HL: Pocket Girl - How Heroes are Born escrita por Mini Line, Heroes Legacy


Capítulo 32
Você desperta em mim coisas que nunca imaginei sentir


Notas iniciais do capítulo

Yo!
Oi, meu lindos ❤
Voltei, depois de ter uma série de problemas, desde filhos doentes à bloqueios em cada cena! SIM, você leu certo. A cada cena! Foi bem difícil escrever esse capítulo, talvez porque fuja um pouco do que eu estou acostumada.
Então espero que aproveitem a pegada mais leve e romântica.
Agradecimento especial ao Player Gus, meu melhor amigo da vida. Sem ele, não teria capítulo. Me ajudou muito ❤
ALERTA
ESSE CAPÍTULO POSSUI CENAS QUENTES, MAS NÃO CONTÉM CENAS EXPLÍCITAS.

Sem mais enrolar...
Boa leitura.



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New Sunnyville, Queens.

 

Ao longo do extenso corredor subterrâneo, luzes vermelhas piscavam nas laterais do teto, enquanto uma sirene ensurdecedora tocava. Se o laboratório secreto e em situação precária não estivesse localizado no subsolo do hospital psiquiátrico Saint Clementine, abandonado na década de noventa, provavelmente algum morador poderia ouvir o soar constante e irritante.

Por mais que a sirene fizesse um zumbido ecoar pelos ouvido de Jared, enquanto ele corria pelo lugar, os gritos vindos de todos os lados eram bem mais incômodos. O cientista, ofegante, limpava vez ou outra o suor de sua testa, causado não pelo esforço físico, mas a tensão, que fazia-o tremer por dentro.

Um estrondo veio de uma das salas mais a frente, fazendo-o pular com o susto, enquanto uma moça de olhos tão perdidos quanto sua sanidade, gargalhava atrás das grades de sua prisão, da qual já nem esperava mais sair. Era apenas um experimento falho.

O silêncio incômodo fez um calafrio percorrer a espinha de Jared. Suspirando, ele tirou uma pistola da cintura e caminhou devagar, atento a qualquer ruído, inexistentes naquele momento. Com um chute, o cientista abriu a porta, pronto para atirar em quem aparecesse em sua frente, entretanto, não havia ninguém. Aliás, havia. Mas as pessoas naquela sala já não fariam mal algum para ele, além de revirar seu estômago. Os poucos agentes e cientistas que conseguiram escapar, agora estavam espalhados pelo chão ensanguentado, alguns desmembrados, outros com pedaços esmagados, além de muitas entranhas e miolos espalhados pela sala. No teto, que ficava logo abaixo do térreo do prédio, um buraco enorme fora feito, deixando a luz do sol da tarde iluminar o lugar.

Enojado, Jared desviou o olhar e saiu a passos lentos e pesados, passando as mãos pelo rosto. Tirou o celular do bolso e discou para seu superior da Nêmesis, pensando em como traria aquela notícia, depois de ter falhado e dado tantos prejuízos para a corporação.

 

— Ela escapou — disse rápido, assim que o homem atendeu.

O que?! Harper, você enlouqueceu? — bradou.

— Senhor, eu perdi o controle sobre as ações e memórias dela. Não sei o que aconteceu, mas…

Você nunca sabe. Nunca! — disse devagar, antes de aumentar o tom. — Conserte isso, Harper. Conserte isso, ou vou ser obrigado a "cortar" você do programa.

— Sim, senhor…

 

O seu superior desligou o telefone, deixando-o ainda mais irritado. Jared lançou o aparelho contra uma parede, tirando mais uma gargalhada da louca enjaulada.

 

— Ela estava tão, tão braba! Aquela mulher não nasceu para ficar aqui! — ela balançou as grades, fazendo-o recuar. — Aquela mulher nasceu… Não! Ela renasceu para ser livre. Livre como o bicho papão. — Gargalhou mais uma vez, antes de olhar nos olhos de Jared. — A mente dela já não tem mais grades. Não tem! Não tem. Ela pode fazer o que quiser. Ela pode até mesmo seguir seu propósito de criação e matar! Matar muitas pessoas. Matar todos! — gritou, com o sorriso doentio estampado em seu rosto. — O mal foi plantado em sua mente. Foi plantado por você! Agora, senhor, você vai colher esse mal! Você vai…

 

O estampido silenciou a voz da lunática, assim que uma bala atravessou sua testa. Jared calou a moça de uma vez por todas, observando seu corpo desnutrido cair com violência contra o chão. Por mais que não suportasse ouvi-la, sabia que cada uma daquelas palavras era verdade.



~*~

 

A primeira semana de férias não afastou os alunos e professores da escola. Os preparativos para o Baile de Inverno tomaram a maior parte do tempo deles, que se dedicaram intensamente para que a decoração ficasse impecável. A diretora volta e meia resmungava, dizendo que se eles se esforçassem dessa maneira para estudar, já estariam com um diploma da faculdade.

Mas não era só a escola que recebia vários alunos. As lojas de vestidos e trajes de festa estavam abarrotadas de adolescentes fervorosos, procurando a roupa perfeita para atrair todos os olhares e a coroa de rei e rainha.

Os dias se passaram com a areia de uma ampulheta, aumentando a ansiedade dos alunos de Townsend. E no sábado, dia do baile, os salões de beleza tiveram sua vez de lotar. Delilah contou com a ajuda de Valerie para se arrumar, ajeitando os cabelos em um coque alto e bem apertado. Seus fios, antes castanho avermelhados, estavam loiros, realçando seus olhos violáceos.

Na casa de Annie, a menina estava em frente à televisão, assistindo alguns episódios de anime, quando a campainha tocou, fazendo-a revirar os olhos. Ajeitou a toalha que estava em sua cabeça e atendeu, escorando-se na porta.

 

— O que você quer? — Franziu o cenho ao fitar o jovem entregador.

— Entrega para Annie White. — Ele deu de ombros, estendendo a caixa para ela.

