FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 36
Tumor


Notas iniciais do capítulo

Ok, esse ficou um pouco grande (um pouco?), mas eu sinceramente gostei, ele me agradou bastante de fazer, então espero que também gostem. Eu ia fazer uma playlist, mas fiquei com preguiça de procurar musica, então vou deixar vocês com seus próprios gostos musicais.
Eu não estou com muitos ânimos para notas, talvez pq... Sei lá, num to. Então aproveitem a fanfic, espero que curtam o cap tanto quanto eu e vamos lá



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FusionTale - Tumor

Frisk chegou a despertar quando deu-se conta que o mundo tinha sido refeito, contudo, sua mente exaurida pediu-lhe para voltar a dormir. E, sem realmente ter como colocar-se a pensar em alguma coisa, ela assim o fez, jogando-se na inconsciência mais uma vez sem hesitar ou recordar-se que alguma vez já tinha estado acordada outrora. Afinal, era tentador o conforto da cama, o calor dos lençóis o embalar do sono, pálpebras a pesar e arder pelo cansaço, pedindo insistentes para manter-se fechadas. Era complicado resistir e Frisk não tinha forças ou se quer intenções de fazê-lo. Para não dizer que era merecido.

Contudo, talvez, naquele momento, deixar-se cair na tentação fosse a pior escolha que poderia fazer. Não como se ela pudesse realmente saber, mas ainda assim poderia muito bem se arrepender.

Inicialmente foi apenas o escuro, o dormência entre a inconsciência e o despertar, perfeitamente equilibrados a esperar quem poderia vencer. Quando finalmente sua mente desligou-se de qualquer tipo de pensamento ou sensação conectada a realidade foi quando tudo começou. Da tranquilidade de um sono sem sonhos caiu na terrível sensação de ter garras frias, pontiagudas e perigosas a agarrar sua alma. De tal forma que perfeitamente foi capaz de distinguir as cinco pontas a concentrar-se, em ângulos diferentes, próximo ao centro de sua essência, forçando-a a um respirar engasgado, entre um grito sufocado e o puxar apressado de ar. Toda sua existência sentiu-se gelada, paralisada, medo invadindo suas entranhas quanto mais nítida era a sensação das garras a prender-se persistentes ao redor do coração vermelho que lhe compunha.

Em seguida veio o mergulhar. Apesar de ser apenas uma maneira de descrever o que sentiu quando sua alma foi puxada para baixo, caindo no que parecia ser água, apesar de não ser molhado, apenas frio e úmido, de aspecto líquido. Foi como afogar-se sem ter a necessidade de respirar, sem poder se soltar, afundando e afundando cada vez mais para fundo, mais escuro. Desprender-se de seu corpo material, ela era apenas uma alma presa em poderosas garras frias, sem poder ver, ouvir, falar ou tocar, muito menos pensar. Tudo que se passava por ela eram simples sensações, emoções que descreviam seu estado naquele momento, sentindo-se exposta, mas não como estar nu em um dia de inverno, do lado de fora de casa, mais intimo do que isso, mais desprotegida do que isso.

Sentiu pânico, medo, sentiu-se perdida, assustada e acuada. Não tinha como se libertar ou fazer movimentos, ela mal sabia se realmente tinha uma forma exata com articulações que realmente pudesse exercer algum tipo de movimento se quer. Ela era agora a mais pura das essências, não existia corpo eu definição de membros, ela era apenas um acumulo de emoções, nada mais.

E, no momento, não existia maneiras de questionar o que estava acontecendo. Mesmo que quisesse ponderar sobre o assunto para encontrar uma explicação razoável ela não tinha um cérebro para isso. Essências eram feitas e uma massa de emoções que definiam uma personalidade e ela não era mais do que isso. Para não dizer também que não tinha tempo. Se acreditava que as garras davam-lhe uma sensação terrível era porque o pior ainda estava por vir.

Seu corpo parou de supostamente cair, afogar-se no nada, garras a soltando, desaparecendo em meio a escuridão do lugar como se nunca antes realmente estivessem existido. Quase imediatamente, porém, os sentimentos negativos lhe açoitaram sem pudor. Não eram dela, ela bem sabia, tudo aquilo vinha do que encontrava-se a seu redor, retirando a energia que possuía de seus sentimentos positivos, retirando-lhe quem realmente era para que se juntasse a eles, atacando sua forma exposta e vulnerável. Chamando-a, convidando-a de forma dolorosa e lenta para estar ao lado dele, para fundir-se a eles, quase não lhe dando uma real opção para recusar.

Apesar que não era bem vozes, novamente, ali não existia nada mais do que sentimentos para se comunicar. O que escutava era passado para ela através dos sentimentos que lhe atacavam. Sua alma estava expostas para eles e eles a aproveitavam para não apenas drenar-lhe a energia, sua magia, sua essência, como também para arrastar-lhes para junto deles. Era como pensar em almas ressentidas que queria puxar outras junto a eles, pois não poderia sofrer sozinhos.

E ela resistiu. Resistiu como podia, mantendo sua determinação, o mais forte de seu ser, em uma chama viva e quente, grudenta, que prendia os sentimentos positivos. Choramingou por socorro, não querendo estar ali, sentindo novamente suas forças desvanecer-se para os sentimentos negativos. Ela sabia que estava no vazio, sabia que novamente encontrava-se a ser tragada por ele, puxada para suas entranhas enquanto tentava fugir, a sensação era terrivelmente a mesma, quase puxando-a para insanidade. Mas por que? Ela não tinha escapado? Ela não tinha saído dele? Por que ele a puxava de volta? Como?

