Alec tinha ido busca-la como prometera, Lana sorriu e correu pros seus braços quando o viu estacionar em frente ao internato e só o largou quando ambos entraram no carro. Tinha sido um final de semana agradável com o irmão a paparicando e Sonia a cercando de cuidados e perguntas, ela nunca tinha visto a mãe tão interessada em sua vida antes, e ela tinha gostado, até Sonia intercepta-la depois do jantar quando subia pro seu quarto.

Lana olhou pra ela cheia de duvidas, esperando.

— Lana, quem é Thor?

Tinha ficado surpresa, em seguida curiosa. Como Sonia sabia dele?

— Um colega de classe, estudamos juntos.

— Só isso?

Ela se lembrou da ultima coisa que tinha escutado ele dizer. Isso aqui acabou, mas aquele torpedo estranho ainda estava salvo na sua caixa de mensagens. Lana assentiu pra sua mãe, fazendo uma nota mental de exclui-lo depois.

Mas ela não o fez. E enquanto via as arvores passarem por sua janela Lana se perguntava por que não fizera isso.

— Você está muito calada – Alec murmurou.

— Tô juntando energias pra suportar mais uma semana – resmungou de volta, voltando os olhos pro seu irmão a tempo de vê-lo sorrir, enquanto baixava o som do carro – Você vai vir pro cerimonial?

Ele deu de ombros, mantinha seus olhos azuis na estrada com uma precisão curiosa.

— Ainda não sei, tenho alguns projetos pra acabar, se der tempo apareço por aqui.

Lana assentiu. – Eu quero que você venha.

Alec desviou os olhos do para-brisa pro seu rosto, seus lábios estavam franzidos e ele mordia seu lábio inferior com força.

— Vou fazer o possível maninha.

Lana sorriu pra ele, pegando a mochila com suas coisas e deixando o carro quando estacionaram em frente ao internato. O lugar ainda era o mesmo, embora ela tivesse ansiado que de alguma forma aquilo mudasse, de longe viu a cabelereira negra de Thor quando ele desceu da sua moto e aquele bolo de ansiedade voltou a ganhar vida no seu estomago. Ela tinha que excluir aquele torpedo maldito e deixar isso de lado.

Lana girou nos calcanhares, escapando do campo de visão dele e apressando-se pro seu dormitório.

ººº

Jasmim deixou um grito sufocado escapar da sua garganta, embora rouco atraiu a atenção dos alunos que sentavam por ali. Lana massageou as têmporas com os dois indicadores e suspirou.

— Essa é você tentando ser discreta?

— Você não pode me dizer uma coisa dessas assim, do nada! – a garota resmungou, empurrando pra trás do ombro o cabelo claro – Desde quando você e o Thor estão nisso?

Lana observou a sala, ficando em silencio enquanto os poucos alunos voltavam para suas atividades e as ignoravam. Inicialmente deixar Jasmim a par dos últimos acontecimentos parecia ter sido uma ideia boa, ela conhecia Lourenzo e sua corja a mais tempo e mais profundamente do que Lana ou qualquer outra pessoa ali, mas agora, enquanto encarava seus olhos azuis excitados e curiosos ela soube que talvez não tivesse sido tão inteligente. O quanto Jasmim poderia entender errado sua situação ainda era um mistério.

— Eu não sei, só sei que estamos. Quero dizer, pensei que tinha acabado, mas ai ele mandou aquele torpedo e agora estou bem confusa. Realmente não sei o que pensar.

Jasmim hesitou, parecendo reconsiderar algo.

— Bem, eu sei como afastá-lo, se for isso que você quer fazer.

— Não vou por drogas nas coisas dele.

— Eu não estava pensando em drogas, o mesmo raio não cai duas vezes no mesmo lugar, e de qualquer forma, isso não o afastou, muito pelo contrario.

A fase psicopata de Thor que perseguia Jasmim atrás de justiça brilhou instantes na cabeça de Lana. Ele a perseguiu também, mas tinha sido diferente, ela tinha acabado na cama dele, enquanto ele tinha planos ocultos pra ela. Essa era a parte que mais a assustava, ainda não sabia a extensão dos seus objetivos e não estava inclinada para perguntar, ela não sabia nada, nem o que significava para ele.

— Vamos enumerar isso certo – Jasmim disse, levantando um dedo a medida que falava – Ele te levou pra cama, somente pra dormir, ou ele não tinha desejo sexual nenhum por você ou ele realmente queria sua companhia. Ele te beijou, varias vezes, inclusive no meio da fuga, o que automaticamente descarta minha primeira teoria, e o mais importante, ele bateu em um cara. A coisa mais romântica que Thor já fez na vida.

Lana revirou os olhos.

— Aquilo foi assustador, e o seu torpedo foi ainda mais.

— Ele estava com ciúmes – deu de ombros – isso parece claro pra mim.

