FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 37
Solução


Notas iniciais do capítulo

I'm Back!
Cara vocês não tem ideia de quanto eu queria falar isso. Eu sinceramente pensei que não ia dizer, porque quando dou um pause em uma fanfic eu costumo levar anos para voltar, se eu voltar. Então considerem-se com sorte, porque é um milagre eu estar aqui para dizer a vocês que eu sinceramente estou continuando essa bagaça!
Devo agradecer também, toda a cooperação, carinho e a pasciencia de vocês em esperar até hoje. Vocês me deram toda a determinação para voltar e, ainda devo dizer, estou relendo os capitulos anteriores e corrigindo os errinhos que a gente sempre deixa escapar quando escreve alguma coisa, mesmo fazendo revisão. Eu não vou mudar nada drástico, mas sempre acabo ajeitando uma ou outra fala, as vezes colocando alguma nova descrição, mas nada realmente importante.
Passei a compensar esses três meses de pausa com esse capitulo enorme (isso foi sem querer, mas tudo bem) que espero que gostem.
Sem mais delongas, Aproveitem o cap!



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FusionTale - Solução

E não era como se as redefinições iam parar por conta de seus problemas de saúde.

Definitivamente esse não seria o caso.

Parecia que a pessoa por trás de todas essas voltas no tempo estava determinada a cumprir seu objetivo, seja ele qual for, independente das circunstâncias. E parando para pensar agora Frisk não tinha tido muito tempo para avaliar o que tinha presenciado no menu. Com todos os seus sentimentos em confusão e o cansaço de sua mente ela preferiu, talvez de forma instintiva, deixar o assunto de lado por um tempo até finalmente ter capacidade de raciocinar da forma correta e avaliar corretamente os fatos que lhe foram apresentados.

Não era como se estivesse curada também. Aparentemente, para isso, as voltas no tempo não poderiam ajudá-la. Ela apenas decidiu que não poderia empurrar tal assunto importante por mais tempo depois que a redefinição deu as caras e ainda por cima fez seu tumor crescer um pouco mais. Era obvio que os sentimentos frustrantes decorrentes de tal evento inevitável não a ajudariam a lidar com a degradação massiva de sua alma, o qual derivava-se exatamente das emoções negativas, para sua grande sorte!

Os pesadelos continuavam, em menor quantidade, talvez apenas algumas vezes na semana ao invés de cada vez que fechava os olhos; a fissura em si tendo regredido em um bom tamanho, fazendo com que o que antes pareciam uma crosta negra ocupando quase por completo sua alma se reduzir para uma fissura do tamanho de uma navalha pequena, tomando quase o mesmo formato, com ramificações estreitas, como pequenos vasos sanguíneos negros a se espalhar aqui e ali; sentimentos também não eram mais tão preocupantes e enlouquecedores quanto antes; seu corpo mais descansado, o suficiente para novamente ser capaz de usar sua magia da forma como deveria.

Não era um quadro clínico perfeito, mas, ao menos, poderia pensar com mais clareza, continuar seu progresso, ou talvez começá-lo, afinal, nunca antes esteve tão perto de respostas sobre as redefinições. Definitivamente não poderia mais deixar isso de lado, seguir em frente, como sempre fez, era sua única opção no momento, mesmo que sua alma caísse aos pedaços.

Em primeiro lugar vinha a confirmação de que realmente era alguém a brincar com o tempo e não um simples problema no botão. Apesar que sim, o botão de Reset estava quebrado e com problemas, mas ela supunha que fosse apenas uma demonstração física do estado das cordas que moviam o tempo espaço, prestes, na mais simples das palavras, a se desfazer por inteiro. E, para sua grande surpresa, a pessoa que orquestrava tudo isso parecia conhecê-la de uma forma, ao que indicava, intima. E tal detalhe a deixava irrequieta, assustada, pois a cada redefinição ela arrumava novos amigos assim como inimigos, vários em suas lista poderiam ser suspeitos, mesmo que ela não tivesse notado nenhum que poderia aparentar conhecimento de voltas e mais voltas no tempo.

Quem poderia ser? Como conseguiu ir para o menu? E mais importante: Por que estava redefinindo incessantemente o mundo?

Contudo, o que realmente lhe desgastava com toda essa história, principalmente tratando-se da primeira pergunta, era o fato de que, com a simples frase "sou seu melhor amigo" ela já havia colocado seu irmão no topo da lista de suspeitos. E doía-lhe, doía-lhe como um inferno ter que suspeitar dele. Um membro de sua família, que tanto havia cuidado dela, que esteve a seu lado mesmo quando começou a cair na depressão ou a ser consumida por um tumor estranho. Alguém tão gentil como Asriel poderia realmente fazer algo assim? Ele não tinha dado nenhum sinal de recordar-se sobre as redefinições e Frisk não via motivo algum para ele continuar a refazer o mundo, principalmente querendo que ela em específico fizesse alguma coisa. Teria relação com Chara, talvez?

Talvez uma outra personalidade a qual nem ao menos ele tinha conhecimento fosse na verdade a responsável? Isso existia, não é? Poderia ser isso, afinal, Flowey fazia parte de Asriel, mas não necessariamente seria ele, assim como Chara, por muitas vezes, pareceu simplesmente uma outra forma de Frisk. Isso com toda certeza aliviaria um pouco do pensamento insalubre de seu irmão ser o responsável por todo seu sofrimento, contudo, alguma coisa não encaixava. Se realmente fosse uma dupla personalidade, como queria suspeitar, ele não teria dado sinais? Agido de forma diferente algumas vezes? Chara não teria demonstrado sua preocupação sendo aquela com mais intimidade com ele? Ela não teria suspeitado de algo? Se fosse como o resets ela não teria mencionado a Frisk, como tinha feito quando percebeu que não conseguia acessar o menu em uma das linhas do tempo atrás? E se, agora pensando, Flowey não fosse uma segunda personalidade? E se Flowey não fosse Asriel?

Chara havia afirmado, antes de toda a confusão, que os dois eram seres diferentes, obviamente originários da mesma essência talvez. Flowey foi criado a partir da poeira de Asriel, mas não tinha sua alma, o que realmente formava Asriel. Flowey poderia ser uma entidade a parte? Teria vindo parar nesse mundo também? Se esse fosse o caso, Frisk já tinha suas suspeitas.

Frisk não era cega, alguns fatos eram complicados passarem desapercebidos, principalmente depois de tantas redefinições. Por mais que lhe doesse pensar, menos que Asriel, entretanto ainda de forma significativa,

Florenci tinha determinadas atitudes que por vezes recordava-se as de Flowey. O menino era um doce com Frisk, ela o via como um pequeno irmão mais novo e sabia da vida dura que levava, com pais pouco presentes que eram convencidos que o pobre garoto sofria de distúrbios, dizendo a qualquer um que queria ouvir sobre todas as peculiaridades que conseguiam citar, exageradas ou não, sobre o rapaz. Ele era uma criança amarga, muitas vezes sendo explosivo e violento, recordando Frisk demasiadamente a Chara, contudo, de forma muito mais evidente do que sua irmã.

Ele nunca tinha sido violento com Frisk, mas era possessivo, não gostava que outras crianças se aproximassem da morena quando estava por perto e, muito a contra gosto, aceitava adultos. Pelo menos alguns deles. Ela não sabia bem como tratar isso, já tentou conversar, mas não parecia ter muito efeito. Ela também reparou que ele era um bom mentiroso, esperto e muitas vezes conseguindo ludibriar outras crianças mais inocentes a fazerem o que queria.

Por mais que Frisk realmente, realmente, apreciasse o garoto ela sabia que existiam diversos defeitos graves em sua personalidade e isso a assustava e apontava terrivelmente para sua possível existência como Flowey. Ainda assim, mesmo que esse fosse o caso, o ponto chave ainda estava faltando: conhecimento.

Nenhum dos dois, Florenci ou Asriel, tinham demonstrado aparentar saber nada sobre redefinições ou o poder para manipular o tempo. Apesar da fala ter sido muito semelhante a que ela teria ouvido de Flowey a atitude era estranha e ela não teria certeza do que ele poderia querer. Em suma, poderia ainda ser qualquer um com sua própria mentalidade doentia que por algum motivo havia focado-se nela e em suas ações para com determinado acontecimento em alguma parte da linha do tempo. Qual ela não saberia dizer, nem ao menos o que exatamente deveria ser feito para ser evitado.

E falando em fatos a serem evitados, Frisk ainda tinha outro problema a ser solucionado, um que talvez tivesse maior importância por ter mais informações do que o caso das redefinições.

Gaster.

Na linha do tempo anterior, a qual ela realmente não deu demasiada importância a tal problema por culpa de seu tumor e da incapacidade a qual sentia de si mesma, ele não havia caído no vazio. Motivos? Ela estava a pensar agora. Sua suspeita, porém, vinha de uma conversa a qual tiveram talvez um mês antes do dia em que deveria ocorrer o desaparecimento do homem.

Ele tinha se interessado, por mera curiosidade, em seus motivos determinados para descobrir mais sobre a magia em si, não apenas derivados de sua doença. Ela se aprofundou em seu trabalho com perguntas e mais perguntas sobre cada detalhe, sendo que, os pontos os quais não compreendia, ela voltava a perguntar, processando e avaliando como poderia, realmente tentando colocar em sua mente a ideia correta de cada detalhe que recebia. E Gaster tinha tornado-se impressionado por tal. Adolescentes da idade de Frisk normalmente não encontrava-se preocupados com esse tipo de coisa, o descaso para estudos, para o saber, era demasiado nessa idade onde o divertimento social parecia ser mais atrativo.

"Por que me pergunta tanto sobre magia, mocinha?" ele perguntou um dia, conferindo o progresso em sua alma quando Sans não estava perto, talvez por um mero milagre, ele havia tomado o costume de não desprender o olho dela quando era possível estar por perto, o apresso que tinha crescido entre eles não poderia ser explicado por ninguém, mesmo por eles mesmos. Frisk tinha erguido o olhar para ele, duvida bem evidente em suas feições. "Quero dizer, pessoas da sua idade não deveriam estar mais preocupadas com outras coisas? Festas? Namorados?"

— Não gosto de festas e não estou muito preocupada com minha vida amorosa por agora. Acho que tenho muito na cabeça ultimamente para preocupar-me com uma vida social ou algo assim. - ela deu de ombros, balançando os pés na mesa onde encontrava-se sentada. - Agora, sobre meu interesse por magia... Eu tenho o interesse de, depois da faculdade, entrar para a área política de confecção de leis. Eu quero dar direitos iguais tanto para aqueles que tem magia como os que não tem. Sinceramente é meu desejo, mas como posso fazê-lo se não compreendo ambas as partes? Eu não gosto da ignorância, tanta coisa que podemos fazer errado com intenções certas... Eu aprendi que, para realmente resolver o problema, devemos saber tudo o que pudermos sobre. Todas as encruzilhadas e problemas. Por isso quero saber sobre magia, sobre almas, assim posso entender sobre eu mesma e ainda tentar ajudar quem precisa.

