Em Prata e Ébano: Uma História de Dois Dragões escrita por Jéferson Moraes


Capítulo 7
Prata


Notas iniciais do capítulo

Saudações leitores! Como sempre, informações extras podem ser encontradas ao fim do capítulo.

Boa leitura!

Capítulo revisado e atualizado (22/06/2016)



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Prata

William

4ª Era 201, 19 de Last Seed

 

— Me explique de novo: exatamente como o Império esperava vencer essa guerra com todos os seus fortes destruídos?

William olhou para Svalda por de dentro do elmo.

— Eu já disse. A grande maioria desses fortes já estava em ruínas muito antes de a Grande Guerra começar – restringida pelo elmo, sua voz soava abafada – eles foram construídos no início da Terceira Era, quando Tiber Septim fundou o Terceiro Império.

William e Svalda marchavam à frente de suas tropas, compostas por cinquenta dos noventa homens que a corte de Evermor enviara a Cyrodiil. O grupo andava a pé, seguindo a Estrada Anel-Vermelho: uma estrada circular que seguia ao redor do lago no centro de Cyrodiil, onde ficava a Cidade Imperial. Eles haviam deixado a capital pelo portão oeste, e agora marchavam em direção ao norte.

— Essa parte eu já entendi – Svalda continuou – mas por que eles abandonaram os fortes?

A nord caminhava à sua direita, vestindo sua conhecida armadura de ombreiras largas e um elmo de aço simples com proteção para o nariz. Seu longo rabo de cavalo caía por de baixo do elmo, balançando às suas costas. Svalda também trazia dois machados de arremesso atados à cintura, além de seu machado de duas mãos.

William, por sua vez, também vestia seu elmo, sendo este adornado por um par de asas que saíam da viseira, e com os mesmos padrões em prata de pequenas correntes encontrados na armadura.

Trajado em sua armadura completa, e tendo Lâmina Alva atada ao flanco, Sir William Silverbound constituía uma visão magnifica. Ele era um nobre. Um guerreiro da corte de Jehenna. Um cavaleiro de prata.

Mais do que nunca, era ali, à frente de suas tropas, pronto para a batalha, que William sentia-se à vontade. Tratar de política fazia parte de suas obrigações como cavaleiro, e William Silverbound era um homem que cumpria com suas obrigações. Mas sua verdadeira paixão era o campo de batalha, e este era o seu território.

Tal fato se tornava evidente na sua forma de caminhar, no seu olhar, na maneira com que comandava. Seus homens reconheciam seu talento, e o respeitavam por isso. Até mesmo Svalda, que o conhecera ainda criança, não era capaz de conter ocasionais olhares de admiração.

— Há certo debate a respeito disso – respondeu o cavaleiro – A maioria crê que após conquistar toda Tamriel, Tiber Septim não julgou necessário manter fortes imperiais dentro da província de Cyrodiil, uma vez que já tinha legiões imperiais em todas as demais nações do continente.

Svalda bufou.

— Não faz sentido. Mesmo que as nações vizinhas estivessem sob o meu controle, eu me preocuparia em defender o coração do meu império.

— Talvez Tiber Septim tivesse outros meios de defesa. Sabe-se que ele manteve agentes dos Blades em todo o continente, para que servissem como os olhos e orelhas do Império – William fez uma pausa – Não se podia sequer pensar em conspirar contra o Império sem que Septim ficasse sabendo.

— Ainda me parece um péssimo plano de defesa... Talvez não seja atoa que os imperiais perderam a guerra.

Talvez— William deu de ombros. Ele também não concordava com a lógica, mas era o que diziam os historiadores.

Svalda continuou.

— E esse tal Forte Cartacus...

Caractacus— William corrigiu.

— Ossos de Shor! Quem foi o infeliz que nomeou esse forte?!

Verdade seja dita, William não fazia ideia.

— Imperiais e seus nomes estranhos – interveio Sir Dunard – Caractacus, Vitus, Claudius, Tulius, Savios... Soam todos iguais para mim.

Svalda riu, balançando a cabeça em concordância.

Sir Gregor Dunard vinha logo atrás dos dois, prestando atenção a conversa e fazendo comentários ocasionais, como aquele. Tratava-se de um dos poucos cavaleiros enviados pelo rei de Evermor. Soldados comuns constituíam o restante da pequena força militar.

