Young Gods - Interativa escrita por honeychurch


Capítulo 9
Capítulo 08




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Ziara entornou a bebida contra os lábios dele, com uma mão ela segurava o copo, e com a outra o pescoço de Edmund, como se ele fosse um menininho de cinco anos que iria fugir do remédio caso não fosse contido por uma mão firme. O príncipe não a culpava por pensar daquele modo, a mistura que Ziara lhe dava todos os dias duas vezes por dia tinha uma textura tenebrosa, mas por incrível que fosse, o sabor era dez vezes pior.

            Edmund fez uma careta enquanto engolia, já procurando pelo copo de hidromel que afastaria o gosto terrível em sua boca.

            – Pronto, agora vossa alteza pode fazer o que quiser.

            Ziara era uma moça muito calma, paciente e carinhosa. Nunca esperava por nada, nunca se decepcionava, e parecia sempre pronta a expressar gratidão. Edmund gostava de tê-la por perto, e às vezes ela passava a noite no quarto dele. Ela lhe lia poesia de sua terra natal, ou falava mais sobre o Deus de fogo que sua irmã Cassandra aprendera a amar.

            Mas por mais inocente que a relação deles fosse, os boatos foram inevitáveis, e agora toda a corte parecia convencida de que os dois eram amantes. O príncipe nunca encorajou essa suposição, mas também nunca a desmentiu. Ele e Ziara concordavam que aquela era uma boa camuflagem, e escondia o que a moça essossi realmente era, uma sacerdotisa de R'hllor que tão facilmente poderia se tornar mais uma vítima do rei.

            – Vossa alteza me permite perguntar por que pediu pelo tratamento tão cedo?

            Edmund arrumou seu casaco um pouco constrangido.

            – Eu e Elyse vamos... nós vamos... passear. Mas vamos ficar por perto. Apenas até o olho de deus. Não vou demorar.

            Ele balbuciava e não montava frases significativas, mas não importava. Ziara compreendeu a mensagem e sorriu com um maneio de cabeça. Ela lhe desejou um bom divertimento, e Edmund gostaria de simplesmente aceitar os desejos da amiga e deixá-la ir, mas as perguntas que estiveram circulando em sua cabeça durante toda a noite insistiam em serem respondidas, e o príncipe se viu tomando ambas as mãos de Ziara e a conduzindo até um dos divãs de seu quarto.

            – O que você me disse, você tem certeza não tem?

            – Sim, meu querido príncipe, você deve ter esse filho, e deve amá-lo de todo o coração, pois será o único filho que terá.

            A moça apertava as mãos dele de maneira consoladora, ela parecia não entender que os afagos, por mais generosos que fossem, não resolviam nada.

            – Eu gostaria de lhe fazer uma pergunta. Você diz que o seu deus lhe mostra coisas, e tem algo que eu preciso saber.

            – Eu lhe contarei tudo que R'hllor me contar.

            Edmund a olhou por um longo momento, estava constrangido, e temia descobrir que suas suposições fossem verdade, mas teve de respirar fundo e perguntar.

            – Meus tios planejam me trair?

            Ziara soltou um risinho de surpresa, o que não tranquilizou o príncipe, ao contrário, só o deixou mais ansioso.

            – Por que perguntaria algo assim?

            – Apenas me responda, se você souber, por favor.

            Com seu olhar cândido, ela parecia compadecida das inseguranças do príncipe, mas ao mesmo tempo não parecia considere-las sólidas.

            – Seu tio Elmo, será o primeiro a lhe jurar lealdade, e cumprirá todas as promessas que lhe fizer. Isso as chamas me mostraram.

            Edmund relaxou os ombros tensos, o que Ziara lhe dissera não tinha sido capaz de o acalmar plenamente, mas ao menos o tinha acalmado suficientemente para o momento. Ele agradeceu à moça Essossi, beijou-lhe a mão e a testa antes de se despedir.

            Estar no Olho de deus era para ela sempre uma deliciosa e tenebrosa experiência. Nenhum outro lago ou rio onde tivesse nadado tinha águas tão geladas ou brandas. Águas pesadas que a abraçavam como mãos frias e carinhosas. Elyse sentia que jamais seria capaz de afogar naquele lago. Não, não ali, onde a água parecia pedir para vislumbrar um pouco de alma, pois jamais seria capaz de tomar nenhuma a força.

            Não haviam peixes, ou conchas, e nenhuma alga boiava até a margem ou se agarrava aos pés. Não havia vida além daquelas que nadadores ocasionais emprestavam por um momento.