"É um objetivo bem nobre, mocinha. Mas sabe, para um cargo político, você vai ter que se dedicar bastante. Trabalhos assim não são fáceis de conseguir." um sorriso havia sido desenhado no rosto pálido do homem, pequeno e discreto, por pouco não passara desapercebido pela morena que, trazendo de volta seu velho eu, estufou o peito e flexionou os braços, enorme sorriso em seu rosto.

— Eu sou determinada. Não importa o quanto demore eu vou chegar a onde eu quero chegar! - era certo que, se fosse contar sua esperança, naquele momento, ela nem ao menos acreditava que conseguiria deixar de viver aquele mesmo ano eternamente, porém, sempre gostou de trazer um sorriso para o rosto de outra pessoa. Seu coração, então, saltou alegre ao perceber o bufar divertido de seu companheiro mais velho, o aquecer de sua alma, há muito esquecido, voltando para recordar o motivo pelo qual sempre se esforçou tanto em manter-se integra a seus objetivos.

Mãos finas e alongadas enrolaram-se em seus cabelos castanhos, bagunçando-os com carinho paterno tão conhecido. Frisk não se incomodou, mesmo que essa intimidade entre os dois fosse inexistente por agora, ela sentia-se bem de mais com o momento para realmente considerar tudo estranho como deveria. Seu sorriso não se desmanchou de seu rosto e, por segundos, pensou distinguir uma pitada de orgulho e motivação nos olhos alaranjados do homem a sua frente, trazendo para sua face cansada um brilho, a se dizer, rejuvenescedor.

"Você é realmente uma garota impressionante. Torço para que consiga o que procura."

Na época em que tal conversa aconteceu, Frisk não considerou nada que pudesse realmente mudar acontecimentos no cronograma, porém, pensando agora, talvez suas palavras tivessem feito alguma coisa para Gaster, algo que o fez manter no curso da magia ao invés de procurar projetos adjacentes. Isso a fez se pergunta se a raiz do problema não estava exatamente ali, nas motivações do homem, em sua determinação em seu trabalho.

Gaster tinha demonstrado, em diversos outros momentos em outras linhas do tempo, o quão animado estava para seu projeto. Magia era aquilo com o qual queria trabalhar, muitas vezes sendo dito a Frisk, seja por ele próprio ou por Asgore, como foi por essas pesquisas que veio parar em Ebott, que dedicou sua vida inteira para aprender, seus sonhos de criança. Ele não mudaria seu foco a não ser que sua motivação estivesse a cair, o que a fez se perguntar se o projeto no qual trabalhava tinha caminhado para seu sucesso depois que ela não mais poderia se oferecer para fazer parte dele como ocorreu na primeira vez.

 E se, guiando-se por essa teoria, o colapso não tivesse feito a esperança de Gaster para com seu projeto cair? Quer dizer, eles estavam na finalização do trabalho, tudo que precisavam era colocar a prova tudo o que tinham estudado e teorizado. Porém, essa era a parte mais difícil, pois o projeto essencialmente necessitaria de um voluntário humano sem magia, fato que, obviamente, seria complicado de se arrumar pelo simples detalhe de que magia já não era muito bem vista e o projeto estava a se encaminhar em segredo. Sem o voluntário a pesquisa não poderia seguir e se ela não apresentasse resultados satisfatórios as verbas seriam cortadas e, por consequência, todo o trabalho cancelado.

Em tal situação, não se admirava que, com apenas o leve empurrão causado pelo colapso na mentalidade de Gaster, ele não passaria a buscar outros projetos, sem esperanças quanto ao seu principal. Talvez o detalhe estava em reanimá-lo para ele, trazer seu foco de volta para ele. 

Reanimada com todas as suas constatações, Frisk saltou de sua cama, determinada a fazer com que aquela linha valesse a pena. Afinal, sempre existiriam vários motivos para levá-la a desanimar, problemas de mais para conseguir realmente gerenciá-los como deveria, mas quanto mais se dedicasse, mais próxima estaria da solução de todos. Desolar-se sobre uma cama não ajudaria em nada, ela não era uma pessoa que desistia fácil e nunca seria.

Ela concertaria isso! Com tumor ou sem, com redefinições ou sem!

Redefinir?

Yes         >No

Redefinindo...

Ok, talvez então não conseguisse resolver isso em uma simples conversa como tinha imaginado inicialmente. Talvez devesse se manter mais atenta para, mesmo que o plano principal não dê certo, ela ainda conseguisse impedir o incidente, bem sabendo quando, como e onde ele aconteceria.

Sinceramente não queria recorrer para o salvamento físico e correr o risco novamente de cair dentro do vazio, então o deixaria sempre como um plano alternativo para casos extremos. Seu principal objetivo era arrumar uma maneira de concertar o problema a partir de sua teoria a qual ainda acreditava ser o mais próximo da correta, mesmo que não tivesse conseguido resolver o problema a partir de sua ideia original na linha do tempo anterior isso não significava que ela estava errada.

Mas o que poderia fazer Gaster reanimar a voltar para seu trabalho? O que em suas palavras o fizeram ter determinação novamente? Tentar se aproximar para descobrir ainda era uma opção, sempre poderia perguntar, era a forma mais direta de resolver qualquer tipo de problema. Ou pelo menos assim acreditava.

O cronograma voltou a tornar-se previsível depois que ela passou a tentar mais essa vez. Carregada com mais informações tornava-se mais fácil deslizar por entre os acontecimentos e manipulá-los para ocorrerem de acordo com o que desejava. Apesar de sua hesitação em admitir, era mais fácil quando era assim, poderia ser tedioso, porém lhe dava uma sensação de controle a qual, outras vezes, sentia-se agoniada de não poder ter. Talvez fosse pelo costume, acomodando-se na situação mesmo que não fosse das mais agradáveis. Ainda assim, tentava consolar-se que, mais do que nunca, precisava desse conhecimento repetitivo de acontecimentos para concertar o erro causado pelo colapso.

 Frisk aproveitou o fato de seu tumor ainda encontrar em tamanho considerável a afetar sua saúde como um convite direto para dentro da casa dos Skeltons. Ela tinha reparado que ele de alguma forma a aproximava de Gaster, os tornavam parecidos o suficiente para ele sentir-se confortável ao seu redor. Sabia que não funcionaria sempre e tinha duvidas se poderia fingir inocência e ignorância quanto a ele em outras linhas do tempo seguintes, porém, por enquanto, não tinha que se preocupar. Ele ainda a deixava fraca para sentir-se confortável em adentrar na gangue novamente, drenando sua energia com cada pesadelo que conseguia esgueirar-se em seu subconsciente de noite em noite, o vazio ainda sendo uma emaça demasiadamente real para ignorar.

Todavia, sua presença constante a tentar agarrar-lhe a alma não a assustava, pelo contrário, lhe dava mais determinação em conseguir que tanto ela como Gaster se mantivessem o mais longe possível de lá.

Deveria admitir, no entanto, que era estranho sentir-se agora como parte da família entre os Skeltons. Não como antes não tivesse sido, porém agora existia um toque diferente, mais profundo. Antes ela e Gaster se admiravam, mas não se interagiam, agora eles tinham algo em comum, um link que os aproximava e os conectava. Isso pareceu fazer com que Gaster prestasse mais atenção a ela, a observava e ajudava quando deveria trazer seus deveres de casa junto em algumas visitas, a acompanhando em seu progresso escolar e adentrando nas expectativas as quais ela queria alcançar, passando a vê-la não apenas como uma conhecida que fazia bem a seus filhos, mas como talvez um própria filha a qual queria ver ter sucesso.

Não era ruim, apenas diferente e fazia Frisk sentir-se ainda mais acolhida, tendo agora duas casas as quais poderia recorrer a morar, isso se não contasse a de Mettaton, Blooky e Alphys, que também abriam seus braços para ela toda vez que ia visitá-los. Todos eram sua família e mais do que nunca Frisk não queria abrir mão de nenhuma deles. Como tinha dito a Sans outrora, em outra linha do tempo, ela era egoísta e não arriscaria o fato de perdê-los mesmo que isso fizesse as redefinições pararem. Ela arrumaria outro jeito, um jeito em que todos se manteriam da forma como estavam, onde todos poderiam ser felizes juntos. Tinha que existir um jeito disso acontecer!

Redefinir?

Yes         >No

Redefinindo...

Agora ela estava confusa.

O que antes não tinha funcionado, tinha se mostrado totalmente efetivo na linha do tempo anterior. Era como se, de alguma forma, dependendo do que dissesse, um pequeno e insignificante detalhe, ela pudesse mudar tudo e isso era complicado. Claro, ela tinha um cronograma gravado, mas não era como se poderia recordar-se perfeitamente de suas palavras a cada vez. Ela vivia meses até cada redefinição acontecer, diálogos acontecendo dia após dia e ela não tinha memória fotográfica.

Se apenas um mero detalhe era suficiente para decidir o futuro de Gaster, então ela teria mais problemas do que inicialmente imaginou. 

E como se apenas tentar pensar sobre isso não bastasse Frisk ainda se via forçada a manter-se ainda mais alerta para com todos aqueles os quais tinha a seu redor, avaliando com mais afinco e determinação suas atitudes, suas ações, mesmo quando achavam que ela não estava olhando. Ela precisava, mais do que nunca, encontrar a pessoa que fazia as redefinições acontecerem e assim convencê-lo a parar. Não sabia quanto tempo ainda teria até a derradeiro hora da quebra do tempo espaço, e também não queria saber.

Seu foco tinha então tornado-se Florenci e Asriel, aproveitando sua suposta folga na gangue para usar desse tempo para aproximar-se mais deles. Estando mais em casa junto a seu irmão ou ajudando mais constantemente sua mãe na escola onde Florenci estudava. Muitas vezes tendo leves vislumbres do que parecia ser alguma mudança não provocada por ela vinda de um dos dois, mas nunca tinha como realmente saber. Por mais frequente que fosse o enredo, qualquer leve mudança no passado poderia afetar alguma atitude no futuro, pequeno detalhes que antes poderiam ter passado desapercebidos por ela agora estariam se repetindo e talvez, por estar mais atenta, ela apenas os estivesse vendo agora.

Florenci, no entanto, parecia ser muito mais atento do que seu irmão jamais seria.

Asriel era inocente, não importa quanto tempo ele passasse com Chara, ele ainda seria um pouco despistado para alguns detalhes. Mais de uma vez Chara a encarou de forma engraçada quando tentou, de alguma forma mais direta, retirar alguma reação inusitada de seu irmão, porém, o próprio não apresentava qualquer desconfiança. Se fosse realmente Flowey, sua personalidade definitivamente estava mais contida e discreta do que antes.

Florenci, pelo contrário, era mais esperto, e diversas vezes mostrou-se percebendo uma ou outra aproximação diferente, mesmo quando eram as mais discretas que poderia fazer. Talvez porque ele prestasse muito mais atenção a ela do que seu irmão, sendo muito mais possessivo, ela não saberia bem dizer.

— Por que não gosta que outras crianças brinquem conosco quando estamos juntos? Seria bom fazer novas amizades de vez em quando. - perguntou a ele uma vez, enquanto observavam outras crianças irem embora. Era comum ele ficar para trás, seus pais nunca chegavam na hora, existiam momentos em que Frisk pensou que, quanto mais tempo passassem longe do filho, melhor eles se sentiam e isso a deixava triste. O garoto, no entanto, deu de ombros.