Era um homem de estatura mediana, rosto arredondado, pele morena, curtos cabelos castanhos e barba rala. Vestia armadura de meia placa com ombreiras assimétricas. Seu elmo tinha a viseira aberta, por onde se via um sorriso de deboche que muito incomodava William. Ele não aprovava as atitudes de Dunard, com seus comentários petulantes e piadas constantes.

Dito isto, William não podia negar a habilidade de Dunard no campo de batalha. Sir Gregor era um cavaleiro da corte de Evermor, e também chefe da guarda da capital do reino. Corriam boatos de que ele cortejava a filha do rei, e buscava obter o trono para si.

Não que isso fosse alguma novidade. Quase todo membro da nobreza de High Rock buscava algum trono.

Encontre uma nova colina. Torne-se rei— pensou William, lembrando-se de um velho ditado do seu povo.

William pensava seriamente em eleger Sir Dunard como o comandante dos noventa guerreiros de High Rock, para que liderasse suas tropas após sua partida para Skyrim com Comandante Maro.

Svalda, que apesar de rir de suas piadas também não simpatizava com Dunard, protestou quando William lhe revelou a ideia de dar o comando à Sir Gregor.

Mas que ei de fazer, então? Ela não me deixou escolha— A ideia inicial de William era entregar o comando à sua velha mestra de armas, mas esta prontamente recusou.

— Se você pensa que vai até a minha terra natal matar um bando de assassinos enquanto eu fico aqui dando ordens à esse bando de frouxos, você está redondamente enganado! – dissera ela. William tentara convencê-la, mas quando Svalda botava uma ideia na cabeça ela era capaz de ir até Oblivion para vê-la se realizar.

Se é que haverá alguma expedição à Skyrim... — lembrou o cavaleiro. Ele concordara em ajudar o Comandante Maro em sua operação contra a Irmandade das Trevas, mas agora duvidava se a missão sequer chegaria a ser realizada.

Em frente ao Conselho Ancião, Comandante Maro falara com urgência. William esperava partir no dia seguinte à reunião, mas dois dias haviam se passado e Savios continuava em Cyrodiil. Ele respondia vagamente quando William o indagava quanto à razão do atraso, mas o cavaleiro deduzia que o Grande Conselheiro Lovinnar tinha alguma coisa haver com o assunto. Embora houvesse concordado com a missão, o elfo demonstrara claro desgosto ao fazê-lo.

William aproveitava o tempo que tinha para dar continuidade ao seu trabalho, e avaliar seu possível substituto. Sir Gregor sabia que estava sendo testado, e claramente odiava isso. O cavaleiro de Jehenna imaginava o quão frustrado ele deveria se sentir, sendo colocado sob o comando de um cavaleiro vindo de um corte menor, subalterna à corte em que ele servia. Certamente, Dunard acreditava que o comando era seu por direito.

Svalda limpou a garganta.

— Mas em fim – disse ela – Esse tal Forte Caractacus...— a guerreira pronunciou o nome lentamente – Ele é um desses fortes da Terceira Era?

— Sim – William respondeu.

— Os bandidos devem tê-lo reforçado então. Um forte velho como esse mal deve estar de pé, tendo sido abandonado e tudo mais.

O cavaleiro de prata concordou. De fato, a criminalidade crescera tanto na província que salteadores mais audaciosos haviam tomado boa parte da região ao redor da capital.

Forte Caractacus localizava-se logo ao norte da Cidade Imperial, às margens do lago que cercava a capital, voltado para o oeste. O forte em si era apenas a metade de uma velha torre de pedra. Ao seu redor, pilhas e mais pilhas de escombros eram tudo que restava das demais construções. Porém, os novos residentes haviam fortificado a torre com um muro improvisado de toras de madeira.

Desde que chegara em Cyrodiil, William voltara sua atenção aos fora-da-lei mais próximos à capital, buscando limpar a província de dentro para fora. Todas as ruínas usadas como esconderijo por bandidos, necromantes, magos renegados, ladrões ou qualquer outro tipo de escória nas proximidades da Cidade Imperial já haviam sido limpas pelo cavaleiro e suas tropas, com exceção do Forte Caractacus.

