Quem Nós Somos? escrita por AndreZa P S


Capítulo 18
K - Você me mata, e eu sou um babaca.


Notas iniciais do capítulo

Quero um Kile pra mim ♥



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"O dia que eu te conheci você me disse que nunca iria se apaixonar
Agora que eu te entendo, eu sei que era medo na verdade
Agora estamos aqui, tão perto, contudo tão longe, não passei no teste?
Quando você perceberá, amor, eu não sou como o resto.

Não quero quebrar seu coração, quero dar um tempo ao seu coração
Eu sei que você está com medo, que é errado, como se você fosse cometer um erro
Há apenas uma vida para viver e não há tempo a perder, perder
Então, me deixe dar um tempo ao seu coração. Dar um tempo ao seu coração
Me deixe dar um tempo ao seu coração, um tempo ao seu coração (...)

Quando os seus lábios estão nos meus lábios, então, nossos corações batem como um só. Mas você desliza pela a ponta dos meus dedos

Toda vez você foge (...)

Eu posso ver isso nos seus olhos, você tenta afugentar isso com um sorriso. Algumas coisas não se disfarçam, não quero quebrar seu coração
Talvez eu consiga aliviar a dor, a dor. Então, me deixe dar um tempo ao seu coração. Dar um tempo ao seu coração"

Give your heart a break - Demi Lovato

 

Por Kile Woodwork

 

Não posso dizer que esse foi o melhor lugar em que eu já dormi, e muito menos dizer que minhas costas não estão um pouco doloridas, e nem que tive uma bela noite de sono, ressonando durante a madrugada toda. Não, isso não aconteceu. Mal consegui dormir, meus músculos estão completamente enrijecidos, e meu pescoço está tenso. Ainda assim, também não posso dizer que foi... ruim. Eadlyn é completamente espaçosa, e isso definitivamente não deveria me surpreender. Várias vezes - várias mesmo - acordei com a garota com uma perna em cima da minha barriga, ou com os braços empurrando a minha cabeça para fora da cama. Foi desconfortável, mas não conseguia deixar de achar interessante.

Ainda sim, em algum momento durante os meus pensamentos, e o cheiro de Eadlyn que parecia que tinha se impregnado em mim, eu consegui pegar em um sono pesado. Um sono embalado pelo o corpo quente da menina que me fazia perder a cabeça com poucas palavras, e pelo o rosto dela que eu simplesmente não conseguia manter fora da minha mente. Era uma novidade. Por que Eadlyn não aceitava o meu elogio e usava menos maquiagem? Ela é tão mais bonita sem, mais normal... natural, e menos artificial. Mas aquilo era um ponto que me fez ter dor de cabeça... até que ponto ela era tão autosuficiente como fazia questão de mostrar e esfregar na cara de todo mundo, e até que ponto sua vulnerabilidade a fazia agir assim?

Posso estar completamente louco, e eu não descarto essa possibilidade, mas de repente, Eadlyn não era tão ruim assim. Talvez quando eu digo que ela seja perdida - mais para provocá-la - isso seja verdade. Talvez eu não devesse me importar com o quão insuportável ela é. E talvez eu não me importe.

Talvez eu não saiba o que pensar sobre ela. Será que Eadlyn tinha razão e eu sou realmente preconceituoso? Posso a ter julgado inúmeras vezes, sem me dar ao trabalho de verificar se minhas teorias realmente eram verdadeiras. Não que ela me ajude nesse trabalho, Eadlyn é uma barreira enorme, que me desperta a curiosidade de saber o que tem do outro lado, mas que tenho preguiça demais para tentar quebrá-la. Isso não deve valer o meu esforço, estou bem sozinho, com a minha vida, e não precisava trazer a de ninguém para o meu mundo neste momento. Não precisava. 

Mas eu sentia que estava trazendo, de forma ou de outra, a vida de Eadlyn Schreave para a minha, desde o primeiro momento em que tive coragem o suficiente para suborná-la. Agora tenho que aguentar as consequências, e a pior delas era me sentir submerso pela a garota da qual eu não ia com a cara, mas agora eu ia... eu acho. Embrumado na nuvem escura dela, que não me deixava respirar, e isso me incomoda, me incomoda porque não é o que eu quero. 

Melhor eu me afastar. Melhor eu me manter à parte daquela serumaninha, que despertava minhas emoções de forma não cômoda. Eu gosto de estar cômodo. Sempre gostei, e isso ainda não mudou. 