— Não preciso deles, eu tenho você e é suficiente. - ele resmungou, balançando os pés elevados pelo banco no qual sentavam-se, grande de mais para que suas perninhas curtas conseguissem alcançar o chão.

— Mas eu não vou estar sempre aqui.

— Por que?

— Porque eu também tenho minha vida, outros amigos, minha família. As pessoas dividem sua atenção para um grupo a qual gostam, é normal e muito complicado se focar em apenas uma.

— Por que não pode se focar em apenas uma? Por que precisa de mais pessoas? - os olhos verdes a encaravam com atenção, uma leve carranca começando a se formar. Frisk acariciou-lhe os cabelos.

— Não é como se eu precise ou se eu planejo isso. Acontece que pessoas entram em sua vida, elas começam a fazer parte dela, é simplesmente natural. Aceitá-las como algo mais intimo às vezes é simplesmente algo que acontece outras vezes é uma escolha, mas não como se pudêssemos controlar tudo.

— Mas não são exatamente essas pessoas que te machucam? Deixar todas entrar não vai fazer com que simplesmente te abandonem depois? Se você apenas tiver um e essa outra pessoa também só tiver você não seria bem mais fácil?

— As pessoas te machucam muito Flou?

— Todas são idiotas. Elas não realmente se importam e não me entendem, não querem ficar perto de mim, mas você é diferente. Você não é como outras pessoas, eu não preciso das outras se tenho você, porque sei que não vai me deixar. - a convicção que ele colocou em tais palavras assustaram um pouco Frisk. Ela realmente não tinha a pretensão de abandoná-lo, ela gostava dele, ela queria o melhor para ele, mas ter apenas ela, querer apenas ela e puxar toda sua atenção... Isso era de mais, isso era de mais para qualquer um.

— Não é saudável depender tanto de uma pessoa Flou. Eu não vou te deixar, você é como meu irmãozinho, mas não posso dar minha atenção só para você. - Frisk era uma pessoa social, uma pessoa que fazia amigos com facilidade, uma pessoa querida. E, além de tudo isso, ela era livre. - Sei que algumas pessoas podem ser cruéis e sei que sua vida também não é fácil. Acredite, eu sei como é ter pais que parecem não se importar, que não são muito presentes, mas isso não deveria te impedir de viver. Conhecer novas pessoas pode ser legal, você pode encontrar novos amigos.

— Por que? Por que se preocupar em ter mais amigos? Eles vão apenas te machucar mais. É por que se preocupa tanto que está tão cansada? É por se preocupar tanto que sempre se distrai? As pessoas também te machucam Frisk? - as pessoas a machucavam? Sim, muito. Mas ela tinha quem a amava, quem cuidava dela. Mas não era por elas, que tanto lhe davam determinação, que o mundo continuava a se refazer? Não era por isso que sofria tanto? Por não conseguir desistir? Por elas? Aqueles olhos verdes nunca pareciam entrar tão profundamente em sua alma, ela tinha a sensação que eles poderiam arrancar-lhe qualquer segredo sem que ela precisasse realmente dizê-los. - Se eles tanto te machucam, Frisky, por que continua insistindo neles? Por que continua indo atrás dele?

Ela temeu que ele estivesse certo. Que em sua recusa de ver toda a dor que outras pessoas lhe faziam passar ela estivesse se empurrando de mais. Era normal para ela, simplesmente continuar, seguir seus objetivos sem pensar duas vezes, manter-se determinada até o final. Mas quando seria esse final? Realmente tudo valia a pena?

Ela não queria continuar a pensar nisso.

Redefinir?

Yes         >No

Redefinindo...

Foi apenas na próxima redefinição que ela percebeu o que realmente a fissura em sua alma tinha causado a sua personalidade. Trazendo-lhe uma característica negativa para sua personalidade, uma que se destacava das outras.

Foi surpreendente, porém. De tantas que poderia sitar aquela era a ultima e a menos desejada, nem ao menos poderia imaginar que a teria presente. Mas lá estava ela, tão discreta e recorrente que foi complicado notar, todavia não impossível.

Aconteceu quando finalmente pensou que estava disposta o suficiente para voltar a adentrar na gangue. Seus pesadelos tinham decaído para quase apenas uma noite durante o mês, seu corpo estava em perfeito estado e emoções negativas não mais lhe incomodavam, a não se que sejam suas próprias as quais eram inevitáveis. Mais descansada e concentrada poderia tanto utilizar de sua magia corretamente como praticar os exercícios para seu corpo, retornando a treinar com Undyne, divertindo-se com o fato de estar boa o suficiente para fazer a ruiva se impressionar.

Contudo, diferente de outras vezes as quais ela poderia muito bem dar as caras como ela mesma, Frisk percebeu que seria impossível fazer com que Sans aceitasse seu ingresso de forma branda. Eles ainda eram amigos, o sentimento causado pela fusão de alma os tornando tão próximos quanto possível, mesmo no começo. Ele, junto a seu pai, eram os únicos que sabiam agora sobre a mancha negra em sua alma vermelha, a qual parecia não reter seu crescimento apesar do constante tratamento. Frisk supôs que, por ainda ter contato com o vazio, mesmo que apenas por suas memórias, ela ainda era suscetível a ter sua influencia mais fortalecida sobre ela. Isso a fazia sempre precisar deles para ajudá-la a controlá-lo. Por mais que soubesse os métodos seu tumor era forte o suficiente para que precisasse de ajuda, por mais que tivesse medo de delatar seu grande conhecimento inesperado sobre o fato, ela via-se sempre obrigada a dizer a eles, todas as vezes.

Isso também fazia com que Sans tivesse uma proteção a mais sobre ela, sabendo como sua mente poderia tornar-se frágil por conta desse pequeno problema. Frisk insistia que não precisava de tanto, que ela sabia lidar, mas poderia entender os receios dele e não o culpava. Se por acaso soubesse que ela queria entrar em um ambiente tão conturbado quanto uma gangue de desordeiros, com toda certeza ele faria de tudo para impedi-la, mesmo que seja delatá-la para sua família.

Então, ela se propôs a fazer isso em um disfarce.

Se Sans e Chara poderiam ter outra identidade nesse mundo, ela também o teria. Não poderia ser mais complicado do que ela lidava antes, não é? Só precisaria cuidar um pouco mais sobre suas ações para não revelar prontamente para aqueles que já a conheciam.

Entrar em si não foi complicado. Ela sabia algumas ocorrências complicadas sofridas por Diana no decorrer daquele ano. Seja por já estar na gangue, como por ter escutado da própria ruiva. Tudo que precisou fazer foi vestir seu disfarce, preferindo manter-se como um garoto para trazer menos suspeitas, e então estar no local exato na hora exata, ajudando-os no momento preciso. Nada muito complicado com toda sua experiência de linhas do tempo anteriores.

Mostrar como poderia gerenciar as vielas subterrâneas foi apenas uma tática para chamar a atenção mais rápido, deixando bem claro para uma pessoa de olhos treinados como Diana o benefício que seria ter seu conhecimento em mãos. No noite seguinte deparou-se com ela novamente, a procurá-la na intenção de chamar-lhe para dentro da gangue como uma participante do setor de mensageiros. Frisk ainda tentou procurar ser um pouco resistente com o assunto, apenas para manter seu disfarce, não querendo demonstrar que esse era exatamente seu interesse.

A questão foi que, Frisk nunca tinha adentrado no lugar como um personagem de posição neutra. Seu ingresso sempre teve o intermédio de Sans, o que a fazia obrigatoriamente uma apoiadora dele. Agora, como apenas um novo integrante trazido por métodos convencionais, ela era considerada um partido neutro e, por consequência, trazia figuras que antes mantinham-se afastadas para perto, tentando convencê-la a juntar-se a eles.

Mesmo Betty não a tratou de forma tão rude como costumava fazer desde o momento que entrou. O máximo que Frisk conseguiu dela foi a inveja por elevar-se de posto demasiadamente rápido.

Seu disfarce também foi mantido com sucesso todo o tempo, mesmo que as amizades viessem da mesma forma. Todos acreditavam que era um garoto, principalmente ao voltar a esconder seus olhos e manter seus cabelos escondidos por dentro de uma touca a qual encontrou jogada no fundo de seu guarda roupa. Roupas largas não foram complicadas de achar, usando de botas velhas esquecidas por seu irmão de uma idade a qual ele calçara algo muito próximo ao tamanho de Frisk, bermudas jeans masculinas e blusões, algumas vezes moletons tão grossos que ela mesma sentia-se a se perder dentro. A parte inferior de seu rosto comumente encontraria-se escondida pelo cachecol negro o qual passou a usar no lugar de seu costumeiro vermelho, retornando a linguagem dos sinais para que Sans não a reconhecesse pela voz.

Ele ainda deixava escapar olhares desconfiados, porém não parecia saber quem era.

Seu apelido de Anjo foi mantido, suas amizades voltaram a ser as mesmas e Frisk nunca poderia realmente descrever quão bom isso se sentia, apenas reparando como a falta deles a afetou depois de ter recuperado a todos. Tudo parecia estar transcorrendo como todas as outras vezes, com um pouco mais de segredos, mas ainda tão tranquilo como ela estava acostumada. Carl era o mesmo tagarela, Anabelle a voz da razão e Diana sendo discretamente a mãe preocupada. Não importava como ela apareceria naquele lugar, o que realmente era importante eram suas atitudes para conquistar cada um deles depois que já se encontrava lá.

Sua percepção sobre a mudança em suas emoções veio apenas alguns meses depois de seu ingresso, tendo decido ao ponto onde Anabelle costumava ficar depois de receber uma ligação dela, assustada, dizendo que achava que estava sendo seguida e não sabia o que fazer. Ela poderia ser uma mulher forte, mas ainda era mulher de todas as maneiras e alguns medos não mudariam independente de quanto tentasse demonstrar confiança. Frisk poderia compreender isso perfeitamente.

Tinha ido com Carl, ambos preocupados e apressados. Sabiam o risco que sua amiga corria, principalmente por ser quem era. Muitas pessoas acreditavam que apenas por serem prostitutas deveriam aceitar tudo que lhes era dito, afinal, estavam sendo pagas para tal. Porém, ninguém deveria se subjugar a outro, independente do que seria oferecido como pagamento. Um não era um não, independente das circunstâncias.

O lugar era escuro, distante do centro bem vigiado pela polícia, em uma parte suburbana da cidade assustadoramente afastada, ainda dentro do território da gangue. Anabelle não se aventuraria para fora, ali ela tinha a proteção de Sans, qualquer coisa que lhe ocorresse poderia pedir socorro a ele, porém fora ninguém tinha que ceder as regras do albino e, por ventura, poderiam usufruir de qualquer coisa que lhes tinham em mãos. Como Frisk já tinha reparado, Sans bastante gentil em comparação a outros líderes da cidade.

Poderia se dizer, contudo, que haviam chegado no momento adequado. Anabelle encontrava-se próximo a um dos únicos postes iluminados do local, muitos outros estavam quebrados ou distantes de mais. Um homem corpulento se erguia diante da bela figura da moça, segurando-lhe o braço com visível força enquanto ela resistia, ombros chacoalhando na vã tentativa de se libertar. Outras prostitutas observavam de longe, não ousando aproximar-se, com medo de receberem o mesmo tratamento.

