Quem Nós Somos? escrita por AndreZa P S


Capítulo 17
E - O que que é que você tem que me deixa assim?


Notas iniciais do capítulo

Nesse e no próximo capítulo, Kile irá cantar ♥
Pra quem quiser saber ( HAUHUAH), a voz dele é uma mistura da do Ed Sheeran e a do Dan Reynolds, da Imagine Dragons ♥



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"Deixe seu coração equipado e não se mexa agora. Aquiete essa mente que está vagando por todo tipo de beco escuro. 

A tragédia atinge sua auto-estima, constantemente esperando um fim disso tudo.

Ela abre os olhos e de repente, ela chora. 
Podemos ajudá-la? Podemos ajudá-la?
E ela responde: Sabe, eu finjo tão bem que nem mesmo Deus percebe, o que eu quero dizer e por que as minhas palavras estão menos do que paralelas.
Com os meus pés, você me pergunta do que eu preciso...
Só o que eu preciso mesmo, é respirar

Oohh
Ahhaah

As pessoas parecem tão interessadas, mas só algumas realmente investem com tudo aquilo que dói e machuca."

Breathe - He is We

 

Por Eadlyn Schreave

Meus olhos ainda estão fechados, estou com tamanha dor de cabeça, que acho que se eu abri-los agora, irei ter tipo um derrame ou algo drástico. Me espreguiço inteira, puxando o cobertor até o pescoço e afundando meu rosto no travesseiro fofo que tenho desde criança e trouxera de Londres. Respiro profundamente e, não sei quanto tempo fiquei assim, mas quando o sol começou a iluminar de forma mais intensa e, mesmo eu com os olhos fechados, consegui me sentir incomodada com aquilo. Me viro para o outro lado, suspirando, enquanto eu tentava lembrar detalhes da noite passada. 

Ok, eu fui na festa de Louise para comemorarmos o fim desse semestre.  Kile estava junto comigo, e eu estava irritada ainda com o incidente da chuva, mas não lembro de termos brigado, mas, mesmo assim, ainda não consigo recordar exatamente de sua presença durante a noite. Nós ficamos afastamos? Sei que eu queria estapeá-lo até a morte por ter convidado Marcus, e depois fui buscar algo para beber; depois disso... não sei dizer, minha mente está tão confusa! Parece que existem vários fragmentos vagando na memória, esperando para que eu conseguisse finalmente montá-los. 

Solto um longo suspiro, enquanto apoio o meu cotovelo no colchão e ergo minha coluna, para então me espreguiçar da melhor forma possível; bocejo alto. Meus olhos demoram um pouco para conseguir focar no meu quarto, e quando tentei forçar minha cabeça à me recordar como foi que eu fui parar ali e, principalmente, porque eu estava apenas de langerie. Não costumo dormir apenas de calcinha e sutiã. Faço uma careta e deslizo as duas mãos pelos os meus cabelos desgrenhados, eu podia ver o meu reflexo no espelho na parede do outro lado. Minha maquiagem parecia que tinha derretido, um borrão horrível ao redor dos meus olhos. 

Faço uma prece rápida e silenciosa, pedindo que eu não tenha feito nada que fosse me arrepender na noite passada. Por favor, Eadlyn, por favor. 

Nunca mais vou beber tanto! Mas é que... poxa, o Kile me tira do sério, fui obrigada a beber mais que o normal. Mesmo que não tenha sido a primeira vez em que fiquei bêbada nesse nível.

Um pouco cambaleante, ponho minhas pernas para fora da cama, quase tropeçando no carpete claro do chão. Meus pensamentos estão lentos, e meu corpo está cansado... devagar e me arrastando, abro a porta do banheiro e me enfio imediatamente para dentro do box, ligando o registro e deixando com que a água desatasse os nós dos meus músculos. Esfrego o meu rosto com força, como se assim eu pudesse lembrar de algo mais contundente da noite anterior. Depois de uns 15 minutos de banho, eu saio com a minha toalha enrolada no meu corpo, meus cabelos pingando nas minhas costas, mas eu já começava a me sentir melhor. A vertigem de quando acordei, já não tinha mais, a única coisa que, provavelmente ficaria ainda ao meu lado durante boa parte do dia, era a dorzinha de cabeça irritante que martelava minha cabeça.  Me agacho em frente ao armário, procurando pelo o meu secador de cabelo que guardo na última gaveta, mas ele não está lá. Quando me levanto, dou uma rápida olhada no meu reflexo, meu rosto está limpo, sem nenhuma maquiagem e eu acabo fazendo uma careta. Odiava ficar sem maquiagem. 

