FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 38
Especial: Tempos de Faculdade


Notas iniciais do capítulo

Olha quem apareceu sem avisar!
Yeh! Eu estava guardado esse cap em segredo para postá-lo fora dos dias normais de postagem da fanfic. Ele e o cap anterior já estavam meio caminho andado antes de parar a fanfic, então eu dei uma apressada em ambos para postá-los bem próximos um do outro, como uma compensação pelo tempo que ficou parado. Não se acostumem, minha ideia é postar capitulos especiais (quando tiver especiais) fora dos dias de postagem normais sem afetar a própria postagem normal. Vamos ver se consigo!
Bem, lembram que eu mencionei um tempo atrás sobre a história do gaster? Bem, aqui está, espero que gostem ^^



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Especial: Tempos de Faculdade

Ele nasceu em uma família sem magia, o primeiro da geração a realmente possuí-la, por algum motivo sendo exageradamente grande. E como se apenas isso não bastasse para colocá-lo em uma situação delicada a personalidade a qual desenvolveu o impedia de melhorar de alguma forma seu relacionamento familiar, preferindo a solidão de seus livros à interação com outras pessoas, apreciando o silêncio de seu quarto a toda confusão de uma festa cheia de bebidas e vozes altas.

Sempre foi um garoto diferente, nascido em Los Angelis, prematuro e problemático. Como seus pais gostavam de colocar: um verdadeiros desperdício de espaço e dinheiro. Gaster gostaria muito de recordá-los que a culpa era deles por não terem se prevenido quando deviam, forçados a casar depois da descoberta de gravidez de sua mãe, como se alguém poderia ser culpado de nascer, porém preferia manter-se calado. Era inteligente o suficiente para saber que argumentar não acrescentaria em nada sua situação e que a melhor decisão seria seguir sua vida, apenas assim tendo a possibilidade de se livrar facilmente das pessoas que o criaram.

Pais... Essa concepção deveria ser um pouco conturbada para algumas pessoas, mas quem era ele para julgar?

A sorte de Gaster, talvez, fosse seu intelecto naturalmente superior a média das pessoas. Seu interesse prematuro por ciência o levou a classificações exemplares desde pequeno, elogios constantes de seus professores e bajulações vindas de faculdades as quais ansiavam por seu cérebro. Ele sabia que elas apenas queriam o prestigio que ganhariam com a informação de terem um prodígio dentro de suas portas, ele não era ingênuo para acreditar que realmente alguém o queria por quem era. Contudo, ele já tinha uma ideia perfeita de para onde iria quando finalmente pudesse escolher uma faculdade.

Ebott.

Seu interesse na biologia da magia não tinha realmente um limite.

Ele queria não apenas compreender a si mesmo, como encontrar formas que pudessem ajudar outras pessoas parecidas com ele. Ele ansiava em saber quais eram os limites para aquela nova descoberta, até onde a magia poderia ir, o quanto ela poderia desafiar a lógica da física convencional? O que era exatamente uma alma? Como ela selecionava o processo de aparição de magia? Como influenciava na psicologia de alguém? Ele tinha tantas perguntas, tanto desejo de conhecimento... E apenas um lugar poderia lhe dar material o suficiente para ser capaz de crescer em seus desejos.

Ebott era uma cidadezinha próxima a Las Vegas. Tornou-se famosa e conhecida mundialmente pelo começo do surto de magia e de suas grandes pesquisas sobre o assunto. Um lugar dito como amaldiçoado por alguns e uma benção, um sonho, para outros.

Era para lá que ele desejava ir. Ele sabia que lá ele teria as respostas que procurava, a vida que queria.

Formou-se no ensino médio aos dezesseis anos, isso por não querer adiantar-se de mais. Ele sabia que enquanto não alcançasse a maturidade, vista pelo estado legal, ele não seria capaz de livrar-se de seus progenitores. Entretanto, assim que se viu possível ele arrumou as malas, marcou o voo e anunciou sua partida, apenas para desencargo de consciência. Não como se eles se importavam.

O verdadeiro ódio de seus pais para com ele, Gaster acreditava, derivava-se do fato de possuir magia. Mesmo que estivesse se tornando normal, apenas cerca de um centésimo da população mundial era capaz de utilizar algum tipo de magia visível. O preconceito para com essas pessoas facilmente foi disseminado e muitos ainda acreditavam que era uma afronta ao criador. Uma maldição, seres criados pelo diabo para a destruição mundial, para não dizer de aberrações e todas as teorias de conspiração que uma imaginação fértil seria capaz de criar. Como todas as vezes a ignorância vendava os seres humanos, tornando-os cegos e, consequentemente, cruéis. Como animais acuados, com medo do que não conheciam, sempre estariam dispostos a atacar. Muitas vezes sendo encobertada ou alimentada pela religiosidade, a qual agarrava-se ao misticismo e recusava-se a procurar uma razão realmente plausível para determinados acontecimentos que não poderiam ser facilmente explicados com um simples olhar. Tanto que, por muito tempo, o conhecimento cientifico da física, astronomia, biologia e química foram vistos como demoníacos.

Não que Gaster não fosse realmente religioso, ele acreditava em deuses, mesmo com seu amor a ciência, apenas não concordava com o extremismo que diversos outros praticantes insistiam em manter. Segregando, assustados, pessoas que, muitas vezes, procuravam apenas compreender a si mesmas e encontrar um lugar para se encaixar.

Seus pais não eram uma exceção entre os humanos.

Ele rapidamente aprendeu que, apesar da biologia ser repleta de exceções que tornavam-na uma ciência não exata e complicada de se catalogar, elas ainda eram, numericamente falando, pequenas dentro de um enorme padrão de características que formavam um determinado grupo.

