Quem Nós Somos? escrita por AndreZa P S


Capítulo 16
K - Você me deixa louco.


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo longo pra vocês. Espero que gostem, eu gostei de escrever. ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686351/chapter/16

"Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso
Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa
Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir
Preso em marcha ré

Quando as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto
Quando você perde algo que não pode substituir
Quando você ama alguém, mas é desperdiçado
Pode ser pior?

Luzes te guiarão até em casa e aquecerão teus ossos
E eu tentarei, consertar você."

Fix you - Coldplay

 

 

Por Kile Woodwork

 

— Mas porque eu tenho que usar isso enrolado no pescoço? - Eu resmungo, enquanto Eadlyn e eu estávamos parados em frente ao meu carro, e ela batia o pé no chão e revirava os olhos. Seu humor hoje está, definitivamente, o cão chupando manga.

— Porque é charmoso, quero você bem vestido hoje - ela suspira e ajeita o tecido, dobrando-o como se fosse uma gravata.

— Nem está tão frio hoje pra usar isso aqui - retruco, realmente muito entediado. - E além do mais, você que escolheu esta jaqueta de couro escuro e as calças jeans... - olho para baixo, fitando meus tênis All Star. Nunca na vida tinha usado um desses, mas Eadlyn me obrigou a calçá-los. Branco ainda por cima.

— E também escolhi a sua camisa de manga escura - murmura, parecendo estar irritada de verdade agora. - Apenas pare de resmungar como um velho de mil anos, garoto, na próxima vez vou escolher até a cueca que irá usar se continuar reclamando.

E, então, eu fico quieto. Estou simplesmente sem disposição para nada hoje. Esta festa é somente para que o Erik me veja mais uma vez com Eadlyn e, se eu conseguir essa proeza, me enturmar com os seus amigos, para que ele ficasse mais chocado ainda. Nunca fui uma pessoa vingativa, na verdade, sempre deixei algumas coisas passarem por mim simplesmente por não me importar realmente com o que acontecia, mas, agora, estou muito satisfeito por ter a possibilidade de provocá-lo, e ainda provar - mas não que eu precise provar alguma coisa - que eu não sou mais o moleque no ensino médio. Ei, espera... não vou ser hipócrita, a minha atitude de chantagear a Eadlyn foi, sem mais e nem menos, muito infantil. Mas no fundo, acredito que esteja fazendo um favor a ela, colocando um pouco de realidade em seu conto de fadas que não sobreviveria à faculdade.

Mas isso não quer dizer que, de certa forma, sair de casa a noite, ainda mais quando o tempo está chuvoso - mesmo que o aguaceiro tenha dado uma trégua agora -, me agrade. Na real, não me agrada em nada. Fico entediado só de olhar pra esse amontoado de gente ao meu redor, e que simplesmente não não fazem parte da minha vida.

— Me dê sua mão - eu falo, assim que Eadlyn abre um sorriso para o seu público. As pessoas, geralmente, não me cumprimentavam, e eu não fazia questão de cumprimentá-las também, mas hoje, ao que parece, todos estão parecendo extremamente contentes por me ver ali. Eadlyn me cutuca, então eu olho para baixo, procurando por seus olhos azuis.

— Que foi? - Pergunto, sentindo ainda uma pontadinha de desconforto na parte do braço onde ela me cutucara.

— Sorria, Kile - diz ela, enquanto ela mesna força um sorriso pra mim, e pra quem mais estivesse nos observando. E com certeza teria alguém olhando pra gente agora. Sempre tem.

Suspiro baixo e solto um pigarro.

— Desculpa, eu esqueci - falo a verdade, tentando captar do meu interior a força de vontade necessaria para aguentar esta noite acordado e sem sofrer nenhum tipo de morte mental.

— Ótimo - diz, bem azeda.

Não vou dizer que Eadlyn era um amor de pessoa, porque a garota não é. Pelo o contrário, às vezes ela é simplesmente um porre. Mas hoje, em especial, sua cara de quem comeu e não gostou está começando a me incomodar mais do que o habitual.