Foi quando eu coloquei os meus dois pés para fora do banheiro, que vi alguém deitado na cama de Manoela, mas não era Manoela. Meu coração disparou. Eu acordei de langerie. Eu não me lembrei de nada. Tem um homem no mesmo quarto que eu, dormindo a centímetros da minha cama. Ele está com a cabeça virada para o outro lado, não conseguia ver o seu rosto. 

Ai. Meu. Deus. Como Kile permitiu eu sair de lá bêbada e com um outro cara? Ele não poderia me culpar por ter feito algo de errado, ele deveria ter cuidado de mim. 

Dou um passo em direção ao indíviduo, cautelosamente, é claro. Não sabia qual era a índole do sujeito, e no caminho pra ir até ele, pego o meu guardachuva que estava jogada no chão. Qualquer coisa, eu bateria nele até a morte. Porém, enquanto mais eu me aproximava, mais a minha testa começou a franzir-se e meus sentimentos se misturarem com o meu mal-estar; Eu reconhecia aquele cabelo. 

Ei, aquilo em cima da cômoda não é o óculos do Kile? 

Cutuco o Woodwork com o dedo em seu ombro. Ele se remexe inteiro, e acaba deixando o cobertor cair no chão. Vira a cabeça em minha direção, e então abre os olhos, que estão um pouco vermelhos. Kile pisca várias vezes, e então solta um longo suspiro antes de se espreguiçar todo e se acomodar um pouco mais na cama. Ok, ok. O que foi que aconteceu? Será que a gente... não, não... será? Eu fico ali, parada quase sem respirar, olhando para o corpo esparramado de Kile Woodwork. Não posso ter dormido com ele. Não. Quer dizer, até podia, porque.... ; balanço a cabeça firmemente de um lado para o outro. Cala a boca Eadlyn.  Cutuco Kile novamente, e aí ele abre mais uma vez os olhos.

— Será que não dá pra eu dormir mais um pouquinho só? Pelo o amor de Deus - resmunga ao sentar-se na cama e pegar o seu óculos de cima da cômoda onde ficava o abajur. 

Aponto para o seu rosto, tentanto parecer indiferente a seja o que for que tenha acontecido ontem entre a gente. Estremeço por dentro... poderia pelo menos lembrar como foi. Não que eu me importe... mas, tá, deixa. 

— Você dormiu aqui? - Questiono a primeira pergunta da minha lista mental recém formulada.

Kile faz cara de tédio.

— Óbvio, não está me vendo aqui? - Retruca enquanto coçava a lateral de seu rosto.

— Tá - respiro fundo antes de fazer a próxima. - Eu bebi demais ontem, né?

Ele se joga na cama novamente.

— Bebeu.

— Você que tirou... - limpo a garganta, torcendo para que o calor que senti subindo pelo o meu rosto não o tenha deixado vermelho; - tipo, você que tirou minha roupa? - Indago, piscando algumas vezes e fazendo um gesto com as mãos, como se eu não me importasse. 

Kile me encara. Me olha nos olhos mesmo, parecia que queria ver através de mim. De repente, um sorriso despontou em uma das extremidades de seus lábios, um sorriso cafajeste.

Ele finge pensar por um momento.

— De certa forma. 

Estreito os olhos.

— Você está falando sério ou é mentira? - Agora minha voz soou algumas oitavas mais alta. 

— Eu não abusei do seu corpo praticamente inerte, Eadlyn, caso seja isso que queira saber - murmura enquanto revirava os olhos e se sentava na cama de novo, passando as duas mãos pelos os cabelos, de trás para a frente duas vezes.

Encolho um ombro e ergo a cabeça.

— Claro - digo, me sentindo estranha. Todos os caras queriam estar no lugar dele, mas ele, o diferentão, não tirou nem uma casquinha? O cara devia me achar rídicula. Mas no fundo, mesm que meu ego tenha sido ferido agora, agradeço por isso. Teria me sentido mal, sempre fui muito seleta, dormir com qualquer nunca fez o meu feitio.