Frisk não pensou, apenas agiu, colocando-se entre os dois enquanto empurrava o braço do homem para longe. Um golpe certo no ponto certo e sua amiga estava livre, acolhida nos braços de Carl que não demorou a se aproximar.

— Oh! Se não é o novo recruta! - zombou a figura. Frisk demorou ainda um pouco, em meio a penumbra do lugar, para identificar quem era, não surpreendendo-se ao perceber que estava relacionado a Ralph. Eles eram apreciadores das velhas regras, onde poderiam fazer o que bem quisessem sem quaisquer tipo de consequências, imunes mesmo contra aliados, abusando de seu poder. Ciclope era um homem nojento, na mais gentil das opiniões de Frisk. Ele tinha se aproximado dela uma vez para tentar levá-la a um local onde poderia obter bebida e drogas das mais ilícitas, mesmo Chara, sedenta por poder, não ousava em ter qualquer tipo de relação com tal material, e ainda assim o homem pensou que seria uma boa ideia para atrair o novato para suas redes. Bem, ele não realmente sabia com quem estava a mexer. - Se está interessado em algum momento com a vadia pode esperar, estou aqui em primeiro lugar. Ou quer um trio? Sou velho, mas estou aberto a novas tentativas.

O homem estava visivelmente bêbado, o que não era totalmente uma surpresa. Mesmo em uma distância considerável Frisk conseguia sentir seu hálito impregnado pelo cheiro do álcool, cambaleando um pouco instável em suas pernas. Ele chegou a tropeçar alguns passos para frente, reclinando-se próximo de mais a Frisk para seu gosto, porém, logo voltou a cair para trás, por pouco não derrubando-se sobre seu próprio traseiro gordo.

Sabendo que ele não a iria entender se tentasse falar através de suas mãos, Frisk cruzou os braços e franziu profundamente o cenho, recusando-se a sair da frente de seus amigos. Seus olhos dourados escondidos por tás dos enormes cílios encararam o homem com atenção e desgosto, observando cada um de seus movimentos em espera de uma resposta negativa. Ele até mesmo tentou dar-lhe a volta, determinado a chegar até Anabelle, mas Frisk novamente posse-se a sua frente, determinada em impedi-lo de seguir.

— O que garoto? Vai realmente ficar no meu caminho? - Frisk não se moveu. O homem estava demasiadamente perto, poderia ver os dentes que lhe faltavam na boca, mesmo no escuro e isso a incomodava, ainda assim se recusou a afastar um passo se quer, peito estufado e cabeça erguida. - O que? O moleque acabou de chegar e já se acha no direito de interferir na foda de outros? Não seja estúpido moleque! Saia da frente antes que mostre como faziam as coisas no meu tempo. - nem um músculo foi movido, nem um sinal de hesitação. O homem bêbado riu, erguendo-se como podia em linha reta para demarcar ainda mais a diferença de sua altura para com o rapaz a sua frente. - Muito bem. Não vá dizer que eu não avisei depois.

Quando o primeiro soco desceu, ligeiramente tonto, Frisk esquivou-se sem quaisquer preocupações, seus olhos ainda atentos ao seu, agora, adversário. Outro e novamente ela viu-se facilmente fora do caminho. Mais um e ela afundou-se para frente, acertando-lhe um bom soco no estômago, causando-lhe a perder o ar, cambaleando para trás em pés bambos reclinando-se sobre seu próprio corpo. Ela aproveitou então da proximidade do rosto para acertar-lhe o maxilar e, consecutivamente, quebrar-lhe o nariz. Isso já sendo o suficiente para tonteá-lo, porém, não era o fim.

Determinada a dar o merecido elevou um chute para as partes baixas, aproveitando-se das pernas abertas para manter o equilíbrio e, apenas por fim, nocauteá-lo com um bom chute em seu rosto. Talvez isso o ensinasse a não forçar alguém a fazer o que não queria, para não dizer de respeito e espaço pessoal. 

Foi apenas quando a adrenalina saiu de seu sangue que percebeu que, apesar de ter realmente machucado uma pessoa, muito mais do que jamais havia feito por conta próprio, não tinha sentido qualquer sentimento de culpa ou hesitação. Também não sentiu-se bem, realizada ou nada do estilo. Não sentiu absolutamente nada em absoluta e por instantes tal fato a havia assustado. E não como se fosse a primeira vez, ela apenas não tinha reparado até então, mas muitas das coisas que antes lhe incomodavam, violentas ou não, agora não faziam qualquer diferença para ela. Tornou-se antipática, anestesiada... Indiferente.

Frisk nunca imaginou-se tornando-se indiferente para tais detalhes e ela continuaria a evitar situações como essa como nunca antes em sua vida, porém já tinha se tornado uma realidade que ela já não mais se preocupava tanto em machucar outras pessoas como antes. Obviamente existiam suas exceções, Frisk ainda seria incapaz de tocar ou ferir qualquer amigo realmente próprio ou parte de sua família, mas para desconhecidos...

Era como se tivesse perdido uma parte importante de quem era. O vazio o havia tomado e ela não queria saber o que mais poderia ter ido embora se o tumor não tivesse sido controlado ou ela tivesse passado mais tempo lá.

Teria virado alguém como Chara era em seu mundo? Uma pessoa que se deixava levar pela violência com demasiada facilidade? Definitivamente não queria pensar sobre isso.

Um outro problema, além da constatação de tal assustadora verdade, foi relacionada a Sans, mas isso ela deveria admitir que tinha sido sua própria culpa. Afinal, deveria ter imaginado que um dia ele descobriria, que seu segredo não ficaria guardado por muito tempo, principalmente ele a conhecendo desde seu núcleo, mesmo por apenas instinto. E ela deveria imaginar que ele ficaria chateado, que ficaria furioso, mais do que em qualquer outra situação. Eles eram como melhores amigos, diziam supostamente tudo um para o outro ou pelo menos compartilhavam boa parte de seus pensamentos. Frisk sabia que ele ainda mantinha seus segredos, mas não queria que ela mantivesse nada dele. Ela sabia uma parte de sua história e ele sabia a dela.

A queda de seu disfarce foi mais dolorosa do que poderia ter realmente premeditado.

Ocorreu um pouco depois do incidente com Ciclope, o que era estranho. Teoricamente o fato de ter batido em alguém ao ponto do nocaute deveria ser o suficiente para retirar qualquer suspeita de que Anjo e Frisk eram a mesma pessoa, porém, de alguma forma, tal fato não havia enganado Sans e, um dia, ele simplesmente a reteve em seu escritório, aproveitando do fato de que ela teve que ir até sua sala para entregar-lhe alguns relatórios.

Antes que se desse conta tanto seu cachecol quanto a touca sobre sua cabeça tinha sido arrancados por magia, deixando seu rosto completamente visível para ele, sua identidade exposta tão abruptamente que por momentos sentiu-se tonta, nua. E, poderia muito bem dizer, viu o belo céu azul nos olhos do rapaz nublarem-se em um sentimento de traição e tristeza.

— Você achou mesmo que ia me enganar, Frisk? Achou mesmo que não a reconheceria mesmo que se vestisse como um garoto? - ele questionou, a voz baixa, tanto a touca como o cachecol ainda em suas mãos. Ele estava triste, Frisk gostaria que ele estivesse com raiva, seria mais fácil de lidar, mas ela não sabia o que dizer enquanto o via tão... Abatido. - Eu nem sei por onde começar. Por que escondeu isso de mim? Por que veio até aqui?

— Se eu contasse você não me deixaria vir. - resmungou, mãos apertando-se na barra da blusa enquanto a cabeça caia. Era complicado encará-lo agora, era complicado pensar que ele a observava como se de alguma forma ela o tivesse traído. Mas tinha, não tinha?

— Claro que não deixaria. O que acontece aqui é ilegal, Frisk. Você seria presa se alguém descobrisse apenas que você está aqui. Tem alguma noção disso? Para não dizer que seu tumor é instável e tudo aqui pode afetá-lo mais facilmente do que em qualquer outro lugar. Você está doente e ainda assim vem para o lugar mais perigoso da cidade! Poderia ter morrido ou muito pior!

— Mas nada aconteceu. Eu não fui descoberta, eu não estou presa, eu não morri ou pior. Eu estou bem e estou lidando com tudo muito bem, mesmo com um tumor! Ele não vai me impedir de viver minha vida, Sans!

— Você não percebe que estando aqui já está perdendo sua vida? Que estar aqui é perder tudo o que você construiu antes? Você tem alguma ideia do quanto uma vida dupla pode ser desgastante? Alguma ideia do quanto isso pode te sugar para baixo? Eles vão mudar você Frisk, vão te fazer igual a eles, você não...

— Não o que? Não posso me manter integra mesmo caindo no inferno? Só porque você não conseguiu?

— Você não sabe nada sobre mim, Frisk.

— Essa é a parte engraçada, Sans. Você quer que eu te diga tudo sobre mim, em nossa "amizade", mas você não vai me dizer sobre você. Então quando eu tenho uma maneira de ir mais fundo, você briga comigo? Me dá sermão? Não é muita hipocrisia da sua parte? Não te ensinaram que para ter alguma coisa sempre precisa se dar algo em troca?

— Não estamos falando sobre mim, Frisk. Não mude de assunto.

— Não estou mudando de assunto, Sans. Tudo tem haver com você, ou você acha que vim aqui para me divertir? Como um capricho qualquer? Você faz tão pouco de mim assim, Sans? Não era suposto para você "me conhecer"? - os olhos de Sans se abriram em surpresa, apenas o suficiente para serem perceptíveis. Frisk ainda manteve-se firme. - Não esperou por essa, não é?

— Por que estragaria sua vida inteira por mim? Por que jogar tudo fora por alguém como eu?

— Aí que tá, Sans. Você se faz tão pouco caso que acaba duvidando que outras pessoas podem tentar realmente ajudar você. Eu quero ajudar, Sans, eu quero estar com você nos bons e maus momentos, saber seu lado bom e seu lado ruim, é para isso que são os amigos, a família. Se afastou tanto que não consegue mais ver?

— Não é motivo suficiente para vir até aqui! Poderia ter arrumado outras soluções!

— O que por exemplo?!

— Falado comigo!

— Você não me diria nada!

— Como sabe?! Como sabe que eu não contaria nada?! Você nunca realmente veio e me perguntou! E também, mesmo se eu não tivesse dito, não é óbvio o motivo?! Eu sou um maldito assassino, Frisk! Eu sou líder de uma rede ilegal da cidade! Eu faço a vida de outras pessoas estarem em perigo! Por que eu diria a alguém como você, tão certinha e perfeita, tão pacifista, que esse é meu verdadeiro eu?! Como poderia contar algo assim?!

— Eu não sou perfeita, Sans. Tenho minha filosofia, mas não julgo outros que não a seguem. Você deveria saber.