 

Acordo com uma luz forte invadindo o quarto, meu cenho franzindo-se, enquanto eu tentava me espreguiçar, mas algo me impedia de fazer o movimento. Abro os olhos, dando de cara com uma Eadlyn com a cabeça sobre o meu peito, seu cabelo praticamente entrando para dentro da minha boca. Seu corpo está tão pesado, que eu achei que ela dormia. Deslizo a mão pelo o meu rosto, esfregando-o com força, enquanto Eadlyn se remexe acima de mim, levantando a cabeça um pouco, possibilitando que eu pudesse ver os seus olhos fechados, e um sorriso, antes dela bocejar.

Não sei quanto tempo fiquei ali, e não me lembro também se acabei pegando no sono enquanto a Schreave me fazia de travesseiro, mas quando fiquei desperto o suficiente, percebi que só estávamos nós dois no quarto. Eu queria sair, mas não queria acordá-la. Eadlyn suspira, e de repente ela ergue o seu pescoço e apoia uma mão na minha barriga. Seu cabelo está uma bagunça, alguns fios estão erguidos para cima, e eu acabei sorrindo. Ela me olha agora, o cenho franzido, e inclina a cabeça para o lado, suspirando novamente. Piscas algumas vezes depois fecha os olhos e os abre de novo, parecia confusa. 

— Isso é real ou é outro sonho? - Pergunta, a voz rouca, os olhos semicerrados. O sol irradiava a sua luz para dentro do quarto, iluminando Eadlyn por trás, fazendo com que um halo de pó, dourado por conta luminosidade amarela, lhe desse um ar quase angelical.... me controlo pra não revirar os olhos. Ironia pesada agora.

— Se isso aqui é um sonho, então eu estou sonhando também - murmuro, minhas sobrancelhas erguidas. 

— Ah, bom - diz rapidamente, parecendo ter ficado alerta e reparado que seu corpo estava quase em cima do meu. Ela se afasta, prendendo o seu cabelo em um rabo de cavalo. Seu rímel borrou um pouco durante a noite, e seus olhos estão brilhando mais que o normal hoje. 

Eadlyn joga as pernas para fora da cama e fica parada por um momento, olhando ao redor com uma mão na cintura.

— Cadê o pessoal? - Pergunta, sem olhar diretamente para mim. Ao que parece, olhar para a parede atrás da minha pessoa era mais interessante.

Dou de ombros, me acomodando na cama mais uma vez. Coloco as mãos atrás da nuca, e respiro e solto o ar lentamente, sentindo o meu corpo mais relaxado do que antes.

— Não sei, acho que dormimos demais - respondo. - E você sonhou comigo? - Indago, e esperei ela se virar para mim com o nariz franzido e o rosto corado. E foi exatamente assim que Eadlyn me fitou, mas acompanhado com uma empinada de nariz e os olhos um pouco mais abertos que o antes. 

Ela limpa a garganta, a testa franzindo-se, enquanto estufava o peito, mas seus ombros meio que se encolhiam.

— Ahn... - ela tosse, funga, e conclui: - por quê? - Eadlyn pisca, antes de fazer uma expressão de desentendida. - Eu... - mais uma tossida; - por um acaso, falei enquanto dormia?

Eu estou rindo agora.

— Você realmente sonhou comigo? - Questiono, ainda rindo e com as sobrancelhas arqueadas.

Eadlyn bufa e revira os olhos.

— Não, só perguntei pra saber se não tinha dito o nome de Erik, sabe como é... tinha outras pessoas no quarto e tal - fala, e eu estreito os olhos.

— Entendo - falo, meio pensativo, me sentando na cama com os pés no chão frio de madeira. Franzo a testa. - Mas por quê?

Ela cruza os braços, impaciente.

— Porque o quê?

— Eu não acredito em você - digo eu, abrindo um sorriso cheio de dentes. 

Eadlyn me fuzila com o olhar.

— Idiota - retruca, me xingando, porque era o que ela sabia fazer de melhor. Não que eu me importe, mas às vezes eu só queria dar uma garrafinha de soda caústica pra ela beber. Coisa básica.