Doía... Ela só queria fugir, escapar de lá, voltar para onde ela queria pertencer,  onde encontrava seus motivos para manter-se determinada, ela não queria perder tudo de bom que tinha, ela queria continuar quem era. Era cansativo, era assustador, mas não conseguia se mover como da ultima vez, não conseguia simplesmente fugir, não existia um ponto de luz e ela duvidava que a calorosa e gentil voz a guiaria novamente.

— Frisk! Acorde Frisk! Puta merda, Asriel! Segura ela direito!

— O palavreado, Chara!

— Foda-se! Apenas me ajude a acordá-la! Frisk se não quer que eu te machuque vai ter que acordar agora!

Talvez foi pela ameaça ou talvez por conta de seus apelos desesperados, ela não poderia muito bem dizer, mas a sensação foi a mesma de engasgar-se com o próprio ar. Sua garganta ardia, estivera gritando durante todo esse tempo, sem que realmente estivesse a reparar, isso deveria ter, consequentemente, despertado seus irmãos que vieram a tentar acordá-la. Sua respiração estava pesada, minutos depois veio a tosse arranhada, ânsia de vômito apesar de sinceramente não ver a necessidade de correr para o banheiro, muito desnorteada ainda para se quer conseguir identificar se estava sentada ou deitada. Mesmo as mãos fortes de seu irmão segurando-lhe os pulsos e o corpo de sua irmã quase completamente sobre si passou-lhe despercebido.  

Tonta, olhos lacrimejando, tentou observar os dois, molhando os lábios para começar a falar e perguntar o que estava acontecendo, mas não encontrava sua voz. Mesmo sua visão ainda não parecia funcionar da maneira a qual deveria, sobrando-lhe apenas a audição que por algum motivo tinha sido a primeira a dar sinais de estar perfeitamente funcional detectando, em primeiro lugar, suspiros aliviados.

— Pelos deuses, ela despertou... Pensei que realmente teríamos que apelar. - Asriel soltou os pulsos de sua irmã, jogando-se sobre o pouco espaço do colchão que lhe era disponível, visivelmente aliviado. Ele estava surpreso, porém. Até aquele momento ele nunca tinha reparado que a mais nova dos três poderia ter força o suficiente para ser um desafio até mesmo para Chara, forçada a gritar por socorro para que pudesse arrumar uma maneira de despertá-la.

Eles não realmente cronometraram o tempo que foi, mas Asriel sentiu como se tivesse passado a eternidade, sem saber o que fazer enquanto Frisk gritava ao topo de seus pulmões, lágrimas escapando-lhe dos olhos bem apertados, corpo a contorcer-se de todas as formas humanamente possíveis, quase saltando para fora da cama. Não sabia se realmente poderia associar tal reação extrema a um mero pesadelo.

— Frisk. Terra para Frisk. Você está realmente acordada? - Chara perguntava, uma de suas mãos a bater de leve no rosto da morena que permanecia a respirar de forma apressada, como se o tempo inteiro não estivesse a respirar. E talvez realmente não estivesse, da forma que estava gritando era complicado pensar que realmente tivesse tempo para acumular ar suficiente. Asriel observou como a mais nova encolhia-se na cama, quase em uma posição fetal, olhos perdidos em um canto qualquer sem parecer realmente enxergar. - Azzy, acho melhor chamar nossos pais. Estou começando a pensar que Frisk pode ter que ficar em casa hoje, no pior dos casos levada a um médico. No mínimo ela acabou com suas cordas vocais.

— E-eu estou b-bem! - prontamente pronunciou-se a mencionada, sua voz rouca não saindo mais do que um sussurro engasgado, levando desesperadamente uma mão ao pulso de sua irmã, segurando-a com firmeza enquanto tentava novamente recuperar a compostura.

— Frisk, ninguém vai acreditar em você dizendo que está bem. Quero dizer, basta olhar! - Asriel exclamou, preocupado. Contudo a garota se sentou corretamente na cama, um sorriso fraco em seu rosto ainda bufando um pouco, sua expressão cansada, banhada em suor puro não ajudava em nada a passar confiança em seu estado. Sua cor tinha caído para quase o mesmo tom de Chara ou ele próprio.

— F-foi apenas u-um pesadelo... É n-normal, v-vocês sabem... V-vou lidar c-com isso... - ela resmungou, persistente no que queria.

Entreolhando-se, Chara e Asriel hesitaram, contudo, não vendo como poderiam convencer sua irmã do contrário, apenas deixaram-se ceder.

Sua rotina então seguiu-se como deveria se seguir.

Totavia, para o terror de Frisk, a situação não necessariamente melhorou. Quer dizer, ela foi a aula como deveria, apesar de cansada ela conseguiu gerir. Afinal, depois de vê-la tantas e tantas vezes já era de se esperar que começasse a ser um assunto demasiadamente maçante. O problema realmente chegou quando a noite caiu, ela estava insegura sobre o fato de deitar-se, afinal, tudo tinha começado com um sonho e ela não queria ter a mesma sensação. Foi real de mais para seu gosto e não parecia em nada com aqueles que derivavam-se de suas memórias passadas.

Ela tinha ouvido falar, em algum momento o qual não conseguia recordar-se exatamente quando ou o porquê, sobre experiências extracorpóreas a qual uma pessoa conseguia ver-se fora de seu corpo. Com a descoberta de almas tal ocorrência poderia, talvez, ser comprovada junto com a existência de fantasmas, contudo, Frisk era cética quanto a isso. Afinal, ela podia colocar sua alma para fora de seu corpo, mas não necessariamente ver através dela.