Gaster sabia que seus pais o temiam, não muito difícil de se perceber pelos olhares não muito discretos ou as reações de seus corpos dentro de raras atitudes ousadas que chegou a apresentar. Acuados principalmente por ter mais magia do que a maior parte das pessoas, capaz de coisas que desafiavam a lógica e algumas vezes a razão, tornando-o uma ameaça em potencial para a sobrevivência de pessoas mais fracas, indefesas contra seus poderes. Mesmo que não fosse parte de seu caráter, nunca se sabia o que alguém guardava por trás de uma máscara de tranquilidade.

Seja como for, Gaster, em poucos dias depois de anunciar sua partida, encontrou-se dentro dos dormitórios da prestigiosa faculdade de Ebott. Enorme mala carregando todas as suas coisas, desde roupas a utensílios pessoais, apenas uma bolsa separada era reservada para seus mais preciosos livros. Ele não voltaria mais para Los Angeles, aquela era sua casa agora, independente do que acontecesse. Seu cérebro em fúria a pensar em formas adversas de se sustentar, talvez um emprego de verão ou algo de meio período, durante a noite talvez. Tinha certeza que seus pais não mandariam nem um tostão furado e por tal deveria começar a pensar em um emprego, por mais inconveniente que fosse.

Avaliando pelo lado positivo, porém, tivera a grande sorte de conseguir uma bolsa que cobria todos os custos relacionados a faculdade, assim só teria que se preocupar com o dinheiro para sua alimentação e higiene. Apesar de não ser do tipo que comia de mais e facilmente acreditava que poderia passar um dia inteiro sem colocar qualquer coisa em seu estomago, ele sabia perfeitamente que não poderia passar a vida assim. Seu cérebro precisava da energia e dos nutrientes, ao igual que seu corpo.

De alguma forma teria que manter a vida. Sozinho.

E, nesse exato momento de começo de mudanças, em um lugar completamente estranho, foi quando o encontrou pela primeira vez.

Dizem que a primeira impressão era a que marcava, portanto, se Gaster realmente fosse pensar de tal forma, ele colocaria Asgore como o típico ingênuo rapaz vindo da família perfeita, desprovido de qualquer maldade que o mundo pudesse chegar a oferecer alguma vez, privado de experiências e incapaz de se defender apesar de seu tamanho corpulento e de aspecto forte.

Em questão de aparências demarcava-se fatos facilmente contrapostos ao dele próprio.

Gaster WingDing era uma pessoa magra, extremamente magra. Seus cabelos naturalmente embranquecidos, derivados de uma distante descendência russa, somados a seus enormes olhos alaranjados e os óculos quadrangulares e finos tornavam-no quase um cadáver ambulante. Contudo, ainda possuía seus aspectos qualitativos, uma beleza exótica a qual, pelo que entendia, tinha pego de sua bisavó, não como se ele realmente se importasse em chamar a atenção de alguma garota até então. Seus maiores interesses estavam marcados em objetos inanimados, incapazes de serem impressionados ou terem alguma necessidade de serem cortejados. Sua altura bastante elevada para alguém de sua idade, rosto de construções firmes dando um aspecto maduro, olhos de cores peculiares e aparência exótica tornavam-no, por algum motivo que não conseguia explicar, foco de atenção para algumas garotas, de vez em quando a deparar-se com um ou outro rapaz. Apesar de que, sua introspectividade e aspecto intimidador, normalmente, garantia de receber apenas olhares e não uma aproximação.

Um verdadeiro e grande nerd.

Asgore era seu completo oposto. Um rapaz alto e corpulento, cabelos loiros e já começando a dar indícios do crescimento de uma rala barba. Sua pele rosada, olhos enormes de um azul profundo, sorriso calmo e gentil, ombros caídos e de personalidade aparentemente aberta e sociável tornavam-no, por assim dizer, atrativo. Ele estava mais descrito, em aparência, como um daqueles típicos jogadores de futebol populares, contudo, sua personalidade mais se aproximava aos dos hippsters, tão tranquilos e pacíficos quanto um urso de pelúcia.

Quando Gaster adentrou em seu quarto, o qual dividiria com o rapaz dentro do dormitório da faculdade, foi para encontrar com a cena mais inesperada a qual jamais chegou a imaginar. Afinal, quando ele chegaria a pensar que um rapaz do tamanho e aspecto de Asgore estaria a regar delicadas e belas flores douradas cuidadosamente postas no beiral da janela? Cantarolando uma melodia que, posteriormente, ficaria presa em sua cabeça como um chiclete irritante debaixo da sola do sapato.

Em silêncio, sem realmente encontrar a necessidade de atrapalhar a concentração do corpulento rapaz regando flores, o albino foi até o que parecia que seria seu lado do quarto, completamente desprovido de qualquer detalhe realmente interessante ou peculiar. Paredes cinzentas repletas de rachaduras e marcas de algum possível cartaz que anteriormente esteve pregado totalmente nuas, cama de estrado de madeira, a qual não muito tempo depois descobriu que era capaz de soltar o mais estranho dos ruídos, possuindo um velho e encardido colchão atualmente despido de qualquer lençol, provavelmente com um acumulo de poeira que deveria ser datado dos primórdios do dormitório. Duas alongadas e ligeiramente compridas tabuas de madeira de cor compatível ao estrado da cama, mantinham-se presas a parede sobre a cama, paralelas uma a outra em uma distância relativa de quarenta a cinquenta centímetros. Um pouco mais longe, próximo a um dos cantos do quarto, oposto ao da janela, estava uma escrivaninha quase caindo aos pedaços, repleta de teias de aranha as quais já pareciam ter feito um belo ninho repleto de crias e, por fim, um armário que combinava em cor com todos os outros móveis, pequeno e estreito, mas talvez fosse o suficiente para caber todas as suas roupas, não era como se tivesse muitas de qualquer maneira.