— Eu não encomendei nada!

— Ah! Eu sei. Foi um homem… Phillip Madson. — disse, após conferir o nome em sua prancheta.

— Madson?! — Ela arregalou os olhos, puxando o pacote. — Ele… Ele foi até essa loja e comprou isso para mim? Quando?! Fala, idiota!

— Se você deixasse, eu diria! — O rapaz cruzou os braços, irritado. — Foi há alguns meses. Ele disse que teria que viajar e que era para entregar isso para a filha no dia dezessete de Dezembro. Hoje é dezessete de Dezembro e eu estou entregando! Agora pode, por favor, assinar o recibo?

— Claro! — disse baixo, assentindo.

 

A fagulha de esperança da garota se apagou no mesmo instante em que fora acesa. De qualquer forma, ela sabia que ele não voltaria mais.

 

— O seu pai viaja muito? — perguntou o entregador, enquanto ela assinava.

— Ele morreu.

— Que droga! — Ele suspirou, guardando sua caneta. — Vai me dar uma gorjeta?

— Vai se ferrar, otário!

 

Sem conter a força, Annie bateu a porta na cara do entregador, resmungando alguns palavrões para ele.

Voltando-se para o pacote, ela respirou fundo, antes de abri-lo. Dentro da caixa havia uma caixa menos, um envelope e uma coisa fofa e volumosa envolta em um papel fino e branco. Annie abriu primeiro o envelope, onde reconheceu a caligrafia corrida do pai, tão parecida com a dela.

 

“Annie,

 

Se você estiver lendo isso, é porque você não matou o entregador. Mas sentiu vontade, não foi? Bem, não sei o que vai acontecer nos próximos meses, mas a missão que eu tenho é arriscada e talvez eu não possa ver seu sorriso ao receber meu presente.

Hoje é um dia especial.

Você se formou (eu espero) e agora vai para a faculdade (eu espero também. Não seja como seu pai). Então aproveite essa festa com seus amigos, com algum garoto legal (eu realmente não queria escrever isso!) e divirta-se, pois você merece. E se não merecer, divirta-se do mesmo jeito. Você é rebelde como eu. Sei que fará isso e honrará meu nome.

Não sou muito bom com palavras, mas, em resumo, quero dar meus parabéns e dizer que eu te amo. Não importa o que tenha acontecido, sempre estarei cuidando de você.

 

Um abraço,

Seu pai.”



Por mais que tentasse evitar, Annie acabou chorando, enquanto apertava a carta contra o peito. Aquele vazio que sentia todos os dias parecia aumentar ainda mais. Mas ela precisava ser forte. Era uma Madson agora.

 

~*~

 

A residência dos Johnson estava silenciosa no início da noite, contando apenas com o som irritante dos sapatos novos de Benny contra o piso para fazer algum barulho. O garoto andava de um lado para o outro, roendo as unhas e suspirando toda vez que olhava no relógio.

 

— Mãe? — gritou, olhando para o topo da escada.

— Só um minuto, querido.

 

O “um minuto” durou muito mais do que isso, transformando-se em uma eternidade para o garoto ansioso. Mas quando a mulher desceu, ele não pôde deixar de sorrir ao ver Jessica deslumbrante, usando um vestido verde, que realçava seus olhos da mesma cor, e um sobretudo preto, que cobria seus joelhos. Manter-se no salto era como andar descalça para a mulher elegante, tão diferente da dona de casa que ele encontrava logo após ela chegar do trabalho.

 

Wow! Você está linda, Sra. Johnson. Aonde é que você pensa que vai? — Ele brincou, girando a mulher ao segurar em sua mão.

— Só um jantar com um conhecido. — Deu de ombros. — Não quero ficar assistindo Revenge, enquanto você se diverte por aí. Será que eu posso, Sr. Johnson?

Hummm… Volte antes das onze e está tudo bem. Senão vamos ter que conversar sobre um corte na mesada. — ele brincou , recebendo um tapa no braço.

— Mas é abusado, esse meu filho! — Ela o abraçou, rindo com ele. — Você quer o carro para buscar sua dama? Eu posso ir de táxi.

— Não precisa. É que…

 

O som da campainha fez uma revoada de borboletas agitarem o estômago do garoto. Antes que ele pudesse reagir, Jessica já havia caminhado em direção a porta, sem dar chances para Benny impedi-la.

 

— Boa noite, tia Jessica. Meu Deus! Você está uma deusa! — Richard abraçou a mulher, tirando uma risada dela. — Aceita ir ao baile comigo? Com um mulherão assim eu até viro hétero! — brincou.

— Olha que eu aceito! — Jessica sorriu, dando passagem para ele. — Entra!

— Licença! Oi, Benny!

— Oi, Clark! — Ele acenou rápido, visivelmente desconfortável.

— Você está lindo. Puxou sua mãe! — Um tanto nervoso também, Richard não conseguia parar de rir.

— Valeu! Você também está bem… legal. — Benny deu de ombros, rindo fraco.

— Eu estou perdendo alguma coisa ou é impressão minha? — Jessica interrompeu, franzindo o cenho.

— Sabe, mãe… O que eu estava tentando dizer antes do Clark chegar é que… Eu não vou levar ninguém ao baile, porque o Clark é quem está me levando. Nós vamos juntos.

— Oh! — Ela não pôde deixar de ficar séria no momento da surpresa. — Por que não me disse nada sobre isso?!

— Eu não sei. — Deu de ombros, abaixando a cabeça. — Desculpa.

— Eu não posso acreditar que escondeu isso de mim, Benjamin. Não posso acreditar! — Irritada, Jessica deu as costas para os dois e subiu as escadas, resmungando sem parar.

— Eu vou falar com ela.

— Não! — Richard o segurou pelo braço, sem disfarçar os olhos vermelhos. — Deixa ela. Está tudo bem.