Cumprimentamos algumas pessoas conhecidas do campus, umas eram até meus colegas de curso, enquanto que outras nunca havia visto na vida. A casa de Louise, parecia que tinha sido invadida por umas mil pessoas. Tinha gente que não acabava mais, e a música alta ecoava pelas as paredes e pelo o meu corpo, assim como a primeira vez em que fora em uma festa com a Eadlyn. Assim que colocamos os pés para dentro da sala, um rapaz não muito mais velho que eu nos abordou com uma bandeja prateada em mãos, da qual ele segurava de forma habilidosa, cheia de copos de plástico laranjas. Ele sorriu e nos ofereceu; aceitei mais por educação, e quando o garçom se retirou para servir mais alguém, me virei para a minha suposta namorada, que já estava com os lábios de batom escuro - ali dentro parecia negro - colados na borda do seu copo.

— Isso é o que? - Lhe pergunto, ao dar uma analisada no líquido amarelo queimado em seu interior.

— O meu é cerveja, o seu espero que seja veneno - retruca, lançando-me um olhar furtivo.

— Você está simplesmente insuportável hoje, cherie— murmuro ao tirar meus olhos de seu rosto, e dar uma observada ao meu redor.

— Diga isso pra quem não corre o risco de ficar gripada nas férias porque um imbecil qualquer fez a pessoa ficar parada no meio da chuva fria.

Abro um sorrisinho de lado.

— É sério que está com essa cara de bunda por causa disso? - Indago, revirando os olhos e dando um gole na cerveja que eu nem pretendia beber mas, pra aguentar está noite, seria inevitável não dar um golinho sequer. Eadlyn não me olha e, a julgar pela a sua expressão de indiferença, ela não pretendia me responder, então eu falo: - Meu amor, você nunca ouviu o ditado de que vaso ruim não quebra?

A garota abriu a boca para murmurar algo, mas seus olhos focam em alguma coisa mais a frente, e aí eles se estreitaram em fendas. De repente, ela me encara com as mãos na cintura.

— Posso saber o que Marcus está fazendo aqui? - Indaga, parecendo incomodada.

— Eu o convidei. Sabe, nós iríamos sair para beber hoje, como de costume, mas como me vi obrigado a vir a esta festa, o convidei pra vir também - respondo, com um sorriso satisfeito no rosto. Sigo o seu olhar, e encontro um Marcus com calças jeans folgadas e uma camisa social branca com vários botões abertos. A julgar pelo o tanto que ele sorria, o tanto que seu corpo se movimentava de forma não muito coerente com a batida da música, e o copo em sua mão, poderia dizer que o cara já havia bebido pelo o menos umas duas doses. Sabe como é, somente pra se soltar. Não poderia culpá-lo, o cara está no covil das cobras.

— Não acredito nisso - ela se vira pra mim, seus lábios curvados para baixo. - Quem mandou você convidá-lo? - Então vira-se mais uma vez para o lado, procurando pelo o corpo dançante de Marcus. - Sério, Kile, olhe aquilo! - Diz ao apontar para o garoto que parecia não se importar com os olhares tortos que alguns dirigiam a ele.

Marcus e eu erámos definitivamente com água e vinho. Não somos parecidos em praticamente nada. Eu jamais, eu hipótese algum, me sujeitaria a dançar daquela forma na frente dos outros. Muito menos iria vir a uma festa onde 99 por cento das pessoas andam como se tivessem engolido um rei. Mas Marcus? O cara era diferente, não se importava, e se divertia à custa de quem fosse. Era difícil não gostar dele, e apesar das diferenças, podíamos contar um com o outro.

— Ele só está se divertindo - denfendo-o ao abrir um sorriso.

Eadlyn bufa.

— Não posso relacionar a minha imagem à alguém assim - fala. - Mande ele se comportar ou, pelo o menos, parar de dançar - choraminga, toda furiosa.

Olho para ela, dessa vez sério, sem sorriso. Estou cansado das atitudes dela.

— Escuta aqui Eadlyn, eu não vou cortar o barato do cara só porque você quer - eu digo, soando tão autoritário quanto ela ao lidar comigo, ou com outras pessoas. Ela empinar seu nariz, franzindo os lábios e arqueando as sobrancelhas. - Só porque você se mantém presa nesse seu mundo ideal e cheio de aparências, onde fazer o que realmente se quer é sinônimo de fracasso social, não quer dizer que os outros devam pensar da mesma forma - concluo, olhando em seus olhos hostis.

Um outro garçom passa por nós, diferente do outro, e Eadlyn o aborda e pega mais um copo de plástico, devolvendo o que já se encontrava vazio. Por um momento, pensei que a garota iria jogar a cerveja em mim, mas não. Ela envergou o álcool todo pra dentro da boca. Quando acaba, ela passa as costas das mãos no canto dos lábios e depois desliza os dedos pelos os seus cabelos.