A prioridade eram seus livros. Tinha tantos que ele duvidava que as duas prateleiras sobre a cama seriam capazes de comportar a quantidade, pelo menos metade deveria ser organizado em outro lugar e ele estava preocupado com onde. Era de extrema importância que permanecessem intactos, talvez sendo melhor aconselhável mantê-los na mala até conseguir arrumar algum dinheiro para uma estante aceitável para colocá-los.

Era um quarto simples, provavelmente padronizado a todos os outros do dormitório se retirasse o toque pessoal dos estudantes que o ocupavam. Não estava esperando nada luxuoso, então o que via era de bom tamanho, não era como se realmente fosse mudar muito com ou sem ele ali. Definitivamente não era o tipo de adolescente que gostava de enfeitar seu quarto com tudo o que lhe convinha.

Seja como for, começaria por seus livros. Colocando cuidadosamente a bolsa na qual eles se encontravam sobre a cama para finalmente começar a organizá-los na ordem desejada nas prateleiras disponíveis no momento. Agradeceu a seu tamanho também, o qual, apesar de sua curta idade, já dava a liberdade de alcançar tranquilamente as madeiras na parede sem a necessidade de subir na cama. Ele não tinha certeza se o estrado envelhecido seria capaz de sustentar seu peso apoiado em um único ponto.

Deveria estar próximo a metade da segunda prateleira quando o corpulento rapaz notou sua presença, sobressaltando-se um pouco pelo susto que deve ter levado ao girar-se e deparar-se com um novo inquilino no quarto o qual não encontrava-se ali antes de começar a regar ditas flores. Porém, diferente do que estava acostumado, o susto logo derreteu e transformou-se em um sorriso cordial, tranquilo, ombros caindo enquanto deixava o regador sobre um pequeno e delicado móvel do lado de sua cama. Gaster supunha, ao avaliar rapidamente o ornamento de madeira, que o rapaz havia trazido com ele para o quarto ou talvez recentemente comprado.

— Você deve ser meu companheiro de quarto. - o loiro começou, voz tranquila, baixa e suave, não fina, sua entonação combinava perfeitamente com sua forma corpulenta, mesmo que falasse manso como um pequeno animal, Gaster tinha certeza, em caso de seriedade ou exaltação, aquela voz poderia ser intimidadora, se bem quisesse. Procurou, também, isentar-se de informar que ele havia apresentado o óbvio, acreditando que seria mais inteligente de sua parte não começar uma confusão em seus primeiros dias. - É um prazer conhecê-lo. Meu nome é Asgore Dreemur e espero que possamos ser amigos.

Cordial, educado e tão jovial quanto realmente parecia transparecer. Asgore se apresentou, sorriso fácil em seu rosto. Gaster manteve-se impassível ao avaliar as atitudes de seu companheiro, rapidamente reparando na mão estendida em sua direção. Por questão de educação a tomou, não realmente acreditando na possibilidade de amizade, estava mais acostumado as pessoas perderem o interesse em sua existência depois que percebiam que ele era bem mais interessado em assuntos dos quais ninguém tinha real interesse do que em divertir-se como sua idade deveria ditar.

— Gaster WingDing. - respondeu simplesmente, um pouco surpreso pelo aperto leve que recebeu. Com tais braços fortes ele esperava um aperto de mão mais firme, desafiando seus braços finos a suportar o que aparentemente não poderia. E pensar que tal força aparente não parecia ser realmente usada.

— Quer ajuda para desfazer as malas? - perguntou o enorme rapaz, cheio de educação. Porém, Gaster acreditou ser apenas simpatia, um meio de manter-se educado como a sociedade era comum de exigir. Não era como se alguém fosse se oferecer para ajudar sem se sentir obrigado a tal.

— Não é necessário, mas obrigado. - sua resposta foi tão curta quanto possível, voz neutra procurando manter a cordialidade ao mesmo tempo que deixava claro seu desejo em ser deixado em paz. No entanto, parecia que aquele loiro não conseguia realmente perceber esses pequenos detalhes.

— Você tem sotaque. Não é daqui? - Gaster suspirou, voltando-se para seus livros para acomodá-los, sabendo que não escaparia daquela interação tão facilmente como outras vezes.

— Não.

— Oh! Eu imaginei. Ebott realmente atrai muitas pessoas de outros lugares desde que se tornou renomada no estudo de magia. De onde você veio? Qual curso vai começar a fazer?

— Los Angeles. Biologia. - talvez se permanecesse a dar respostas curtas conseguiria fazer o rapaz corpulento perceber que não queria nenhuma conversa? Gaster não sabia realmente como lidar com pessoas como Asgore. Eles não eram rudes e realmente pareciam querer conversar e se interagir, não percebendo o quão desajeitado ele poderia ser para tal. Gaster era acostumado com o silêncio, trabalhar em silêncio, todavia, ele começou a perceber que, em seu tempo compartilhando um quarto com aquele loiro ele não teria mais tanta tranquilidade como imaginou.