 

Eadlyn me obrigou a esperar ela terminar de tomar banho e se maquiar - será que algum dia eu teria o prazer de vê-la sem maquiagem de novo? -, o que não foi rápido. Eu demorei 10 minutos, a garota quase meia hora. Quando descemos, havia somente a menina que vi no dia da festa, a que tinha o cabelo meio roxo, e Richard. Assim que nos viu descendo as escadas, a garota abriu um sorriso bem grande. 

— Meu casal preferido acordou! - Diz, levantando-se da cadeira em que estava acomodada, batendo palmas duas vezes e se abraçando. - Own. 

— Menos, Micaela - murmura Eadlyn, a voz constrangida. Quando olhei para ela, a Schreave revirou os olhos. 

— Devia ter afogado Micaela quando ainda erámos crianças e eu tive a oportunidade - retruca Richard, fazendo um gesto com as mãos, dando a entender que a moça era louca. 

Micaela revira os olhos e suspira.

— Irmãos - murmura entediada. Aí ela corre até ele, e dá um tapa na sua nuca, antes sair em fuga pela a porta da frente. Richard bufou alto.

— JÁ TE FALEI QUE ODEIO QUANDO FAZ ISSO! - Berra, enquanto saia correndo atrás da - até então eu não sabia - irmã. 

Eadlyn e eu ficamos observando a cena durante alguns segundos, até que ela diz:

— Não tiveram infância - e franze o nariz.

— Não sabia que ela era a irmã do Campestro.

— Vocês já se conheciam? - Pergunta, ao me olhar de soslaio. 

— De vista, ela que me avisou que você estava morrendo de embriaguez.

— Engraçadinho.

Eu dou risada.

— Onde estão os outros? - Quero saber, ao pegar uma maça de dentro de uma fruteira. Se podia ou não pegar, eu não sei, mas agora uma parte dela já estava dentro da minha boca.

 

E depois de algum tempo, nós estávamos em uma praia rochosa próxima à fazenda. O grupo de amigos de Eadlyn já estavam todos lá e, quando os irmãos Campestro decidiram que já estava na hora de parar de brigar, fomos avisados. Os dois ficaram responsáveis por nos informar. O sol brilhava forte no alto, o tempo ruim havia finalmente dado um tempo, e o céu estava mais azul do que nunca. A praia dali tinha uma pequena faixa de areia amarelada, alguns troncos de madeira queimadas estavam espalhadas por todo canto, dando a indicação de que ali era um point para fogueiras e seja lá o que mais. O calor fazia meu rosto pingar, e quando decidi que ia dar um mergulho - na água mais gelada do que eu esperava - Eadlyn foi atrás de mim. Ela está com um biquíni preto, seu cabelo está com um coque no alto da cabeça, e alguns fios estão colados na pele de sua testa e bochechas. Falando em bochechas, as suas estão um pouco mais vermelhas por conta do calor.

— As meninas comentaram sobre a sua boa forma física - ela murmura, enquanto se agachava embaixo da água, até que seus lábios ficaram submersos no azul. E eu não sabia dizer qual azul era o mais bonito, se era o do mar, ou o dos seus olhos. Fico absorto nela por um momento, antes de abrir um sorriso e responder:

— E o que você falou?

Ela desvia o olhar para o céu, antes de me fitar novamente. Se ergue, e dá de ombros.

— Bom, disse que você era o meu namorado e não o delas.

— O seu e não o delas - repito em voz alta, comprimindo os lábios em uma linha, para não sorrir.

— Está no contrato - fala, a voz entediada.

Concordo com a cabeça. 

— Sabe o que mais está no contrato? - Pergunto.

Ela franze a testa.

— O quê? 

— Que a gente precisa ficar próximo quando tem gente olhando - falo, dessa vez abrindo o sorriso que tentei reprimir antes. Eu não sabia explicar, mas gostava de como ela reagia quando eu falava, ou ficava perto dela. Parecia indefesa, perdida, e nesses momentos - somente nesses - eu queria pegá-la pra mim. Mas logo depois, ela dizia ou fazia algo que me irritava, e tudo o que eu mais queria era mandá-la pra longe, muito longe.

Observo enquanto ela dá uma olhada para a areia, os olhos de Micaela, Louise e Fernanda nos fitando atentamente.

Eadlyn caminha até mim, e eu fico parado, esperando seja lá o que ela fosse fazer, ela é melhor em fingir do que eu. E então, ela me abraça, e eu a abraço de volta, sentindo o seu queixo pousando no meu ombro, enquanto a puxava mais para perto. 

