Young Gods - Interativa escrita por honeychurch


Capítulo 6
Capítulo 05




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t o m b a s t e la

Os dedos finos de moça, e macios de dama, amassavam, esticavam, moldavam e poliam pequenas porções de massa de marzipã. Daqueles movimentos graciosos e ágeis das mãos da princesinha saiam as mais incríveis figuras. Tyella podia fazer rosas, pássaros, castelos, lobos, e tudo o mais que sua imaginação requisitasse. E ainda que as criações dela fossem de uma perfeição extraordinária, a parte mais impressionante desta habilidade da princesa era com que rapidez ela a tinha adquirido.

Assim era Tyella. Uma vez consumida pela curiosidade, todos podiam ver o quão inteligente ela era.

No caso deste doce, no qual ela moldava as mais maravilhosas formas, Tyella o tinha conhecido seis meses antes, quando alguns comerciantes de Braavos presentearam o príncipe Argos com uma réplica de Lançasolar feita toda de Marzipã.

Era bem verdade que a princesa ainda não tinha alcançado tamanha habilidade técnica, mas também era verdade que com o esforço que ela tinha em aprender, não demoraria a mudar essa situação.

A maneira favorita que ela encontrou para praticar, era contando histórias que tinha lido em seus livros. Tyella fazia os personagens da história todos com marzipã, e depois os guardava em uma caixa.

As crianças já sabiam o que significava ver a princesa passeando com uma caixa nas mãos, histórias e doces.

Hoje Tyella, cercada por crianças, começava sua história fazendo com um belo rapaz doce ganhando vida pelas mãos da princesa.

— O bom Willie estava na porta de seu estábulo, penteando seu corcel negro como carvão. E ele estava a pensar no amor da bela Margaret, e assim então seu coração começou a sangrar. ‘Mãe’ Willie chamou ‘busque meu chapéu e casaco, ajuda-me a vesti-los. Eu vou até ao jardim da bela Margaret antes que a noite surja’ Mas sua mãe respondeu ‘Fique em casa comigo, meu querido Willie. Hoje haverá uma tempestade! Fique, e eu vou servir uma bela mesa. Fique e sua cama será quente e macia.’ ‘Ah! Minha mãe, sua mesa e sua cama, elas não poderão me trazer conforto. Eu devo ir até o jardim da bela Margaret, antes que a noite tenha partido’ ’Se até o jardim da bela Margaret você for, minha praga partirá contigo, e nas profundas águas do Vago você afogado será.’ ‘Em um bom e precioso cavalo estarei montado, e eu depositarei minha confiança em seus ágeis flancos, para então partir são e salvo’ Willie cavalgou entre as altas colinas, e por vales cobertos pelo orvalho, para chegar onde a fúria do Vago teriam temido quinhentos homens. ‘Imponente Vago, você ruge tão alto, e sua correnteza é maravilhosamente furiosa, mas faça-me um naufrago quando eu voltando estiver, poupe-me enquanto eu vou’ E quando Willie nos portões da bela Margaret finalmente chegou. Ele gritou para sua amada ‘Levante-se, levante-se, lady Margaret, levante-se e deixe-me entrar’ ‘Quem é que nos portões do meu jardim chamando por lady Margaret está?’ ’Ninguém além de seu primeiro amor, o doce William esta noite chegou em sua casa, abra a porta lady Margaret, abra e me deixe entrar’ ele implorou ‘Minhas botas estão cheias das águas do Vago, e o tremor invadiu a minha pele’ ‘Meu estábulos está cheio de cavalos, Willie. E meu celeiro amontoado de fenos. Meus jardins repletos de senhores, e eles não partirão até que seja manhã.’ ‘Adeus, lady Margaret, adeus. Adeus. Uma praga sobre mim minha mãe lançou, por ter vindo esta noite até você’ Ele então cavalgou entre as altas colinas, e por vales cobertos pelo orvalho, para então no Vago, a pressa e força das águas tomarem dele seu chapéu. E quando sobre sua sela ele se inclinou para reaver seu chapéu, a pressa do Vago tomou dele seu casaco. E quando sobre sua sela ele se inclinou para reaver seu casaco, a pressa do Vago tomou de Willie seu cavalo. E na mesma hora que o jovem se afogou nas águas profundas, Lady Margaret despertou de seu pesado sono. ‘Venha cá, venha cá, minha querida mãe’ chamou lady Margaret ‘Eu sonhei um terrível sonho. Que meu amado estava à nossa porta, e ninguém o deixou entrar’ E a mãe lhe disse serena ‘Deite-se, deite-se, minha bela Margaret. Seu amado veio e partiu. O jogo que com ele você teria jogado, eu joguei’ .Em rompante a dama se levantou e até o Vago ela foi, mas quanto mais a senhora gritava, mais alto o vento soprava. E no primeiro passo que Margaret deu, ela afundou seus pés, e ‘Ah’ a senhora suspirou ’Suas águas são impressionantemente profundas’ E no próximo passo que deu ela inundou os joelhos, e então ela diz ‘Eu iria muito além, se meu verdadeiro amor eu pudesse ver’ E no último passo que deu, ela molhou o seu queixo. Na mais profunda das águas do Vago ela encontrou o doce William ‘Você teve uma mãe cruel, Willie. E eu tive outra. E agora nós dormiremos nas águas do Vago, como irmão e irmã.    