— Biologia... Muito legal. Eu gostava dos meus tempos no colégio, mas não acho que servia para mim. Gosto de jardinagem, mas é só. - talvez ele estivesse esperando para Gaster continuar o assunto, perguntando também o que ele iria estudar? Realmente deveria? Não estava curioso sobre isso, pelo contrário, apenas queria que a conversa terminasse. Asgore, porém, não sentia-se incomodado pelo silêncio de seu companheiro e prosseguiu da mesma maneira. - Eu estou fazendo administração, aliás. Apesar que puxo algumas vezes algumas matérias de direito e relações sociais, já que procuro algum cargo político acredito que tenho que saber isso também. Mas e você? O que pretende fazer depois da faculdade? Ou não pensou nisso? Quer dizer, eu não vou perguntar se quer ser professor, porque um amigo meu já reclamou comigo sobre sempre fazer esse tipo de pergunta para pessoas que cursam matérias básicas, quando não necessariamente tenha como única opção a licenciatura. 

— Pesquisa. Penso em ficar na área de pesquisas.

— Um pesquisador? Isso parece ser bem aventureiro. Como naqueles documentários na televisão. Eu vejo muitos sobre plantas, tenho vontade de um dia viajar a países tropicais para ver algumas espécies exóticas. Se não fossem por estufas, na região não teríamos nada além de cactos.

— Não gosto de ar livre. Prefiro os laboratórios.

— Realmente? Acho que eu me sentiria claustrofóbico sendo mantido em um lugar cheio de coisas pontudas, inflamáveis e tóxicas.

— Um escritório não seria muito diferente.

— Hum... Acho que você tem razão nessa.

Inacreditavelmente, a conversa prosseguiu tão natural e fluida quanto jamais Gaster se imaginou a ter em algum momento de sua vida. Estava acostumado com pessoas tentando forçá-lo a falar, incomodadas com sua fala de jeito em prosseguir algum tipo de conversação natural. Ele não gostava de forçar-se a perguntar coisas das quais não tinha interesse ou não fariam qualquer diferença para ele, fatos pessoais sobre estranhos os quais nunca mais chegaria a ver em sua vida novamente e isso parecia trazer um certo desconforto entre ele e a pessoa com a qual conversava. Porém, com Asgore, não foi assim.

O enorme rapaz de não mais do que três anos mais velho do que Gaster, prosseguia os assuntos sem realmente intimidar-se pela falta de vocabulário de seu companheiro, respeitando seu espaço e procurando não ser demasiadamente intrometido. Gaster apreciou a conversa, mesmo não tendo certeza se Asgore a estava fazendo por se sentir obrigado a tal ou pela gentileza e zelo serem um aspecto próprio de sua personalidade. Seja como for, o enorme albino tinha apreciado e sentiu-se realmente renovado e esperanço pelos seus dias ali naquela universidade.

Tinha aparentado ser um bom começo. 

Não quis manter suas expectativas muito elevadas, porém. Afinal, era normal, como companheiros de quarto, tentarem ter uma aproximação amigável um do outro no começo, já que seriam forçados a conviver mais frequentemente do que não, nada mais lógico do que manter o clima tranquilo. Ele não realmente acreditava que Asgore, fora de seu quarto, o desse alguma atenção, surpreendendo-se bastante quando foi cumprimentado por ele durante o intervalo entre aulas e convidado para um lanche junto de seu pequeno grupo de amigos, mesmo que uma boa parte deles parecia sentir-se irrequieto com a presença do albino em seu grupo.

Asgore estava em seu segundo ano na faculdade, terceiro período, e, impressionantemente, levava jeito para suas matérias. Não poderia dizer que ele era um gênio como Gaster, ou que era um destaque no que fazia, ele era apenas bom e isso já lhe parecia ser suficiente. Suas atitudes humildes e gentis muitas vezes o faziam parecer falso, como se tentasse fingir-se de santo, porém quem o conhecia melhor, como Gaster estava passando a fazer, reparava o quão de uma boa pessoa Asgore poderia ser, chegando a um nível de estupidez até.

Em questão escolares Gaster não poderia dizer que possuía quaisquer problemas os quais deveria realmente se importar. Nas primeiras semanas ele já tinha se destacado para seus professores, mesmo que não fosse tão participativo durante as aulas. Seu conhecimento era extremamente considerável e muitas vezes se pegava a passar minutos depois do final da aula conversando com os professores, inicialmente a tirar duvidas as quais possuía em seus estudos extras que não seriam adequados para o nível da classe em si, principalmente por encontrar-se no começo ainda, para no final terminar a trocar teorias com seus professores, questionando-lhes suas atuais pesquisas sobre o assunto e seus atuais resultados, assim como o que eles esperavam descobrir.

Não demorou muito tempo para conseguir um estágio em uma dessas pesquisas, para sua grande sorte com um professor que realmente apreciava de todas as matérias as quais carregava em seus horários.

O homem era meio louco, excêntrico, sua idade avançada não havia conseguido tirar sua animação e paixão pelo conhecimento. O que Gaster mais gostava nele era o fato de, mesmo sendo velho e vindo de eras diferentes, alguns a especular que estava ainda vivo quando o primeiro usuário de magia havia dado as caras, o que era improvável em constatações humanas, ele ainda possuía ideias inovadoras, uma mente aberta para novas possibilidades, novas eras e concepções. Abraçava tudo que podia e um pouco mais, talvez sendo um pouco desbocado, fazendo perguntas indiscretas e indiscriminadas as quais poderiam ser muito bem vistas como rudes ou ofensivas, sendo que nada mais eram do que a mais pura curiosidade, porém ainda era um homem bom.

Seu nome era Orto, um dos únicos especialistas em magia existentes na época, sendo que, ironicamente, não possuía nenhuma. Dava aulas desde Magia Básica até A Dinâmica das Almas, sendo um dos mais renomados professores do lugar, muitas vezes sendo convidado para palestras no exterior as quais recusava firmemente. De acordo com o que tinha falado para Gaster, ele gostava de lecionar, aquela escola era tudo para ele e seria o lugar onde bateria as botas. Seus alunos eram agradecidos por isso, apesar da surpresa de todos eles ao saberem que seu professor não aceitava tais honras quando a maior parte deles estava ansioso para as descobertas espalhadas pelo mundo, ansioso para descobrir alguma coisa que mais ninguém havia descoberto.