Ficamos nos olhando. Kile está evidentemente me analisando, passou os olhos do meu queixo para a minha boca, para o meu nariz e parou nos meus olhos por alguns segundos antes de descer para o meu corpo nu, protegido apenas pela a minha toalha. Coloco as mãos na cintura e ergo uma sobrancelha.

— O que tanto me olha? - Quero saber.

Kile levanta-se e estica os braços para cima, respirando profundamente. E aí, ele caminha até mim, parando bem na minha frente, eu podia sentir o cheiro dele entrando pelo o meu nariz, como se tivessem colocado um potinho cheio dele para dentro das minhas narinas. Por alguma razão, minha garganta secou. Ele desliza o dedo indicador pela a minha bochecha, e então o seu polegar pousou em uma das laterais dos meus lábios, e de repente eu não conseguia pensar direito. Porque eu não sabia o que estava acontecendo. Me senti a deriva, sem o controle de mim mesma, e eu ODIEI isso. ODEIO não estar no controle, odeio ter a sensação de que as coisas e pessoas não estão sob o meu controle. 

— O que pensa... - começo eu, querendo dar um passo atrás, mas incapaz de fazê-lo; - o que pensa que está fazendo?

Kile não sorriu, não vi humor no rosto dele. Parecia sério, compenetrado, assim com quando o via lendo algum livro.

— Vendo você mais de perto - responde. 

— Mas eu não quero isso - digo em voz baixa, engolindo em seco. Do que esse idiota está falando? 

— Você é tão bonita sem aquilo tudo. Porque se esconde?

E então eu travo, meus olhos arregalando-se enquanto eu sentia o meu corpo inteiro ruborizar. Eu estou sem maquiagem, com cara de songamonga, e o pior, na frente do Kile. 

Agora entendi o jogo dele. Está, como sempre, me zoando, com alguma provocação na pontinha da língua.  Bufo alto.

— Você é tão idiota - resmungo, minha voz exaltando-se. Deslizo minha mão pela minha testa, me sentindo nervosa. Me sentindo como se tivesse um casamento para ir, e chegasse lá apenas de pijama e com a cara amassada, constrangida. 

Eu sei que sou bonita... mas prefiro que me vejam de maquiagem. De maquiagem eu sou espetácular. 

Kile franziu a testa, parecendo confuso e recuando alguns passos antes de apertar a ponte do nariz. Ele aponta para o espelho.

— Olha - exige. Cruzo os braços, encarando-o com uma expressão de poucos amigos. - Você é tão mais bonita assim - fala, seu rosto frustrado, a voz indignada; e eu não conseguia entender o que porque dele se importar tanto.

— Ninguém se importa com a sua opinião, Kile - falo bufando. E ele, claramente, está curtindo uma comigo. Meus olhos ficam caídos sem maquiagem, e parece que aumentam de tamanho... minha pele, apesar de estar boa agora, tinha vários poros abertos que eu simplesmente odiava, fora os lábios que ficavam bem menos atrativos, mais finos. Erik nunca me viu sem maquiagem, na verdade, só minha família, e eu queria que continuasse assim. Mas o Kile... o Kile é meu inferno astral, meu castigo.

Ele suspira.

— Você é a pessoa mais irritante que eu já conheci. Não aceita elogio, mesmo que tenha um ego do tamanho do mundo. O que você quer, Eadlyn? - Pergunta, exasperado. 

E a sua reação me pegou de surpresa, então fiquei dois segundos em silêncio antes de responder, minha voz fria e cortante:

— Não quero nenhum elogio seu, Woodwork. Por que você se importa? - Indago, meu cenho franzido. - Sério, por quê? Você não vai com a minha cara, eu não vou com a sua, e assim está ótimo. Não quero seu elogio, pegue ele e leve pra você.

Observo enquanto o garoto puxa fios de seu cabelo, claramente furioso.

— Eu sou um idiota - murmura, a voz saindo rouca de tamanha irritação. - Eadlyn, você é uma peste - solta, me olhando com intensidade. 