— Vou precisar de mais - murmura ela, já começando a se afastar de mim. - Muito mais. Já volto - diz, ao sumir rapidamente entre os corpos dançantes.

Enquanto Eadlyn ia buscar a bebida, aproveitei para ir cumprimentar Marcus. Quando já estava perto dele e ele me viu, Marcus me deu um soquinho de leve no braço, parecendo animado.

— Isso aqui que é festa de verdade! - Fala, alto o suficiente para se fazer ouvir através da música alta.

Dou de ombros, colocando as mãos dentro da minha jaqueta.

— Na verdade, preferiria estar em casa... - digo, ao sorrir para uma menina que acabara de me lançar uma piscadinha. Na verdade, nem foi uma piscadinha, foi uma piscadona.

— Qual é, Kile! Fala sério! - Ele se aproxima, como se fosse me contar algo muito sigiloso - Está cheio de gatinha aqui dentro. Cara, sério. Hoje eu me arrumo com alguém aqui.

Faço uma careta.

— Se todas forem como a Eadlyn, acho que você saí mais sozinho do antes - murmuro, dando uma risadinha depois.

— Você é pessimista - constata ele.

— Sou realista - corrijo.

Estou olhando para a menina da piscadinha, quando meu amigo dá um puxão na minha jaqueta, fazendo com que eu voltasse a prestar a atenção nele.

— Olhe quem está, aparentemente, vindo para cá - diz. Sigo o seu olhar, dando de cara com Louise, com um vestido amarelo e de mangas compridas. Sendo um pouco malvado e, se olhasse bem rápido, ela parecia vagamente uma gema de ovo. Não posso dizer que sei coisas sobre moda, afinal, fora Eadlyn que me vestira, mas com certeza posso afirmar que aquela cor era horrível.

— Kile, que bom te ver aqui - fala, ao me abraçar. Pego a sua mão e aperto os seus dedos de leve quando nos afastamos. Solto-a em seguida, enquanto seu sorriso se acentuava.

— Parece que o jogo virou, não é mesmo - diz Marcus, ao fingir que está prestando atenção em qualquer outro lugar que não ali. Bom, digamos que Louise nunca foi simpática com a gente, bem pelo o contrário. Nós até havíamos apelidade Louise, Julieta e Eadlyn como o Trio Rainha de Gelo. O sonho do meu amigo era pegar uma das três, qualquer uma. Eu nunca fiz questão, e ainda não faço, mas, por ironia do destino, estou namorando - mesmo que ficticiamente - com uma delas. Talvez a pior de todas.

E, como um estalido, como se uma lâmpada tivesse se acendido na cabecinha de Louise, ela se dá conta da presença de Marcus. Seu olhar para ele é mortal.

— Posso saber o que você está fazendo aqui? - Indaga, ao apontar para ele.

— Eu o convidei - falo imediatamente. Se ela fosse expulsá-lo, que aproveitasse e me expulsasse também. - Não vi problemas em ele vir. - Louise me encara, e eu tento abrir um sorriso agradável e menos agressivo possível. - Mas se você estiver vendo algum problema na presença dele na sua festa, me desculpe, nós dois iremos nos retirar... - deslizo uma mão pela a minha barba, que já precisava ser parada por sinal - fomos convidados para outras festas... - falo, sendo sincero. Depois que comecei a namorar com Eadlyn, convites não faltavam mais. Mas, obviamente, se ela nos mandasse embora, eu iria aproveitar e ir pra casa. Chega de festa.

Louise abre a boca para dizer algo, mas não saí. Ela balança a cabeça, fazendo com que seus cabelos castanhos se balançassem. Parecia surpresa.

— Não, não - fala, ao abrir o mesmo sorriso de antes. - Se você é amigo de Kile... - murmura, agora olhando para Marcus com uma expressão simpática forçada ,- você também é bem vindo aqui - conclui, me olhando agora, meio hesitante.

— Obrigado, Louise, sábia decisão de sua parte - digo eu, abrindo um sorriso divertido. Até que foi legal vê-la mudar de ideia só com a possibilidade de sairmos para outra festa.

Ela sorriu.

— Claro. E Eadlyn? - Pergunta.

— Não sei exatamente. Ela saiu para pegar mais bebida, e ainda não voltou - conto.