— Não está não! Ela não pode fazer isso com você! Comigo! Eu sou filho dela e ela tem que me respeitar também! E se eu fosse gay? Era assim que ela iria me tratar? Eu não aceito isso!

— Eu mataria vocês dois se a câmera estivesse sem bateria! — Descendo novamente, Jessica trazia uma máquina fotográfica nas mãos. — Por que você está chorando, Rick? Benjamin, o que você fez para ele? — ralhou, abraçando o rapaz.

— Eu? Você fez!

— O que eu fiz?

— Nada, tia. Nada. É que eu pensei que você não tinha gostado, sabe… De eu levar seu filho. — O garoto secou o rosto, se afastando da mulher.

— Ora, Rick! Que absurdo! Eu estou irritada com o Benjamin por ele não ter me avisado, mas era só porquê eu quero tirar algumas fotos…

— Mãe!

— Calado! Vamos! Podem chegar pertinho, se abraçarem, beijarem…

— Mãe!

— O que é, Benjamin?!

— Somos só amigos!

— Ah! Claro. E eu sou virgem. Não precisa ter vergonha, filho. Agora pare de se mexer.

 

Jessica fez um verdadeiro ensaio fotográfico dos dois, deixando Benny com as bochechas vermelhas como tomates. Os garotos estavam tão elegantes em seus ternos pretos, que a mamãe coruja não conseguia parar de admirá-los através da lente da câmera.

Após mais um aviso de “coloquei camisinhas no seu bolso”, Richard levou o garoto, deixando Jessica a observar o carro desaparecer ao dobrar a primeira esquina.

Antes do baile, eles arriscariam uma passadinha no Queens, apenas para tentar convencer a amiga a ir com eles.

A viagem foi demorada, mas compensatória. O porteiro anunciou para Annie que seus amigos estavam subindo, então ela deu uma última esguichada de perfume e passou a mão pelos cabelos, pegando um moletom no armário em seguida.

Assim que eles bateram na porta, Annie abriu, deixando-os boquiabertos. Ela usava um vestido preto longo, com a saia rodada e uma fita vermelha na cintura. Os incômodos sapatos de salto a deixavam mais alta e elegante, e os cabelos, antes alaranjados, estavam tingidos de um vermelho intenso, assim como o batom que usava.

 

— Annie, você é o mais perfeito clichê da ruiva que se transforma na noite do baile! — Benny comentou, sem tirar os olhos da garota.

— Eu não sou esse clichê aí não! Sempre fui linda. Você que nunca reparou. — Ela deu um soco no braço do amigo, rindo com Richard.

— Espero que o pequeno Benny tenha trazido um lenço para limpar essa baba toda! Fecha a boca, Chuchu.

— Idiotas! Vamos logo, antes que a gente se atrase! — Ele desviou o olhar, levemente corado.

— Olha quem está falando em se atrasar! — Annie riu, apoiando os braços nos amigos, como uma verdadeira dama. — Que sorte a minha.

— Por que?

— Vou ao baile com o capitão do time e o rei dos nerds. O que mais eu poderia querer?

— Andrew? — disseram em uníssono.

— Vão se ferrar!

 

~*~

 

Os jovens alunos de Townsend já estavam curtindo a noite quando os três amigos chegaram no ginásio do colégio, atraindo olhares por um instante, mas logo se ofuscaram no mar de roupas chiques e luzes piscantes.

A decoração estava impecável, com arcos de balões pretos, brancos e prateados por todos os lados, assim como a cortina atrás do palco, onde Lorenzo e sua banda tocavam. O olhar do garoto emburrado logo encontrou o Capitão Foster, fazendo-o torcer a boca, voltando a prestar atenção na música que tocava.

Próxima a entrada, estava Alice, em um belo e delicado vestido cor de rosa de tom bem claro, ofuscando um pouco seu corpo de mulher e devolvendo-se seu ar de menina. Os cabelos presos só de um lado, desciam por cima de seu ombro esquerdo. Assim que viu Benny e os outros entrando, seus olhos brilharam, assim como o sorriso espontâneo em seu rosto. Estavam lindos, perfeitos para ela. Benny logo percebeu que a professora os admirava e acenou para Alice, antes de cutucar Richard, discretamente.

 

— Aí, Clark. Às vezes eu acho que a Lice está apaixonada por mim. Sei lá. Ela me olha de um jeito diferente. O que você acha? — Ele cruzou os braços, observando a professora de longe.

— Acho que você tem tanta chance com ela quanto eu tenho com você.

— Tão impossível assim?! — Ergueu as sobrancelhas, sem pensar em sua frase.

— S.O.S! Temos um soldado abatido! — Annie deu uma gargalhada, batendo no ombro de Richard.

— Nossa, Benjamin! Desnecessário, seu monstro!

— Essa doeu até em mim!

 

~*~

 

Apesar de não pisarem na pista de dança, os três se divertiram, dando notas para as roupas dos alunos e professores. As críticas destrutivas dos amigos deixaria qualquer uma das garotas aos prantos, caso ouvissem as maldades deles.

Delilah, que havia chegado com John, não deixou o rapaz parado nem por um instante, alegando ser um treinamento tático para espiões.

 

— Dançar é uma arma importante quando é necessário distrair e seduzir um alvo. Fica mais fácil tirar informações — ela explicou.

— Já percebi que você é boa nisso. — John sorriu para a Fada, deixando-a com as bochechas coradas.

 

Mas logo a música foi interrompida, quando Alice subiu ao palco, segurando dois envelopes dourados. Os alunos se aglomeraram rapidamente ao redor, observando, ansiosos, o anúncio que a professora traria. Com um sorriso tímido, ela pegou o microfone, enquanto duas de suas colegas carregavam as coroas do rei e da rainha do baile.

 

— Boa noite — começou, um pouco tímida. — Bem vindos ao Baile de Inverno do Colégio Townsend.

 

Aplausos e assobios ecoaram pelo ginásio, fazendo-a pedir silêncio, enquanto balançava as mãos devagar.