Ficamos por um momento não indentificado por mim assim. Calados, e sério, Eadlyn quieta era uma poeta.

— Ainda estão olhando? - Me pergunta.

Olho de relance para a praia - que tinha mais montanhas e rochas do que areia - e as meninas ainda nos observavam. Faço uma careta.

— Estão, e isso é bem assustador.

Ela riu.

— Um pouco. 

Segundos depois nos afastamos, ela passa a língua pelo os lábios. Mesmo de maquiagem, ela ainda parecia constrangida com alguma coisa, mas eu não sabia porquê.

— Então... - começa Eadlyn; - não quero mais fingir que gosto de você - sua frase terminando mais como uma pergunta do que afirmativa.

Puxo alguns fiozinhos da minha barba no queixo, confuso.

— Não entendi o que quer dizer exatamente - murmuro finalmente, após alguns segundos em silêncio. 

Ela suspira.

— Não quero ter que ficar perto de você assim, só pra fingir que estamos juntos - responde, a voz parecia mais um sussurro do que qualquer outra coisa. Ela desliza uma mão pelo o seu pescoço, seu lábios um pouco afastados um do outro, e quando olhou para mim novamente, seu rosto era indecifrável: - Vamos dar uma volta, longe dos olhos deles - diz; - aí poderemos nos odiar em paz.

Mas eu não a odeio, será que ela não percebe que eu não a odeio? Nunca odiei.

— Tudo bem - eu falo, enquanto entrelaçava os nossos dedos, antes de começarmos a nos mover para fora da água. 

Quando avisamos que iriamos dar uma volta, ninguém se importou realmente, apenas Richard pediu para não demorarmos muito, pois o almoço já está quase pronto, e por um segundo, eu me perguntei o que comeríamos. Não sendo nada suspeito, tipo um peixe pescado na hora, que com certeza não foi limpo da forma correta, está tudo ótimo pra mim. 

Eadlyn e eu caminhamos em silêncio, e eu praticamente conseguia ver uma densidade entre nós dois. Não era boa, nem tampouco era ruim. Só diferente. Ela me levou até uma das montanhas rochosas,  não era tão alta, mas mesmo assim me incomodou. Não sou fã de alturas, independente de qual seja. Permaneci, enquanto subiamos, com uma mão atrás de suas costa, mas sem tocá-las realmente, apenas para me assegurar de que, caso ela tropeçasse, eu conseguiria segurá-la a tempo.  O sol aqui em cima parece ainda mais quente, e eu mal conseguia manter os meus olhos abertos. Olhando de relance, aquele lugar parecia mais um desfiladeiro da morte, com um horizonte que remetia ao paraíso. Bela analogia, Kile, poderia usá-la para definir Eadlyn também. Não que ela seja alguém que se encaixe em apenas uma definição. 

Ela caminha agora na minha frente, e então vira de costas para a luminosidade solar, e fica de frente para mim. Seus ombros desciam e subiam um pouco mais rápido que o normal, mas eu não poderia culpá-la, a subida até ali não fora tão fácil. Permaneço parado, enquanto coçava a lateral do meu rosto, e encarava Eadlyn como ela me encarava também. De repente ela sorri, e eu ergui uma sobrancelha.

— Você não quer ver como aqui é bonito? O mar - diz.

Ergo as duas mãos na altura dos ombros.

— Não, não, obrigado, estou muito bem aqui - respondo, um sorriso sem dentes surgindo no meu rosto.

Eadlyn faz uma careta, e então, como se tivesse tido uma ideia, seus olhos faíscam pra mim e ela dá um passo para trás, ainda me olhando, mas agora tinha um sorriso malicioso nos lábios.

— Você tem medo de altura? - Pergunta, a voz um pouco surpresa.

Dou de ombros antes de cruzar as mãos atrás da nuca.

— Não sei se é medo, mas não gosto e prefiro evitar.

— Mas do mar você tem? - Indaga, seus olhos estreitos em fendas por conta do sol quente que batia em seu rosto. Desvio o olhar para o final do rochedo, o som do mar batendo contra as pedras era reconfortante, mas a ideia de estar em queda livre me deixava nervoso.

— Eu estava na água com você a pouco tempo atrás, cherie.

Ela dá mais um passo para trás, e minha respiração se acelerou de leve.