— Mesmo que eu soubesse, mesmo que eu te contasse, meus que eu confiasse em você a essa ponto, - era colocar um dedo na ferida, saber que ele não confiava nela, saber que mesmo com tudo o que ela tentava fazer ele ainda não a via merecedora de sua confiança... Ela não sabia se deveria se sentir ofendida ou enfurecida. - não mudaria nada. Não tem como você me ajudar, não tem como alguém como você me ajudar ou me entender. Você nem ao menos deveria estar aqui e ambos sabemos disso.

— É bom saber agora como nossa amizade funciona, Sans. Poderia ter me avisado antes de se aproximar de mim que você é do tipo de pessoa que não valoriza o sacrifício de outros.

— Não faça drama, Frisk.

— Eu fazendo drama?! Você se concentra tanto em seu auto-ódio, toda sua pena de si mesmo que esqueceu de olhar em volta! Você afastou todos que te amam, Sans, vocês o empurrou para longe e isso não é culpa da gangue, é sua, apenas sua. E quando alguém lhe ergue a mão oferecendo ajuda você prefere ignorar todo o sacrifício dela, toda uma possibilidade e se manter estagnado no mesmo lugar, sozinho no mesmo buraco! E por que? Por orgulho? Medo? O que te assusta tanto para não sair da própria merda em que se enfiou, Sans?

— Você não sabe nada, Frisk. Você acha que apenas porque segue seu caminho sem olhar para as consequências as outras pessoas tem que fazer o mesmo. Nem todo mundo é como você, Frisk, nem todos tem escolhas. E algumas consequências dessas escolhas podem ser mais altas do que alguém como você pode se quer pensar. Sempre teve tudo em mãos, sempre foi lhe dada todas as possibilidades, o mundo não é cor de rosa como mostram pra você! - os olhos azuis eram tão frios como gelo, mas Frisk não deu para trás, mesmo que soubessem que, quanto mais mantinham-se assim, mais fundo eles caiam em palavras as quais não queriam exatamente dizer. - Mas dessa vez você não vai ter uma escolha. Querendo ou não, você está fora daqui.

— Isso não cabe a você decidir, e você sabe muito bem disso! - seu maxilar se apertou, dentes a bater juntos. Ela odiava quando tentavam dizer o que ela tinha ou não que fazer. Ninguém decidia sua vida.

— Será? - ele desafiou, tão firme e furioso quanto ela, sua magia já começando a borbulhar ao redor. - Não me importo como, mesmo que tenha que dizer a seus pais. Não vou deixar você jogar tudo fora, Frisk.

— Você não é nada meu para tomar essa escolha, Sans! A vida é minha! E se disser a meus pais como vai explicar como sabe? Como vai saber que não vou falar sobre você também?! Como sabe que eu não vou dizer para sua família?!

— Papyrus e Gaster não tem nada haver com isso! Você não dirá a eles!

— Isso é uma ameaça? Eu não tenho medo de você Sans, então apenas me teste e veja o que acontece! - tomando suas coisas de volta, ajeitando-as em seu lugar, Frisk colocou-se para fora do lugar, sem olhar para trás, pés a bater no chão em fúria contida.

Não poderia descrever a dor em sua alma depois, principalmente quando Sans se afastou, quando ambos mantiveram-se irritados uns com os outros por dias que então tornaram-se semanas e por fim caíram nos meses. Eles frequentavam os mesmo lugares, eles viam-se todos os dias, eles sentiam mais do que amizade um pelo outro, almas implorando pela proximidade e ainda assim encontravam-se nessa situação incomoda. Eles se afastaram, não se falaram, se ignoraram. E doía, muito mais do que quando ele não se lembrava dela. Doía porque ela sabia que apenas continuava por orgulho. Um orgulho vindo de ambas as partes, recusando-se a conversar e pedir desculpas.

Ninguém comentou a mudança, ninguém conseguiu saber o que aconteceu, deixaram que ambos tentassem se resolver, porque quem tentava entrar era facilmente repelido para longe.

Frisk sentiu em sua pele o que Florenci tinha dito, a veracidade de suas palavras, mesmo sendo apenas uma criança. As pessoas machucavam umas as outras, elas se feriam. Quanto mais mantivesse por perto, mais chances você teria de encontrar uma ou duas que, um dia ou outro, achariam uma maneira de machucá-la de alguma forma, de deixá-la para trás, mesmo com tudo o que fazia.

Foi a primeira vez que ela questionou sua decisão, sua determinação e seu egoismo. Valia a pena manter a todos? Valia a pena todo esse sacrifício?

Foi uma linha complicada de se seguir. E por algum motivo a mais longa, com a exceção da primeira.

Redefinir?

Yes         >No

Redefinindo...

A solução para o problema com Gaster realmente surgiu de forma inusitada e assustadoramente casual. Frisk literalmente havia trombado de frente com ela.

A redefinição tinha começado igual a todas as outras, transcorrendo-se em uma igualdade rotineira monótona. Contudo, Frisk encontrava-se um tanto distraída, tanto por ser extremamente estranho começar tudo novamente quando ainda tinha o sentimento remanescente de sua briga com Sans como por ter o problema de Gaster ainda para resolver. Ela não poderia permanecer a pisar em ovos, tomando cuidado com o que deveria dizer a cada vez na tentativa de ajudá-lo. Precisava de uma garantia, alguma coisa que tornasse permanente a mudança. Mas o que?

Isso para não dizer de ainda ter que manter-se de olho nas possíveis pessoas que poderiam estar por trás das redefinições, assim como não tinha parado para pensar muito no que exatamente tal pessoa queria que ela fizesse para que as redefinições realmente tivessem seu fim. Era muito o que pensar e ela precisava de pelo menos se livrar de uma delas para ter tempo de pensar mais detalhadamente. E a mais próxima de se resolver definitivamente era a situação de Gaster, por mais complicada que se mantivesse.

Andando pelos corredores da escola no intervalo, sem realmente prestar atenção para onde estava dirigindo-se, não chegou a perceber alguém parado poucos passos a frente, em uma das encruzilhada de corredores, consequentemente se esbarrando em um encontro brusco. Ainda por culpa de sua distração e surpresa não chegou a conseguir manter seu equilíbrio, já imaginando que encontraria o chão se, por sorte, a pessoa na qual havia esbarrado não tivesse sido rápida o suficiente para ajudá-la a se manter.

— Sinto muito, senhorita. Está tudo bem? Não se machucou? - os olhos de Frisk recaíram na pessoa a sua frente, ainda a segurá-la para que não caísse. Seus olhos azuis escuros brilhavam em uma animação jovem, pele escura exótica destacava-se em suas características juntamente com sua altura elevada, corpo magro, porém forte, de ombros largos, com cintura e quadril finos, pernas longas firmes em seu lugar, cabelo castanho curto enchendo-lhe a cabeça, muito bem cuidados dando um aspecto macio. Ele a segurava com delicadeza, sorriso maroto e debochado em seu rosto, apesar de não ser atrevido como muitos outros os quais Frisk já tinha se deparado, era mais zombeteiro do que qualquer outra coisa.

— Estou bem, muito obrigada por ter me pegado e sinto muito ter trombado em você, não estava prestando atenção para onde ia. - Frisk sorriu para o rapaz, colocando-se de volta sobre seus pés. Suas coisas haviam sido derrubadas no chão e ao que tudo indicava o rapaz também teve que soltar as dele para poder segurá-la no calor do momento, espalhando livros e objetos pelo chão, de lápis a coisas pessoais.

— Não se preocupe com isso. - ele sorriu, um enorme sorriso cheio de dentes, tão animado quanto Frisk jamais viu, foi impossível não sorrir de volta da melhor maneira que conseguia. Era contagioso, ela não poderia negar, algo no rapaz simplesmente desprendia simplicidade e alegria. - Você é Frisk, não é? Frisk Dreemur. Temos aula juntos. - eles haviam se abaixado, ocupados a pegar suas coisas quando o garoto voltou a falar, uma mão estendendo-se em sua direção de forma amistosa. - Sou Lance. Lance Sanchez. Nunca conversamos realmente.

— É um prazer falar com você agora então, Lance. - Frisk retornou o cumprimento, compreendendo agora porque o rapaz era familiar. Tanta coisa na cabeça ela começava a se esquecer dos detalhes mais simples de sua vida cotidiana.

Com a exceção de Blooky e Tinn, Frisk não tinha contato com muitas pessoas de sua turma, Chara estava em uma sala diferente então realmente não contava, porém, não era por não ter contato que ela não sabia quem eles eram. Lance então seria impossível não saber quem era, tão sociável quanto qualquer outro jamais seria, tinha amigos nas mais variadas séries e realmente almejado pelas garotas de sua turma. Mais de uma vez Frisk tinha escutado, em conversas alheias as quais tinha aprendido a prestar atenção por causa de Carl, como elas se encantavam pelo rapaz estrangeiro.

Lance era latino, se mudou aos oito anos de Cuba para os Estados Unidos, primeiro vivendo em Miame e em seguida, aos quatorze, vindo para Ebott. Era um nadador nato também, fazia parte do clube de natação e, as poucas vezes que Frisk dignou-se a ver algum evento desportivo ela o viu ganhar, em uma vantagem tão grande que quase parecia uma injustiça que estivesse a competir. Ele também era inteligente, suas notas em matérias exatas eram medianas, mas na literatura e no inglês elas eram invejáveis. Ela já tinha reparado que ele tinha dificuldades em prestar atenção, demasiadamente hiperativo muitas vezes era repreendido por seus professores, porém, tinha uma incrível memória o que o tornava bom em aprender com facilidade outras línguas. Se ela estivesse bem informada ele conhecia cinco tendo ainda apenas dezoito anos.

Ele poderia ser dito como "popular" de muitas maneiras, mas Frisk nunca percebeu nele a prepotência que outros com o mesmo titulo ostentavam. Ele tinha seus momentos de arrogância, gritando alto no que era bom, contudo, sempre deu ares de brincadeira ao invés de verdadeiro orgulho próprio. Ele sempre pareceu um rapaz gentil, conversando com todos os que se apresentavam a sua frente sem qualquer distinção. Frisk nunca tinha realmente conversado com ele, mas era complicado ignorar sua presença em seus momentos dentro dos portões da escola.

— Droga... - o rapaz resmungou por sobre sua respiração, suas coisas já basicamente todas guardadas, com a exceção do objeto em suas mãos. A morena esticou o pescoço para tentar ver o que era, percebendo que o objeto aparentava estar quebrado, pedaços espalhados pela mão do rapaz moreno enquanto ele avaliava com olhos tristes.

Demorou um momento para perceber que tal objeto tratava-se de um pequeno telescópio, talvez do tamanho de um palmo ou um pouco maior. Suas peças estavam soltas, porém. A lente havia saído e parecia rachada, a parte de metal formando sua base estava amaçada e solta, quase partindo-se ao meio. Deveria ser um objeto bastante delicado para, apenas ao cair, quebrar-se daquela maneira.

— Sinto muito por seu telescópio.

— Tudo bem, não foi sua culpa. Eu sabia que não devia trazê-lo para a escola, mas é um pouco complicado separar-me dele. - ele tentava fazer-se de indiferente, mas era visível o fato de que aquele pequeno objeto era especial.

— Era uma coisa importante?