— Vou procurá-la... até mais rapazes - se despede, dando um aceno rápido de mãos antes de sair.

— Cara, nunca foi tão legal ser o seu amigo - Marcus diz enquanto olhavamos para o mesmo lugar em que Louise acabara de desaparecer. O encaro com os braços cruzados.

— Como assim?

Ele me abraça com um dos braços.

— Agora é só eu dizer o seu nome, que consigo entrar em qualquer festa. Quem diria. Parece que um dia é da caça e o outro do caçador, como diria Clarice Lispector.

Eu bufo e reviro os olhos.

— Você deveria usar o seu cérebro mais vezes, Marcus. Clarice nunca disse isso - retruco. Ele começa a rir, rir bastante. Não precisava de muito para fazê-lo mostrar os dentes, ainda mais quando mulher estava envolvida no assunto.

— Eu sei, estava brincando - diz, com um sorriso.

Estreito os olhos.

— Seeeei.

 

 

Sério, eu não sei exatamente, mas acredito que Eadlyn meio que desapareceu há mais ou menos uma hora e pouco, quase duas. Já havia visto Suzanna, que veio conversar comigo de uma forma que me desagradava muito, como se estivesse sempre esperando por um deslize meu e que eu acabasse falando sobre algum podre meu ou de Eadlyn. Ela estava começando a me estressar, e então simplesmente falei que, caso ela realmente quisesse saber alguma coisa da vida da minha suposta namorada, que fosse pessoalmente lhe perguntar. Suzanna pareceu ficar ofendida, mas eu não me importei. Desde então, quando nos cruzamos em algum lugar na festa, ela faz questão de me ignorar, como se fosse me afetar de alguma forma. Ah, se ela soubesse que eu, geralmente, tenho preguiça de me importar com as coisas, principalmente coisas insignificantes pra minha vida, não se daria ao trabalho de tentar me fazer ficar com um remorso que eu não ficaria. Até mesmo Erik e Julieta eu vi durante a ausência de Eadlyn. Ambos chegaram de mãos dadas, mas não pareciam um casal de verdade... me perguntei se essa era a mesma impressão de que Eadlyn e eu davámos para quem estava de fora e era minimamente inteligente. O cara parecia que gostaria de me esfaquear até a morte, me fuzilando com o olhar sempre quando tinha oportunidade, ou quando me via conversando com algum de seus amigos e/ou conhecidos. Gostei disso, mas era função de Eadlyn estar ao meu lado, afinal, ela fazia parte da minha vingança.

A procurei no andar de cima, abri portas e entrei em corredores, mas nada da pentelha. Inspencionei, também, o andar de baixo, prucurando por ela desde a cozinha, até o pátio da frente da casa. E, pra me irritar mais ainda, as minhas ligações estavam caindo na caixa postal. Eu bufo. Iria procurar só mais uma vez por Eadlyn e, se eu não a encontrasse, iria embora sozinho, porque não sou nenhum palhaço para ficar esperando a dondoca resolver dar as caras. Não duvidava nem de que já tivesse ido sozinha com alguma carona.

Estou me dirigindo para o único lugar da qual não me lembrava ainda de ter vasculhado. Dobrei um corredor cheio de gente com copos amarelos e laranjas em mãos, e rumei até uma porta que, na minha visão, daria para o pátio dos fundos da casa. Quando estou prestes a abri-la, alguém a empurrou e eu tive que dar um passo para trás pra evitar ser atingido pela a madeira. Era uma garota com olhos pequenos e escuros, seus cabelos eram roxos nas pontas e tinha um pircing no septo. Assim que me olhou, ela abriu um sorriso que fez com que uma covinha aparecesse em seu queixo naturalmente pronunciado. 

— Me desculpe! - Diz ela enquanto gesticulava com as mãos, dando enfase ao seu pedido de desculpa. Abro um sorriso e lhe digo que não foi nada. 

— Acontece - murmuro, já começando a ir novamente em direção à porta, mas a menina me chamou e eu me virei, as sobrancelhas erguidas. - Sim?

— Você é o Kile? Namorado da Eadlyn, né? - Pergunta com uma voz fina, quase infantil, mesmo que tivesse uns 20 anos mais ou menos. 

Solto um suspiro. infelizmente.

— É, eu sou - respondo, minha expressão tão azeda quanto a minha voz. Não pude evitar... estou louco para ir embora, e mesmo assim estou procurando pela a senhorita Schreave! É pedir demais do meu bom senso.

