Quando acordou no dia seguinte, por um breve instante Emma teve medo de abrir os olhos... Isso acontecia todos os dias. Era assustador mesmo depois de tudo, abrir os olhos e continuar na escuridão... Ainda mais naquele dia.
Ela queria poder abrir os olhos pelo menos uma vez e enxergar o mundo... Principalmente hoje... Para poder ver ao menos uma vez o rosto da pessoa que lhe fizera tão feliz. Da pessoa que amava com todo o coração.
Então criando coragem ela os abriu... Nada mudara e Emma deixou escapar um suspiro de decepção. Logo em seguida sua mão vagou calmamente ao lado da cama... Vazio... Não havia nada.

—Regina?_ ela chamou se sentando na cama.
Silencio... Não houve resposta.
—Regina você ta ai?_ ela perguntou.

Quando ninguém respondeu, ela se levantou com cuidado e foi até uma de suas gavetas pra procurar o que vestir... Pegou uma calcinha, e depois na pressa apenas vestiu uma camiseta qualquer que estava jogada sobre a cama. Então saiu do quarto... Descendo a rampa e indo em direção a cozinha, onde ouvira um barulho.

—Rê?_ ela chamou em um tom de voz bem baixo.
—Oh, você acordou?_ ela sorriu ao vê-la.
—Não encontrei você na cama_ ela disse_ achei que tinha fugido de mim.
—Nunca_ ela riu_ eu estava preparando um café da manhã pra nós... Ia levar na cama.
—Se quiser eu posso voltar e fingir que estava dormindo_ ela sugeriu.
—Não, tudo bem_ ela riu_ eu tive que mexer um pouco na cozinha... Não se importa né?
—Sem problemas_ ela garantiu.
Regina sorriu alegremente, sem parar o que fazia... E seus olhos vagaram pelo corpo da menina, que vestia apenas uma calcinha e uma camiseta, que estava bem curta por sinal, lhe dando uma visão bem agradável.

—Sabia que você ficou linda vestida com essa blusa?_ perguntou sorrindo.
—Ela ta totalmente curta né?_ ela fez careta.
—Eu adorei_ ela riu.

Emma corou envergonhada, e Regina largou as coisas em cima do balcão, caminhando até a porta onde ela estava parada. A abraçou e deu um leve beijo em seu pescoço.

—Bom dia_ sussurrou no ouvido dela em tom de brincadeira.
—Bom dia_ ela riu, pondo seus braços em volta do pescoço da morena.
—Você dormiu bem?_ ela perguntou lhe roubando um selinho.
—Melhor impossível_ ela garantiu com um lindo sorriso.
—Eu por acaso já disse que te amo?_ ela perguntou fitando os olhos verdes brilhantes da namorada.
—Hoje não_ ela respondeu calmamente.
—Eu te amo_ ela sussurrou no ouvido da menina, a fazendo se arrepiar por completo.

Então ela a empurrou com cuidado, a prensando contra a parede e pressionando seu corpo contra o dela... Logo em seguida juntou seus lábios, num intenso beijo, cheio de segundas intenções.
Ela gemeu baixinho sentindo as mãos da morena acariciando seu corpo por baixo da blusa.

—Café da manhã_ ela murmurou em meio ao beijo, tentando afastá-la.
—Huhum_ a morena concordou sem partir o beijo.
—Regina_ ela riu.
—Tudo bem, tudo bem_ ela parou_ vamos ao café.

Ela se separou da loira, e segurou sua mão... A guiando com calma pra dentro da cozinha e a ajudando a se sentar. Se sentou ao lado dela e assim tomaram o delicioso café que Regina preparara... Em meio a risadas e caricias, nenhuma das duas lembrava de outro dia mais feliz que aquele.
Para Emma só faltava uma coisa pra que aquele momento fosse perfeito... Mas ela sabia que seria impossível. Não se podia ter tudo, ela não achava que tinha o direito de querer mais que aquilo.
—Não sabia que tinha dons culinários_ Emma comentou sorrindo.
—Fazer um omelete não é bem ser um chefe_ ela riu_ mas eu sei o suficiente pra não morrer de fome.
—Obrigada por isso_ ela disse alegremente.
—Você merece linda_ a morena lhe roubou um selinho.

Depois de um breve minuto, a alegria de Regina se dissolveu... Ele se lembrara que tinha um encontro marcado com os amigos. Isso a desagradou, ela queria passar todo o dia com Emma, abraçá-la, beijá-la... Repetir sem parar o quanto a amava. Mas pelo visto isso não seria possível.