Ainda assim, em seu sonho, visivelmente, ela era sua alma. Uma reles existência feita de emoções. Porém isso nunca tinha ocorrido antes, por que exatamente agora? Por que no vazio? Teria alguma coisa relacionada com o fato de realmente ter estado lá? Gaster teria tido o mesmo quando a linha se redefiniu depois de sua primeira queda lá nessa dimensão ou era uma exclusividade de Frisk? Se fosse, por que?

E por mais que realmente desejasse evitar essa experiência novamente o corpo humano exigia um determinado tempo para descanso e assim manter normais suas funções básicas. O cérebro principalmente, apesar de não descansar por completo para manter determinadas atividades biolóticas, ainda precisava desligar algumas funções para continuar a gerir-se normalmente. Era dito que memórias, por exemplo, tornava-se muito melhor quando mantinha uma boa quantidade de horas de sono. E seu próprio corpo alertava, empurrava até o momento que não poderia mais resistir e simplesmente apagasse.

Aquela noite adormeceu no sofá, para despertar na manhã seguinte novamente aos berros, com Chara, Asriel e seus pais tentando dificilmente acordá-la. Parecia que dessa vez tinha sido mais complicado, mas Frisk tinha, de alguma forma, empurrado qualquer tipo de ajuda. Ela poderia gerir, ela poderia controlar... Ou ela esperava que sim.

Com o tempo os sonhos começavam a mesclar-se. Se não se tratava de sua terrível experiência constante no vazio, enfraquecendo-a a cada vez, eram memórias terríveis sobre outros universo os quais o que reinava era o desespero. Poria ser um em que tudo parecia mais ter sido tirado de um filme de terror, no qual sua vida era estilhaçada das formas mais dolorosas e assustadoras possíveis. Poderia ser um em que o genocídio era a única rota, redefinindo milhares de vezes até finalmente levar um dos únicos a recordar-se dele a loucura. O suficiente para cometê-lo por si mesmo. Era um dos que mais odiava recordar-se.

E existiam tantos que ela poderia perder-se em sua conta, sendo os únicos, ininterruptamente, a assombrar-lhe as noites. Para não contar também as rotas genocidas, recordando-lhe uma e outra vez o que seu corpo fez, as vidas que tirou, atormentando-a pela culpa e desespero, facilitando ainda mais o trabalho das almas do vazio.

Chegou ao ponto em que permanecer acordada era complicado, despertar tornava-se uma árdua tarefa para os membros de sua família até que, repetindo-se todos os dias, chegou ao ponto em que, com sua alma tão cansada e bombardeada com todos os tipos de sentimentos negativos que começavam a afetar-lhe na realidade, começou a não precisar estar dormindo para que os desastres continuassem a acontecer, talvez até mesmo agravar-se.

Foi próximo ao final do mês, mais de duas semanas sem conseguir dormir da forma correta. Frisk estava começando a suspeitar que Chara havia pedido a Blooky e Tinn para vigiá-la, simplesmente pela forma cuidadosa como a tratavam, sem quaisquer tipos de perguntas sobre. Ou talvez fosse sua simples preocupações de amigos, ela não mais conseguia fingir um rosto sorridente tranquilo, sua expressão tinha permanentemente caído em uma de completa exaustão, até mesmo seus professores começavam a questionar-se sobre.  Como seja, era o dia da palestra e Frisk não estava totalmente segura se deveria ir, afinal, não tinha se encontrado com Sans até então para recordar-se do que realmente deveria estar fazendo.

Sua cabeça estava acumulada de mais com os atuais problemas sobre pesadelos para realmente voltar-se para a questão de Gaster. Não era que ela queria deixá-lo de lado, mas simplesmente seu cérebro não queria pensar em mais nada a não ser em como ter um bom descanso.

A questão é que havia se esquecido por completo do pequeno grupo de valentões de sua turma que todas as vezes, sem qualquer mudança, vinham atormentá-los. Frisk conseguia evitá-los a maior parte das vezes, tomando outros caminhos ou passando naquele vários minutos antes de aparecerem, contudo, com sua cabeça mais concentrada em manter-se acordada e não dormir enquanto andava do que nos acontecimentos a sua volta aquela vez não pôde ser evitada.

E era como o ditado dizia: Uma alma saudável reside em um corpo saudável e em uma mente sã.

Infelizmente Frisk não tinha nenhuma dessas qualidades no momento.

Seu corpo estava a beira da exaustão, sua mente completamente fora dos eixos com memórias as quais preferia deixar enterradas no mais fundo de sua alma e essa mesma alma em um turbilhão de emoções que originalmente não eram suas, mas derivavam-se de seus terríveis pesadelos, manchando sua essência, tornando-se um barril de pólvora mágica prestes a explodir. A fúria cega, a tristeza, amargura, raiva e ódio, a dor e o desalento, o desespero. Ela tentava com todas as suas forças manter tais sentimentos sob controle, mas quanto mais noites se passavam, mais forte eles se tornavam e desesperadamente mais Frisk encontrava-se puxada de volta para o vazio.

Aquele foi apenas o estopim para que tanta luta fosse jogada pelo ralo e ela se visse fora de seu controle normal. Como bem sabia a magia tinha uma grande relação a sentimentos, tanto que era bastante normal ver a pressão poderosa de magia quando Sans encontrava-se furioso ou simplesmente exaltado. Mesmo com um bom controle ela poderia ser facilmente volátil e problemática. Para piorar a situação ela também tinha uma grande relação com o corpo físico que precisava estar apto para suportá-la em suas devidas proporções. Já mencionado também que o corpo de Frisk encontrava em todas as condições, menos em suas melhores. Em um estado tão decadente era de se imaginar que qualquer reação mágica que extrapolasse seu frágil limite traria terríveis consequências.

