End of Games escrita por R Kermillian


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O brilho amarelo e sem graça atravessou sua janela naquela manhã, iluminando seu rosto delicadamente. Nem mesmo o sol estava feliz naquele amanhecer e esse era o sentimento que a oprimia: medo.

Medo de ser escolhida e ser levada para a arena, medo de ser obrigada a matar seus amigos para não ser morta pelos mesmos. Talvez, só talvez, esse fosse o seu maior medo: não sobreviver.

Não queria deixar sua família, tampouco seu distrito. Gostaria de permanecer ali; com seus pais e irmão. Pela primeira vez, sentiu a tristeza atingir-lhe como os jogos haviam atingido milhares de famílias alguns anos atrás. Era pequena, mas lembrava-se da tristeza e o caos instalado nos rostos daquele que a rodeavam, lembrava-se dos funerais e das mortes súbitas, das perdas; inúmeras perdas…

A porta de seu quarto foi aberta e, com ela, uma mulher mediana de cabelos castanhos — sua mãe — adentrou o pequeno cômodo.

— Já de pé? — perguntou aproximando-se. — Achei que ainda estivesse na cama. — Um sorriso fraco se formou em seus lábios.

— Não consegui dormir. — disse a garota, movendo-se até a cama. — Estou com medo. — admitiu, olhando-a.

— Diria que é uma boba se não estivesse. — Tocou sem ombro, delicadamente. — Não importa o que aconteça, minha querida. Te amamos, nada irá mudar isso.

Essas foram as únicas palavras das quais conseguiu se lembrar ao ter seu corpo atravessado por uma lança.

Há alguns dias vagava pela mata, escondendo-se. Mas, em algum momento, ela precisaria sair para caçar. Havia aprendido alguns truques após passar alguns dias, incontáveis e torturantes para ela, ali. Matou para sobreviver, mas, na primeira oportunidade, fugiu e poupou a vida de Rupert, o segundo mais forte dos tributos. Naquela manhã, no entanto, acordou sentindo-se fraca e completamente faminta. Ao deixar a toca na qual esteve escondida durante dias, ou horas; não sabia. Foi surpreendida por Rupert que a golpeou de imediato, sem piedade.

Os olhos fundos e cansados deslizaram juntamente com seu rosto para baixo e, por um instante, sua visão turva conseguiu diferenciar o sangue que jorrava de seu abdômen, da sujeira e poeira existente sobre suas roupas. Seus dedos sujos e machucados ainda roçaram a mancha de sangue que se alastrava, antes de suas pernas falharem e seu corpo tombar para o lado, sua face contra o chão.

Seu corpo arquejou ao ter a madeira brutalmente retirada. Seus pulmões clamaram por oxigênio e o sangue subiu pelo seu esôfago, em direção sua boca. O garoto, tão sujo e machucado quanto ela, ajoelhou-se ao seu lado e a encarou. Suas pálpebras pesaram e ela sentiu, pela primeira vez, um fio de esperança invadi-la.

— Me perdoa — Ele sussurrou, parecia tão assustado quanto ela. — Isso precisava acabar.

Seu corpo ainda lutava para sobreviver quando ela arrastou sua mão ensaguentada até a dele, entre paus e pedras. Um sorriso fraco curvou seus lábios manchados pelo sangue, iluminando seu rosto; ela o perdoava.

O tiro de canhão ecoou pela mata, assustando os pássaros. O garoto a olhou novamente e, arrependido, deslizou seus dedos sobre sua face, fechando-lhe os olhos.

Fim dos jogos.


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