—Algum problema?_ Emma notou o repentino desanimo após o beijo.
—Acabei de me lembrar que marquei um encontro com meus amigos... Não posso mais cancelar_ fez careta.
—Ah tudo bem_ ela disse ainda sorrindo_ vai.
—Mas eu queria passar o dia aqui com você_ ela fez bico_ não queria te abandonar assim depois de ontem.
—Rê ta tudo bem_ ela riu_ eu não me importo... Você já tem abandonado demais seus amigos por minha causa.
—Mas...
—Sem mas querida_ ela a interrompeu_ pode ir eu vou ficar bem.
—Tem certeza?_ insistiu.
—Tenho, vou ficar aqui ensaiando pra próxima fase do teste de balé... É no fim de semana_ ela disse_ preciso treinar muito.
—Você vai passar fácil_ ela garantiu.
—Mesmo assim_ ela riu_ vai com seus amigos e eu vou fazer o que faço melhor... Dançar.
—Você é incrível sabia?_ ela perguntou.
—É, sabia_ ela zombou.

Regina se inclinou pra beijá-la mais uma vez.
Depois que terminaram o café... Regina ajudou Emma a cuidar da louça e guardar as coisas no lugar. Depois, em meio a algumas caricias, elas se vestiram e mesmo sem muita vontade, Regina foi embora... Não podia mais furar com seus amigos.

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Emma estava completamente nervosa aquele dia... Era o dia de seu ultimo teste de dança pra saber se ela iria ou não ganhar a bolsa de estudos pra dançar balé em Paris. Era o seu grande sonho que dependia exclusivamente do seu desempenho aquele dia. Não permitiria que nada a desconcentrasse.
Só faltava uma coisa para que tudo estivesse perfeito... Regina.

—Ela ainda não chegou?_ Emma perguntou a sua amiga que estava parada ao seu lado.
—Ainda não_ ela respondeu_ calma Emma... Ela vai aparecer.
—E se não aparecer?_ ela disse nervosa.
—Porque não apareceria?_ ela sorriu.
—Não sei... Porque se cansou de mim e...
—Emma_ a repreendeu.
—Ta, desculpa_ suspirou_ é que estou nervosa... Já é a quarta vez que tento ganhar esse concurso e nada... Nem sei se devia estar aqui tentando de novo.
—É claro que devia_ sorriu_ de todas nós você sem duvida é a melhor... Vai conseguir dessa vez.

Emma tinha poucas esperanças de que ganharia alguma coisa aquele dia... Mas ela não desistiria.
Desistir... Uma palavra que ela não costumava usar, não pretendia começar agora.

—Você é a próxima_ sua amiga avisou._
Emma soltou um leve suspiro derrotado... Ela não viria mais.
—Pela sua cara agora, suponho que estava pensando em mim_ Regina zombou.
— Regina!!!!!_ um enorme sorriso se abriu em seu rosto_ achei que não viria.

Ela a abraçou apertado, a levantando do chão e a girando no ar... Emma riu, agora sim ela poderia dançar em paz.

—Eu não perderia isso por nada_ ela sussurrou no ouvido dela.
Emma suspirou se apertando mais contra a morena.
—Estava pegando isso aqui pra você_ ela se afastou e pôs uma flor na mão dela.
—Você não existe_ ela sorriu acariciando a flor.
Regina se aproximou e deu um beijo em Emma, um beijo de boa sorte... Foi ai que ouviu chamarem o nome dela.

—Parece que é sua vez minha bailarina_ ela lhe roubou um ultimo selinho_ boa sorte.
—Obrigada amor_ ela deu um beijo na flor e pediu que a morena a segurasse, lhe dando um ultimo selinho antes de entrar no palco.

Assim que entrou, sua amiga a guiara até o centro do palco... Depois a deixou lá sozinha para que desse o seu show. E todos sabiam que daria. Regina foi se sentar na plateia pra prestigiar sua namorada... Algo dentro dela lhe dizia que a loira ganharia.
Ela era simplesmente perfeita... Não havia porque não ganhar.

Todos assistiram encantados enquanto Emma dançava... Os jurados, a plateia, os outros dançarinos, todos fascinados com tamanha graciosidade e talento. Ela era perfeita... Nenhum erro, em nenhum momento ficara nervosa ou demonstrava insegurança. Regina estava orgulhosa e naquele momento teve certeza que ela ganharia aquela bolsa.

—Ela é incrível não é?_ um senhor que se encontrava sentado ao lado de Regina comentou.
—É sim_ ela concordou com um largo sorriso_ é minha namorada.
—Oh, sério? _ela assentiu_Você é uma garota de sorte_ ele elogiou.
—Muita sorte_ concordou.