Ainda assim ela tinha sorte. Uma sorte conveniente e ocasional, fazendo com que alguém experiente o suficiente estivesse presente no exato momento em que não conseguiu mais controlar o núcleo de sua magia por conta de seus sentimentos, não apenas neutralizando o que havia liberado para não machucar ninguém, como também suprimindo e realocando a distribuição em seu próprio corpo para que nada fosse danificado.

Frisk chegou a sentir a familiaridade da magia em sua alma, chacoalhando-a de uma forma a qual não poderia ser realmente descrita, tornando-a confortável uma única vez desde o começo daquela linha do tempo, contudo, não foi capaz de ver, desabando na inconsciência antes que se desse conta. Ela estava tão cansada...

Ela despertou em sua casa, sem berros, sem sonhos, apenas o doce despertar de algumas horas de sono. Foi... Estranho. Depois de tanto tempo despertando das piores maneiras possíveis ter uma experiência tão normal sentia-se diferente. Mas esse não era o problema. O problema estava em não mais conseguir escapar dos médicos. Para o dia seguinte já tinha marcado um psicólogo e em seguida o médico. Seus pais não mais poderia aceitar que isso perdurasse por mais tempo, logo poderia tornar-se mais grave tanto para ela, quanto para outros.

E foi complicado condensar o que passava em algo que não parecesse uma completa loucura. Afinal universos alternativos e um lugar entre eles que era completamente ambíguo e parecia quere sugar-lhe a alma definitivamente era motivo o suficiente para mandar-lhe a qualquer centro de ajuda existente nesse mundo, com prisão perpétua. E sinceramente Frisk não queria voltar para lá. Então tentou, da melhor forma possível, falar sobre o que sonhou, colocando mais os sentimentos do que a visão em si, deixou as coisas vagas, como um sonho deveria ser, mesmo que os conhecesse perfeitamente bem.

Contudo, quando terminou, recebeu uma estranha resposta, não era como a que tantas vezes tinha recebido antes quando comentou sobre linhas do tempo e voltas sem controle sobre acontecimentos repetidos:

— Sabe, faz pouco tempo que a ideia de que a alma pode influenciar em nossos pensamentos vem sendo estudada pela psicologia. Momentos em que, por um pequeno problema, talvez uma ínfima rachadura, todo nosso subconsciente se desestabilize e comecemos a agir de forma que não condiz com nossa personalidade. Talvez esse seja seu problema. - poderia ser um ponto aceitável, agora que Frisk cogitava bem. Tudo se resumia a sua alma, mesmo os sonhos de outros universos, então talvez o problema estivesse bem ali. Como ela nunca tinha pensado nisso antes? - Podemos dar uma olhada se quiser, mas não sou um especialista, a ciência ainda é muito nova e pouco trabalhada. Sugiro que em seguida procure um médico qualificado para tratá-la.

Como se esses também existissem. Mesmo em Ebott, médicos especializados em almas eram quase inexistentes e a maioria que sim mexia com tal área não exerciam a medicina. Talvez porque até então as comidas embutidas com magia já fossem o suficiente para resolver a maior parte dos problemas até então catalogados.

Ainda assim não custava nada tentar e sua alma vermelha foi expelida para fora em um pulo brilhante... Quer dizer, menos brilhante do que realmente imaginava.

Ali estava o problema, tão visível que até mesmo o psicólogo engasgou com sua visão. Que era novidade com certeza, mas bem explicativo em uma parte.

O conselho foi visitar um médico com urgência, mas Frisk sabia que não funcionaria muito bem. Eles receitariam comidas magias e se não funcionasse, aconselhariam outro médico que receitaria a mesma coisa e assim seguiriam o caminho. Ela já não mais estava permitida ir para a aula no meio tempo em que tentavam encontrar uma solução, seu humor começou a se tornar volátil, talvez pela falta de sono ou pelos novos sentimentos que eram bombardeados em sua alma a cada vez que fechava os olhos, poderia também ser uma mistura de ambos. Frisk já não sentia-se mais como ela mesma, pensamentos violentos já começavam a incomodá-la diversas vezes no dia cada vez que sentia-se tendo problemas de controle, eram complicados de segurar e fáceis de aparecer, totalmente atípicos de sua personalidade e bem capazes de deixá-la louca.

Chegou a um ponto em que acreditavam que nenhum médico de Ebott poderia realmente ajudar e ir para fora também não seria aconselhável. A magia era vista como maus olhos e Frisk não tinha controle nenhum sobre ela. E foi no meio tempo de pensar em uma solução e entrar em desespero que Asgore sugeriu um velho amigo, especialista em qualquer assunto relacionado a almas, contudo não praticante da medicina e nem ao menos formado nela, apesar de seu conhecimento sobre era considerável. Toriel ainda resistiu um pouco, duvidosa, mas vendo o decair de sua filha não teve escolhas a não ser aceitar a ideia.

No dia seguinte Gaster estava a bater em sua casa.

— Muito obrigado por aceitar o pedido, Gaster. - cumprimentou Asgore, um sorriso cansado por debaixo de sua barba loira. Ele tinha um semblante muito mais velho do que originalmente deveria transparecer e as olheiras já começavam a se desenhar por debaixo de seus olhos. - Desculpe por pedir algo assim de ultima hora.

"Asgore, meu amigo, você sabe que não sou médico, não é?" foi o primeiro que preocupou Gaster quando recebeu a chamada de seu velho amigo. Não conseguiu recusar, porém. Sua voz desesperada e pesarosa pelo telefone, cansada e ao borde do desespero o impediram de qualquer pensamento sensato que não envolvesse aceitar o pedido. Ambos poderiam sair muito mal nessa história.