— William – Svalda o chamou – Veja.

O cavaleiro ergueu os olhos para a estrada, na direção que a nord apontava. Dois homens vinham apressadamente na sua direção, vestindo a mesma armadura que os demais soldados de suas tropas: uma camisa de cota de malha, elmo simples com proteção para o nariz, manoplas simples em formato de punho e grevas de aço sobre botas de couro.

Tratavam-se dos dois batedores que William mandara à frente das tropas, afim de inspecionar a base dos foras-da-lei.

— Senhor – disse um dos dois ao se aproximar. Ambos fizeram uma breve reverência, colocando o punho fechado sobre o coração.

— O que vocês viram? – perguntou.

— Há cerca de vinte deles do lado de fora, senhor. Alguns montam guarda sobre os muros de madeira, armados com arcos ou bestas. Também há arqueiros no topo da velha torre.

— Falhas na fortificação?

— Sim, senhor. O muro de madeira parece ser mais alto à frente da torre. E a lateral da torre em si é desprotegida. Há buracos na velha parede de pedra, mas eles os remendaram com mais madeira e entulho.

— Feiticeiros?

— Nenhum, senhor.

Estranho— um grupo de bandidos comum como aquele não montaria sua base tão próximo a capital, tendo condições tão pobres de defesa.

O grupo seguiu em frente. Não muito distante dali a estrada fez uma curva, virando-se para o leste. Logo seriam capazes de ver o forte.

William, então, deu início ao seu plano de ataque. O cavaleiro dividiu seus homens em dois grupos. Ele iria liderar trinta soldados, seguindo para a entrada do forte. Os demais atacariam o flanco esquerdo, liderados por Sir Gregor. A Província Imperial não tinha vegetação espessa, sendo composta por árvores sem galhos baixos e poucos arbustos. Para completar, o sol brilhava alto no céu, marcando o início da tarde. Portanto, William ordenou que Dunard mantivesse seus soldados à uma distância segura do forte, e só atacasse ao ver o sinal combinado.

— Por que hesitar, Sir William? – Gregor perguntou – Nós temos a vantagem numérica e o elemento surpresa. Um muro de madeira não vai ajudar em muito.

O cavaleiro da corte do rei o olhava com sua conhecida expressão de deboche. Em geral, Dunard era um bom comandante, mas seu ego elevado podia levá-lo a cometer enganos.

Só espero que controle esse ego enquanto eu estiver fora.

— Eu tenho minhas suspeitas, Sir Gregor. Agora faça como ordenei – A frustração era evidente nos olhos do outro cavaleiro, mas ele o obedeceu.

Logo William e seus soldados avistaram a trilha que levava ao forte, saindo da direita da estrada e indo em direção à margem do lago. O terreno era menos elevado do que a estrada, então as copas das árvores escondiam a velha torre de pedra. Enquanto isso, Gregor e seus homens mantinham-se na estrada, afim de estar em posição de atacar a lateral esquerda do forte. Ambos os grupos levavam aríetes simples, que podiam ser carregados à mão por no mínimo quatro homens. O grupo recebera pouco equipamento de cerco da corte de Evermor, uma vez que se tratava de uma pequena força militar e não um exército propriamente dito. Entre o equipamento que tinham, haviam os dois aríetes que levavam agora e algumas escadas de madeira.

A uma distância segura do forte, onde a presença dos soldados ainda fosse segredo para os salteadores, William ordenou que seus homens parassem. Com um gesto, o cavaleiro chamou um de seus soldados para perto de si.

— Senhor? – disse o Velho Tristan ao se aproximar. O homem vestia-se de forma semelhante aos demais soldados, com exceção do elmo, tendo apenas um capuz de cota de malha protegendo-lhe a cabeça. Além da espada, Tristan carregava seu arco longo de teixo, e uma aljava cheia de flechas no flanco direito.

O “Velho Tristan”, como era conhecido, era um velho soldado da corte de Jehenna. Tratava-se de um breton bruto, de voz grossa e barba crespa. Já tinha idade para se aposentar, algo que se tornava evidente pelo seu rosto enrugado e fiapos grisalhos perdidos em meio a barba castanha, mas continuava a servir os Silverbound por escolha própria, sendo responsável pelo treinamento de novos soldados.