Ela acentuou o sorriso e concordou com a cabeça.

— Se está procurando por Ead... bem, acho que ela realmente está precisando de você - murmura enquanto me encarava com as feições franzidas.

Faço uma careta.

— Aé? E por quê? O que ela aprontou? - Quero saber, começando a me sentir desesperado. Deus, céus, só não quero ter que ser preso por conta dela. 

A garota ergue um dos ombros e fecha a boca em uma linha rígida.

— Ela está mal... 

Suspiro novamente, mas dessa vez ele sai alto e áspero. Aperto a ponte do meu nariz.

— Onde ela tá? - Aponto com o queixo para a porta. - Está do lado de fora? - Questiono.

— Sim, mas cuidado pra ela não vomitar em você... - murmura ao fazer uma careta onde seu nariz ficou todo franzido e suas sobrancelhas arequearam-se de um jeito engraçado. Sigo o seu olhar, e paro razoavelmente aterrorizado em sua calça completamente suja com um líquido pegajoso e suspeito. Olho para o teto e fecho os olhos. Não acredito que eu vou ter que virar babá de uma marmanja de 21 anos!

— Tudo bem, posso superar - digo, mesmo que no fundo eu ache que não conseguirei superar merda nenhuma. Estou prestes a me virar quando a moça me chama novamente.

— Kile?

— Fala.

— Você e Eadlyn são tão fofinhos juntos! Posso ver você cuidando dela? - Indaga, com os olhos brilhando. Só não sabia se brilhavam por expecttiva, ou porque ela, evidentemente, está mais pra lá do que pra cá. 

— Você está brincando? - Pergunto enquanto piscava os olhos e me controlava para não revirá-los. Aquilo, definitivamente, era demais pra minha cabeça.

Ela sorriu.

— Mais ou menos - diz corando um pouco a bochecha e desviando o olhar. - Bem... vou indo... ér... antes eu era team Eikko, mas agora sou team Kile - fala, dando risada.

Simplesmente não estou sabendo lidar com isso aí. Não tô. Porém, pelo o que eu entendi, ela prefere eu do que o Erik e, por este motivo, minha expressão se suavizou e eu tentei manter a voz mais agradável, o que foi difícil.

— Obrigado. Eu acho - falo, e então aponto para a porta. - Agora vou ir lá... cuidar da minha... - limpo a garganta, - namorada. 

Ela faz um jóinha com os dois polegares e sorri pra mim.

— Tá bom, boa sorte - responde antes de virar as costas e sumir. 

Eu ainda estou atordoado com o que aconteceu. Em que mundo eu me meti, afinal? Abro a porta, e quando sai para fora o ar estava mais gelado do que eu imaginava. A copa das árvores que ficavam do lado de fora da cerca, balançavam como se tivessem em algum tipo de dança, indo pra lá e pra cá. Respiro o ar profundamente, e em um primeiro momento não encontrei a serumaninha. Até que, ao escutar um rangido metálico, olho para o lado, e a vejo balançando debilmente em um balanço meio que corroído pelo o tempo. Eadlyn está com uma garrafa de Vodka na mão, e sua cabeça está enconstada em uma das correntes que sustentavam o balanço. Eu pretendia simplesmente colocá-la nas minhas costas e arrastá-la até o seu quarto no campus e ir descansar dela um pouco. Talvez eu até mesmo dê dois dias de folga à ela, ao invés de apenas aos domingos. Mas agora, olhando pra aquela garota, completamente bêbada, comecei a me sentir culpado por ter ficado tão irritado. E a culpa não era dela se ela conseguia me irritar só de respirar no mesmo ambiente que eu... quer dizer, às vezes tinha, mas... bufo; mas Eadlyn é tão frustrante. Não tenho outra palavra pra tentar defini-la, pelo menos por agora.

Caminho até ela com as mãos no bolso da calça jeans e me sento ao seu lado, no outro balanço disponível - mas antes verifiquei se não tinha vômito ali. Ela me ignorou, e eu a ignorei. Ficamos em silêncio pelo o que me pareceu um bom tempo, enquanto eu observava as nuvens que iam e vinham, mostrando e escondendo uma única estrela que ousou brilhar naquele tempo ruim. 