— Por assim dizer. Foi um presente do meu irmão, ele agora está nos fuzileiros então tenho pouco tempo para vê-lo. Nós costumávamos ver muito as estrelas juntos quando estava aqui, ele me deu esse telescópio quando foi forçado a viajar. É apenas uma lembrança boba. - mas era uma lembrança de qualquer maneira. Instintivamente Frisk brincou com o colar em seu pescoço, por debaixo do cachecol. Poderia não ser as mesmas situações, mas ainda assim ela compreendia a importância de algo simbólico sobre alguém.

— Pode me emprestar por um segundo? - o rapaz hesitou, por segundos encarando sua mão estendida antes de finalmente colocar todos os pedaços do objeto que carregava sobre ela. Concentrando-se Frisk deixou a magia deslizar para suas mãos, brilho vermelho a envolvendo, bem sabendo que seus olhos tomavam a mesma tonalidade. Não levou mais do que alguns instantes antes de todas as peças encaixarem-se de volta para o lugar, moldando-se em seu anterior estado, tornando-se novamente novo em folha. Frisk sorriu para seu trabalho. - Pronto.

— Wow! É magia não é? Que incrível! - Lance parecia uma criança a qual acabava de ver um truque de mágica pela primeira vez, avaliando detalhadamente o telescópio em suas mãos, impressionado com a forma como ele tinha voltado a ser igual ao que era antes, como se nem ao menos alguma vez tivesse quebrado. Seus olhos azuis brilharam na direção de Frisk. - Não pensei que podia fazer algo assim! É tão legal!

— Bem, não é algo que eu goste de mostrar, na verdade. Poucas pessoas são aquelas que ficam confortáveis com isso. - resmungou tímida. Ela apenas sentiu-se na obrigação de tal, ainda assim, era bom receber uma resposta tão positiva.

— Eu adoro magia desde que ainda morava em Cuba. Quer dizer, é incrível pensar que isso se quer exista e faz com que a vida pareça um filme ou uma série. É tão incrível! - a morena sorriu com carinho, percebendo que era exatamente essa reação que gostaria que outras pessoas tivessem. Era um fato tão incrível, um dom extraordinário. Claro existiam aqueles que os usariam para fins errados, mas nem tudo era crueldade no mundo. Se eles o vissem com igual brilho como Lance, tudo seria muito melhor e mais fácil. - Eu gostaria de poder aprender a usar. Mas acho que não tive tanta sorte como você.

A ideia então caiu logo em seguida. E sentiu-se realmente burra por não ter pensado nisso antes.

Qual a melhor maneira de convencer Gaster a continuar em seu projeto se não dando exatamente o que ele precisava para finalizá-lo? Frisk sabia que era arriscado sair anunciando-o para todos, mas seria apenas para Lance, que já tinha mostrado-se interessado em aprender! Era simplesmente perfeito!

— Você quer aprender magia? - sua pergunta foi repentina, seu olhar estava sério, determinação queimando em cada parte de todo o seu ser. Ela tinha encontrado a resposta, ela tinha encontrado a solução! Lance a encarou com confusão.

— Eu adoraria, mas eu não nasci com isso. Quer dizer, sempre dizem que isso se libera na infância não é?

— E se eu disser que tem uma forma de fazê-lo aprender? Uma forma de você conseguir liberá-la? Você aceitaria?

— Claro que sim. Quem perderia essa chance? Claro, se ela existisse.

— Me encontre no final da aula, eu vou te levar para as pessoas que podem fazer isso acontecer. - e, sem dizer mais nada, Frisk levantou-se e saiu, quase pulando em alegria e êxtase. Ela não poderia acreditar que a resposta simplesmente tinha caído em sua mão. Era como se o próprio universo a estivesse ajudando e nunca em sua vida poderia desperdiçar tal chance.

Frisk não conhecia Lance, bem consciente da possibilidade de que, de alguma forma, o projeto não andasse tão bem como ela estava esperando. Porém, nunca era tarde para concertar, nunca era tarde para conhecer e se todo o experimento tinha dado certo com ela, por que não com outra pessoa? Ela estava determinada a fazer com que esse plano funcionasse.

Durante a tarde, no final de sua aula, Frisk arrastou Lance para a casa dos Skeltons, explicando para Blooky e Tinn que tinha um assunto a tratar com ele, por mais estranho que fosse. Quer dizer, ela era uma das pessoas chamadas "estranhas" de sua turma, enquanto Lance era visto como alguém popular, os dois juntos era quase inconcebível para a cadeia hierárquica dentro da sociedade escolar, ainda assim, Frisk nunca se importou com tais regras e facilmente se poria a quebrá-las se estivessem na frente de seu objetivo, assim como agora.

Ignorando todos os olhares, eles caminharam em silêncio, juntos e lado a lado, deixando um clima um pouco estranho ao seu redor, talvez pela falta de contato o qual tinham naquele momento inicial. Frisk estava ansiosa de mais com seu plano para começar uma conversa e não reparou realmente na inquietação de seu companheiro, focada em chegar a seu destino o quanto antes.

Dizer que Sans encontrou-se surpreso ao vê-la com um desconhecido na frente de sua porta. E talvez fosse uma sequela da briga que tiveram na linha do tempo anterior, a qual permanecia em sua mente, Frisk não poderia bem dizer, ela ainda estava chateada, era fato, mas foi complicado explicar a satisfação que lhe preencheu quando viu a leve fagulha de ciúmes nos olhos de Sans quando seus olhos caíram para a mão de Frisk a segurar o pulso do rapaz moreno desconhecido.

Ela precisou conter-se de sorrir.

— Frisk, o que está fazendo? - ele perguntou, cauteloso.

— Lance quer aprender magia. Pensei que poderia dar o que ele queria e ainda fornecer o que precisam para concluir seu projeto. - com um pequeno puxão, Frisk trouxe Lance para mais perto, procurando concentrar-se apenas em seu objetivo e ignorar os loucos sentimentos que lhe recheavam o peito. Não era hora de concentrar-se no pessoal.

— Frisk... Eu sei de suas boas intenções, mas não pode sair contando sobre esse trabalho para todo mundo que acaba de conhecer. Ele é secreto por algum motivo. - era complicado dizer também se Sans lhe estava dando sermão por realmente ser uma atitude demasiadamente imprudente de Frisk ou por conta de seu ciúme visível. E era ainda mais complicado para Frisk decidir qual das duas opções era pior.

— Eu não contei para ninguém. - refutou, cenho franzindo-se profundamente em indignação. Ela não era estúpida para isso. - Eu o trouxe um voluntário para que vocês o avaliem e contem a ele sobre o projeto. Sou apenas a entregadora, nada mais.

— Hum... Existe mesmo um jeito de fazer com que pessoas sem magia possam tê-la? - Lance interrompeu, inseguro e tímido, porém, seus olhos brilhavam em pura curiosidade. - Porque, uau, isso seria muito louco. Como naqueles filmes com cientistas e tudo mais, sabe? Trabalhando para  o governo em uma espécie de projeto secreto que cria super humanos para combater o crime e tudo mais. Mas nesse caso esses super humanos já existem, então acho que seria mais humanitário? Como um projeto do X-Man que ajuda mutantes a perderem seus poderes, só que ao contrário.

— É, garoto. Mais ou menos por esse caminho, só que um pouco menos louco. - Sans zombou, sorriso divertido em seu rosto enquanto reclinava-se na porta. - O projeto ainda está em teste no entanto, então não temos garantia do que possa acontecer. Se decidir participar, você poderia ser o primeiro humano nascido sem magia a conseguir liberá-la. Isso no mundo inteiro.

— Nossa... Tipo, uou cara, isso seria incrível! Onde me inscrevo?! - Lance parecia genuinamente animado, toda sua hesitação inicial e inquietação tendo transformado-se na mais perfeita excitação, quase palpável. Frisk sentiu seu coração saltar uma batida, acelerando cada vez mais rápido, sorriso crescendo em seu rosto. Ela nem poderia acreditar que realmente estava conseguindo realizar seu plano, e com tanta facilidade.

— Apenas entre garoto. Tudo que tem a fazer é conversar com o chefe da pesquisa e então estará dentro. Não é como se tivesse muitos concorrentes também. - Sans abriu passagem e tanto Lance como Frisk adentraram, cada um com sua própria animação. Frisk ignorando completamente o olhar fulminante do albino.

Não foi muito complicado, depois, para Lance ser oficialmente parte do projeto. Tudo que ele realmente teria que fazer era ter a permissão de seu responsável, o que no caso seria sua irmã mais velha, a única presente na cidade junto com ele. Como consequência, porém, Frisk teve a oportunidade de conhecê-lo muito melhor do que nunca tinha imaginado que poderia algum dia, para não dizer de voltar a dar uma importância maior a sua vida estudantil, a qual tinha sido deixado de lado com o decorrer das redefinições seguintes e o aumento de seus problemas e as situações as quais via-se obrigada a lidar com mais urgência.

Inicialmente ela tinha apenas tentado saber mais sobre ele, ter certeza que não teria nenhum problema em colocá-lo para aprender magia, que não traria nenhum tipo de consequência negativa para algo que tinha tanta importância. Porém, com o tempo, com o decorrer das semanas as quais passavam a se aproximar cada vez mais, ela percebeu como Lance era uma pessoa boa de se ter por perto, de conhecer mais a fundo e nutrir uma amizade.

Ela concentrou-se tanto nele, nas novidades que ele poderia trazer, que, por algum tempo foi apenas ela, Blooky, Tinn e Lance. E, novamente, ela não sabia dizer se seu afastamento de Sans derivava-se realmente de sua animação para com as novidade que trouxe ao cronograma conhecer Lance ou se ainda eram sequelas derivadas dos sentimentos negativos vindos da ultima linha a qual havia tido o desentendimento com Sans.

Ele realmente a tinha magoado, desmerecendo não apenas seu sacrifício por ele, como também julgando-a da forma como ele sabia que ela odiava ser julgada. Ele poderia ter esquecido, mas ela ainda corroria nas memórias do incidente, a dor em sua alma muito evidente para ser ignorada.

Seja como for, Sans foi deixado em segundo plano por um tempo, Gaster concentrou-se apenas em seu trabalho e Frisk divertiu-se com seu novo amigo.

Redefinir?

Yes         >No

Redefinindo...

Frisk era uma pessoa que gostava de fazer amigos, e com sua personalidade calmante e naturalmente atrativa essa era uma atividade fácil independente de quantas vezes ocorresse uma redefinição e ela tivesse que se repetir. Ainda mais quando tal amizade a ajudava a aliviar um pouco do estresse que, atualmente, açoitava constantemente sua vida.

Carl, Diana e Anabelle eram um belo exemplo de tal.

Quando Frisk inicialmente havia se posto dentro de uma gangue, uma vida completamente diferente da que originalmente levava, ela estava assustada, era um fato o qual não poderia mentir mesmo que quisesse. Estava apavorada com a expectativa do que deveria fazer, se tinha sido uma boa ideia, se realmente valeria a pena. Estava com medo do que iria ver, ouvir e fazer, enjoada pelas atrocidades que descobriu, as sombras que encobriam a cidade que amava, com sua própria irmã e Sans envolvidos, sendo uma surpresa ou não.