Assim que a apresentação acabou, todos aplaudiram de pé... A amiga de Emma a ajudou a se retirar do palco e Regina se levantou para ir falar com ela. Como Emma fora a ultima dançarina a se apresentar, os jurados também se retiraram para julgar. Regina passou por eles nos bastidores enquanto ia atrás de Emma.

—Acho que essa menina, a Emma Swan é quem deveria levar o primeiro lugar_ um dos jurados disse_ ela é simplesmente perfeita.
—Eu concordo_ o outro disse.
—Eu acho que devíamos dar oportunidade a outra bailarina_ alguém discordou.
—Por quê?_ quiseram saber.
—Eu olhei a ficha dessa menina e... Descobri que ela é cega_ ele explicou.
—Cega?_ disse ceticamente_ ela dançou tão bem e... Não parecia cega.
—É não parecia, mais ela é_ disse duramente_ não acho que devíamos dar uma bolsa de estudos para ir a Paris, para uma menina deficiente... É ridículo. Ela não conseguiria ter o mesmo aproveitamento que uma bailarina normal. Seria um desperdício da bolsa.

Regina não conseguia acreditar no que estava ouvindo... Não era possível que fariam mesmo aquilo.

—Não estamos aqui pra avaliar se ela enxerga ou não bem... E sim como ela dança_ alguém lembrou.
—Eu acho que Mark tem razão, não devíamos dar a bolsa a ela_ afirmou o jurado.
—Ainda temos ótimas candidatas e podemos dar a ela o terceiro lugar... Um prêmio de consolação_ alguém sugeriu.
—Tudo bem, eu concordo.

Todos acabaram concordando em não dar o primeiro lugar a Emma... Regina estava furiosa e quase partira pra cima dos jurados. Como eles podiam julgá-la só porque ela era cega? Era tão injusto... E Emma ficaria simplesmente arrasada.
Com um longo suspiro Regina voltou a caminhar até encontrar Emma conversando alegremente com outra dançarina... Tinha um sorriso tão bonito no rosto e estava tão confiante.

—Rê?_ ela parou a conversa e se virou.
—Você sempre sabe né?_ ela riu_ parabéns... Você foi incrível.

Ela a abraçou apertado, de forma protetora... Gostaria de fazer alguma coisa, de contar a ela... Mas não podia dizer o que tinha ouvido, não queria destruir os sonhos dela. Naquele momento toda alegria que sentia se transformou em tristeza ao pensar na decepção de Emma... Não queria vê-la chateada e saber que sua deficiência foi a razão por ela não levar aquela bolsa a deixava revoltada.

—Rê_ ela chamou_ esta me sufocando.
—Ah desculpe_ ela a soltou.
—Ta tudo bem?_ ela perguntou_ você me parece tensa.
—Ta tudo ótimo_ mentiu forçando um sorriso, tolice, já que ela não podia ver... Ela não conseguia esconder seus sentimentos dela, era tão frustrante_ só estou ansiosa com o resultado.
—Ah, eu também estou... E muito_ ela garantiu_ mas dessa vez acho que vai ser diferente... Acho que gostaram da minha apresentação e tenho chances de ganhar.
—Claro_ ela concordou tristemente.
—Tem certeza que ta tudo bem?_ ela perguntou preocupada.
—Eu te amo Emma_ ela sussurrou.
—Eu também_ ela garantiu.

Ela puxou-a pelo rosto pra dar-lhe um delicado beijo... E então chamaram as bailarinas pra poder anunciar as vencedoras do prêmio. Regina nunca se sentira tão inútil na vida, quanto naquele momento, ao ver a expressão de tristeza no rosto de Emma, quando os jurados anunciaram que ela ficara em terceiro lugar.
Mais um ano que ela não conseguira realizar o seu sonho... E naquele ponto, enquanto as estúpidas lágrimas desciam, ela desistiu... Nunca conseguiria... Fora besteira pensar que podia.

—Eu sinto muito_ Regina sussurrou a abraçando_ você, mais do que ninguém, merecia essa bolsa Emma. Não foi justo... Você é perfeita, a melhor.

Ela não respondeu, ficou calada, congelada em seus braços... Os olhos vazios, encarando a mesma escuridão de todos os dias.
Regina resolvera levá-la pra casa... E durante todo o caminho ela não disse nada, só parecia que aos poucos a tristeza dela ia se transformando em raiva.