— O que está fazendo aqui? - Pergunta de repente, retirando-me do meu estorpor e fazendo com que eu voltasse a prestar atenção no que acontecia. Penso por um momento sobre a sua pergunta que é relativamente fácil, mas, ao mesmo tempo, eu não sabia exatamente o que responder. Fico quieto por alguns segundos, o único sonho vindo do balançar metálico e irritante do balanço de Eadlyn. 

— Vim te fazer companhia - falo eu.

— Quem disse que eu quero a sua companhia? - Retruca, a voz arrastada e enrolada, antes de colocar o bico da garrafa na boca e dar mais uma golada. Ela se engasga, e então limpa os cantos dos lábios com as costas da mão. 

— Você não tem querer - digo. - Vou ficar e ponto.

— Por quê? - Questiona, exasperada. Eadlyn soluça e dá uns dois tapas na própria testa. - Poooor quê? - Pergunta de novo, olhando para a sua bota, seu salto praticamente enterrado na terra escura e úmida do pátio.

Mais uma pergunta difícil. Eadlyn estava cheia de amigos aqui, por que eu simplesmente não ia embora e avisava Louise de que sua amiga está mal e pedia para levá-la para casa depois? Claro, é óbvio que supostamente eu sou o namorado dela, mas... não deveria me incomodar em deixar ela para outros cuidarem. Eu não devia estar considerando ela como minha responsabilidade. 

— Porque você está completamente embriagada - respondo com um suspiro.

— Não... - soluço - não estou - retruca de forma débil. Nunca gostei de pessoas bêbadas, e Eadlyn não era excessão. Não que eu nunca tivesse ficado bêbado antes, mas... não, eu nunca fiquei bêbado, sempre soube me controlar.

— Você está - lhe afirmo enquanto revirara os meus olhos.

— Não - teima de novo. Ela abre a boca para dizer algo, mas parecia que tinha se dispersado e perdido o fio da meada. Balança a cabeça de um lado para o outro, exalando o cheiro forte de álcool. - Não precisa ficar... sei me cuidar sozinha.

— Não vou ir embora sem você - digo com convicção.

Bufa alto.

— Patético - responde, ao erguer vagamente o dedo do meio pra mim. - Vou achar que - e então ela dá uma fungada alta, - você gosta... - suspiro, e mais um gole de Vodka, - de mim. 

— Devo gostar, então - murmuro sério enquanto masseio minhas têmporas. No fundo, eu devia ir com a cara da pentelha, senão não estaria perdendo o meu tempo com uma pessoa que mal está conseguindo raciocinar.

Eadlyn franze a testa, mas está sorrindo. O sorriso do Coringa, um pouco assustador, mas não vou negar que achei engraçado.

— Não gosta - retruca ela, o sorriso desaparecendo enquanto ela ergue uma mão vacilante e de pele úmida até o meu rosto e desliza os dedos da minha testa até o meu queixo. - Só quer me comer, todos os caras só querem me comer - fala, as palavras saindo entrecortadas, enroladas e arrastadas. Peço paciência aos céus pra me ajudar a compreendê-la.

— Você não sabe do que está falando - murmuro. Na real, nem eu mesmo sabia do que estava falando. Ela ri, e depois me lança um sorriso bêbado e  aperta as minhas bochechas. Seus olhos estão vermelhos e cansado, e seu cabelo está indomável.

Eadlyn cambaleia para fora do balanço, e eu me levanto junto, temendo que a garota caísse estabacada no chão. E, era exatamente isso que teria acontecido, caso eu não tivesse a segurado a tempo. Com os braços ao redor do meu pescoço, ela força os pés para tentar sair do lamacedo que tinha enfiado suas botas. Quando conseguiu, ela se vira para mim e fica me encarando, dessa vez sem nenhum traço de humor. Ela está séria, e depois parecia indgnada com alguma coisa. Esperei que ela fosse se desvincilhar de mim, mas a menina continua me segurando.

— Por... - engole em seco - porque você não quer transar comigo ou me beijar? - Pergunta, parecendo desapontada agora. - Eu sou feia? - Diz.

Eu juro que pensei que ela fosse chorar, mas não chorou.

— Você é bonita - murmuro com sinceridade. Solto um suspiro frustrado. - Até demais.

— Então por quê? - Teima, choramingando como se tivesse 5 anos de idade.

Aquela resposta sim. Aquela resposta sim, eu não sabia responder. Eu queria beijá-la? Talvez... mas Eadlyn não entenderia que, enquanto ela agir da forma que agia, eu não seria capaz de me sentir satisfeito comigo mesmo se a beijasse ou fizesse qualquer outra coisa.