Foi complicado, mesmo para sua vasta vida de redefinições, engolir tudo, ainda assim, depois que conseguiu adquirir a companhia de quem julgou ser confiável, o peso parecia tornar-se mais leve. Era uma ilusão, ela bem sabia, os fatos horríveis não tornavam-se menos repugnantes, mas pareciam ser mais fáceis de lidar ao saber que tinha pessoas com as quais poderia contar, pessoas que poderiam guiá-la, para não dizer da certeza que, pouco a pouco, adquiriu em não necessariamente precisar moldar-se para encaixar-se no lugar.

Dessa vez, apesar de mais branda, não foi diferente.

Inicialmente seu interesse por Lance poderia derivar-se apenas da tentativa em ter certeza que sua presença não causaria mais nenhum dano ao cronograma, porém, com o tempo e o decorrer das linhas que se seguiram, redefinição após redefinição, ela começou a deixar sua desconfiança de lado para abraçar a curiosidade e o carinho por aquele rapaz tão parecido com ela, a fazendo questionar-se, por vezes, porque desconfiou tanto dele no começo.

Talvez pela novidade de novos conhecimentos, talvez pelo simples fato de ter um novo amigo, alguém com quem poder conversar sem diálogos muito repetitivos, sempre tendo uma nova pergunta para fazer, com uma resposta a qual não conhecia, ela deixou o resto de seus problemas de lado por um tempo, usufruindo do raro e limitado momento de tranquilidade. Era verdade que Frisk poderia se aprofundar com qualquer outra pessoa, mas era tão raro ela ter algum contato com pessoas de sua idade, de sua mesma escola, puxando-a de volta para uma vida cotidiana tão banal a qual sentiu falta, que não poderia deixar de simplesmente por-se a aproveitar.

Gaster estava seguro, ela já tinha confirmado que a presença de Lance dentro do projeto era a solução definitiva para o problema, e definitivamente ela não poderia manter-se a pisar em ovos a vida inteira por conta de algo que não poderia controlar. As respostas viriam em seu devido tempo, ela gostaria de acreditar nisso. Por enquanto, as redefinições ainda não tinham concerto e ela não conseguia mais pistas, então porque não focar-se em alguma coisa diferente?

Mesmo sua inquietação com relação a Sans foi deixada de lado, deleitando-se com cada momento de vida cotidiana a qual podia. Namoros ou atrações poderiam ficar para depois.

Em primeira vista Lance seria o tipo de rapaz popular de notas razoáveis, talento em algum tipo de esporte e vida perfeita. Frisk chegou a acreditar, em algum momento em linhas passadas, que ele era apenas mais um idiota cheio de arrogância que adorava colocar-se como perfeito quando na verdade, por trás das câmeras, era uma pessoa vil. Porém, quanto mais tempo passava com ele mais percebia que a luz que constantemente distribuía em sua imagem era apenas um disfarce para sua verdadeira face.

Como uma estrela que alcançava o auge de seu brilho no leito de morte, Lance jogava sua luz para quem estivesse perto, cegando-os sobre suas verdades.

Inicialmente acreditaria-se que era um rapaz demasiadamente simples, como um livro aberto para ser livro. Seus defeitos eram bem demarcados, como o fato de ser irritantemente tagarela, falando demasiadamente alto e em uma constância que era complicado acompanhar. Ele facilmente ocupava o silêncio de Frisk e Blooky durante seus momentos juntos. Era distraído e desajeitado, sua hiperatividade o fazia não apenas gesticular exageradamente com as mãos como também estar em um constante movimento, seja trocando o peso de seu corpo entre seus pés ou simplesmente caminhando de um lado para o outro, talvez, nas menos demarcadas, brincando com as mãos em algum objeto o qual poderia alcançar. Isso acabava por levá-lo a diversos acidentes, principalmente por, ao estar constantemente com a mente saltando de um ponto a outro, não prestava atenção ao seu entorno e acabava por derrubar ou trombar em objetos que lhe rodeavam. Ele tinha o péssimo habito de proximidade também, tocando e encostando nas pessoas enquanto conversava, muitas vezes não reparando até que lhe chamavam a atenção. Poderia ser bem ingenuo também, para não dizer sobre sua competitividade exagerada ou seu pouco filtro no que dizia.

Ele ainda tinha seus pontos positivos visíveis, sendo um amigo protetor e carinhoso. Ele facilmente se apegava e confiava nas pessoas, tinha um amor que apenas poderia ser comparado ao de Frisk, aceitando de braços abertos aqueles que se aproximavam sem qualquer tipo de hesitação. Sempre procurava alegrar pessoas a sua volta e tinha um sentido especial para aquelas que realmente precisavam, facilmente lendo reações corporais, uma benção para Blooky, deveria dizer. Ele não se importaria de entrar em brigas as quais sabia que não poderia vencer se fosse por alguém. Era um garoto de família, falava constantemente de seus familiares distantes, sendo notável sua saudade. Era sensível, suas poesias sendo tão tocantes que mesmo Undyne estava chorando ao ouvi-las. Sua memória era perfeita, apesar de subestimada por conta de sua falta de atenção, por tal tinha facilidade em aprender línguas, o qual fazia por puro hobby. Era curioso e uma criança no coração, um palhaço que gostava de fazer os outros rirem, mesmo que a suas próprias custas, com um caráter namoradeiro o qual estava constantemente a flertar com outras pessoas. Inicialmente, porém, Frisk reparou, ele focava-se apenas nas garotas a sua volta, contudo, assim que percebeu que Frisk tinha as mesmas atitudes para com qualquer pessoa indiscriminadamente ele passou a se soltar, chegando até mesmo a flertar com Tinn e Blooky.

Ele parecia simples, um garoto alegre cheio de carência para distribuir. Todavia, quanto mais as linhas do tempo passavam e mais Frisk se aprofundava em conhecê-lo, ela reparava pequenas rachaduras nesse castelo de vidro.

Ela viu como ele disfarçava sua melancolia, normalmente reservada a suas poesias, na mascara de comediante. Ela viu como ele era inseguro, viu como ele tinha medo de falhar, medo de não ser bom o suficiente. Ela viu sua ingenuidade e o quão machucado estava por confiar em pessoas as quais não queriam nada mais do que aproveitar-se dele. Ela viu seus sonhos quebrados, viu seus pedidos de socorro. E quanto mais fundo ela ia mais próxima ela queria ficar, mais necessidade ela via de tentar salvá-lo.

Lance era um doador. Ele dava-se mais do que estava disposto a receber. Ele escondia suas cicatrizes para poder curar a de outros, ele engolia o choro para secar as lágrimas das pessoas ao seu redor. Ele era como Frisk, ele a compreendia e via isso, talvez por tal a aceitou tão abertamente como não aceitava mais ninguém.

Ela descobriu sua história. Ouviu-o contar sobre sua família, deixados para trás em Cuba quando fugiu junto a seu irmão para os Estados Unidos, em busca de uma vida melhor. Ele contou o quanto sentia falta deles, do estardalhaço de seus primos e irmãos mais novos, do calor dos braços de sua mãe e do aperto carinhoso da mão calejada de seu pai. Ele lhe contou como foi complicado para apenas três deles conseguir montar uma vida honesta, seu irmão ingressando-se no exercito para que assim Lance e sua irmã pudessem ter uma boa vida. Ele lhe contou como tinha tido problemas quando mais novo, por sua nacionalidade, por seu ainda demarcado sotaque o qual agora havia desaparecido. Ele contou o quão se orgulhava de seu irmão, o quanto o admirava e queria fazê-lo orgulhoso, mas sentia-se sempre incapaz de entrar nas expectativas que eram esperadas dele.

Ele contou como sua irmã tinha decaído depois que chegaram para Ebott. Tinha contado como ela tinha mudado, tornado-se uma pessoa mais violenta, mais distante, como usava dele para todas as tarefas depois que seu irmão partiu para servir. Frisk muitas vezes o aceitou em sua casa, sabendo que ele estava a fugir da dele, compreendendo a situação tão perfeitamente como nunca. Ela nem ao menos se importou com as provocações de seus irmãos a dizer que eram namorados, ela só queria lhe dar um lugar acolhido para ficar, sem medo. Pouco tempo depois ela descobriu sobre a relação da irmã de Lance com o trafico de drogas, sendo uma usuária, muitas vezes gastando o dinheiro que era destinado a educação deles para pagar seu vício, forçando Lance a procurar algum tipo de emprego, porque ela mesma não o faria.

Frisk sentia-se mal em admitir que sentiu-se bem, feliz um pouco até, quando percebeu que Lance também tinha caído no mesmo mundo que ela, desesperado para pagar dívidas que sua irmã fazia e assim afastar as ameaças sobre eles. Frisk também descobriu que ela era uma apostadora compulsiva de jogos de azar, o que não ajudava em muito a tarefa. Ela sentiu-se mais do que feliz em tentar empurrá-lo para mesma gangue que ela, sabia que não era o melhor, mas pelo menos a garantia de conseguir oferecer-lhe uma melhor condição e apoio seria um pouco mais alta. Assim ela também teve alguém para compartilhar uma parte de seus segredos, sendo apenas Lance, Diana, Carl e Anabelle aqueles que sabiam que Anjo era Frisk e vice versa.

Levou ainda um pouco de tempo, no entanto, para Lance finalmente admitir a Frisk que ele era bissexual. Sua vergonha e medo sendo derivados da religiosidade de sua família e da constante pressão vinda de sua irmã. Ele contou que o único que sabia, até aquele momento, era seu irmão, que também havia se admitido pan. Sem ele ali, porém, Lance encontrava-se sozinho e, saber agora que tinha Frisk, para ele, era um alívio.

Foi pouco a se dizer também que Frisk tomou antipatia da suposta irmã. E não apenas pela forma terrível como tratava Lance, mas por obviamente ter algum tipo de atração por Sans e, por consequência, odiar a forma como ele parecia sempre tentar puxar a atenção de Frisk para ele.

Frisk não ignorava Sans, eles eram amigos, grandes amigos, porém, ela passou a dar muito mais atenção a Lance do que para Sans, causando ao albino, já com seus casos de ciúme, uma indescritível necessidade de, ou fugir dela quando Lance estava perto, ou tentar constantemente puxar sua atenção para ele.

E, tal fato, para alguém que por sí só queria a atenção do albino em questão, era motivo de raiva.

— Por que diabos ele tenta chamar tanta a atenção de uma criança?! - Aleja, irmã de Lance, tinha resmungado um dia, ambas a esperar a saída de Sans e Lance do laboratório logo a frente, Frisk ocupada com um livro o qual Lance a havia emprestado. Foi surpreendente para ela descobrir que ele era um leitor voraz. Com toda sua hiperatividade ela nunca imaginaria que ele seria capaz de sentar-se, calmo e tranquilo, para ler um livro. Fato que comprovou-se completamente o contrário. Confusa por estar submersa ao mundo o qual lia, Frisk ergueu o olhar para encarar a garota ao seu lado. - Quer dizer, olhe para você! Tão imatura! Nova de mais para ele!

— Que eu saiba vinte e dois anos também não é uma idade muito avançada para ser contato como um exemplo de maturidade. - Frisk resmungou, olhos voltando a vagar sobre o livro. Ela estava disposta a ignorar todo o assunto, não era como se estivesse a procura de mais uma Betty em sua vida, uma já era de bom tamanho.