— Eu sei, eu sei. Mas pelo problema que temos médicos realmente não seriam a solução. Acredite quando digo, Gaster, não teria pedido sua ajuda se não achasse que fosse o único que pudesse nos ajudar. É minha ultima esperança. - Frisk estava entrando em um estado de declínio total. No que antes levava apenas alguns longos minutos para despertá-la agora estava aproximando-se de uma hora para mais, isso sem contar que sua magia começava a perder o controle enquanto dormia. Ele não saberia mais o que fazer se seu amigo não pudesse achar uma solução.

"Tudo bem... Apenas me diga o que..."

O som de algo se quebrando chamou-lhes a atenção. Sans, que esperava do lado de fora o qual insistiu para vir ao saber que a mesma garota a qual deparou-se na escola, dias atrás, era o caso em questão, assomou-se pela porta, curioso pelos estrondos que começaram a ressoar. Ele tinha se mantido curioso durante todos esses dias sobre a forma como sua alma reagiu a ela, foi inusitado e nunca antes tinha tido nada parecido, para não dizer dos estranhos sentimentos que o importunaram em seguira ao encontro, a enorme necessidade de encontrá-la novamente, de poder conversar, de saber mais sobre ela. Sua alma nunca antes tinha se esquentado tanto ou sentindo-se tão calma. Uma sensação familiar e ao mesmo tempo não conhecida. Era como reconhecer um estranho, mas nunca antes tê-lo visto em sua vida.

Toriel também apareceu desde a cozinha olhos preocupados a observar desde seu marido ao corredor que levava ao quarto das crianças. Não era preciso muito para saber o que acontecia e muito menos para entender que Asriel e Chara já estavam a tentar cuidar do assunto. Principalmente levando em consideração os gritos desgarrados que escapavam entre a confusão de objetos a serem derrubados.

— Asriel, eu já disse para segurá-la direito!

— Não consigo nem me aproximar quer que eu a segure como?!

— Arrume um jeito! Não vai dar para acordá-la se não conseguimos nem mesmo estar perto dela sem correr o risco de perder algum membro do corpo!

— Cuidado com a cabeça! - o estrondo seguiu-se o alerta.

Não existia exatamente o que comentar, foi impressionante que a porta mantinha-se intacta e os convidados não puderam ver o que exatamente ocorria dentro do quarto. Os barulhos continuaram e parecia que não parariam tão cedo. Talvez realmente não fosse tão complicado descrever o quão crítica era a situação.

— Oh! Sans, eu não esperava que viesse com seu pai. - Toriel comentou, visivelmente nervosa, revolvendo os dedos das mãos enquanto fugazmente seus olhos escapavam para o corredor ainda recheado pelos barulhos. - Desculpem a confusão. Asgore já explicou?

— Aparentemente ele não teve muito tempo antes da confusão começar... - talvez não fosse momentos para piadas? Mesmo Toriel parecia fora do clima então preferiu manter-se quieto. Talvez em outro momento, assim como seria melhor deixar de fora o fato de, talvez, muito provavelmente, encontrar-se com algum tipo de interesse não identificado pela que supostamente estava a ter o problema, seja ele qual for. - Eu apenas estou acompanhando, não precisam se incomodar comigo. Acho que vou estar esperando do lado de fora, se preferirem.

— Oh! Não, que isso! Entre e fique a vontade! Não tive tempo para te agradecer direito por ter tido todo o trabalho de trazer minha filha até aqui depois do que aconteceu na escola, de qualquer forma. Ouvi dizer que se não fosse por você poderia ter sido pior do que apenas um desmaio. - relutante Sans entrou, tentando não aparentar estar muito constrangido ou curioso com o que estava a acontecer.

Novamente um estrondo no corredor e todos se encolheram, aparentemente a porta já não mais poderia resistir a tantas pancadas, pelo menos não tinha sido a parede.

Asriel em seguida deu as caras pelo corredor, mancando um pouco, rosto suado e um tanto sujo, corte na bochecha esquerda enquanto bufava em cansaço. Ele apoiou-se na parede próxima e encarou seus pais, preocupação reluzindo em seus olhos cansados.

— Ela adormeceu quando não estávamos olhando. E dessa vez é pior, começou a usar magia, não conseguimos nem ao menos chegar perto dela para acordá-la. - Toriel chiou em preocupação, aproximando-se de seu marido para segurá-lo pelo braço com força, seus olhos procurando os dele desesperados por uma possível solução. Asgore coçou a barba, ansioso, suor escorrendo por sua testa. Frisk já era difícil de acordar quando apenas se contorcia, com força o suficiente para deixar um olho roxo em Chara, utilizando de magia então seria impossível, para não dizer de ainda mais preocupante com o estado de seu corpo. Ele não suportaria muito se continuasse. Tentar evitar machucá-la também em suas tentativas de acalmá-la estava se tornando impossível. - Você. - Asriel finalmente havia notado os dois inquilinos, direcionando-se especificamente para Sans. - Foi você quem a controlou naquela vez na escola, teria como fazer de novo? Por favor...

Dando de ombros Sans seguiu o rapaz, não que realmente fosse necessário, era evidente onde estava ocorrendo toda a confusão. Gaster, por usa vez, havia ficado para trás, sua própria mente maquinando sobre o que exatamente poderia ser o problema em questão para causar tanto estardalhaço. Contudo, ainda lhe faltavam algumas informações.

Ele chamou a atenção do casal e então começou seu questionário:

"O que exatamente está acontecendo? Você não foi muito específico no telefone."