Elric conhecia aquela história, foi ele quem a contou para Tyella, e foi sua mãe quem primeiro havia contado a ele. Naquela época, quando ele e os irmãos eram pequenos demais, a bela donzela tinha outro nome que nenhum deles era capaz de se lembrar, pois todos haviam insistido que a jovem se chamasse Margaret, como a mulher que eles mais amavam.

No dia em que o jovem príncipe contou aquela história para a princesinha, uma lágrima correu pelo rosto moreno dela. O Vago ficava na Campina, e a maioria dos Dorneses ficaria feliz em ouvir uma história onde um de seus inimigos morriam, mas não Tyella, ao invés disso ela abriu os olhos espantada e disse: “Ele atravessou montanhas, talvez fossem as montanhas vermelhas. E se ele fosse Dornês, e ela uma donzela da Campina? Talvez por isso suas mães estivessem sendo tão más, pois eles deveriam ser inimigos e não amantes!”.

Elric queria dizer à princesa que nenhum cavaleiro conseguiria atravessar as montanhas vermelhas em menos de uma noite, nem mesmo se possuísse um cavalo mágico. Mas quão pertinente aquilo poderia ser, quando se sabia que essas canções nunca mantinham compromisso com a verdade?

Ele tinha certeza que Tyella dividira a história com as crianças na esperança de que esta despertasse nelas os mesmos sentimentos que ela sentira. Algumas meninas satisfizeram as esperanças da princesa, e derramaram lágrimas enquanto comiam as flores do jardim da bela Margaret. Mas muitas outras fizeram comentários como “As mães da Campina são todas cruéis, é por isso que eles crescem daquele jeito”. E um garoto respondeu dando uma mordida na cabeça do doce William “Não. Todos na Campina são idiotas. Que tipo de imbecil atravessa um rio em noite de tempestade? Não existem estalagens daquele lado?”.

Nenhum deles cogitou a possibilidade de Willie ser um Dornês. Na cabeça daquelas crianças nada poderia ser mais impossível do que qualquer tipo de afeição entre eles e o povo da Campina. Em Dorne, o ódio aos domínios da casa Gardener era ensinado junto com os primeiros passos.

— Acho que você deveria ter mudado o nome do rio.

Elric disse sorrindo para a princesa quando lhe ofereceu a mão para que ela levantasse.

— Mas eu não queria mudar nada – Tyella respondeu franzindo o cenho – A história é tão bonita do jeito que é.