— Porque não - falo, puxando-a até uma área onde não viamos mais terra, apenas grama bem aparada. 

— Claro, você não é como os outros - bufa, soando grogue e revira seus olhos. 

— Se você diz - me limito a responder, e então começo a conduzi-la para baixo da varanda. Uma chuva fina começou a cair.

— Espera... quero pegar a minha garrafa, ainda tem um líquido... pre...cio..so lá dentro - e aí ela começa a rir. Olho para onde estávamos antes, a garrafa de Vodka praticamente vazia jogada no chão. Olho para Eadlyn agora.

— Não. Você vai ir embora comigo agora.

— Não quero ir.

— Mas vai.

— Não - teima. Respiro profundamente e solto o ar devagar, me contendo para não acabar fazendo alguma loucura. Tipo deixá-la vagando sozinha no meio da estrada. Estendo a mão para ela e digo:

— Vamos. Agora.

Ela faz uma careta e cruza os braços firmemente.

— Nãoooooooooo!

Arqueio uma sobrancelha e estreito os olhos. 

— Chega de palhaçada, Eadlyn - falo. - Se não vai por bem, vai por mal. - E então seguro-a pela a cintura e a coloco, com certeza dificuldade porque a garota começou a se debater, no meu ombro. Ela não devia passar dos  1,72, e seu corpo é magro e esguio... o anos em que lutei Muay thai com certeza serviram pra eu conseguir essa proeza de agora. 

— ME SOLTA, IMBECIL! - Berra, entre soluços.

A ignoro. Não é isso que se faz quando a criança começa a fazer escândalo? Ignorar? Então foi isso que eu fiz. Começo a caminhar pela casa, seguindo pelo o corredor com os olhos de todos nos olhando, enquanto que Eadlyn se contorcia toda. Aperto minha mão em sua coxa, receoso de que a pentelha acabasse caindo no chão de tamanho fiasco que fazia em cima de mim. Quando chegamos na sala, algumas pessoas riam, outras fitavam-nos atentas.

— Está tudo bem, pessoal - eu falo em voz alta e mal humorada. - Minha namorada está, como vocês podem ver, completamente fora de si, não posso deixá-la sozinha aqui mesmo que ela queira - resmungo.

— Me soltaa, Kile Woodwork! - Fala ela novamente, mas, finalmente, havia parado de se remexer.

— Solte ela, bacaca - escuto a voz de Erik atrás de mim. Fecho os olhos por um momento, sentindo meu sangue ferver. Sempre fui um cara controlado, meus tios geralmente não tiveram problemas comigo, mas hoje eu estou a ponto de explodir. Eadlyn me tira do sério de um jeito inédito na minha vida. - Agora! - Ele grita. Comigo. Na frente de todos.

Com mais delicadeza do que a princesinha merecia, a larguei no chão. Ela cambaleia para o lado e eu me viro em direção ao Erik.

— A namorada é minha, e eu vou levá-la para a casa - falo, com uma parte do meu cérebro dizendo que eu não queria confusão. Mas agora a merda já estava acontecendo.

Erik se aproximou de mim com os braços cruzados, os músculos sobressaindo-se pela a camisa mamãe-tô-forte. Agora, olhando bem para aquela cara dele, posso dizer que o moleque está bêbado também. Que ótimo, que maravilha. Brigar com bêbados, Kile? A que ponto que eu cheguei, Senhor.

— Só por cima do meu cadáver - balbucia, o fedor de cachaça saindo daquele corpo. 

Eu bufo alto, estava me sentindo em um estado extremamente estressado. Erik fez menção de vir para cima de mim, mas como ele estava com os movimentos prejudicados pelo o álcool, fora lento odemais para que eu conseguisse me desvincilhar rápido o suficiente. Seu rosto ficou todo vermelho, suas veias dos olhos lhe davam um ar assustador. Em qualquer outro dia normal, eu evitaria a qualquer custo isso, mas hoje, definitivamente, não é um dia normal. Quando Eikko ergueu sua mão para me soquear, fui mais depressa e lhe dei um belo chute no meio das pernas e um soco na lateral do rosto. Golpe baixo, eu sei... mas no fundo sempre quis fazer aquilo. Erik cambaleia, e caí para o lado. 

Eu ia ficar parado, esperando ele se recuperar para lervamos a briga a diante, porque eu sentia que o cara não deixaria assim, mesmo estando bêbado. Mas Eadlyn me puxou pela a manga da jaqueta, seus olhos arregalados.