As aulas de Orto eram as mais divertidas, ele não se importava de pedir alunos para demonstrar suas magias, deixava claro que ali era um lugar para experimentar, um lugar de saber e não aceitaria ninguém que tivesse alguma coisa contra possuir ou não algum tipo de capacidade que ia além da física. Ele não se incomodava com perguntas e, mesmo quando não sabia respondê-las, ele não se chateava, pelo contrário, animava-se ainda mais, pronto para encontrar a resposta, seja como for. Muitas vezes já tendo convidado os alunos que fizeram essas tais perguntas sem resposta a ajudá-lo em seus experimentos para descobri-las.

Obviamente sua excentricidade atrairiam inimigos, era normal, principalmente pela área a qual escolheu buscar conhecimento, porém ele não se importava. Gaster impressionava-se com o quão natural ele agia mesmo com os olhares indiscretos direcionados a sua pessoa, como ele poderia ser indiferente ao mundo a seu redor e focar-se apenas no que queria e seguir esse caminho sem arrependimentos ou duvidas.

E Orto parecia também apreciar Gaster, de alguma maneira.

Os dois eram demasiadamente diferentes em diversos aspectos, principalmente em personalidade, porém, o amor pela magia e conhecimento os aproximaram ao ponto em que Orto basicamente havia adotado Gaster como seu próprio filho, chamando-o para trabalhar com ele em muitas de suas pesquisas, muitas vezes vistos juntos a trocar algum tipo de teoria que tiveram. Gaster perdeu as contas, em seu tempo na faculdade, de quantas vezes correu para fora de seu dormitório no meio da noite em busca de seu professor porque teve algum tipo de lampejo genial enquanto estudava.

Asgore nem mais se incomodava, pelo contrário, comentava divertido cada vez que acontecia, inicialmente tendo sobressaltando-se por nunca antes ter visto seu companheiro tão eufórico. Gostava de dizer que a presença de seu professor fazia bem ao albino, trazia para fora o que tentava esconder ou tinha vergonha de mostrar, muitas vezes por não acreditar que eram bons. Asgore já tinha começado a se cansar de tentar convencer seu amigo e companheiro de que tais aspectos que o compunham não eram tão ruins como se fazia acreditar.

Orto também foi a primeira pessoa para quem Gaster havia mostrado a fissura negra em sua alma.

A havia confidenciado um dia enquanto discutiam, sozinhos dentro de um dos laboratórios reservados ao professor, sobre anomalias mágicas dentro da alma. Gaster tinha mencionado sobre a aparição estranha, confessando que tinha vindo para Ebott na vaga esperança de poder compreender o que estava acontecendo e como poder se livrar. Bastou apenas um pequena conversa para que finalmente se dignasse a mostrar o estrago.

— É... Interessante, meu rapaz. - o professor tinha comentado, avaliando a alma a sua frente com extrema cautela e interesse. Gaster revolvesse inquieto em seu assento, mas confiava no homem em sua frente, não conseguindo negar-se a leve fagulha de esperança que lhe brotava no peito. Ele sabia que por causa daquela fissura seus pesadelos pioravam e seu humor decaia, sabia que o estava fazendo mal, porém, não tinha ideia de como poderia concertar. Talvez seu professor e tutor pudesse ter alguma solução. - Realmente interessante. Quando disse mesmo que começou?

— Quando fiz doze, desde então tem crescido. - sua alma azul estava quase completamente consumida pelo negro pulsante, tornando-a tão feia e repulsiva que muitas vezes ele próprio tinha vergonha de olhar.

— E você diz que ela afeta tanto seu humor como seu sono?

— Depois que apareceu tenho tido pesadelos mais constantemente e... É complicado explicar, mas aparecem emoções... Eu tenho certeza que não são minhas, mas eu as sinto como se fossem. Emoções negativas que me fazem irritado, com medo, triste ou com ódio. Eu tenho certeza que vem dessa mancha preta, não tenho certeza como eu sei, mas sei. Faz sentido?

— De certa forma. Sempre acreditei que almas poderiam exercer uma função parecida com a do cérebro, transmitindo sinapses que são recebidas e traduzidas por nosso corpo para refletir reações. Talvez, é apenas uma teoria, sua alma saiba o que está acontecendo e passe para você. Mas não como pensamentos, acredito que almas sejam incapazes disso, mas como... Sensações, emoções que seu cérebro instintivamente traduz para ideias. - o velho homem ajeitou seus enormes óculos redondos em seu rosto, mão a coçar a crescente barba branca e cinza em seu rosto, olhos verdes reluzindo em ideias. - Definitivamente interessante.

— Você... Você tem uma ideia do que possamos fazer? - o alto rapaz perguntou, inseguro e apreensivo. Essa era sua única esperança. Se Orto, um dos maiores conhecedores sobre a dinâmica da alma, não pudesse ajudá-lo então não tinha mais o que fazer.

— O primeiro de tudo é saber exatamente o que é essa coisa negra que continua a crescer. Se você não se importar em fazer alguns testes, podemos tentar averiguar do que é confeccionado e então achar algo que possa revertê-la. Não há garantias, nunca vi casos como o seu e eu não sou médico, mas ainda é uma tentativa. Está disposto a tentar?

— É para isso que vim até essa cidade.

— Esse é o espírito! Vamos começar!