William não pensou duas vezes em incluí-lo nos trinta homens que deveria levar à Cyrodiil, quando recebeu a ordem do Rei. Tristan podia ser velho, mas o cavaleiro nunca conhecera um breton tão habilidoso com o arco.

Após algumas rápidas instruções, o velho arqueiro assentiu, prontamente procurando uma árvore para escalar, como lhe fora ordenado. Por sua vez, William avançou sozinho até o limite da área oculta pelas árvores. À sua frente via-se o forte, com sua única estrutura intacta, a torre pela metade, fixa a apenas alguns metros das margens do lago.

Sir William gesticulou com sua mão esquerda, lançando um feitiço de Detectar Magia. Uma pequena névoa púrpura formou-se entre seus dedos, e seus olhos brilharam, assumindo um tom ainda mais claro de azul. Alguns metros a sua frente, ele pôde ver claramente a razão de suas suspeitas. Uma fileira de Runas Mágicas cercava todo o forte. No momento em que seus soldados pisassem naquilo todos seriam engolidos por explosões de fogo arcano.

Evidentemente, William poderia simplesmente desativar as runas. Boa parte dos feitiços que conhecia eram voltados ao combate contra magia. Mas teria de desfazê-las uma a uma, e desativar um feitiço levava tempo e concentração, duas coisas das quais o cavaleiro não dispunha naquele momento, uma vez que a fileira de armadilhas encontrava-se bem no centro da clareira entre o forte e o bosque, onde ele seria facilmente alvejado pelos arqueiros sobre o muro.

Outra alternativa seria propositalmente acionar as runas à uma distância segura, com um de seus próprios feitiços. Mas as explosões que seguiriam arruinariam qualquer possibilidade de um ataque surpresa.

Felizmente, William tinha uma terceira opção.

Haviam duas formas de se armar uma armadilha mágica. Uma incluía lançar feitiços como aquele, que eram ativados com contato físico. A outra baseava-se no uso de pedras de alma. No caso da segunda, a pedra serviria como combustível para o feitiço. Uma vez que a energia contida na pedra acabasse, o mago deveria recarregá-la, do contrário a armadilha não funcionaria. Este método era facilmente identificável, uma vez que o feitiço era disparado de dentro da pedra de alma. Logo, se aquela armadilha fosse alimentada por pedras de alma, haveriam pedestais com pequenas joias arroxeadas cercando todo o acampamento.

Mas no caso da primeira alternativa, o feitiço ainda era ligado ao mago.

Se o mago morrer, o feitiço será desfeito.

Com sua visão ainda afetada pelo feitiço de Detectar Magia, William podia ver claramente uma pequena concentração de magia movendo-se dentro da velha torre. Tratava-se de uma tosca silhueta azulada, andando de lá para cá no que parecia ser um dos dois últimos andares da estrutura de pedra.

Eu só preciso atraí-lo para fora de sua toca.

O cavaleiro cortou o fluxo de magia, interrompendo o feitiço de detecção. Ele precisaria de uma boa reserva de magicka para o que estava prestes a fazer. Em seguida, William preparou outro feitiço. Magicka de uma cor azul-claro formou-se sobre sua mão direita, assumindo a forma de um cubo que crescia a medida que o cavaleiro o alimentava com mais energia.

William conhecia feitiços de proteção capazes de imitar as propriedades de um determinado material, formando uma armadura tão resistente quando o material em questão ao redor do feiticeiro. Os feitiços chamavam-se Feitiços de Carne.

Vários materiais diferentes poderiam ser usados, dando margem à diversas variações: Carne de Carvalho, Carne de Pedra, Carne de Ferro...

Após reunir a magicka necessária, William lançou o feitiço Carne de Ébano. A energia reunida em sua mão espalhou-se ao seu redor, formando uma camada azul de magicka que cobria todo o seu corpo. Embora fina, a energia que o protegia era tão resistente quanto o minério escuro das regiões vulcânicas de Morrowind, que dava nome ao feitiço.

Com isto, Sir William Silverbound deu um passo à frente, adentrando a clareira.

Ele agora podia ver o forte mais claramente.