— E você se acha tão espertinha, não é? Mas é tão estúpida quanto meu irmão. - cuspiu a garota, braços cruzados na frente do peito enquanto franzia profundamente o cenho, sulcos formando-se por toda sua testa. Frisk suspirou e fechou o livro, bem sabendo que não poderia mais voltar a lê-lo, pois, assim como Lance, apesar de mais irritante por não saber admitir a derrota, a Aleja continuaria a falar, ignorada ou não.

— Bem, não me acho esperta, mas também não sou ingenua. Todos nós temos nossa cota de experiência, alguns mais do que outros, alguns com boas e outros com ruins, mesmo Lance, o qual você subestima tanto, as tem. Então eu não diria que idade ditaria alguma coisa, pode ser uma ajuda, mas não o essencial. E eu poderia facilmente dizer, por convívio, que Lance tem muito mais maturidade do que você. - Frisk sorriu ao receber um grunhido em resposta. Sua indiferença tornando-se presente novamente, mesmo que não a incomodasse tanto como ao entrar em algum tipo de confronto físico. - E, para sua pergunta de porque Sans não presta atenção em você, a resposta é porque ele não gosta de tagarelas escandalosas.

Frisk tinha quase certeza que a mulher saltaria em seu pescoço se Lance, Sans e Gaster não tivessem saído pela porta para encontrá-las. O moreno prontamente a saltar para Frisk a tagarelar animado sobre todos os tipos de besteiras que poderia pensar, mesmo que tivesse passado o dia escolar todo juntos. Ele sabia manter um segredo, então nunca falaria sobre suas sessões, para alívio de Gaster e Sans. Frisk apenas poderia ouvi-lo, sorrindo com carinho, antes de se separarem. Ela ia com Sans e Gaster para olharem seu tumor enquanto Lance partiria com sua irmã para sua casa.

Seria uma surpresa para a maior parte dos estudantes de sua escola saber que, diferente do que pensavam, Lance não era rico. Ele vivia em uma casa nas periferias, vivendo em uma casa humilde e pequena, sem qualquer detalhe especial. Lance também nunca disse que era rico, ele não vangloriava-se de coisas que não tinha, as pessoas apenas supunham por conta própria e não seria ele a dizer-lhes o contrário, deixa-as acreditar no que quisessem. Filosofia a qual Frisk compartilhava. Ela já o tinha visitado, aliás, maravilhando-se com seu quarto repleto de enfeites referentes as estrelas, aos planetas, ao céu.

Lance sempre foi alguém com a cabeça nas nuvens.

Foi indispensável dizer que, em todo o momento de despedida com o rapaz moreno, Frisk sentiu olhos azuis a furar-lhe a nuca. Ela sabia que Sans estava ciumento, ela sabia que ele queria puxar sua atenção só para ele, ela sabia que ele pensava que ela e Lance tinham algum tipo de relacionamento além da amizade, principalmente por constantemente flertarem um com o outro em suas conversas. Frisk não seria aquela a dizer-lhe que era uma brincadeira, que Lance já tinha alguém em seu coração ao igual que ela. Novamente, sua filosofia era deixar que pensassem o que quisesse. Se viesse perguntar diretamente a ela, não hesitaria em contar a verdade.

 Redefinir?

Yes         >No

Redefinindo...

O problema de não dar muita atenção para uma pessoa carente, tal como Sans e Lance, era que eles iriam procurar essa mesma atenção em outra pessoa. Ainda pior era que, quando eles já tinha, instintivamente, a ideia de qual o tipo de atenção queriam, mais eles iriam buscar uma pessoa em específico que poderia dar exatamente esse tipo de carinho.

A alma de Sans estava focada na atenção de Frisk. Ele poderia não ter ideia disso, não ter facilmente traduzido que tinha que ser ela especificamente, mas era um fato, uma necessidade e se não pudesse ter o que desejava ele procuraria similares, alguma coisa para acalmar o clamar de sua alma desejosa enquanto ela mantinha-se concentrada em outras coisas. A questão que não necessariamente seria de forma sexual e, novamente, ele era sensível, carente, sua alma almejando a atenção que Frisk estava a negar-lhe.

Não, ela não o ignorava, mas não lhe dava a atenção que queria. Eles não estavam tão próximos quanto antes, e a alma de Sans sentia isso, tão nitidamente que chegou a doer.

Ele estava ciumento sem saber o motivo, ele estava se afogando em sentimentos estranhos que não conseguia dar nomes ou significado. Então ele correu para alguém com quem poderia conversar, passar o tempo e ter o carinho o qual procurava, ou semelhante a ele. A questão é que, às vezes, esse carinho poderia ser interpretado de modo errado por uma mente confusa.

Frisk percebeu isso um dia, depois de uma de suas sessões para manter seu tumor estável, quando Sans deixou-se cair ao seu lado no sofá, expressão entre confusa e em choque.

— Acho que estou apaixonado por sua mãe. - ele resmungou para ela e Frisk precisou de pelo menos um ou dois minutos para finalmente decodificar a informação.

— Como é que é?!

— Não me faça repetir! Eu estou confuso, eu acho que é isso, mas... Pelos deuses, que não seja isso! - as mãos foram parar nos cabelos brancos, segurando-se com uma força que Frisk quase os viu serem arrancados. E, ok, essa não era uma coisa que queria ouvir. Seu coração doeu juntamente com sua alma, memórias de outros mundos nos quais Sans e Toriel realmente tiveram algum tipo de relação além da amizade novamente cutucando sua mente.

E ela ficou com raiva.

— E o que diabos você quer que eu faça com relação a isso?! - seu cenho se franziu com profundidade, tentando realmente não imaginar as possibilidades. - Por favor, não me diz em algo como tentar separá-la dos meus pais, porque eu juro, eu me juntaria a Chara para tentar arrancar sua cabeça! Até mesmo Asriel faria parte!

— Claro que não! Que tipo de pessoa você acha que eu sou, Frisk?! Claro que não te pediria algo assim! Apenas... - Sans parecia realmente preocupado, desnorteado e em choque, qualquer um poderia ver e Frisk não mais poderia sentir qualquer traço de raiva, por mais intragável que fosse a situação agora. Quer dizer, ela amava Sans, vê-lo com sua própria mãe seria... Não queria pensar. - Apenas me ajude a esquecer tudo isso, por favor.

— Ok... Ok, tudo bem. Você já tentou ficar com outras pessoas?

— Foi minha primeira ideia quando comecei a perceber. Não deu muito certo. - ele grunhiu, visivelmente frustrado.

— Então... Sei lá! Eu não sei como se resolve esse tipo de coisa! Talvez, tentar passar menos tempo com ela? Sair com outras pessoas, fazer outras coisas, tentar colocar sua mente em outro lugar. - como Frisk poderia ter a solução para isso? Ela nem ao menos conseguiu, durante diversas linhas do tempo, evitar-se a apaixonar-se por Sans uma e outra vez. Ela não era a melhor indicação para superar um amor. - Talvez conviver com pessoas diferentes te faça esquecer. Não sempre dizem que o tempo cura tudo?

— Ok... Ok... Não temos mais nenhuma ideia, então que mal tem em tentar. Eu apenas quero me livrar desse sentimento.

— Ainda bem, porque o ultimo que gostaria era te chamar de padrasto. - Sans riu apesar de tudo e Frisk sentiu um leve puxar em seus lábios.

— Engraçadinha. Bem, então, tem algum plano para o final de semana?

O fato era que Toriel, querendo ou não, tinha um carinho semelhante ao de Frisk. Um carinho materno e doador, que sempre estava a cuidar daqueles que gostava, benevolente apesar de, se tirada do sério, poder muito bem colocar mais de um em seu devido lugar. Ela e Frisk dividiam muitas características semelhantes, seja por convivência ou por simples coincidência. O fato de Sans ter encontrado conforto em suas necessidades carentes perto dela não foi incomum, apenas surpreendente. Não era esperado, não acontecia antes, mas Frisk deveria culpar a si mesma por não ter reparado em como os dois estavam bem mais próximos do que o normal de outras linhas.

Bem, não era como se tivesse sido um estrago, ainda tinha um concerto. Se é que se poderia chamar assim.

Por mais que os carinhos fossem próximos, Toriel não era Frisk, existiam pequenas diferenças que eram aquelas que confundiam ainda mais ainda Sans. Era como ter o que procurava e ao mesmo tempo não. Encontrar a música que gostava, porém em um ritmo diferente, a mesma letra, o mesmo toque, mas diferente, cantores diferentes, estilos diferentes.

Então se depois de um tempo Sans começou a tornar-se mais apegado a Frisk enquanto eles mantinham-se em sua missão de "desapaixonar", não realmente deveria se surpreender. Nem ao menos se depois de um tempo Sans, em uma noite de filmes entre os dois, ele tivesse jogado para a janela qualquer decência por sua parte e jogado-se sobre Frisk em busca de um afeto um pouco mais avançado do que os permitidos entre apenas amigos. Afinal, desde o começo, foi ela que ele quis, mesmo que tivesse se confundido a princípio.

Claro, isso não impedia Frisk de divertir-se com tal fato.

— Você se apaixona tão fácil, Sans! - zombou Frisk, rindo divertida enquanto sentia o albino beijar-lhe o pescoço. Ele, por sua vez, grunhiu em resposta, rosto queimando em vergonha.

— Cale a boca, Frisk.

— Não, porque você até outro dia estava caindo de amores por minha mãe, e agora está aqui, quase me devorando sem nem ao menos perguntar primeiro! - ela não o deixaria viver nunca mais, pelo menos nessa linha do tempo, sem recordar-se disso. Foi tão engraçado, mesmo que inicialmente tivesse lhe assustado.

É claro, a única maneira que Sans encontrou-se para livrar-se da vergonha que com toda certeza continuaria se Frisk tivesse permissão para continuar a tagarelar, era beijando-lhe ao ponto de não mais ter folego nem ao menso para respirar.


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Notas finais do capítulo

Eu estou muito orgulhosa de mim mesma por ter conseguido colocar referência a voltron nessa fanfic. Era uma coisa que eu realmente queria fazer, mas não estava conseguindo ter ideia nenhuma e, quando percebi que precisava de alguém para fazer parte do projeto eu vi a oportunidade perfeita de usar o meu lindo personagem favorito da série. Quem me acompanha no twitter sabe o quanto estou viciada.
Aliás, muitas das informações sobre meu progresso, tanto na fanfic como em outros projetos, eu acabo mencionando no twitter, tanto que eles sabiam que eu estava voltando antes de fazer o Jornal aqui no site. Caso esteja interessado meu twitter é @NekoLully. Para não dizer que gosto de conversar com vocês, eu amo ter mais proximidade com vocês, então se aparecerem lá, eu estarei muito feliz ^^.
Aliás, mais alguém está reparando que estou dando muito foco a Oc?? Não?? Cara, lully volta para os personagens da série.
Falando nisso eu vi pessoas comentando que queriam mais Chara/Asriel e, sinceramente, eu concordo. Então não estranhem se parecer algum especial com foco nos dois.
Espero que tenham gostado e até o próximo capitulo semana que vem! Não acho que ele vai ser grande, aliás, ainda bem pq só esse viu... Credo Lully manera!