De novo, Lana revirou os olhos, sentindo toda a utilidade de Jasmim escorrer à medida que via sua certeza na possível absolvição de Thor.

— Isso é loucura Jasmim. – murmurou, recostando-se na cadeira, Luce seria certamente mais útil e realista, embora seu julgamento seja carregado de remorsos e preconceitos.

Precisava de alguém neutro e sensato, alguém como Ben, por exemplo, Lana olhou por todos os cantos como se esperasse que ele surgisse entre as prateleiras com um sorriso aberto e colhedor. Mas não surgiu. Ao invés viu Thor, no exato instante em que ele entrou pelas portas francesas e a encontrou, andando até ela.

Aquele arrepio e a sensação de esta com as pernas moles como gelatina era tão familiar que doía. Doía saber o quanto sua presença a estava afetando, era uma sensação nova e excitante.

Jasmim seguiu seus olhos e assobiou baixo, mal conseguindo conter um sorriso.

— Eu disse não disse, talvez você seja a garota que vá exorcizar os demônios dele.

Ela não queria isso, é claro, mas não havia jeito de dizer sem Thor, agora perto demais, a escutasse. Ele finalmente a alcançou, parando ao seu lado, ainda de pé seus olhos moveram-se pra Jasmim.

— Você ainda está aqui?

Jasmim encolheu os ombros e fez menção de se levantar, mas Lana agarrou seu braço, impedindo-a.

— Ela vai ficar – resmungou, ainda chateada pela submissão da garota – Quem deve sair é você. Acabou, esqueceu?

Thor parecia que tinha engolido abelhas. Ele fechou os punhos e os colocou em cima da mesa, próximos demais do rosto de Lana.

— Quero falar com você, em particular.

— Bem, não vamos. Não temos nada pra conversar.

Ele fechou os olhos com força, e era visível que estava se controlando. Talvez em outra época Thor teria cedido, gritado e a arrastado por ai, mas alguma coisa tinha mudado naquele quarto entre os risos de Lana e os dedos dele, acariciando seu queixo enquanto dormia, era visível nele e por um instante, ela pensou como seria se ignorasse todas as estranhezas e as lacunas e ficasse apenas com aquela parte doce e quente. Mas não podia, e no fundo ambos sabiam disso.

— É sua ultima palavra? – ele resmungou reabrindo seus olhos, duas fendas cinzas a encaravam.

Ele era como uma fortaleza, percebeu, ele não desmoronaria.

— Sim – Lana soou mais firme do que realmente se sentia. Sentiu os olhos espantados de Jasmim em seu rosto, mas tudo que podia fazer era continuar encarando Thor, sem vacilar.

Ele respirou fundo e recolheu seus punhos, enfiando-os dentro dos bolsos.

— Eu não mandei Sophia até você, mas parece que preferiu acreditar na escoria de Isaac a em mim.

— Não foi só isso e você sabe disso, você bateu naquele garoto, o que teria acontecido se eu não tivesse...

— Teria parado. Não foi a primeira briga em que me meti e não será a última.

Ele tinha um ponto. É claro.

— Não parecia.

— Você está com medo de mim, é isso?

— Você não pode dizer que não tenho minhas razoes, e você foi claro no outro dia, nos tínhamos acabado.

Thor hesitou e finalmente liberou seu rosto da pressão dos seus olhos, ele parecia mais inflexível do que nunca.

— Não havia nada para ter acabado, de qualquer forma – ele resmungou, voltando seus olhos pra ela – Mas pensei que você fosse mais esperta que isso, se tinha tanto medo não devia ter me deixado aproximar tanto.

Lana não gostou da maneira como suas palavras soaram e nem do olhar determinado que cruzou seus olhos cinzas.

— Agora estou dizendo que você deve manter distancia.

— Bem, agora é meio tarde pra isso – ele murmurou, debruçando-se sobre ela, uma mão pousou no encosto da sua cadeira e a outra apoiada na mesa, Thor estava próximo o suficiente pra Lana sentir seu cheiro acentuado e forte que vinha da camisa – Estou viciado em você.

Ele sussurrou, e provavelmente só ela ouviu, mas sua voz grave baixa acariciou seu rosto e Lana sentiu-se corar, sua respiração prendeu enquanto os olhos de Thor perscrutavam o seu rosto, pertos demais, lembrando-a do quanto quente e excitante ele podia ser.

— Você pode lidar com isso – ela murmurou, indisposta a entra nesse jogo.

Ele balançou a cabeça. – Não mais. Sinto muito.

Eles não ficaram por muito mais tempo nesse impasse. Thor ergueu-se de volta e deu as costas, deixando de vez a biblioteca, em Lana o sopro do seu sussurro ainda estava forte, ela sentia um formigamento diferente nos lábios, e pra ser sincera, sentiu um terrível medo disso.