— Bem, você vê, minha filha mais nova tem sofrido com alguns... Pesadelos... Eu não sei bem se poderia dizer assim, ela começa a acordar todos aos gritos, gritos tão altos que me surpreende que os vizinhos ainda não tenham chamado a polícia. No começo era apenas complicado despertá-la, não bastava simplesmente sacudir, mas ela ainda parecia ter garantia que estava tudo bem, insistia que passaria, que eram apenas sonhos ruins. Depois do que aconteceu na escola a mandamos para um psicólogo ver o que poderia estar causando tais terrores, ela já não tinha uma noite de sono tranquila, temia fechar os olhos e estava a pronto de entrar em um colapso. - Asgore revolveu-se inquieto enquanto relatava, seus olhos sempre caídos para suas mãos que brincavam com as de sua esposa, concentrada de mais em observar o corredor por onde os dois rapazes tinham desaparecido para prestar atenção na conversa. - Pelo que compreendi ele associou o que estava acontecendo a algum tipo de anomalia que poderia ter em sua alma. Eu não sei exatamente o que ele viu, Frisk não quis mostrar, mas ele estava exaltado, mandou-nos direto para um médico conferir sua alma, parecia grave. Nada realmente resolveu. Os problemas pioravam e... Gaster entenda, eu estou vendo minha filha definhar-se sem poder fazer nada por um problema que não quer mostrar. Seu humor tem estado estranho, está exausta e com medo. Pensar em você foi o ultimo que me ocorreu. Sei de suas especialidades e confio em seus conhecimentos, por isso, por favor, poderia apenas... Dar uma olhada?

 Gaster suspirou, realmente não vendo como poderia negar. Ele não era médico, era verdade, mas talvez mais ninguém fosse tão bom no diagnostico de uma alma quanto ele, afinal foi sua especialização na faculdade e o motivo para ter vindo estudar em Ebott. Ele poderia prestar uma ajuda a um amigo que já lhe fez muito. Tinha certeza que Asgore faria o mesmo se fosse um de seus meninos a ter alguma dificuldade.

"Tudo bem, Asgore. Darei uma olhada e farei meu relatório. Sugiro que o entregue para um médico qualificado em seguida, pode ajudá-lo a se nortear pelo problema e arrumar uma solução melhor do que comida embutida com magia."

Asgore suspirou aliviado, soltando diversos agradecimentos ao mesmo tempo, seus ombros caindo um pouco mais leves ao saber que teria alguma chance de encontrar uma solução. Ele já não suportava mais ver sua filha daquela maneira, por mais que não possuíssem nenhum laço de sangue ela ainda era parte de sua família.

O enorme homem direcionou-se para o quarto o qual não mais produzia qualquer ruído, cauteloso com os barulhos que ele próprio poderia produzir para não interromper um possível controle que seu filho estivesse a fazer. Sentiu-se grato por Sans ser tão bom no controle de sua magia, sempre foi um prodígio em diversos assuntos e Gaster estava feliz de tê-lo ensinado cedo a manipular não apenas sua própria magia, como a de outros ao seu redor quando precisasse.

Assomando-se pela porta ele observou como seu filho encontrava-se sentado sobre a cama, o único móvel intacto até o momento, segurando a pequena figura de uma garota de pele morena e cabelos castanhos, respirando de forma agitada, ainda parecendo ter sido acabado de acordar, segurando-se desesperada a Sans enquanto ele tentava acalmá-la. Ao redor o quarto estava destruído, em uma descrição leviana do que realmente conseguia observar.

O que pareciam ser massas enormes do que antes confeccionava-se o chão elevavam-se em pontiagudas e perfeitamente formadas estalagmites por todo o lugar, perfurando e destroçando os móveis que agora não passavam mais do que pedaços de madeira estilhaçados ao chão junto a pedaços de tecidos que não mais poderiam ser atribuídos a um objeto em específico. O próprio teto tinha se contorcido em formatos estranhos, com diversas partes faltando ou acréscimo estranhos. Facilmente poderia atribuir a magia da garota a de criação e moldagem, bem perigosa nesses momentos. Ele apenas agradecia que não fosse de destruição, essa seria pior para se lidar. Os dois filhos mais velhos da família, uma garota muito parecida com a que Sans sustentava e o rapaz que o havia chamado, estavam jogados no chão ao redor, o rapaz a tentar cuidar do óbvio sangramento que a garota tinha em seu nariz, decorrente de algum impacto com qualquer coisa que tivesse sido criada pelo momento, apenas para receber uma birra infantil de que não precisava de ajuda.

De leve, Gaster tocou o que tinha sobrado da porta, chamando a atenção dos presentes para que enfim pudesse aproximar-se com mais segurança, sem correr o risco de assustar ninguém. Desviando-se dos obstáculos em seu caminho ele chegou próximo a cama, curiosamente observando a delicadeza com que seu filho tratava a garota. Pensou vê-lo dessa maneira apenas com seu irmão, mas parecia que milagres ainda eram capazes de acontecer.

Observou com cuidado a garota, tentando averiguar se estava realmente desperta e pronta para conversar ou se ainda mantinha-se atordoada pelo pesadelo. Ela, por sua vez, ergueu-lhe o olhar, dourados e brilhantes, intensos como uma criança nunca deveria ter. Parecia saber mais do que dizia, se Gaster realmente era bom em interpretar olhares como supunha. Ela respirava com dificuldade e parecia terrivelmente cansada, quase precisando apoiar-se em Sans para realmente manter-se, ao menos, sentada. Tão fragilizada, assustada e perdida, era complicado não se sentir compadecido de tal imagem, principalmente tratando-se de uma garota tão jovem e bonita, para não dizer do carinho evidente que todos da casa aparentavam ter com ela.