            Acima dela, no entanto, o Sol brilhava quente, uma promessa interminável de generosidade que queimava as maçãs do rosto de Elyse, quase tão bom quanto o beijo de um amante.

            Ela finalmente abriu os olhos, e na margem, sentado recolhendo pedrinhas, estava o seu primo. Tão calmo, tão doce, tão ingênuo Edmund.

            – Você me enganou!

            Elyse gritou para ele, em um tom que era mais divertido do que acusador, mesmo assim o príncipe fez uma cômica e encantadora cara de terror.

            – Pensei que nadaríamos juntos. Mas veja como estamos agora.

            Ela concluiu com um sorriso.

            De todas as pessoas do mundo talvez Elyse fosse a que mais compreendia o príncipe. Depois de uma infância sendo importunado com avisos da mãe e do meistre para que não fizesse nada que colocasse sua delicada saúde em risco, era no mínimo difícil para ele acreditar que não morreria caso desse dois espirros seguidos, quem dirá se nadasse naquelas águas geladas.

            Elyse tinha muito interesse em ver Edmund saudável e bem, já que era difícil engravidar de um homem doente, e mais difícil ainda de se casar com um homem morto. Talvez um ano atrás ela não convidasse o primo para entrar na água, mas agora ele estava no mínimo diferente, sem olheiras, sem tosse, sem a respiração difícil de antes.

            Ela estendeu a mão e o chamou, com nada além de seu sorriso.

            – Acho que deveríamos voltar, vão ficar preocupados.

            – Eu não posso sair desse lago até que você venha e me resgate!

            – Se ficar aí até que o Sol se ponha vai morrer congelada.

            – Então seria muita crueldade sua me fazer esperar.

            – Caso eu entre, você promete...

            – Eu sempre prometo tudo o que você me pede. Não prometo?

            Finalmente ela viu seu relutante primo se livrando das botas, do casaco, e do gibão antes de entrar cautelosamente na água.

            Ele andava através do lago como se caminhasse em um campo de espinhos. Sempre preocupado que seu próximo passo fosse ser desastroso. Elyse não aguentava esperar até que ele abrisse o longo caminho até onde ela estava. Assim como a cada dia ficava mais insuportável a espera pelo momento em que ele, de uma vez por todas, colocaria o manto dos Hoare sobre seus ombros.

            – Acho que o Sol está se pondo, você deveria se apressar.

            Edmund riu de onde estava.

            – Ainda não é meio dia!

            Respondeu o príncipe com o lago batendo em sua cintura.

            – E será meia noite até que você tenha me alcançado.

            Elyse sorriu mais uma vez ao ver que seu primo tinha cedido à provocação, e como ele desajeitadamente irrompia pelo Olho de deus até onde ela estava. Quando finalmente o príncipe a alcançou Elyse passou os braços ao redor de seu pescoço.

            – Pronto assim é melhor, não acha?

            – Sim– Ele respondeu com um sorriso trêmulo e ansioso – Eu gostaria que pudesse ser sempre assim.

            Na profundidade onde estavam a água vinha como tímidas ondas que quebravam em seus queixos. Elyse colou seus lábios contra a pele molhada e fria do rosto de seu primo. Ela podia sentir que a respiração dele estava diferente, e teve esperanças que aquilo significasse que ele finalmente faria o pedido pelo qual estava esperando desde seus 14 anos.

            Edmund era um bom rapaz, e ela estava certa de que se tornaria um marido carinhoso e dedicado. Mas bons rapazes, e maridos dedicados não eram tão difíceis de se encontrar quando se era uma encantadora jovem de vários pretendentes. Ela queria mais, e o que ela queria apenas Edmund podia lhe dar. Elyse só poderia esperar que ele se apressasse.

            – Eu acho – o príncipe disse tremendo de frio – Que eu gosto de nadar.
Elyse apertou seu abraço contra o príncipe.
             – Tem que ir até Correrrio então, e eu o levarei para onde a correnteza é mansa e a água é quente. Eu acredito que você gostaria ainda mais de nadar se fosse lá.
             – E você nadaria comigo?
             – Eu faria qualquer coisa no mundo com você.