A torre, claramente partida ao meio, havia sido remendada da melhor forma possível. Tábuas de madeira tapavam buracos por dentro, embora alguns ainda estivessem abertos. O muro à sua frente era feito do tronco das árvores ao redor do forte, postos lado a lado em posição vertical. As toras haviam sido aguçadas em uma das extremidades antes de serem fincadas no chão, de forma que a parte pontiaguda ficasse para cima. Um reforçado portão de madeira dava entrada ao interior dos muros, mas este estava obviamente fechado.

Do lado de fora William não saberia dizer, mas deduzia que alguma passarela havia sido construída por dentro do muro, por onde andavam seis dos foras-da-lei, montando guarda de sua posição elevada. Mais três ou quatro podiam ser vistos do alto da torre. Todos carregavam arcos ou bestas.

Eles notaram William assim que ele pisou na clareira.

O cavaleiro deu mais alguns paços à frente, aproximando-se o máximo que podia sem desarmar as runas. Os bandidos, claramente confusos, praguejavam entre si. Não demorou muito para que um deles encaixasse uma flecha em seu arco, não sem antes desferir um insulto na direção de William.

A flecha cortou o ar, acertando o elmo de do cavaleiro. Com um som metálico, o projétil apenas quicou para o lado.

— Mas que merda...? – xingou o bandido.

Mais flechas vieram, e também os dardos disparados pelos besteiros. Todos quicavam ao atingir seu alvo, caindo inofensivamente ao seu redor. Alguns chegavam a se partir ao chocar-se com o feitiço que o protegia.

Nenhum dos arqueiros carregava um verdadeiro arco de guerra, portanto William duvidava de que fossem lhe causar algum dano, mesmo sem a Carne de Ébano. Mas eram os besteiros que o preocupavam. Dependendo de onde acertasse, o disparo de uma besta poderia atravessar o aço de sua armadura, especialmente se atingisse uma região onde o metal não fosse tão espesso, ou pior, uma área protegida apenas por cota de malha.

Ora. Vamos!— Ele xingou. Mesmo estando seguro, ficar parado enquanto era alvejado livremente era um tanto desconcertante.

Após alguns minutos, quanto o chão ao seu redor estava repleto de projéteis partidos ou quebrados, William pôde ver quando um dos arqueiros no alto da torre xingou ruidosamente, olhando para baixo como se chamasse alguém.

Saindo pelo que deveria ser um alçapão que dava para o teto, uma figura envolta em mantos negros surgiu no alto da torre. O arqueiro que o chamara apontou para William de cara feia, dizendo algo para o feiticeiro.

Isso!

O homem vestido de negro juntou as mãos. Eletricidade correu por entre seus dedos. William estendendo a palma direita para frente, preparando uma Barreira Mágica. Mas tratava-se de mera precaução. Ele já podia ouvir o som Velho Tristan soltando a corda de seu arco. Tudo ia como planejado.

Um som ensurdecedor, junto de fortes luzes alaranjadas, quebrou sua linha de pensamentos. William e o feiticeiro no alto da torre olharam para o lado juntos.

Soldados vestidos em cota de malha avançavam contra o flanco esquerdo do forte, carregando escadas de madeira e dando gritos de guerra. Apenas para serem cobertos por uma parede de chamas que explodia debaixo de seus pés.

William precisou de alguns segundos para compreender o que estava acontecendo.

Dunard seu IMBECÍL!

Ele instruíra Sir Gregor a atacar apenas após o sinal: um potente feitiço de luz que brilharia acima das árvores. Mas aparentemente, Dunard decidira ignorar suas ordens.

Menos de um instante depois, um gemido de agonia fez-se ouvir. Não se tratava do grito de um dos soldados que morriam, mas sim do mago vestido de negro, que também fora distraído pelo súbito ataque. William olhou para a torre a tempo de ver o homem despencar lá de cima, com uma flecha cravada em sua garganta.

Com o feiticeiro morto, as explosões pararam imediatamente. O único som que preenchia o bosque eram os gemidos dos feridos pelas runas de fogo, e o grito de batalha dos soldados de William, que fervilhavam para fora das árvores às suas costas, correndo em direção ao forte.

Com um grunhido de fúria, William libertou Lâmina Alva de sua bainha, juntando-se ao ataque.