Ele faria um bom trabalho.

"Olá, pequena. Eu sou Gaster, amigo de seu pai. Vim ver o que pode estar acontecendo com você" ele assinalou, momentaneamente esquecendo-se que nem todas as pessoas conheciam esse tipo de linguajar. Ele estava acostumado a conviver com pessoas que já o compreendiam e não necessitavam de alguém para traduzir. Sans chegou a abrir a boca quando a garota liberou uma de suas mãos.

"Prazer. Sou Frisk" ela assinalou em resposta, um sorriso fraco em seu rosto, surpreendendo aos dois albinos. Fazia alguns dias que Frisk tinha voltado a adotar a linguagem de sinais quando percebeu que deveria resguardar sua voz já danificada de mais pelos gritos noturnos que estava a dar. Apesar de fazer várias linhas do tempo que não a usasse ainda não estava enferrujada.

"Então Frisk, poderia nos mostrar qual é o problema? Seu pai especificou que seria exatamente em sua alma."

"Não é bonito de se ver"

"Tenho certeza que não está tão ruim assim. Eu vou apenas dar uma olhada, nada mais."

Frisk suspirou, não querendo realmente mostrar. Percebeu que Asriel e Chara tinham deixado o quarto para cuidar dos ferimentos de sua irmã, sentiu-se mal por ter sido a culpada disso, mas tentou manter-se concentrada no que estava fazendo agora, depois iria se desculpar. Levando sua mão ao peito ela empurrou a alma para fora, recebendo como resposta o olhar surpreso de ambos os homens.

E não era uma reação muito estranha do que realmente deveria ser. O que deveria ser um belo coração vermelho característico da determinação, estava, ainda o vermelho, mas uma terrível mancha negra em seu centro, espalhando-se em veias grotescas e pulsantes para o resto, como um parasita a se alimentar de sua essência. Instintivamente Frisk conseguia supor que tal mancha negra derivava-se do vazio. Ele havia marcado sua alma depois que esteve lá e agora a tentava puxar de volta. Ela não queria saber o que aconteceria se a mancha negra tomasse toda sua alma.

"Bem, criança, o que temos aqui é um tumor de anti-magia." Frisk abriu os olhos, confusa. Anti-magia? Isso se quer existia? "Pelo seu rosto vejo que não conhece. É realmente de se esperar, não costumam falar sobre isso na escola. Para sua sorte, minha cara, existe um tratamento. Não é uma cura, mas vai ajudar bastante com suas noites de sono." Tudo para ter um bom descanso novamente. "Acredito que mereça um pouco de explicação antes. Sans, poderia nos dar licença? Tenho algo a mostrar a essa jovem"

Hesitante e ainda um pouco atordoado pela nova constatação, o rapaz encarou a garota a qual mantinha a sustentar, questionando se realmente seria uma boa ideia deixá-la sozinha, não por causa de seu pai, mas por temer uma nova crise. Sua alma sacolejava ao estar perto dela, não queria mais sair, uma tranquilidade a qual não poderia descrever, um sentimento bom de conhecimento. Ele estava preocupado com ela, mesmo que não a conhecesse e não queria deixá-la em tal momento de fragilidade.

Ainda assim Frisk assentiu com um leve sorriso, sua mão apoiando-se sobre a dele tanto em agradecimento quanto para tranquilizá-lo. Esse era seu sinal de que poderia ir, que ela ficaria bem e relutante ele se foi, voltando para a sala com um suspiro pesado. Ele não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas queria descobrir. Aquela garota... Ele tinha que saber mais sobre ela, ele queria conhecê-la, queria ser... Ele não sabia bem o que exatamente ele queria ser para ela, mas estava determinado a ir até onde pudesse.

No meio de sua caminhada, porém, deparou-se com Chara, nariz ainda avermelhado pela pancada que havia levado, batendo os pés em fúria. Ela veio em sua direção, obviamente em ameaça, ainda assim não fez nada, deixou que ela chegasse perto, segurasse a gola de sua camisa e o puxasse para baixo.

— O que você fez para acalmá-la?! O que aconteceu lá?! - eram boas perguntas, nem mesmo Sans saberia como exatamente respondê-las. Ele tinha assomado pelo quarto e sua alma sacolejou assim como da primeira vez, sentimentos estranhos a se espalhar por ele enquanto observava a garota contorcer-se sobre a cama. Ele apenas se aproximou, sem realmente pensar, sua magia reagindo a dela de forma suficientemente sincronizada para manter qualquer ameaça longe, finalmente estando frente a frente. Ele não precisou realmente pensar no que deveria fazer, com calma ele controlou o fluxo de magia com o seu, trabalhando seu próprio núcleo junto ao dela para cortar o fluxo que saia sem controle antes que chegasse a machucá-la, tão perto do limite que assustou-se com o quão próximo ela estava de perder um dos membros. Quando percebeu ela tinha despertado, saltando para ele e agarrando-o com desespero, como se apenas assim pudesse escapar dos monstros que atormentavam sua cabeça. E tudo que conseguiu dar em resposta para as perguntas foi um dar de ombros. - Como seja! Não importa mais! O que seu pai disse a ela?! O que ela tem?!

— Primeiro, você vai me soltar. Em segundo, vai se acalmar para que eu possa responder suas perguntas sem que pareça que quer rasgar minha camisa no processo. Eu sinceramente não quero encontrar-me nessa situação com você. - com um grunhido Chara obedeceu a contra gosto, cruzando os braços em seguida e batendo o pé em espera para o que pediu. - Quer fazer o favor de se acalmar? Eu não tenho obrigação nenhuma de te responder, tem sorte que esteja disposto a isso. Não estamos aqui como inimigos Chara, então pelo bem da sua irmã é melhor se tranquilizar.