— Idiota é você, que gosta de provocar, mesmo quando não há necessidade - falo, tão irritada quanto ele. Com passadas largas e pesadas, deixando um rastro de água pelo o trajeto, caminho até a porta, abrindo-a. - E quer saber de uma coisa? Você gosta de dizer que eu me acho, que eu me sinto superior, mas você é a pessoa mais hipócrita daqui. Eu pelo menos deixo claro que não sou flor que se cheire e que sim, eu sou egoísta e extremamente narcisista. Você finge que não liga, finge que não está nem aí para nada, mas eu vou te dizer a verdade, Sr. Imbecil Woodwork, você é um egocêntrico, você é que se acha superior a mim ou qualquer um dos meus amigos, seja qual for o critério que você usa. Você também julga as pessoas pelo o grupo em que elas participam - cuspo cada palavra, meu corpo tenso, meu coração estava batendo erradicamente. - Kile, você é patético - falo, e eu pretendia permacer calada enquanto ele passava por mim e ia embora, mas eu estava tão irritada, que queria dizer tudo e de uma vez só. Caminho até ele novamente, que estava com a mandíbula trincada, me olhando de cima, os braços colados na lateral do corpo. Cutuco o seu ombro várias vezes com o dedo, mas ele não se mexe, não se defende. - Siga o seu conselho, Kile, se assuma, confessa, diz que eu, a pentelha arrogante burra e autorária, está certa.

Ficamos olhando para os olhos um do outro por um tempo longo demais. Minha respiração está acelerada, meu coração ainda parecia fora de controle, mas Kile está controlado, o único sinal de que minhas palavras o haviam afetado de alguma forma, era o da sua mandíbula que permanecia trincada.

— Quer que eu diga isso, Eadlyn? - Ele dá de ombros, passando a língua pelos seus lábios ressecados.

— Eu quero que você se foda.

Ele balança a cabeça de um lado para o outro, olha para baixo e dá um sorriso duro.

— Eu sou realmente patético. Não devia ter ficado aqui quando você pediu. Não devia ter cuidado de você, não devia nem ter passado pela a minha cabeça que um dia... - murmura deixando a frase inacabada e furiosa, antes de passar por mim e sair do quarto, fechando a porta com um baque alto quando passou; me deixou sozinha, afundando na minha ressaca, na minha raiva, no meu mal humor, submersa nas lembranças de quando eu não me gostava. Me deixando na minha culpa... porque o cara realmente cuidou de mim. As pessoas geralmente não fazem isso, porque eu no fundo não mereço, sei que minhas relações são superficiais. Kile disse que eu pedi para ele ficar... mesmo que eu me lembre, eu acredito nele. E ele ficou, e eu sou tão escrota, que fiz um discurso só porque ele me elogiou... independente do elogio ser verdadeiro ou não.

E eu queria morrer agora. Não gosto de me sentir culpada, e geralmente não me sinto. Falo e faço, doa a quem doer, mas....

Me jogo na cama, fechando os olhos e pondo o travesseiro em cima da minha cabeça. Eu queria chorar, mas eu não sabia o porquê; e então eu não chorei, não gostava de disperdiçar minhas lágrimas. 

 

 

Perto das duas horas da tarde, Richard pediu para eu colocar Kile no nosso grupo particular - mesmo que tenha quase umas 60 pessoas nele - do whatsApp. E eu fiz, mas o garoto não se manifestou. 

Louise manda uma mensagem:

 

Louise: Eadlyn!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Amigaaaa! O que aconteceu dps que vcs sairam da festa?

Penso um pouco sobre aquilo. O que aconteceu?

Eu: bom, não me lembro mto bem....

Richard está digitando...

 

Richard: Também!! Bebeu até ñ poder mais HAHAHAHAHAHAHAH

Louise: cala a boca, Richard! SÉRIO EAD, VC NÃO LEMBRA DE NADA?

Eu: hm... não, mas estou começando a me assutar. O q aconteceu?

 

Fernanda Button está digitando...

 

Diogo: seu namorado bateu no Eikko, foi foda.

 

Arregalo os olhos.

 

Eu: Mentira! Tá brincando

Fernanda Button: Kile tava te arrastando pelos os cabelos, daí o Erik te defendeu HAHAHAHAHAHAHAHAHA

Eu: O QUÊ? Me arrastando pelo os cabelos?????????????????

Fernanda Button: Brinks, mas o Erik não queria deixar o Kile te levar pra casa.

Louise está digitando...

 

Richard: Na verdade, o Woodwork tava te carregando nas costas, vc parecia um peso morto, ead

Diogo: HAUHDUHSUHADUHSUHADUHAUSHUDHASUHDUAHSUAHDUHSUHDUH VERDADE RICHARD, BELA DEFINIÇÃO

Louise: isso msm que os meninos disseram, dai o Kile se irritou e bateu nele.