— Sim, os olhos das crianças brilharam quando o casal morreu. O que pode ser mais bonito do que ter duas pessoas da Campina a menos no mundo?

Tyella soltou da mão dele e bufou arrumando a saia de musselina, uma saia tão fina que permitia ver a calça de seda colorida que a princesa usava por baixo. Elric ainda não tinha se acostumado com as roupas de Dorne. Eram tantas cores, estampas e camadas. Uma ostentação constante de status daqueles que podiam pagar por todas aquelas maravilhas. E foi só ali, no meio daquelas roupas estranhas que ele entendeu um pouco mais sobre o seu próprio lar. No Norte todos faziam a mesma coisa, ainda que se vestisse diferente, o objetivo era o mesmo.

A princesa insistia com ele que tentasse usar roupas mais frescas e alegres. Mas aquelas peças escuras e mórbidas eram tudo o que sobrara de casa. E fora isso, o príncipe a quem ele servia detestava as roupas nortenhas, e com esse último estímulo era impossível que Elric quisesse mudar de guarda-roupa.

— Tome – A princesa colocou a mão no fundo de sua caixa de marzipãs – ocupe sua boca com algo que não sejam bobagens.

Ela lhe entregou uma pecinha macia em cor de marfim, com uma riqueza de detalhes que fez os olhos dele brilharem. Elric passou o doce de uma mão para a outra, apreciando o trabalho da princesa, até que se desse conta de um detalhe.

— Mas não havia nenhum lobo na história.

— Eu sei.

Um rubor acompanhou as palavras de Tyella. Aquelas duas palavras eram a confissão tímida de que ela estivera pensando no príncipe nortenho. Ele sabia disso, e também estivera pensando nela, mas infelizmente Elric não sabia fazer sóis de marzipã.

— Coma!

Disse a menina ansiosa, e ele não teve opção a não ser satisfazê-la. Os olhos escuros dela esperaram por um comentário, e só depois dele elogiar o sabor, foi que a princesa sorriu satisfeita.

Agora com ela satisfeita, Elric lhe perguntou se ela não gostaria de ir até o ‘Caramanchão de Argos’, o convite não teve o efeito que ele esperava, ao invés de transmitir sua afeição, o príncipe só fez com que a moça franzisse o nariz.

— Eu não gosto de lá. E mamãe também não gosta. É muito extravagante, e não é... direito.

A última palavra foi escolhida com cuidado para suplantar uma pior.

— O que pode haver de errado?

Tyella, sua mãe e seus irmãos, tinham bons motivos para terem suas reservas para com Argos Martell, mas Elric não. Na verdade ele nutria muita admiração pelo co-regente de Dorne.

— A mulher dele morreu tem muito pouco tempo. E ela mal se acomodou no sono da morte quando ele decide encher-se de risos, música, e festa. Pobre mulher. Mesmo morta eu seria infeliz se meu marido tivesse por mim tão pouco apreço.

E para ele Tyella dirigiu um olhar trêmulo e úmido.

O príncipe começou a pensar no que gostaria de dizer. Que tipo de palavras poderiam ser escolhidas para que a moça entendesse que ela era preciosa demais para ser esquecida naquela rapidez? Ele não teve tempo de descobrir. Stephen Martell apareceu vestido com suas sedas elegantes, e um tanto ríspido mandou que seu escudeiro, Elric, que fosse preparar os cavalos.

Depois de algumas reclamações do príncipe sobre como ele não deveria nunca esperar por seu próprio escudeiro, e de como o garoto deveria ter a decência de pelo menos não perder tempo conversando com Tyella. “Não há nada que você diga que possa ser de bom proveito para ela”. Eles finalmente chegaram ao destino, uma imensa clareira perto de Tombastela.

A paz do lugar tinha sido recentemente convertida na agitação de centenas de carpinteiros, artistas, jardineiros.