—Emma, você ta bem?_ ela perguntou quando pararam na porta da casa dela.
—Foi bom que eu tenha perdido essa bolsa_ ela disse.
—Como é?_ ela não havia entendido.
—Finalmente eu entendi Regina... E quer saber? Eu to cansada_ ela deu um sorriso cansado.
—Cansada de que? Do que você ta falando?_ ela estava confusa.
—Eu quero terminar_ ela disse séria.
—Terminar o que?_ fez careta.
—Terminar o nosso namoro Regina... Acabou_ ela sussurrou.

Regina ficou estática no lugar, sem conseguir entender... Porque ela estava dizendo aquilo? O que fizera de errado?
—Mas, o que foi que eu fiz?_ ela começou a entrar em desespero.
—Você não fez nada Regina... Fui eu_ ela abaixou a cabeça.
—Emma...
—Eu to cansada de ser um estorvo na vida das pessoas Rê_ ela a interrompeu_ to cansada de ser a pobre ceguinha.
—Você não é um estorvo, que besteira esta dizendo_ ela falou irritada.
—Sempre fui_ ela discordou_ só o que fiz durante todo esse tempo foi atrapalhar a vida das pessoas. Primeiro meus pais, que tiveram que abrir mão de muita coisa pra criar a filha cega... Depois minha tia que teve que me abrigar, cuidar de mim quando meus pais morreram, e pagar minhas contas porque a estúpida aqui não pode trabalhar... Meus amigos que sempre tiveram vergonha de mim... E agora você.
—Eu? Você só me trouxe alegria Emma_ ela afirmou.
—Não, eu vejo o que tenho feito com você_ ela suspirou_ você passa todo o seu tempo comigo, não fica mais com seus amigos e com sua família, está sempre preocupada se eu estou ou não bem... Se preciso de algo. Isso não é vida.
—Você é minha vida... E sua cegueira não interfere em nada_ ela disse agora irritada.
—Ela só me atrapalha_ garantiu com lágrimas nos olhos_ eu sei que não ganhei a bolsa porque sou cega... Não tem que ser gênio pra perceber. E eu não sou uma boa namorada Regina... Você merece algo melhor.

Regina se aproximou dela, segurando o rosto dela com força entre suas mãos... Tinha que tirar aquela ideia estúpida da cabeça dela... Elas não podiam terminar assim.

—Não existe ninguém no mundo melhor que você... Emma, eu te amo_ ela disse.
—Eu sei... Mas eu não quero mais isso_ ela segurou as mãos dela e as afastou de seu rosto_ se você soubesse como é... Gostar tanto de alguém e não poder ver seu rosto... Não saber qual a cor dos olhos dela, como é o seu sorriso. Isso acaba comigo todos os dias e eu não quero mais... Não aguento mais sofrer.
—Não faz isso Emma... _ ela implorou.
—Você merece alguém que seja como você Regina... Alguém que possa te fazer feliz de verdade e não exija sua atenção vinte quatro horas. Alguém que possa cuidar de você, alguém que possa cuidar de si mesma. Não precisa de um problema.
—Você não é um problema Emma... Nunca foi, para com isso.
—Desculpa_ ela pediu_ mas eu quero terminar... Não quero mais ser sua namorada... Vai ser melhor assim_ as lágrimas desceram mais livremente_ vai ser melhor pra nós duas.
—NÃO_ ela se exaltou_ você enlouqueceu... Não vai conseguir se livrar de mim... Ainda mais com essas desculpas esfarrapadas. EU TE AMO EMMA SWAN... Você ta ouvindo isso? EU TE AMO, e você tem que aprender a lidar com isso.
—Não pode me obrigar a ficar com você_ ela disse séria, tentando manter a convicção, aquilo doía mais do que ela deixava transparecer... Mas precisava deixá-la livre... Não queria ser um estorvo na vida dela. A amava demais pra isso.

Regina suspirou derrotada... Emma estava convicta do que queria... Estava de cabeça quente e não iria adiantar nada discutir.
Então ela puxou o rosto dela contra o seu e lhe deu um beijo... Com todo o amor que podia. Só tornou as coisas mais dolorosas para Emma, mas ela podia se dar ao luxo de ter um ultimo beijo. Precisava daquilo como do ar pra respirar.

—Não vou desistir de você_ Regina sussurrou com convicção.

Ela deu um beijo em sua testa, então a deixou ali, sozinha, chorando... Ela não iria deixar que acabasse daquele jeito, não mesmo. Ela daria um jeito de tirar aquela ideia estúpida da cabeça dela.
Emma entrou em casa com o coração aos pedaços... Regina não entendia como era se sentir tão inútil, como era se sentir um problema pros outros... No fundo ela queria que a morena realmente não desistisse... Mas por outro lado, ela preferia terminar agora, do que esperar que mais pra frente Regina percebesse que Emma não servia pra ela. Seria mais doloroso depois.