 

— Em primeiro lugar, quero parabenizar os formandos de dois mil e dezesseis, por essa vitória, que é sobreviver ao ensino médio. Parabéns, guerreiros! — Ela riu com os alunos, antes de voltar a ficar séria. — Agora, para dar continuidade às festividades da noite, tenho orgulho de anunciar os vencedores do concurso de Rei e Rainha de Townsend.

 

Ela observou os rostos aflitos das garotas coladas ao palco, cochichando sem parar, umas com as outras. Fazendo ainda mais suspense, Alice abriu o envelope com cuidado e leu o nome do vencedor em silêncio, sorrindo para a platéia.

 

— O Rei de Townsend deste ano é… Richard Foster. Aplausos para o nosso Rei e Capitão, orgulho dos Lynx por três anos seguidos!

 

Fingindo estar surpreso, Richard colocou a mão no peito, boquiaberto, caminhando até o palco em seguida, onde abraçou a professora e pediu baixinho para ficar com a coroa de rainha.

Após o alvoroço da coroação, Alice abriu e leu o outro envelope, arregalando os olhos por um instante.

 

Wow! Por essa eu realmente não esperava, embora tenha me precavido. — Riu fraco, assentindo. — Vivemos em um mundo, onde o diferente é excluído, é errado, é temido. Vemos na TV vários casos de pessoas que morrem por serem diferente. Porque tem a pele diferente ou veio de outro lugar do mundo, porque nasceu com habilidades e poderes especiais. Os Neo-Humanos. Pessoas morrem por serem diferentes ou pelo simples fato de amarem, independente do que existe por fora da outra pessoa. Mas hoje, vocês provaram que são diferentes dessas pessoas cruéis, que julgam os outros de acordo com sua visão do certo e errado. Vocês votaram e decidiram que essa coroa — Alice pegou o objeto e o levantou —, essa simples coroa, não vai pertencer a ninguém. Porque vocês, democraticamente, decidiram que o merecedor de uma coroa, não de brilhantes, é ninguém menos do que Benjamin Johnson, o outro Rei de Townsend!

 

Tão surpreso quanto todos os que votaram no garoto apenas de brincadeira — de maldade, por sinal —, Benny precisou de um empurrão para ir até o palco, aclamado pelos adolescentes e odiado pelas outras candidatas. Também abraçou a professora e observou uma secretária levar a outra coroa de Rei para ele, sentindo o rosto queimar.

Ao receber o microfone para fazer um discurso de agradecimento, passou o objeto rapidamente para Richard, tirando risadas dos alunos por causa do seu jeito tímido e atrapalhado.

 

Hello, Bitches! — começou o rapaz, com um ar de deboche em sua voz. — Quero agradecer tantas coisas e pessoas, mas, em especial, muito obrigado, tia Lice. Você me deu força e coragem para eu ser quem eu sou e não ter medo de mostrar isso. Você é minha diva inspiradora e, quando eu crescer, quero ser como você. Só que grande, claro! — Ele revirou os olhos, disfarçando as lágrimas acumuladas neles. — Quero agradecer a esse heterossexual másculo que vocês estão vendo aqui, por esfregar na cara de muita gente que não se deixa de ser homem ao respeitar alguém como eu. Por último, mas não menos importante, quero agradecer a rainha da minha vida e dessa porra toda! Ela sempre esteve comigo desde que eu me lembro do significado da palavra amigos, quando a gente dominava o parquinho do jardim de infância e batia nos garotos que implicavam com a gente, cantando aquela música… Como era mesmo...? — Pensou por um momento e riu, assentindo fraco, antes de cantar. — Namoradinhos, só falta dar beijinhos! — Mais uma vez, Richard riu, tirando uma risada da homenageada também. — E demos o beijinho. Nosso primeiro beijo, lembra? Foi horrível, mas tão horrível, que virei gay! — brincou, recebendo um olhar duro da garota. — Desculpa, Chuchu. Acabei com suas chances de se dar bem esta noite. Nem ligo. Mas você, Annie White, é a garota que eu mais amo no mundo. E quero que você seja a nossa rainha e cante aquela música para a gente dançar. Pode, tia Lice?

— Claro que sim! — A professora entregou a tiara para Richard, que chamou a amiga com o indicador.

 

Apesar de causar mais raiva nas candidatas, Annie foi aplaudida ao subir no palco, recebendo vários abraços. Teatralmente, ela se abaixou, deixando seu vestido formar um grande círculo ao seu redor, enquanto Richard a coroava. Benny ajudou ela a se levantar e beijou sua mão, guiando-a até o pedestal onde  estava o microfone.

 

— Vou ser breve, até porque essa bicha já falou demais. O beijo foi ruim porque ele não tinha escovado os dentes. E ele já era gay há eras, só tentava se enganar. E por fim — Apontou para a coroa em sua cabeça, sorrindo de canto. —, chupa essa, vadias!

— Ela bebeu o ponche! — Richard sussurrou para Benny.

— Eu disse para ela não fazer isso!

 

Logo os alunos se afastaram, formando um círculo no meio da quadra, onde a luz de um dos holofotes foi direcionada. Annie combinou com os garotos da banda o improviso daquela música, enquanto Benny e Richard foram de mãos dadas até o centro do círculo.

Um pouco sem jeito, Benny segurou o amigo pela cintura, assim que a música lenta começou a tocar. The Only Exception  era uma das preferidas de Annie, principalmente por causa da letra profunda, que traziam tantas lembranças para a garota.

Rindo um do outro, os garotos dançaram devagar, embalados pela voz de Annie. Não demorou para que os outros casais começassem a dançar também, tirando o foco dos dois, o que trouxe certo alívio para Benny.

Alice observou os agora ex-alunos, com um sorriso que continha mais emoções do que imaginou que poderia sentir ao mesmo tempo, quando William chegou, em silêncio, e abraçou a amiga, tirando-a de seus pensamentos.