Fernanda Button: Foi sexy

Louise: e fofinho

Pablo: meninas são tão patéticas (emoji revirando os olhos)

Eu: E o que aconteceu depois?????

Louise está digitando...

 

Diogo: ñ sei, vc puxou o Kile e vcs foram embora.

Eu: meu Deus, meu DEUS, NÃO ACREDITO.

Micaela:  ei ei ei grupo, cheguei, do que estão falando?

Micaela: deixa, vou ler aki

Louise: Acho que o Eikko ficou com ciúmes okaoaksopaksopaks

Richard:—_-

Micaela: AÉ, VERDADE, VC TAVA DE PORRE EAD KKKKKK, tipo, foi mto engraçado

Eu: HAHAHA, Cala a boca, Micaela, engraçado pq não foi com vc

 

Eikko saiu do grupo

Julieta saiu do grupo

Diogo: ih, fodeu

Louise está digitando...

Fernanda Button está digitando...

 

Louise: tadinho do erik, gente :(

Richard: psé

Fernanda Button: o que vc fez com o Kile, Ead? ngm esperava aquilo,  quem diria que no fundo, Kile era tão fodão

Eu: Não fiz nada, Kile é simplesmente um cara surpreendente.

Micaela: tá apaixonada kk

Diogo: convida o cara pra nossa festa aí, Ead... da semana q vem

Eu: tá

 

A partir daí a conversa passou a ser sobre a tal festa do Diogo, e eu agradeci mentalmente por isso. Cerca de cinco horas mais tarde, Kile me liga e eu sinto que meu coração meio que ficou preso na garganta. Com um suspiro, e temendo que agora ele dissesse algumas verdades pra mim também, atendi a ligação.

— Oi... - falo, na defensiva.

Kile suspira.

— Oi, Eadlyn. Você vai ir?

Franzo a testa. 

— Onde?

— Passar a semana na casa de fazenda dos avós de Richard. Ele me ligou pra convidar, e eu disse que falaria com você antes. 

Pisco algumas vezes, confusa.

— Não estava sabendo... mas você quer ir?

— Eu não sei - murmura, a voz também na defensiva.

— Olha só, Kile... sobre hoje mais cedo, queria te pedir desculpas, me exaltei, e no fundo você não tem nada a ver com os meus problemas.

Kile fica em silêncio por um momento antes de responder.

— Não esperava que fosse pedir desculpas, estou digerindo a surpresa ainda, só mais um momento - diz. Percebi com satisfação que ele tinha um certo sorriso na voz.

— Engraçadinho... e tem mais.

— Ai meu Deus, assim meu coração não aguenta.

Reviro os olhos.

— Sério, queria agradecer... sabe como é, por ter cuidado de mim.

— De nada.

— Ahn... - olho para o teto e começo a puxar um fiozinho solto da minha blusa. - No fim... nós vamos ou não pra fazendo do Campestro?

— Vamos. 

— Quando?

— Hoje, estarei te esperando no estacionamento do campus dentro de duas horas, até.

— Até, então...

Assim que Kile desligou, abri as mensagens novamente, e realmente tinha uma de Louise.

Louise: Eadlyn, vamos ir pra fazenda do Richard hj? 

Alguns minutos depois, tinha outra mensagem de dela.

Louise: EADLYYNN?? Será que dá pra responder? Vamos ou não?

A última era mais recente, cerca de uns 20 minutos atrás. 

Louise: Richard já falou com Kile. Nos encontre hoje umas 19:00 no estacionamento, vamos ir na Van do amor *-------* bjo

Penso por um momento se respondo ou não... bom, não custava nada colocar alguma coisinha só pra ela saber que eu estou de acordo. Então mandei um singelo 'ok'.

...