E foi impressionante. Por semanas fizeram testes e mais testes para avaliar a composição da massa negra, precisando inicialmente estudar sua alma como um inteiro e então ramificá-la em partes para finalmente alcançarem o que seria apenas a mancha negra. Levou um tempo e como não tinham qualquer base em que se apoiar precisaram começar do zero. Gaster deveria admitir que sua animação começou a diminuir depois que passaram o primeiro mês sem qualquer avanço, mesmo que bem soubesse desde o princípio que o processo seria extremamente lento e nada viria de imediato. Poderia levar anos para finalmente ter algum retorno de seus estudos e isso era frustrante.

Para sua alegria, porém, Orto tinha seus contatos e, discretamente a trocar informações com eles sem realmente dizer a situação de seu aluno, ele deparou-se com uma pesquisa alemã, extremamente recente, ainda uma teoria infundada, na qual o autor especulava sobre a existência de uma forma oposta a magia, algo que a mantivesse em equilíbrio. Quer dizer, a energia dentro da física não poderia ser criada ou destruída, apenas transformada e isso a tornava uma constante no universo, mantendo-se sempre balanceada. Mas esse não era o caso da magia, a magia era constantemente produzida pelo núcleo mágico dentro das almas, porém ela não era destruída. Então como não existia um excesso no mundo? Por que não estavam saturados?

A ideia de uma força oposta para contrabalancear a magia era uma opção, porém, nada realmente comprovava tal especulação e, por isso, o estudo não foi levado a frente.

E, foi realmente engraçado pensar, a resposta para tal estudo estava dentro da alma de um jovem estudante universitário. Quem poderia dizer?

Foi o empurrão necessário para tanto Orto como Gaster começarem a teorizar sobre não apenas a composição da mancha negra ou de onde ela poderia ter vindo e como surgiu, como também sobre o que fazer para ela desaparecer.

Então, dizer que seu primeiro período na faculdade foi agitado seria uma brincadeira. Gaster sentia finalmente tendo encontrado seu lugar, com amigos e alguém a quem poderia chamar de família, juntamente com o fato de estar fazendo o que mais gostava. Ele não acreditou que realmente sua vida poderia melhorar, porém, viu-se errado ao deparar-se com um pequeno ponto sorridente em sua caminhada para as lanchonetes dispostas na faculdade. Quer dizer, quem realmente esperava que fosse encontrar o amor de sua vida literalmente trombando nela enquanto caminhava distraído a ler um livro em seu caminho para um lanche? Era uma ideia demasiadamente cinematográfica ou irreal para simplesmente ser cogitada e Gaster era um homem que acreditava mais em probabilidade do que destino.

Mas o fato foi que realmente aconteceu. Tão clichê como poderia parecer.

Seu plano original era encontrar-se com Asgore e Regular Fisher para um lanche na lanchonete perto ao prédio das áreas humanas. Regular deveria ser apenas um ano mais novo do que Asgore e ainda assim com composição física suficiente para derrubá-lo em uma luta se bem quisesse, mesmo com o tamanho e força do loiro. Ruivo de pele escura, olhos amarelos ferozes e feições firmes, era mais franzino do que Asgore, porém, não significava que era magro assim como Gaster. Seus músculos eram invejáveis, firmes e preparados, muito provavelmente derivados do rigoroso regime de treinamento o qual seguia quase religiosamente. Cursava direito e por isso dividia algumas aulas com o enorme loiro o qual tornou-se amigo pouco tempo depois, consequentemente conhecendo Gaster em seguida, o qual teve um pouco mais de dificuldade em se interagir, no entanto, era de se notar que era um homem determinado e não desistiria com facilidade. Para não dizer de destemido.

Com um livro em mãos, caminhando tranquilamente para a direção a qual deveria realmente seguir, mesmo sem estar realmente a olhar o caminho, Gaster foi ao encontro de seus companheiros barulhentos. Eles eram um grupo estranho, não existia quem negaria, mas ainda assim eram amigos e o albino sentia-se ainda tentando digerir a ideia.

Nunca teve qualquer tipo de amizade antes e sentiu-se impressionado por agora conseguir. Ele não era a pessoa mais social já existente e suas poucas tentativas de interação resultaram em desastre, então era bom ter pessoas que realmente não se incomodavam com seus problemas de comunicação visíveis. Mesmo que diversas vezes tivesse que cortar Regular que procurava insistente empurrá-lo para situações pouco confortáveis em uma tentativa de "ajudá-lo a melhorar seu estado social decadente". Sabia que era por boas intenções, mas ainda era irritante, divertido, mas irritante.

Pobre Asgore, nunca sabia o que fazer nesses momentos, principalmente quando Gaster e Regular começavam a discutir.

Em meio a seus pensamentos, divagando-se até mesmo de seu livro, não chegou a reparar nos passos apressados atrás de si, incapacitado de desviar ou perceber a aproximação até que viu-se empurrado para frente, livro caindo no chão junto a seus óculos, tropeçando pelo caminho procurando manter seu equilíbrio ainda no lugar.

— Sinto muito! Sinto muito! Não estava olhando para onde estava indo, sabia que não deveria tentar ajeitar meu cachecol enquanto andava! Realmente me desculpe! - seja quem for a pessoa que o havia trombado estava sinceramente arrependida, embolando-se em frases altas e repetitivas de pedidos de desculpas, sem realmente reparar se Gaster estava incomodado ou não.

Sendo sincero ele não tinha se importado muito. Mesmo que sua vida estivesse muito melhor do que em Los Angeles, ainda não era um mar de rosas, em todo lugar existiriam seus valentões que se intimidariam tanto pelo aspecto de nerd que Gaster tinha como por sua inteligência. Ele era um alvo fácil para opressores, mesmo que não fosse o que diria ser indefeso, por ser quieto e, na maior parte do tempo, sozinho. Opressores eram normalmente covardes, andavam em grupo e não teriam coragem de intimidar um aglomerado de pessoas que, juntas, poderiam defender uns aos outros. Gaster odiava esse tipo. Porém, aquele não era o caso.