 

— Você parece minha mãe na formatura da Emily. O mesmo olhar — Ele beijou o topo da cabeça de Alice, fazendo-a sorrir.

— É quase a mesma sensação. Apesar de ser apenas mais uma das professoras deles, vê-los crescer, mesmo que só um pouquinho, já me enche de alegria.

— Eles têm sorte! Queria ter uma professora como você.

— Linda? — Ela sorriu de canto, virando-se para Will.

— Dedicada, eu diria. Mas linda também.

— Dança comigo?

— Pensei que o baile era para os alunos. — Will ficou pensativo, antes de puxá-la, segurando em sua cintura.

— E isso importa? A diretora nem disse nada quando os alunos encheram o ponche de vodca. E só estamos dançando. Não tem nada de mais nisso. — Alice deu de ombros.

— Claro! Só uma dança.

 

Aproximando-se ainda mais da garota, Will tirou o ar de Alice, deixando-a hipnotizada por um instante, olhando no fundo de seus olhos azuis. Mas logo ele quebrou o encanto ao girá-la suavemente. Mantiveram-se em silêncio, aproveitando as músicas, uma atrás da outra, por longos minutos, até que, cansada, Alice encostou a cabeça no peito de Will e fechou os olhos, aproveitando o cheiro marcante do perfume masculino, misturado ao cheirinho que ela tanto adorava, vindo dele mesmo.

 

— Will?

— O que foi? — ele perguntou, inclinando-se um pouco.

— Eu estava pensando… Será que você pode me levar para casa? — Levantando o olhar, fitou os olhos de William, esboçando um suave sorriso.

— Você tem certeza?

— Absoluta! Na verdade, acho que já deveríamos ter ido faz tempo.

 

William assentiu, dando um beijo na testa de Alice, enquanto a guiava para fora.

As ruas de Nova York estavam calmas, ajudando a diminuir o tempo do desconcertante silêncio entre eles. Depois de alguns minutos, Will estacionou em frente a residência da Harper e suspirou, ainda com as mãos volante. Trocaram um olhar durante poucos segundos, antes de se aproximarem um do outro, iniciando um beijo intenso, enquanto Alice segurava na nuca do rapaz, e ele a puxava para perto.

 

— Tem certeza? — sussurrou ele, entre os beijos.

 

Ela apenas assentiu e se afastou, com um sorriso travesso no rosto, saindo do carro. William a seguiu, iniciando uma corrida até a porta, entre risadas contidas e olhares provocantes. Alice tirou os sapatos e caminhou na ponta dos pés, já que Rachel dormiu no sofá, enquanto assistia um filme, que, naquela altura, já exibia os créditos finais na tela da TV. A inseparável tequila também estava ali, exibindo a garrafa quase vazia sobre a mesa.

Ao chegarem no quarto de Alice, os dois se encararam por um breve momento, antes de se beijarem novamente, mas dessa vez não havia pressa. O tempo estava a favor deles agora. Aproveitaram cada instante, sem se preocupar com o despertador no dia seguinte ou com alguém para dizer que aquilo era errado. Errado era apenas negar o que sentiam e privar-se um do outro, como fizeram por tanto tempo.

William deslizou a mão pelas costas de Alice, enquanto puxava o zíper de seu vestido, deixando-o escorregar pelo corpo da pequena. Por um instante, sentiu-se apreensiva ao reparar no jeito que ele a olhava, mas não recuou. Pelo contrário, esboçou um sorriso com o canto da boca e o puxou pela gravata, guiando-o até a cama. Deixou que ele se sentasse para então desabotoar a camisa branca e livrar-se da peça, empurrando o rapaz e deitando sobre ele em seguida. Beijaram-se mais uma vez, prontos para entregar-se um ao outro, destruindo de vez todas as muralhas construídas ao longo dos anos.

 

~*~

 

Não faltava muito para o fim do baile, e  Benny, Annie e Richard estavam sentados em uma das arquibancadas, observando em silêncio alguns casais dançarem as músicas lentas e deprimentes que a banda tocava. O capitão do time de futebol já havia dispensado mais de sete garotas que o convidaram para dançar, enquanto Annie e Benny esvaziavam mais copos do líquido vermelho que deveria ser ponche, que tinha gosto de qualquer coisa com um alto teor alcoólico, menos morango.

 

— Tédio! — Richard comentou alto, para que os amigos ouvissem através da música alta. — Estes emos precisam tocar algo animado antes que vocês entrem em coma alcoólico. — Rindo, apontou para o mar de copos ao redor deles.

— Se eu tivesse sido convidado pra dançar por uma das gatas que você recusou, eu já estava feliz. — Benny virou mais um copo, fazendo uma careta ao sentir a garganta queimar.

— A pior aqui é a Annie. Todas as garotas vão perder a virgindade hoje, menos ela. — O garoto tirou o copo da mão da ruiva, bebendo em seguida. — A não ser que você encare o Benny, vai ser uma velha solteirona que cria quarenta gatos em um apartamento.

— Prefiro os gatos! — Annie cruzou os braços, virando o rosto emburrado para o outro lado.

— Não esquenta, Annie. — Benny deu um soco fraco no braço da amiga, fazendo-a rir. — Ser virgem não é tão ruim. Eu também sou.

— Benny, tá escrito na sua testa "virgem". — A ruiva deu um tapa em Benny, como se carimbasse a palavra em sua cara.

— Vamos resolver isso, então. — Richard sorriu, animado. — Podemos fazer uma festa na casa da Annie... Só nós três. — Segurou firme na coxa de Benny, sorrindo maliciosamente.

— Clark — Sem acreditar no que ouvia, o garoto tirou a mão do amigo de sua perna, soltando-a bruscamente. —, essa foi a pior ideia que você teve na vida. E eu pensei que nada superava o convite do baile. Isso foi nojento.

— Acho que vou vomitar — disse Annie, com a voz nauseada.

— Viu. Até a Annie achou nojento.