Ele sorriu o sorriso mais triste que ela já tinha visto naqueles lábios. E em um segundo o frio da água veio como um mordida terrível, causando em Elyse um profundo calafrio.
            Edmund sempre tinha sido o tipo de rapaz sincero demais consigo próprio e para com os outros. O tipo de pessoa que sentia cada coisa de uma vez e não era capaz de fingir seus sentimentos. Ele não sorria triste, ele não escondia coisas de Elyse.
          Com o frio, e o peso da água a puxando para baixo, com o corpo de Edmund tão próximo e próprio corpo dela trêmulo, Elyse só teve um segundo para pensar em tudo o que o príncipe realmente significava, e em tudo que ela estava prestes a perder caso o perdesse, antes de beijá-lo.
       Ela o beijou com a devoção de alguém que faz uma promessa, e com a determinação de alguém que espera promessas serem cumpridas.
     Depois de tanto tempo e de tanta espera, ela não poderia simplesmente abrir mão de seus desejos.
   Quando finalmente teve de descolar os lábios dos dele, ela estava uma cabeça mais alta que seu primo, segurando seu rosto entre as mãos macias e vendo os olhos castanhos dele piscarem antes de se abrirem para ela.
   Ele sorriu mais uma vez, dessa vez nada triste.

            A dieta de Edmund tinha sido sempre pouco empolgante, comida insossa para um menino doente, nada que fizesse estimular o apetite de alguém, e naquela noite em especial, jantando com a rainha, o príncipe não tinha vontade nenhuma de tocar em seu prato.

            – Prefere que tragam sopa?

            Isabel esboçou sua preocupação habitual olhando para a refeição abandonada.

            – Não estou com fome.

            Edmund apoiou as mãos em seu colo, e as olhou por instante, em especial para o dedo que não portava mais seu anel habitual.

            – Bem, eu espero que tenha se alimentado bem durante o dia – A rainha disse, agora voltando os olhos para o seu próprio jantar – Não o vi o dia inteiro, mas o chefe da guarda me garantiu que você estava com Elyse. O que estavam fazendo?

            – Estávamos lendo poesia.

            O príncipe respondeu sem nenhum resquício de constrangimento.

            – Eu gosto que passe o tempo com sua prima, ela é a mais excelente jovem desse reino. E gosta tanto de você...

            – Papai quer me casar com a garota Greyjoy.

            – Seu pai tem tido idéias absurdas ultimamente, trancado no topo daquela torre, ele nunca sai do quarto, mas seus decretos de execução voam como um enxame de vespas. Há quem diga que ele está ficando louco como...

            Isabel nunca terminou a frase, ao invés disso olhou para a dama que servia o hidromel, fazendo entender que queria que sua taça fosse cheia.

            Desde a morte de Cassandra, a família real nunca mais fez suas refeições em público. Julgaram que a privacidade de seus aposentos era o mais confortável para o luto.

            – Ele terá que sair do quarto em algum momento. Os embaixadores não o vêem já faz muito tempo, isso não pode ser bom.

            Edmund sentiu o sangue correndo forte por seu rosto, e provavelmente estava fazendo a cara que Cassandra achava tão engraçada, aquela que sempre fazia depois de cometer uma transgressão, mas com a cabeça baixa, ele esperava que a mãe não notasse.

            – Sei que está triste com essa ideia de se casar com... com... bem... com aquela gente. Mas não se preocupe, você vai se casar com quem quiser.

            – Sim, eu sei.

            Foi a resposta de Edmund, que dava mais atenção para as suas mãos do que para a mãe.

            Ele se lembrava, com muita melancolia, do final da tarde que passara com Elyse, e de como no final dela ele resolvera contar quase tudo para a prima. Contara sobre o deus de Cassandra, sobre Ziara, sobre sua própria inclinação para aquela fé que tinha feito, em pouco tempo, mais por sua saúde, do que os Sete jamais foram capazes.

            No final ele pediu algo a Elyse, e ela respondeu que sim, mesmo que estivesse tão visivelmente decepcionada com a natureza do pedido.

            O que estava feito estava feito, e Edmund só poderia desejar que mais tarde, quando Elyse estivesse brava, ela se lembrasse de como ele tinha posto em suas belas mãos tamanho poder sobre ele, não por ingenuidade, mas por confiança.

            – Eu gostaria de dar um presente para Elyse. Ela tem muitas jóias, mas eu acredito que poucos retratos.

            – Eu sei quem seria o artista perfeito, mas antes é claro, precisamos providenciar um novo vestido, e talvez...

            A rainha foi interrompida, a porta de seu aposento escancarada com tamanha violência e bestialidade, que fez com que os criados tremessem. Isabel se virou assustada, para a fonte da violência.

            – Saiam todos!

            O rei rugiu com um rosto vermelho e raivoso, e apenas uma vez foi necessário para que as damas e os pajens deixassem o quarto com as cabeças baixas.

            – Você! – Bennard disse com um dedo acusatório apontado para o filho – Me fez de tolo, me traiu! Eu deveria colocar seu pescoço debaixo de uma lâmina.

