...

— A loira irritante e traiçoeira? Que prepotência a dela aparecer aqui – apesar das palavras ele riu de desdém e pela primeira vez liberou Lana do seu olhar. Ele encarava Isaac em um misto de deboche e seriedade – Você já a viu?

— Sim. Ela está lá atrás, mas estava com pressa, provavelmente fugindo de você. – Isaac deu de ombros e imediatamente soltou o braço de Lana – Se correr consegue alcança-la.

O garoto estreitou os olhos e olhou pra direção que Isaac tinha apontado, em seguida sorriu e voltou a encarar Lana. Ela estava desconfortável e insegura com tanta atenção.

— Estou mais interessado nessa aqui. Qual o seu nome?

Lana arquejou. Não gostava do jeito que ele olhava pra ela. Seu rosto era do tipo perigoso e seus olhos peculiares demais, eles pareciam querer virá-la do avesso, não gostava de pessoas invasivas e principalmente não gostava das borboletas que estavam mordendo seu estomago.

— É falta de educação perguntar o nome de alguém antes de se apresentar – sua voz não tremeu, estava orgulhosa disso. Mas quando viu o garoto rir sua pose desmanchou e só conseguia pensar em uma única coisa, essa regra realmente existe? Suspirou. Deus, queira que exista.

— Eu sou o Thor. – ele respondeu depois de um longo tempo – e você?

— HEY!

Lana olhou por sobre o ombro e encarou aliviada uma Luce temperamental vir em sua direção. Sua ex-colega de quarto corria como se sua vida estivesse em perigo, seu cabelo laranja por pouco não escapou do prendedor que o mantinha no alto e suas bochechas estavam quase tão vermelhas quanto suas mechas. Ela parou ao seu lado e segurou o braço de Lana com força, suas unhas roídas a pressionavam e ela encarava os garotos com uma mistura de surpresa e hesitação. Luce respirou fundo, recompondo-se, em seguida virou de frente pra Lana, dedicando a ela toda sua atenção.

— Encontrei com a Jasmim e ela disse que você estava perdida e tinha encontrado um veterano pra te ajudar – ela arquejou e respirou fundo outra vez – desculpe ter te deixado sozinha logo hoje, mas tive alguns problemas de manhã e precisava resolver com urgência, já chequei nossos horários e estamos na mesma turma, vem, te levo pra sua sala.

— Não precisa ter pressa – Thor disse e checou em um relógio imaginário que tinha no pulso – ainda temos alguns minutos, a proposito, onde está Jasmim? Senti saudades da sua amiga.

Lana não gostou daquele sorriso, ele parecia sádico, seja o que fosse que acontecia entre eles ela temeu pela garota loira.

Luce arrumou a coluna e encarou Thor com mais firmeza, ela de repente parecia mais alta e mais séria, tinha a mesma postura firme do dia anterior.

— Se quiser saber vá atrás dela, não sou garota de recado.

Thor riu.

— Isaac o que está acontecendo com as garotas desse internato? Elas estão a cada dia mais ferinas.

Isaac acompanhava tudo em silencio, mas quando Thor o chamou pareceu que uma corrente elétrica havia passado por seu corpo e ele se deu conta da tensão que estava ali. Ele encarou Luce e suspirou, em seguida dirigiu-se diretamente a Lana.

— Melhor ir com ela – disse e sorriu – A gente se vê por ai. Ate.

Ele saiu, andando calmamente pelo mesmo caminho que tinham vindo.

Thor fez uma careta enquanto o acompanhava com os olhos.

— É impressionante como uma mulher consegue deixar alguém tão patético.

Luce escolheu aquele momento para puxar Lana, no entanto Thor meteu-se entre elas, segurando o ombro de Lana e o de Luce, aproximando seu rosto das duas.

— Pra onde pensa que vão?

— Ficar longe de você. Bem longe. O bastante pra não lembrar que infelizmente respiramos o mesmo ar.

— Ora, se eu fosse você tomava cuidado com essa língua, se morder provavelmente vai morrer envenenada.

Luce parecia fazer um esforço sobre-humano pra manter seus punhos firmes e longe do rosto de Thor. Lana a entendia perfeitamente, estava começando a odiar aquele cinismo e aquela prepotência.

Dessa vez foi Lana quem puxou Luce ignorando a muralha que Thor havia criada pra imobilizá-las, ela viu com satisfação o rosto dele desmanchar por um segundo, aproveitou e puxou Luce pra fora, quase correndo com ela pelo corredor e ignorando a risada sádica e arrogante que ouvia a suas costas.

— Bom trabalho – Luce disse depois de um tempo, voltando a guiar o caminho, elas começaram a subir uma escada com poucos degraus – Eu odeio aquele cara.

— Por quê? – Lana sussurrou, mas percebeu como soara estupida quando Luce a encarou como se fosse louca.

— Você ainda pergunta? Ele se acha. Anda e fala como se o mundo girasse ao redor do umbigo dele, e o Isaac é pior, acredite, ele se faz de bom moço, mas aquilo é só uma fachada, quem o conhece sabe a cobra peçonhenta que ele é. Pelo menos o Thor deixa a vista quem é realmente, Isaac prefere fingir, é falso e dissimulado. Se eu fosse você ficava longe dos dois.

Luce estava vermelha e seus punhos estavam fechados de novo. Ela parecia falar sério. A consciência de Lana afundou, Isaac era bonito e legal demais pra ser ignorado, e por um instante ela achou que poderia ter feito um amigo ali.

— Ok. Vou confiar em você.

Luce parou em frente á sala de aula e respirou fundo, em seguida encarou Lana, ela estava séria.

— Eu menti. Não estava te procurando, na verdade estava te evitando, mas quando Jasmim disse que tinha te deixado com Isaac pensei na merda que isso seria e corri pra te encontrar – ela parou e fechou os olhos, parecia derrotada – mas você é legal e bonita demais, fiquei com medo do que eles poderiam tentar fazer. Então é isso, vou te ajudar de verdade a se adaptar aqui, talvez possamos ser... Bem... Amigas?

Lana sorriu e assentiu quando ela tornou a abrir os olhos, de repente se sentiu mais leve e quase abraçou Luce, mas seria constrangedor e desnecessário.

— Adoraria ser sua amiga.

— Ótimo – Luce quase sorriu e a tensão havia abandonado por completo seu corpo. Ela virou pra dentro da sala ainda vazia e escolheu seu lugar na frente, Lana a seguiu sentando-se na cadeira atrás dela.

— Vai ser um ano e tanto – ouviu a garota ruiva murmurar abrindo o caderno.


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Notas finais do capítulo

Ah então, o que acharam da entrada desses dois novos personagens? Me deixem adiantar que, você devem prestar muita atenção neles, serão cruciais para o desenrolar da estória.

O esquema de postagens dos capítulos ainda não está definida, sou bem ansiosa e por mim postaria tudo de uma vez, mas não dá kkkk tenho que ter alguns capítulos adiantados por semana que vem começa minhas provas e não quero deixar a fic desatualizada, por isso vou postar aos poucos mas constantemente.

Então, o que acham que vai acontecer com Lana daqui a diante? Por favor, não sejam leitores fantasmas, apareçam pelo com algum "odiei esse capítulo" mas apareçam! Até terça /



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