Com uma mala e uma mochila nas costas, desci até o estacionamento. A Van de Campestro estava praticamente lotada, os 11 lugares ocupados por algum corpo. Fui obrigada a me acomodar nos primeiros bancos, Micaela havia guardado um lugar pra mim. Quando me sento, ela abre um sorriso cheio de dentes, balançando seus cabelos com as pontas roxas de um lado para o outro. Parecia extremamente animada e eu gostei de me sentar ao seu lado. Ela tinha a pele morena, assim como Richard - seu irmão gêmeo - e um pircing no septo, mas também já teve um na bochecha. Micaela foi a primeira pessoa que fez amizade comigo quando eu cheguei na universidade, e ela era bastante simples e animada. Podia dizer, que sentia falta da risada dela às vezes, desde o ano retrasado, quando ela deicidiu subitamente que queria estudar em uma universidade em Nova York. Enquanto Micaela tagarelava alguma coisa, eu corri os meus olhos pelas as pessoas ali dentro da Van. Mordo o lábio, frustrada por não encontrar quem eu procurava. 

— Kile está lá na frente - Micaela Campestro diz, apontando com o indicador para um rapaz ao lado do motorista. Como se ele tivesse ouvido, Kile vira-se para mim e me dá um breve aceno de cabeça, acompanhado de um sorriso pequeno, antes de voltar-se novamente para a frente. - Ele é tão gatinho - suspira ela. Olho para o seu rosto, mordendo o lábio inferior, e concordando com a cabeça. 

Mas é tão idiotinha, penso eu, me contendo para não revirar os olhos.

— É.

— Eu espiei enquanto ele conversava com você, no balanço - me conta, aproxiando-se de mim, seu sorriso era do tamanho do mundo.

Franzo a testa.

— Você o quê? - Retruco, enquanto fazia uma careta.

Ela dá de ombros.

— Queria ver se ele cuida de você... cê sabe que eu não gostava do jeito que o... - e então ela faz uma pausa, olha ao nosso redor, e coloca uma mão em formato de concha ao lado da boca antes de prosseguir: - Eikko te tratava às vezes, vocês pareciam um objeto na mão um do outro.

— Você é muito romântica, o que Erik e eu tínhamos era pegada - falo. 

Ela suspira e sopra um fio de cabelo que saiu de seu rabo de cavalo.

— E você e Kile? 

Dou de ombros, eu não sabia responder.

— Não sei muito bem.

— Química com certeza tem, eu praticamente vi uma densidade em cima de vocês dois, poderiam se agarrar a qualquer momento.

— Mas a gente se agarrou? - Perguntei, soando efusiva demais, o que fez com que Micaela soltasse uma risada alta e escandalosa. Algumas pessoas se viraram para trás. 

Faço cara de paisagem.

— Não - e faz biquinho.

Ótimo.

Algum tempo depois, todos nós estávamos calados. Eu, com a minha dor de cabeça como amiga, e com os meus pensamentos como inimigo. Até que alguém abre a boca e pergunta o porque da gente não começar a cantar até chegarmos até a fazenda, para matar o tempo. Eu reviro os olhos, sentindo vontade de esgolear o Diogo, que foi o retardado que teve a ideia. Todos pareceram gostar, menos eu. 

Todos começaram um debate, tentanto procurar por uma música pra começar o show de horrores, até que Kile se vira pra mim e abre um sorriso pesado, eu não sei explicar... intenso, sei lá. Seus olhos se de demoram em mim, e depois ele desvia o olhar para outra pessoa. Ele começa a assoviar, timidamente, até que, então, eu reconheço a música que ele estava introduzindo. Todos ficaram em silêncio, e aí ele canta Just de Way You Are do Bruno Mars.

— Oh, her eyes, her eyes
Make the stars look like they're not shining

(Oh, os olhos dela, os olhos dela
Fazem as estrelas parecerem que não têm brilho)

Her hair, her hair
Falls perfectly without her trying
She's so beautiful
And I tell her everyday

(O cabelo dela, o cabelo dela
Recai perfeitamente sem ela precisar fazer nada
Ela é tão linda
E eu digo isso pra ela todo dia)

Yeah, I know, I know
When I compliment her she won't believe me
And it's so, it's so
Sad to think that she doesn't see what I see
But every time she asks me, do I look okay
I say

(Sim eu sei, sei
Quando eu a elogio, ela não acredita
E é tão, é tão
Triste pensar que ela não vê o que eu vejo
Mas sempre que ela me pergunta se está bonita
Eu digo)

When I see your face
There is not a thing that I would change
Cause you're amazing
Just the way you are

(Quando eu vejo o seu rosto
Não há nada que eu mudaria
Pois você é incrível
Do jeito que você é)

E de repente ele para, me olha de novo e sorri. Depois desvia o olhar, mais uma vez, para o restante do pessoal, que estavam olhando pra ele, assim como eu... sorrindo. Por que o cara tem a voz bonita, não posso negar.