— Vamos embora - ela sussurra; - por favor - pede. 

Balanço a cabeça de um lado pro outro. Eu queria ficar. Apanhar e bater.

— Por favor, Kile - fala de novo. Olho pro seu rosto, seus olhos estão atordoados... confusos; suspiro e, sem dizer mais nenhuma palavra, pego sua cintura e a conduzo até o meu carro.

Durante toda a volta até o campus, eu rezei para que Eadlyn não vomitasse dentro do meu carro. Isso eu não poderia perdoar. Conforme o tempo foi passando, a raiva e o estresse foram amenizando, e eu comecei a me sentir mais como o antigo Kile de antes, mas ainda tinha algo me incomodando, e tinha a ver com a presença de Eadlyn, mesmo que eu não soubesse explicar o porquê.

Uma vez dentro do quarto, coloquei a Schreave para baixo do chuveiro. Ela parecia muito mais calma, e ainda não havia aberto a boca desde que saímos da casa de Louise. Mesmo que tenha choramingado um pouco pela a água gelada, eu a segurei ali para que não saísse antes de eu considerar que já era o suficiente. Eadlyn está com tanta maquiagem, que mesmo que o banho tivesse sido de demaquilante, aquilo não sairia. Parecia reboco. Não que eu me incomodasse, mas sinto curiosidade em vê-la sem aquilo tudo. Todo aquele batom, lápis, rímel e etc, parecia servir para a garota se esconder. A roupa que usava, um vestido azul escuro de mangas compridas que já era colado no corpo, parecia que tinha colado AINDA mais em sua pele por conta da água. Me controlo para não prestar atenção demais nisso. 

Quando decidi que ela já estava liberada do chuveiro, ela vacilou ao caminhar até sua cama, sem se importar que estivesse encharcada.

— Não vai trocar de roupa? - Eu pergunto, sério. Ela balança a cabeça de um lado para o outro, parecia um pouco mais coerente que antes.

— Troca pra mim... não consigo fazer meu corpo se mexer direito - murmura com os olhos fechados.

— Você consegue fazer isso sozinha - digo, enquanto secava minha mão em uma toalha de rosto. Não sei se saberia lidar com isso também.

— Babaca - resmunga, enquanto erguia seu corpo debilmente e começava a puxar seu vestido para cima, mas havia algo a impedindo. - Abre o zíper pra mim - pede, a voz manhosa. Com um suspiro, deixo um joelho em cima do colchão e desço o zíper até o seu quadril. A partir daí, ela o puxa para a frente, tirando as mangas e logo depois, passando-o pela as pernas. Ela joga-se na cama logo em seguida, e me olha com os olhos ainda vermelhos, mas menos grogues que antes.

Ficamos nos olhando por um minuto interminável. E eu queria fugir. E eu não sabia o porquê. E eu acho, que eu queria beijá-la. E eu acho, que se ela não estivesse bêbada, eu teria feito isso no exato momento em que ela abriu um sorriso espontâneo pra mim. Ela é muito atraente pra mim, mesmo que eu queira negar. Pisco os olhos e desvio o olhar. Pigarreio.

— Bom, vou deixar você dormir agora - murmuro. Quando fiz o primeiro movimento para me afastar, Eadlyn segurou meu pulso.

— Fica - ela sussura. - Estou mal ainda.

— Você sempre me diz que sabe se cuidar sozinha, você vai ficar bem.

— Mas eu não sei - diz ela ao fechar os olhos. - Não sei me cuidar... sozinha.

Eu também fecho os meus. O que está acontecendo comigo? Nunca fui um cara de negar ajuda, mas ela não valia todo esse meu esforço. Porém, mesmo assim, aqui estou eu, puxando um cobertor para cobrir o seu corpo apenas de langerie e, pode parecer loucura, mas eu queria tocar sua pele só para saber se era tão macia quanto a minha visão sugeria.

Ela se acomoda, relaxando o corpo. Estou indo em direção a porta, pra ir finalmente embora e descansar um pouco dela, da presença dela que parecia sugar toda a minha energia, quando escuto sua voz ecoar pelo o quarto:

— Fica, Kile - ela diz, meio enrolada.

Em qualquer outro dia normal, eu não ficaria. 

Mas ao que tudo indica, hoje não é um dia normal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quem Nós Somos?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.