— Não é só por isso, idiota!

 

Ela mal terminou a frase e teve apenas tempo de enfiar o rosto na lixeira que estava próxima, devolvendo toda a bebida que ingeriu durante a noite.

 

— Segura o cabelo dela. — Richard apontou para a amiga.

Benny se aproximou, receoso, sentindo o próprio estômago revirar ao ouvir o som que Annie emitia. Segurou os fios ruivos dela, voltando o rosto para Clark, que chorava de rir dos dois, segurando o celular que gravava a cena.

 

— Vou mostrar isso para os seus filhos e para os filhos dos seus filhos!

— Desliga isso, idiota! Acho que já está na hora de ir para casa. Esse baile já deu tudo o que tinha que dar — Benny resmungou, ajudando Annie a caminhar, embora seus próprios passos estivessem vacilantes.

— Ganhei o concurso do Baile, dancei com o crush, arrasei na pista com a tia Lice e beijei um desconhecido no banheiro escuro… É. Só ia ficar perfeito se minha noite acabasse com o L na minha cama. — Richard suspirou, mordendo o canto da boca.

— Quem é esse L de quem você tanto fala? — Annie questionou. — A gente conhece?

— Vai por mim. Se conhecesse, jamais esqueceria! — Sorriu, nostálgico, até que percebeu uma aglomeração em frente ao palco. — Já volto, meninas.

 

Deixando os amigos, Clark caminhou até as garotas histéricas, entendendo finalmente o que gritavam. Pediam por palhetas e as baquetas de Alex. Atendendo o pedido delas, Giovanni, irmão mais velho de Lorenzo, foi o primeiro a jogar algumas palhetas, seguido por Luke e Lorenzo por último. Mas antes que o pequeno objeto se perdesse entre as malucas, Richard a pegou, apenas esticando o braço.

Seu olhar se encontrou com o do garoto, mas ele logo desviou, vendo apenas o Foster sibilar um “obrigado” antes de sair, deixando as meninas furiosas pela quarta vez naquela noite.

 

Temendo a reação de Jessica ao vê-lo bêbado, Benny enviou uma mensagem, avisando a mãe que dormiria na casa de Annie. No caminho até lá, os dois embriagados tiraram tantas risadas de Richard, que mal conseguia se concentrar na direção, mesmo não tendo enchido a cara como eles. E como precisava levar o carro para casa, o garoto apenas deixou os dois em frente ao prédio e se despediu com um aceno digno de uma Miss Universo.

Annie fechou a porta do apartamento assim que Benny entrou, em meio as risadas altas dos dois. Ela correu até a lareira e a acendeu, fazendo com que as chamas rapidamente aumentassem e aquecessem a sala.

 

Os dois, exaustos, se jogaram no sofá, rindo, já nem sabiam mais pelo o que. As risadas foram diminuindo, até que o silêncio os obrigou a cruzarem os olhares. Benny segurou a mão de Annie e a acariciou com o polegar, reparando nos detalhes dos olhos verdes da garota, que constratavam com seus cabelos vermelhos. Ela, por sua vez, deixou seu sorriso morrer, desviando o olhar para um retrato do pai, na parede.

 

— Annie, eu estava pensando, você não dançou no baile — comentou, tentando distraí-la.

— Claro que não! Eu não danço. — Franziu o cenho, voltando a atenção para ele.

— Qual é! Esse foi o último baile do ensino médio. Nunca mais vai ter essa chance!

— Isso se a Izanami não fizer um feitiço para ferrar minha nota ferrada em matemática. Cara, a Tay faz muita falta na hora das provas.

— A professora Izanami quer mais é que você se forme para não atrapalhar as aulas dela. — Ele riu, levantando-se. — E é o seguinte. Hoje, só hoje, não fala da Taylor. Não fala dela, não fala do Andrew...

— O que tem o Andrew? — Annie interrompeu.

— Eu sei que você é afim dele. Não adianta negar!

— Não sou não! Idiota. — Ela cruzou os braços, corando um pouco.

— Disse que não adianta negar! — Riu baixinho, puxando ela pelas mãos. — Hoje não existe Taylor, Andrew,  Sebastian Stan ou Scarlett Johansson. Hoje somos só você e eu.

— O que você acha que está fazendo, Benjamin? — Ela enfatizou o nome dele, erguendo uma sobrancelha.

— Estou dançando com você. — Deu de ombros, antes de ligar I Hate U, I Love U, no telefone. Uma música calma e ritmada, perfeita para uma dança.

— Essa música? Fala sério. Você é mais gay do que o Clark!

— Cala a boca, preconceituosa! Gnash é vida! Não reclama e dança direito. — Benny sorriu, puxando-a para perto, ao segurar em sua cintura com a mão direita, enquanto a esquerda segurava delicadamente a mão dela.

Eles se moveram devagar, atrapalhando-se nos próprios passos, já que a bebedeira não ajudou nada na hora de se equilibrar. Eles riam toda vez que Annie pisava no pé do garoto ou quando esbarravam em algum móvel.

— Você é muito baixinha! — Benny riu, inclinando-se.

— Você que é muito alto! — resmungou, mantendo-se na ponta dos pés, apesar de estar de salto.

— Bem, eu posso resolver esse problema.

Ele sorriu de canto e, ao refrão da música, ergueu a garota pela cintura, tirando um gritinho de surpresa dela, que apoiou as mãos nos ombros dele, enquanto giravam. Apesar de tudo o que passaram nos últimos meses, nos últimos anos, aquele momento foi tão especial, que nada de ruim conseguia invadir-lhes a mente ou fazer com que perdessem aquele sorriso espontâneo que a dança lenta lhes proporcionava. A cada passo, mesmo que trôpegos, sentiam-se aquecidos e protegidos nos braços um do outro.