 

oooooooooooooooooooooooooo

 

William chutou a porta do forte. A visão que o recebeu foi pior do que imaginava.

A grama sob seus pés estava empapada com sangue, e corpos preenchiam boa parte do interior dos muros de madeira. A maioria pertencia aos foras-da-lei, mas haviam cadáveres envoltos em cota de malha também.

— Mais prisioneiros, senhor? – perguntou um soldado, aproximando-se de William.

— Não – o cavaleiro removera o elmo, revelando um rosto coberto de suor. Sua expressão era severa. Um misto de raiva e decepção – Ninguém que estava dentro do forte se rendeu. Mas há contrabando. Armas, skooma... Confisque tudo.

O soldado correu para obedecer às ordens.

Sir William seguiu adiante, com seus passos provocando um som molhado desagradável. Soldados corriam para todos os lados, tratando de feridos, gritando ordens, alinhando e algemando os poucos que haviam se rendido, afim de levá-los à capital.

Em meio à confusão o cavaleiro viu Svalda, ainda com o machado em punho. Ela vigiava os homens algemados, berrando ordens aos soldados que traziam mais prisioneiros a medida que esses eram encontrados entre os corpos.

A nord viu William se aproximando, e imediatamente voltou sua atenção para ele.

— Eu te disse para não dar o comando àquele idiota! Eu poderia ter liderado o ataque ao flanco, você sabe disso!

William não estava com paciência para discussões. Pressionando as têmporas, ele respondeu:

— ...onde ele está?

A mestra de armas escorou seu machado no chão, colocando a outra mão na cintura.

— Se a sua intenção é repreendê-lo, poupe sua saliva.

O cavaleiro respondeu com uma expressão de confusão, irritado demais para formar palavras. Svalda apenas fez um gesto em direção à uma pilha de corpos que se formava ao lado do portão.

William olhou na direção em que ela apontava. Ali eram reunidos os soldados que haviam caído durante o ataque.

Tantas baixas...— aquele era de longe o pior ataque que havia organizado desde que chegara à Cyrodiil.

Em meio aos homens mortos, um cadáver lhe chamou a atenção. William imediatamente reconheceu a armadura de meia placa, e o elmo com viseira levantada.

Mas desta vez, não havia um sorriso presunçoso debaixo da viseira, apenas um rosto queimado.

Deuses...


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Notas finais do capítulo

Quanto aos fortes de Cyrodiil: Quando fui pesquisar no quarto jogo (Oblivion) por fortes militares pra usar no capítulo tive uma pequena surpresa. Não tem um único forte imperial inteiro no Oblivion. O engraçado é que quando pesquisei na internet encontrei até discussões e teorias à respeito disso. Por que o Império do quarto jogo não tem fortes? Onde a Legião Imperial treina seus soldados? Enfim, isso me parece um furo de enredo da própria Bethesda, que se preocupou demais em fazer DGs com temática de “forte abandonado” e esqueceu de fazer fortes inteiros, protegidos por soldados. Então eles inventaram que “Tiber Septim não achou necessário manter os fortes guarnecidos”.
Eu decidi manter isso na fic, como uma pequena curiosidade.

Feitiço de detectar magia: Na lore nós temos feitiços de detectar vida e detectar morte (em outras palavras, detectar mortos-vivos). Eu decidi acrescentar detecção de magia ao grupo, porque convenhamos, faz sentido.

Tiber Septim: Antigo general nord (ou breton, como muitas teorias conspiratórias apontam) que conquistou Cyrodiil e fundou o Terceiro Império, para logo em seguida conquistar toda Tamriel, dando início à terceira Era e à dinastia de imperadores Septim. É conhecido pelos nords como Talos. Diz-se que, após sua morte, os deuses o aceitaram como um deles, tornando-o a nona divindade do panteão de deuses imperiais: Talos, o Deus da Guerra. Seu culto foi banido após o Acordo Ouro-Branco, uma vez que os elfos alegavam que “idolatrar um homem como um deus é heresia”.

Teixo: Outro termo que não é do jogo em si, e sim algo real. Teixo é uma planta cuja madeira era usada na fabricação do famoso arco-longo inglês (english longbow), que foi o horror de muitos soldados franceses na conhecida Guerra dos Cem Anos.



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