— Aqui. Eu realmente sinto muito por trombar em você! - colocando seus óculos de volta, Gaster avaliou o que tinha a frente, por um instante perdendo o foco.

Ele tinha visto garotas bonitas antes, poderia não ter interesse em nada romântico ainda, mas não era como se não tivesse seu gosto para apreciar. A garota a sua frente, porém, subia a definição de beleza a seus olhos.

O primeiro que se destacou foi o sorriso, enorme sorriso simpático e sincero, tão brilhante que facilmente poderia cegá-lo ali agora. Seu rosto era redondo, com bochechas salientes e coradas, cabelos loiros ondulados a emoldurá-lo, quase reluzindo com a luz do sol a bater contra eles. Seus olhos, tão azuis quanto o céu despido de nuvens, eram enormes, alegres e emotivos, chamavam a atenção com extrema facilidade e davam a impressão que poderia ver sua alma sem a necessidade de realmente mostrá-la. Era pequena, corpo recheado de curvas as quais destacavam-se na roupa justa a qual usava.

Era o tipo de pessoa a qual parecia brilhar.

Só então, depois de seu deslumbramento, Gaster percebeu que ela lhe estendia o livro o qual havia deixado cair.

— Oh! Hum... Não foi nada... Obrigado. - desajeitado e constrangido, ele pegou o livro das mãos da garota, pressionando-o contra o peito em um aperto firme. O que deveria dizer nessas horas? Deveria simplesmente seguir seu caminho? Deveria começar algum tipo de conversa? Mas o que poderia falar? Ele não tinha nenhum assunto em sua mente que se divergisse de seus estudos e duvidava que ela queria ouvi-lo falando sobre isso. Oh deuses, ele era péssimo nisso.

— Sou Miriam. - novamente a mão estava estendida em sua direção, sorriso imutável no rosto.

— G-gaster. - sentindo o rosto arder ainda mais pela falha em sua voz, Gaster aceitou o aperto de mão, impressionando-se com o fato de ali ter calos. Para uma mão tão pequena e de aspecto tão delicado ele esperava o macio de uma pele bem cuidada, porém, ela estava ásperas, até mesmo o aperto foi firme, mais firme do que o de Asgore.  Sentiu a curiosidade de perguntar, porém, não sabia se seria realmente adequado.

— Prazer em conhecê-lo, Gaster. E novamente sinto muito por ter trombado em você! Estava atrasada para meu treino e acabei me embolando em ajeitar a bolsa e o cachecol enquanto corria e... Oh desculpe! Eu estou divagando, eu tenho essa mania de falar de mais e falar muito alto! As pessoas costumam dizer que sou irritante, sinto muito! - ela realmente falava de mais, mas para alguém como Gaster que não falava quase nada, ter alguém para preencher o silêncio parecia apenas... certo.

— Não... Não me incomoda nem um pouco... Quer dizer, eu não costumo falar muito então... - droga, ele realmente era péssimo em tentar manter uma conversa. Era impressionante como poderia ter na ponta da língua todas as respostas para a sua prova e ainda não saber dizer nem ao menos algo descente quando precisava. Ainda assim ele se sentiu um pouco realizado quando o sorriso da garota a sua frente se alargou. - Você se machucou quando trombou em mim? Está tudo bem?

— Eu que deveria estar perguntando isso, mas sim, estou bem! Precisa mais do que isso para me derrubar! - ela riu, brincando de erguer e flexionar os braços para mostrar o ponto de sua força. Um pequeno sorriso se desenho no rosto do albino, divertido. - Você... - antes que ela pudesse continuar a frase, porém, seu celular tocou, tão alto com uma música ridiculamente infantil. Ela saltou, seus olhos abrindo em surpresa enquanto o sorriso caia para uma expressão preocupada. - Oh deuses! Estou atrasada! Ainda estou atrasada! Vão me matar! Foi um prazer conhecê-lo, Gaster, espero vê-lo por aí! Até!

E assim ela se foi, tão rápido quanto apareceu. Gaster ainda precisou de alguns minutos para se recuperar, encarando o lugar para o qual ela tinha seguido sem saber exatamente o que tinha acontecido.

Com um suspiro pesado e uma repreensão para si mesmo por soar tão ridículo ele seguiu seu caminho. Foi o ultimo a chegar na lanchonete quando normalmente era um dos primeiros, porém, ele ignorou as perguntas e Regular e suas provocações, acomodando-se em seu lugar habitual e pedindo apenas um café, era tudo o que precisava. Era complicado manter seus olhos abertos, apesar de já ter se acostumado a falta de sono constante. Afogar-se em café e em atividades para o cérebro tentando evitar os pesadelos a espreita em seu sono era a única maneira que encontrou, desde que a fissura apareceu, de manter-se são.

— Gaster, esse já deve ser o seu décimo copo de café no dia. - Asgore resmungou, preocupado, encarnado seu amigo jogado no banco a seu lado, sem saber exatamente o que deveria fazer. - Eu tenho certeza que você não dormiu ontem e nem teve tempo hoje. Por favor, para meu alívio, me diga que vai dormir hoje e parar de se sustentar apenas por café.

— Vou dormir hoje.

— Você está mentindo não está? - Gaster não respondeu, dignando-se apenas a tomar um bom e refrescante gole de seu café. Ele ficaria bem. Asgore suspirou. - Você não pode continuar assim, meu amigo. Faz mal a sua saúde.