Mais uma vez, Benny ergueu e girou Annie, mas não contou com seu cadarço traidor, que estava desamarrado justo no melhor da dança. Ele perdeu o equilíbrio e, por sorte, caiu no sofá, trazendo ruiva junto, para cima de si. Não pode evitar de sentir a respiração acelerada da garota, que estava com os cabelos bagunçados. Benny fez questão de ajeitá-los suavemente, enquanto apenas o crepitar da lareira quebrava o silêncio entre eles. Ele acariciou o rosto alvo de Annie, quebrando a distância que restava entre seus lábios.

"Apenas você e eu", pensou, mais uma vez, enquanto ela correspondia ao beijo calmo.

Ao poucos, as pausas para recuperar o fôlego diminuíram, enquanto a intensidade dos beijos aumentava, fazendo-o segurar a cintura de Annie com firmeza, apenas para colocá-la em seu colo. Desviou a atenção dos lábios dela, distribuindo beijos por seu pescoço, até tirar um suspiro da menina, que segurou firme em seus braços. Em um movimento rápido, levantou-se com ela em seu colo, levando-a para seu quarto bagunçado.

Annie ajudou o amigo a jogar no chão as roupas espalhadas na cama, e puxou ele pela mão, fazendo-o se deitar sobre ela. Voltaram a se beijar, dessa vez, trocando tímidas carícias. Mordiscando o lábio inferior, a garota desabotoou lentamente a camisa de Benny, sem se impressionar nem um pouquinho com seu abdômen esquelético, mas não se importava com isso. Sentia-se bem com ele.

Benny ajudou ela a se virar, deixando-a de costas para que pudesse abrir o zíper de seu vestido, beijando suavemente as costas dela e fazendo sua pele arrepiar-se com o toque. Mas, além do arrepio, Annie sentiu as bochechas esquentarem e a ansiedade bater de uma vez, enquanto ele terminava de tirar seu longo vestido. Percebendo o corpo da ruiva arrepiar com os seus beijos, Benjamin virou a garota com cuidado, voltando a fitar o seu fino e corado rosto. Sentia a respiração acelerar, assim como as batidas de seu coração, mas nada disso importava agora. Nada além daqueles suaves olhos verdes.

Annie desviou o olhar por um instante, ajeitando os fios de cabelo atrás da orelha, mas logo voltou a encará-lo, levando as mãos até o rosto de Benny e tirando seus óculos. O rapaz piscou algumas vezes, enquanto a sua visão começava a embaçar. Com a mão direita, ele acariciou o rosto dela, sorrindo fraco.

— Assim eu não vou poder te ver — disse baixo, tocando suas testas uma na outra.

— Talvez seja essa a intenção. — Ela sorriu de canto, dando alguns beijos em seu pescoço em seguida.

— Um pouco injusto.

Com um baixo suspiro, Benny segurou na cintura de Annie a pôs em seu colo, voltando a sentir o macio toque de seus lábios ao beijá-la novamente. Com a mão esquerda livre, ele a deslizou pela costas da garota até o feixo do sutiã dela, embora não conseguisse abrir com facilidade. Por mais que tentasse, Annie não conseguiu segurar o riso, se afastando um pouco do garoto.

 

— Sério, Benjamin? Vai travar logo nessa parte? — Colocou as mãos em seus ombros, encarando-o.

— Se não tivessem tirado os meus óculos... — respondeu baixo, desviando o olhar, embora ainda tentasse abrir a peça íntima. — Precisa da sua digital pra abrir isso?

— Você é ridículo! — Ela balançou a cabeça e lhe devolveu os óculos, virando-se de costas para ele.

— Obrigado — respondeu após colocar o óculos.

Agora, conseguindo enxergar normalmente e utilizando as duas mãos, não demorou mais do que alguns segundos para que ele abrisse a peça e o sutiã caísse no colo de Annie. Vendo agora as costas nuas da garota, Benny sentiu o seu rosto esquentar, o que fez imaginar se a amiga sentia-se do mesmo jeito. Ela respirou fundo, sentindo as mãos trêmulas ficarem frias, embora seu coração acelerado e descompassado fizesse seu rosto ficar cada vez mais vermelho.

 

— Só não olha diretamente e não dê risada, ou eu mato você — disse baixo, virando-se para ele, enquanto cobria os seios com os braços.

— Annie olha para mim. — O rapaz sorriu, acariciando o rosto quente da ruiva, antes de a puxar delicadamente pelo queixo. — Eu nunca riria de você.

— Você riu quando eu caí na piscina no primeiro ano.

— Eram situações bem diferentes... e também foi hilário. — Segurou o riso, fitando a garota.

— Você está rindo! — Ela também não segurou a risada, ficando ainda mais envergonhada. — Sabe que amanhã isso vai ser o maior arrependimento da nossa vida, não sabe?

— Nós já temos muitos, Annie, por que, pelo menos um deles, não pode ao menos ser bom? — o rapaz questionou, antes de franzir o cenho. — Aí não seria bem um arrependimento... — abaixou um pouco a voz, enquanto pensava. — O que eu tô tentando dizer, é pra aproveitarmos só esse pouco de felicidade que temos.

 

Annie não pôde deixar de sorrir com as doces palavras de seu melhor amigo. Ele tinha razão, afinal. E foi naquele momento que ela teve certeza de que Benny era o garoto certo para aquele passo tão significativo em sua vida.

Contagiado pelo sorriso de Annie, o rapaz diminuiu a distância entre os dois, lhe beijando calmamente. Deslizando a mão até a nuca da moça, ele a deitou com carinho, enquanto que, com a mão livre, ele segurava na de Annie, entrelaçando os seus dedos em seguida. De todos os momentos que viveram juntos, esse era o que havia mais motivos para permanecer eterno em suas memórias e em seus corações.



~*~

 

Um sentimento de solidão acabou alcançando o coração de Richard enquanto ele dirigia, voltando para casa. Apesar de ter passado uma noite inesquecível com os amigos, o mesmo vazio de todos os dias apareceu para assombrá-lo. E como se não bastasse o momento deprimente, o carro de seu pai começou a falhar no meio da estrada.