O Caramanchão de Argos” é como chamavam desde que o co-regente começara a construí-lo durante a doença da esposa. Mas ‘caramanchão’ era no mínimo modesto para se referir ao que Argos estava fazendo. Estava na verdade mais próximo de um palácio de madeira no formato de uma estrela de sete pontas. Que se estendia até o céu, para arranhar as nuvens.

Era absurdo, caro, e esplêndido. E Elric sabia porque Argos estava construindo, e não era pelos motivos que Tyella acreditava. Não tinha nada a ver com esquecimento, era na verdade uma homenagem.

A falecida esposa de Argos adorava Tombastela acima de qualquer outro castelo, e ela tinha sido uma mulher alegre. Era para ela, e só para ela que Argos estava construindo aquela maravilha.

Enquanto a memória dos homens persistisse, a história se lembraria de Alinor de Qarth, a riquíssima herdeira com quem Argos tinha se casado, e por quem dedicara o mais sincero amor.

O príncipe Stephen, bem menos comovido por gestos românticos que seu escudeiro, jogou as rédeas de seu cavalo nas mãos do jovem Stark e foi falar com o mestre de obras.

Já não era a primeira vez que o príncipe dornes sondava a construção, e fazia perguntas ao construtor. Aquilo deixava Elric enjoado, não por Stephen, de quem ele esperava tudo, mas por causa do mestre construtor, que devia lealdade a Argos, e mesmo assim cochichava no ouvido de outro príncipe por dinheiro.  

Elric desviou seu olhar, e guiou os cavalos para mais perto da construção. Não importava o quanto visse, ele sempre ficava maravilhado. E o mais importante, aquela cena não revirara seu estômago.

— Está gostando do que vê jovem mestre?

Um homem troncudo, com a pele queimada e barba negra, veio falar com ele. Se tivesse de arriscar, o jovem Stark arriscaria que era um ferreiro.

— É impressionante – Elric respondeu timidamente e tocou uma das vigas reluzentes de madeira – Mas... um pouco oleoso demais.

Foi uma surpresa ficar com tanto óleo nas mãos, e o príncipe esfregou os dedos, ainda consternado pela textura.

— Óleo de laranja. Vocês não tem laranjas no Norte, tem?

No que Elric respondeu que não, o homem deu duas grandes batidas na madeira com sua manzorra, e riu estrondosamente.

— A maior parte dos lugares não tem, e por isso elas são tão caras. Mas o escolhido dos sete pode usá-las como bem entender, pois foi favorecido pelos deuses. Isso tudo foi ungido com riqueza.

Não havia nenhum traço de ironia na voz do homem sorridente, apenas admiração. Elric sorriu de volta para a empolgação dele, imaginando que estaria no mesmo estado se tivesse feito parte daquilo.

— Acha que ainda falta muito para ser terminado?

— Não podemos demorar muito. O príncipe quer dar uma grande festa aqui. No dia em que seria o aniversário da esposa, caso a boa senhora não tivesse morrido. Que a Mãe lhe guarde! E os convidados vão chegar em breve, para dias de caçadas, e bailes. Mas nada comparado ao que será feito aqui! Vê temos muito trabalho, cuidando de todos esses detalhes. Mas a recompensa será boa.

— O príncipe costuma ser generoso.

— Mais do que a princesa – O homem falou em voz baixa – Mas sabe, jovem mestre, eu passei a vida toda em Dorne, com esses príncipes briguentos, e o velho da Campina bufando em nossos cangotes. Acho que gostaria de conhecer outros lugares. Certamente ter trabalhado nessa maravilha me dará algum crédito. Acha que um homem como eu se daria bem no Norte?

— Ao menos lá o senhor não suaria tanto.

O suposto ferreiro riu ainda mais estrondosamente, e deu dois tapas tão fortes no ombro do rapaz, que fizeram Elric tossir.


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Notas finais do capítulo

https://www.youtube.com/watch?v=Bx8MHhDso3E
quem mudou o nome do rio? dis gal!



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