— Mas sabe nadar? 

Arqueio uma sobrancelha.

— Sei - respondo, minha voz soando um pouco ríspida.

— Eu não - solta Eadlyn.

 

— Não? Que pena - retruco, ao franzir a testa e fazer cara de duvida. 

— Não. Me ensina Kile, e aí eu te ensino a não ter medo de altura - fala. 

Estreito os olhos. O vendo soprou, e o cabelo escuro e ondulado de Eadlyn acabou se soltando e sendo empurrado para a frente, tapando seu rosto por dois segundos. Ela dá alguns vários passos para trás agora, ainda de costas, apenas mais dois ou três, e a criatura despencaria ali de cima. 

— Isso não se ensina, Eadlyn - murmuro, meu coração se apertando. Onde foi que eu fui me meter, Senhor? Ela abre os braços e inclina a cabeça para trás. Eu, definitivamente, não estava com um bom pressentimento. - Ok, ok... posso ensinar você a nadar, mas vamos descer pra praia, lá é melhor - falo, estendendo a mão para a garota. Um sorriso sacana paira em seu rosto, e eu franzo o cenho. Eadlyn me olha, parecendo que queria me provocar, me deixar no limite. Qual o problema dessa peste? - Sério, Eadlyn, sai daí agora - eu mando, sentindo o meu coração se acelerar dentro do peito. 

— Não, quero que me ensine agora. Vem - fala, antes de virar de costas pra mim e pular. A maldita pulou a porcaria do desfiladeiro. A pentelha disse que não sabia nadar. Eu fico sem reação, olhando para onde o corpo de Eadlyn deveria estar, mas não está. Meus pensamentos pareciam um emaranhado de muitas coisas, muitos sentimentos, enquanto que a adrenalina corria solta pelo o meu corpo inteiro, acompanhada de medo. Medo de muitas coisas também.

Eu não sei exatamente quando foi que eu pulei, mas de repente o ar parecia ter sumido de dentro de mim, o vento gritando nos meus ouvidos, me deixando atordoado. Essa foi uma das sensações mais apavorantes que eu já tive na minha vida inteira, e eu estava morrendo de ódio. Ódio de mim, por ter pulado, e ódio de Eadlyn, por ter me feito pular. Quando senti o meu corpo batendo contra o mar, meus olhos vagaram apavorados, procurando pelo o corpo de Eadlyn, que não estava li. Mergulho uma, duas, três vezes, mas nada dela. 

E quando eu acho que estou prestes ter um colapso e morrer por dentro, escuto um assovio, e uma risada. Me viro imediatamente, e lá está a pentelha. Me olhando, nadando até abaixo da sombra de umas das pontas da montanha que pulamos. NADANDO. E ela sorriu pra mim, e quanto mais perto eu chegava dela, mais minha raiva aumentava.

Seguro Eadlyn pelo os ombros e sacudo o seu corpo, de repente ela parecia frágil demais.

— Posso saber qual é o seu problema? - Pergunto, piscando contra a ardência que senti dentro dos olhos. 

— Eu... só queria saber se você pularia. Desculpa.

— Você acha que é assim? Você quase me mata de susto e pensa que é só pedir desculpas e tudo estará resolvido, princesinha? - Eu bufo, realmente irritado. Se existe alguma palavra que seja MAIS do que irritado, ela pode perfeitamente se encaixar aqui.

— Não sabia que você ia ficar assim, Kile... - murmura, na defensiva. O seu sorriso desapareceu e suas sobrancelhas se franziram.

— Quando é que você vai crescer? - Pergunto, a soltando em seguida e apertando a ponte do nariz enquanto fechava os olhos. - Eu quero matar você, Eadlyn - digo, antes de abrir os olhos e a fuzilar com eles.

Ela fica quieta, e abaixo os olhos. Sua expressão está tão inocente, que eu queria bater a minha própria cabeça na parede por estar caindo naquele truque barato de arrependimento. Eadlyn sempre gostou de manipular os outros, deve estar fazendo agora também.

Mas o que mais me irritava, era que, por mais que ela tivesse feito isso comigo, era que eu queria beijá-la agora. E eu não pensei quando a pressionei contra e pedra, e enconstei nossos lábios um no outro. 

O beijo foi salgado e raivoso, mas eu só conseguia pensar em como eu estou contente por ela estar viva. E pensar em como eu sou um babaca.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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