— É pra vocês cantarem comigo, gente - diz, e uma menina riu. Eu nunca fui com a cara dela, mas a risada era pior do que o cabelo loiro de espiga de milho. A partir daí, todos começaram a cantar com ele, retomando a canção da onde Kile havia parado. Depois disso, os cantores de chuveiro começaram uma playlist duvidosa, passando de Taylor Swift, até algumas músicas antigas da Avril Lavigne.

Quando finalmente chegamos, estava tarde demais para fazermos alguma coisa. E eu fiquei feliz com isso, pois eu ainda estava mal da ressaca, mesmo que a minha dor de cabeça tenha aliviado muito, muito mesmo. 

— Cadê seu avô, Campestro? - Pergunta Diogo, com Patrícia, sua namorada, em seu encalço. Kile eu estamos de mãos dadas, mas desde que saímos da Van, não nos olhamos mais do que o necessário. 

— Ele viajou, volta a amanhã - responde.

Já tinha vindo outras vezes na fazenda do avô de Richard, e sabia que tinha 3 quartos, na verdade, somente dois, porque era estritamente proibido dormir no quarto dos donos da casa. Pelo os meus cáculos, seriamos obrigados a dormir com mais de duas pessoas em cada quarto. E foi exatamente isso o que aconteceu. Kile, eu, Micaela, Isadora, Pedro e Fernanda, ficamos com o primeiro quarto. 

— Vamos ter que dormir na mesma cama - eu digo, soando cansada, enquanto largava minhas coisas no chão. Olho para Kile, esperando alguma resposta, mas ele parecia disperso. Talvez não tenha me ouvido, ou tenha fingido que não me ouviu.

Algum tempo depois, todos estávamos muito bem acomodados, cada um em sua cama, que, por sinal, era estreita demais para o meu gosto. Kile estava virado de costas pra mim, e eu virada para ele. Tentei dormir, mas não estava conseguindo, até que bufei alto.

— Algum problema, cherie? - Indaga, ainda de costas.

— Não consigo dormir - respondo, mal humorada.

— Estou te incomodando? - E aí, ele vira pra mim, nossos rostos a poucos centímetros de distância. - Lamento, mas não posso me afastar mais, senão vou cair - e sorriu.

— Não, tudo bem. Kile, é verdade que você bateu no Erik? 

Kile franze o cenho e solta um suspiro chateado.

— É, bati.

— Estou chocada, nunca iria imaginar.

— Já estou acostumado com você me subestimando, querida namorada.

— Você também faz isso comigo, ué.

— Tem razão - responde tranquilamente, me fazendo revirar os olhos de tamanha a calma que ele concordou.

— E... eu falei ou fiz alguma coisa constrangedora?

Kile me fita insistentemente.

— Talvez.

Arregalo os olhos e engulo em seco; pigarreio.

— Tipo...?

— Sei lá, você perguntou porque eu não te beijava - e piscou pra mim. Faço uma careta, estreitando os olhos.

— Mentira.

Ele arqueia uma sobrancelha e dá de ombros.

— Tudo bem, então - e fecha os olhos, parecendo que não estava disposto a retrucar ou argumentar. 

Eu jamais iria perguntar isso pra algum cara. Ainda mais pro Kile.

 

Minutos incontáveis depois, eu não controlo a minha própria boca e pergunto, em voz baixa, rezando pra ele ter dormido.

— E o que você respondeu? - Sussurro, sentindo meu rosto ferver.

O Woodwork, permaneceu com os olhos fechados. Mas ele sorriu, um sorriso que mostrou todos os seus dentes.

— Não me lembro - diz, dando risada.

— Ah - digo simplesmente, constrangida demais para dizer algo melhor, e então me viro de costas. - Boa noite.

— Boa noite - e, sério, não sei se ele fez de propósito ou não, mas ele soprou a minha nuca, e eu fechei a boca o mais firme que podia. Senti a cama balançar um pouco, até que percebi que o querido estava rindo. 

Respiro profundamente. Idiota.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Talvez esse cap não tenha ficado TÃO bom, maaaaas, fiz o possível... ahuashuhs ^^