— Estou começando a ter certeza que você é algum tipo de máquina movido a café. - Regular comentou, sorriso debochado em seu rosto, mas era visível que ele apenas tentava tranquilizar o clima. - Cara, se tem problemas para dormir, tente o chá! Veja como Asgore é todo tranquilo! E ele só toma essa coisa!

— Não insulte algo que você nunca experimentou, Regular.

— Eu não preciso dormir, tenho trabalho a fazer. Estou bem.

— Até minha mãe que é cega saberia que você não está bem, companheiro. Sério, nenhum dos seus professores vai reclamar se você tirar alguns dias de folga. Você é o gênio deles afinal!

Gaster resmungou em desgosto. Não era como se ele não sentisse necessidade de dormir, seu corpo implorava por isso por mais acostumado que estivesse, porém, os pesadelos ainda eram um temor. Gaster nunca poderia realmente dizer do que se trataram, e era um milagre que Asgore não tinha despertado com nenhum deles, mas já começava a notar que afetava sua magia e o ultimo que queria era um acidente acontecendo. Já bastou acordar com o quarto mais escuro do que o habitual, mergulhado nas sombras de sua magia como uma cúpula escura, foi sorte que não tinha ocorrido nada pior.

Com o tempo o assunto caiu, ele poderia ainda sentir a preocupação de seus amigos para com ele, mas não poderia ajudar, o fato era que, até encontrar uma possível cura com Orto, ele continuaria a temer seu sono, a evitar fechar os olhos por um segundo se quer, mesmo para piscar. Era melhor manter-se acordado, ele poderia lidar com isso.

— Oh oh. - Regular resmungou, corpo tornando-se tenso, depois de quase meia hora a manterem-se ali, apenas a conversar. Os olhos de Gaster subiram para deparar-se com o que menos queria hoje. - Alerta de idiotas. Cara, eu sei que intimidar os novatos é divertido e tudo, mas acho que eles levam isso um pouco de mais.

— Não deveria intimidar ninguém, Regular. - Asgore repreendeu, seus olhos também presos no pequeno grupo de valentões a se aproximar de uma dupla de garotas. Aquilo não parecia acabar bem.

— Vamos, Asgore. Os trotes são divertidos e ninguém se machuca! São caras como esses que extrapolam e fazem parecer errado! - Regular retorquiu. Ele era um dos maiores apreciadores dos trotes de entrada na universidade, os mesmos os quais Gaster evitou como a peste, porém, diferente do grupo a frente, ele nunca fez nada que pudesse machucar alguma pessoa. Seu senso de justiça era grande de mais para realmente pensar em fazer qualquer coisa que fosse dita como imoral ou ilegal de qualquer forma. - Eu acho que eu devia... Oh não. Uff! Isso vai ser divertido.

— Regular!

— Não estou falando que estou torcendo para os valentões, Asgore! Olhe para quem está com eles! - Gaster prestou atenção, seus olhos focando-se nas duas figuras as quais eram rodeadas pelos três rapazes. Uma era uma mulher grande, de cabelos platinados e composição robusta, braços cruzados na frente do peito e posição irritada. A outra era pequena, um pouco mais franzina que sua companheira, mas ainda assim de corpo avantajado, com curvas firmes e corpo de aspecto forte. Ela parecia mais tranquila, todavia seus ombros estavam tensos.

— Aquelas não são...

— Oh sim, são! Dessa vez eles pegaram o alvo errado! - Regular estava a zombar, mas Gaster não via como duas garotas poderiam realmente livrar-se daquele problema. Não que ele desmerecesse a força feminina, era que fisicamente mulheres tinham a constituição corporal mais fraca que a de homens e os valentões em questão tinham sua massa muscular bem mais forte mesmo para outros rapazes.

Foi dizer que sua surpresa foi o mínimo que conseguiu quando um dos rapazes, ao tentar puxar a menor das duas garotas para perto, acabou por receber um firme soco no estomago que o fez se curvar sobre o próprio corpo, baixo o suficiente para a garota tomá-lo firme pelo braço e jogá-lo por sobre o ombro, derrubando-o no chão. Todos ao redor se encolheram em dor simpática, apesar do sorriso que a maioria sustentava em aprovação pelo que a garota tinha feito.

Regular estava rindo como nunca antes.

— Essa é a pequena Skelton que eu conheço! Cara nenhum consegue tocar nessa garota sem receber o merecido! - o ruivo aplaudiu feliz, chamando a atenção das garotas.

Gaster se sentiu ainda mais surpreso ao perceber que tinha sido a mesma que trombou com ele mais cedo, a mesma loira de mãos calejadas e sorriso enorme. Miriam, ele se recordavam bem e... Nossa!

Com um sorriso zombeteiro ela curvou-se em uma leve reverência antes de gargalhar alto, acenando para Regular antes de ser puxada por sua amiga para longe, os outros dois valentões do grupo arrastando seu companheiro ferido para longe, acuados pela capacidade da menina a qual tiveram a infelicidade de incomodar. E o que poderia se dizer de Gaster? Ele estava, na melhor das hipóteses, terrivelmente perdido.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Não é tão grande como o anterior, mas vai ser uma história divertida. Vão ser um conjunto de especiais falando desde essa época de Gaster na faculdade até o momento da morte da Miriam e entrada do Sans na gangue, vai esclarecer alguns pontos bastante importantes que acho que seria bom vocês saberem. Pessoalmente eu gostei de escrever esse cap, a personalidade do Gaster bate um pouco com a minha, principalmente na dificuldade de comunicação dele, então é sempre mais fácil para mim trabalhar com personagens os quais eu me identifico.
Bem, espero que tenham gostado, um bom final de semana e até quinta!



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