 

— Não! — choramingou, encostando o rosto no volante.

 

Para a sorte do rapaz, nenhuma alma viva passava por ali. E os poucos que se aventuravam àquelas horas, não paravam para ajudar um estranho, mesmo com ele acenando como maluco na beira da estrada.

Sem esperanças, bateria no celular ou no carro, Clark ficou sentado no capô, balançando as pernas, enquanto calculava quanto tempo iria demorar para morrer congelado ali, quando ouviu o som de um motor antigo. Desesperado, voltou a acenar, gritando por socorro.

Devagar, uma caminhonete bem enferrujada parou pouco atrás do carro de Richard, fazendo-o lembrar de todos os filmes de terror que havia assistido. Mas para seu alívio, foi Lorenzo que colocou a cabeça para fora da janela, franzindo o cenho.

 

— Veja se não é meu anjo italiano favorito. — Suspirou, colocando a mão no peito. — Pensei que ia morrer aqui!

— O que aconteceu? — perguntou, ignorando o comentário do rapaz.

— Eu não faço ideia! Essa lata velha só não quer ligar!

 

Respirando fundo, Lorenzo desceu da caminhonete e caminhou até o carro do rapaz, entrando em seguida. Tentou dar a partida, mas tudo que aconteceu foi um breve barulho, silenciando em seguida.

 

— É a bateria. — Assentiu, tentando novamente. — Não tem jeito, vai ter que fazer uma chupeta.

 

Ao ouvir a frase do rapaz, Richard desviou o olhar, tentando segurar a risada, por ter maliciado o que ele disse, fazendo Lorenzo revirar os olhos, saindo do carro. O garoto prontamente ajudou o ex-colega, fazendo todo o trabalho sozinho, enquanto Clark fingia que estava entendo alguma coisa do que Lorenzo fazia. Por fim, testando seu trabalho, o italiano deu a partida, fazendo o carro funcionar normalmente.

 

— Pronto, Foster. Já pode ir para a sua casa — comentou, entregando as chaves para ele.

— E como eu posso agradecer esse anjinho emo gótico das tretas? — Sorriu de canto, tocando a mão do garoto.

— Não me chama assim e já é um bom começo. Buonanotte, Foster.

— Talvez você queira terminar o que começamos no Banheiro Escuro.

 

Lorenzo parou de caminhar no mesmo instante, virando-se para ele.

 

— O que? Não começamos nada em lugar nenhum! — retrucou.

— Não se faça de inocente, Lorenzo. Eu sei que era você. — Deu de ombros. — Relaxa, não vou contar pra todo mundo.

— Sério. Eu não sei do que você está falando. — Ergueu as sobrancelhas, irritado.

— Ai, garoto, para de ser sonso! pior que o Benny! O Banheiro Escuro, o beijo… E isso aqui prova sua culpa.

 

Richard mostrou um cordão de prata, fazendo o menino arregalar os olhos e levar a mão ao peito, procurando a jóia, que tinha um pingente com a letra “B”, símbolo de sua família.

 

— Devolva! — bradou, caminhando rápido, na tentativa de pegar o cordão novamente, mas Richard ergueu os braços, deixando ainda mais difícil para ele alcançá-lo. — Anda, Foster, me devolve!

— Então confessa! — Clark empurrou o garoto contra a lataria da caminhonete, deixando-o encurralado. — Ou será que vou ter que refrescar sua memória, Bazzarello?

 

Richard aproximou-se de Lorenzo, que fechou os olhos com força, virando o rosto. Mas tudo o que sentiu, foi a mão do rapaz na sua, deixando o cordão com ele.

 

— Talvez não seja você, Sr. Eu Sou Hétero. Mas se for, eu vou descobrir.

 

Irritado, Lorenzo empurrou o rapaz e entrou na caminhonete, fazendo os pneus marcarem o asfalto ao sair.

 

— Lorenzo Bazzarello. Quais segredos você mantém nesse coraçãozinho?

 

~*~

 

A fria madrugada não conseguiu embalar o sono de Alice, que observou, em silêncio, o amigo desde que ele dormiu. Seus pensamentos confusos tiravam seu sono, deixando-a inquieta, até que, entediada, se levantou e caminhou até a janela, para olhar o céu, embora a vista não fosse das melhores.

A garota suspirou, pensativa, e foi até o armário, de onde tirou algumas peças de inverno e a vestiu rapidamente.

Desceu as escada abotoando seu casaco preto e deu uma olhada no espelho, tentando sorrir para si mesma. Levou a mão para pegar as chaves, mas desistiu da ideia e saiu caminhando até o ponto de ônibus mais próximo.

Não demorou para que o transporte chegasse, levando sua única passageira para o centro da cidade. Chegando lá, minutos depois, Alice usou sua invisibilidade para entrar em um dos prédios mais altos do centro comercial de Nova York. Sem se importar com o porteiro imaginando um fantasma nos elevadores, a garota foi até o terraço, onde sentou na beirada, tendo a visão completa da cidade da qual prometeu proteger com a vida.

Pensando na insignificância humana, comparado ao mundo tão grande e complexo, os sentimentos ainda mais difíceis de se entender voltaram a assombrar sua mente.

Mas Alice já estava cansada de lutar contra eles.

O frio da madrugada obrigou a heroína a esfregar as mãos antes de colocá-la nos bolsos do casaco, enquanto ela assistia aos primeiros raios do sol colorirem horizonte, assim como um certo rapaz fazia com ela.

 

— Alice, Alice… Você disse que não iria se apaixonar, lembra?

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Sobreviveram a esse capítulo imenso? Espero que sim! Futuramente vou fazer um especial, falando mais sobre o baile. Teve muita coisa que eu deixe de fora, senão o capítulo ia ficar imenso. (como se já não estivesse)
Muito obrigada a todos ❤
Beijos da Mini e até o próximo =*



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