            Para a frustração do rei o príncipe permaneceu tão tranqüilo quanto antes.

            – Olhe para mim!

            Ele gritou, fazendo de si mesmo uma patética figura.

            – Vossa majestade está exaltada, precisa se acalmar!

            Isabel se aproximou para uma tentativa de conter o marido, mas tudo o que conseguiu foi ser tirada do caminho da maneira mais descortês possível.

            – Talvez o príncipe de Orkmont queira explicar o tipo de verme ele se tornou. Rastejando entre os meus embaixadores, corroendo o meu reinado! Eu vou te ter sob as minhas botas, menino estúpido!

            O rei avançou, e finalmente Edmund ficou assustado, e se levantou de sua cadeira, mais pronto para fugir do que para enfrentar.

            – Pelos deuses Bennard! Do que se trata isso?

            Isabel perguntou apavorada, mas foi Edmund quem respondeu.

            – Eu não vou me casar com a garota Greyjoy.

            – Não cabe a você decidir, e vou te mostrar!

            – Você não pode desfazer, não agora. O dote foi pago, e a minha noiva...

            – Sua noiva está em Pyke!

            – Edmund... Edmund... – A rainha veio sem fôlego até o filho – Você e Elyse, vocês...

            – Elyse? – Bennard perguntou rindo – Acha que isso é sobre sua sobrinha? Não! Nós subestimamos nosso filho minha cara, ele não se contenta com casas vassalas, nem Greyjoy nem Tully, nem mar nem rio. Vamos diga! Diga à sua mãe!

            Edmund arrumou seus vestes antes de dizer com certa relutância.

            – Eu irei me casar com a princesa Narcisa da Campina.

            – E eu irei arrancar o seu pau!

            O Rei avançou feroz, e o príncipe não teve reação a não ser jogar a pequena mesa de jantar na direção do pai.

            A pesada pedra o atingiu primeiro na barriga e depois na ponta do pé. Entre urros de dor, Bennard continuou com as acusações.

            – Roubou o meu selo, falsificou minha assinatura, negociou com o embaixador! Traiu seu próprio rei!

            – E não foi nada difícil se quer saber.

            – Quer saber o que será difícil? – O rei perguntou ainda absorto em seus ferimentos – Controlar os lordes das ilhas. Qualquer um pode ver o quão fraco você é. Um príncipe de Orkmont, que teria morrido caso visitasse a ilha, a criatura mais patética que já usou o título. Aqueles lordes não irão gostar mais de você por ter se casado com uma vadia da Campina.

            – Não me importo com as ilhas, elas são pobres, secas, e não nos fornecem nada que não inimizades. Serem engolidas por uma onda é o maior favor que poderiam nos fazer, acredite em mim.

            Dessa vez Bennard parecia de tal maneira enfurecido, que Edmund teve certeza de que terminaria estrangulado pelo pai. Ele viu o rei vindo em sua direção, e tentava recuar, tropeçando nos próprios pés e sem sucesso, Edmund pensou estar diante do derradeiro momento em que o pai o atacaria, e bem quando toda a esperança parecia perdida, Isabel se colocou entre o marido e o filho.

            – Chega! Você não vai matar outro de meus filhos!

            Ela disse com a respiração profunda, e recebeu do rei o olhar aterrorizado de quem é obrigado a vislumbrar os próprios pecados.

            – Suas negociações com Greyjoy estavam no início, um flerte e mais nada. E agora acabou. Vamos ter uma princesa de Orkmont e, no futuro, uma rainha Gardener. É assim que o assunto se encerra.

            A rainha declarou, sem qualquer felicidade em perceber que suas esperanças em ter Elyse como sucessora tinham sido desfeitas.

            – Não pode esperar que eu o perdoe, que eu sorria e acene depois de meu próprio filho me fazer de bobo.

            – Não, é claro que não. O que eu espero é que no futuro você tenha mais atenção, e não se permita ser feito de bobo novamente.

            Bennard pegou aquela ofensa, e com narinas dilatadas e passos pesados ele deixou o quarto da esposa.

            Isabel precisou de alguns segundos para se recompor, e quando finalmente foi capaz de maquiar seus sentimentos o suficiente, ela se virou para o filho, autor de tamanho acontecimento.

            – Seu pai está muito zangado e infeliz, eu estou infeliz. Elyse sem dúvida ficará bastante infeliz. A moça Gardener, bem, só os deuses sabem o que será dela. E quanto a você meu querido, você conseguirá ser feliz?  


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