— Ora seu...! - Chara parou, respirou fundo e suspirou, deixando os ombros caírem. - Eu sei... É complicado manter a calma quando faz dias que não consigo dormir direito. O estado de Frisk tem piorado e eu estou... Apenas me diga o que ela tem, ok?

Foi o mais próximo de um pedido de desculpas que ele ia conseguir dela e estava deveras surpreso. Ele reparou o estado cansado que ela tinha, a preocupação genuína, nada parecido com o que havia se acostumado a pensar ou ver. Aquela Chara estava preocupada com sua irmã, assim como ele estaria preocupado com Papyrus caso estivesse na mesma situação. Foi surpreendente e assustador ao mesmo tempo, e ele odiaria admitir, mas o amoleceu.

— Vou ser sincero Chara, o problema não é qualquer um. O que sua irmã tem é um tumor de anti-magia.

— Tumor de anti-magia? Isso soa ridículo.

— Pois é o que é. Existe uma mancha negra em sua alma, uma mancha de anti-magia. Há pouco tempo descobriu que, assim como existe a anti-matéria existe a anti-magia. A questão é, assim como a física da anti-matéria a deixa no vácuo do espaço por ser volátil em contato com a matéria, a anti-magia também não pode ter contato com a magia, uma sobrepõe a outra. Elas costumam viver em equilíbrio, mas, às vezes, em casos especiais que ainda não se sabe atribuir ao motivo, essa anti-magia surge em uma alma. A alma é basicamente constituída de magia pura, ter algo tão oposto a ela a faria entrar em colapso. Por isso o surto nos sentimentos, a teoria diz que o processo de destruição de uma alma com esse tumor é a decadência dos sentimentos, que consequentemente afeta o psicológico. Dizem que poderia ser a explicação de motivos como suicídios ou outras doenças mentais. É como pensar em um câncer que pouco a pouco acaba com as funções de outros órgãos. Por isso é colocado como um tumor.

— E... Tem cura? - a garota questionou hesitante, mordendo a unha em um reflexo de nervosismo enquanto sua outra mão esfregava o peito onde supostamente sua alma estaria alocada.

— Não diria cura, é mais um tratamento. Vai diminuir os pesadelos e não deixar o tumor crescer. Do jeito que está agora vai levar tempo, mas meu pai sabe como cuidar disso, foi exatamente para isso que veio para cá estudar. Então não se preocupe.

Chara suspirou em alivio enquanto Sans guiava-se para sentar em um dos sofás da sala enquanto esperava seu pai terminar. Ele mesmo estava um pouco preocupado, mas confiante de que realmente seu pai poderia cuidar disso.

Frisk recebeu basicamente a mesma explicação e tomava suas próprias conclusões sobre o assunto. Gaster tinha mostrado sua própria alma, para que assim estivesse segura que ela não era a única a sofrer de tal estado. Quando mais novo, ele contou, tinha tido diversos problemas com a rachadura que continuava a crescer. Apareceu em sua adolescência e se intensificou quando se mudou para Ebott. Mas aí ele já tinha arrumado algumas teorias, pesquisando sobre o assunto na faculdade, de como controlar tal aparição, tanto que agora sua rachadura apenas era um pequeno fiapo com duas ou três ramificações, as quais apareceram posteriormente a seu tratamento consequência de estresse irremediável. Mas não era nada que não pudesse lidar. Ele poderia usar do mesmo processo com Frisk.

Ela não tinha visto a alma de Chara, mas chegou a conclusão que todos aqueles que tiveram algum contato com vazio, em qualquer linha do tempo ou universos anteriores, tinha tal anomalia em sua alma, uma marca do vazio que procurava trazer de volta o que pisou em seu terreno, sendo ele próprio formado de Anti-magia. Contudo, como ele poderia produzir almas feitas de magia se ele era essencialmente feito do oposto? Bem, Frisk tinha uma teoria, baseado no que ela sabia sobre o vazio do tempo que esteve lá. A questão era do equilíbrio. Assim como um célula, quando saturada de sais, importava água para seu interior e bombeava os sais para fora, o Vazio fazia o mesmo com a magia e anti-magia. Quando muito saturado de magia, entrando em conflito com sua própria essência oposta, ele a acumulava em uma única essência a qual se tornaria a alma, empurrando-a para o universo em questão e assim restaurando seu equilíbrio natural. Assim como, quando uma alma retornava ao vazio, sua magia era saturada por anti-magia, sendo degradada e transformada em um deles enquanto uma pequena parte de anti-magia era bombeada para fora, mantendo assim o equilíbrio entre os dois opostos.

No caso, quando Frisk, Gaster ou quem quer que seja, pisava em seu terreno sem que seja totalmente degradado por ele, sua alma era contaminada e assim formando um tumor de anti-magia em questão o qual afetaria sua personalidade em si. Seria uma boa explicação também do motivo de algumas características marcantes, como as atitudes e apreciação da violência de Chara e a introspectividade quase extrema de Gaster. Contudo, se fosse pensar que tais pontos iriam aflorar em uma pessoa, relativas a, talvez, um ponto negativo marcante, então o que se tornaria evidente em Frisk? Talvez a tristeza ou a culpa. Ela era uma garota determinada, mas carregava uma enorme culpa em sua alma, de talvez todas as suas pequenas partes de cada universo. Mas ela sempre soube lidar, empurrar para longe e continuando, tentando compensar.

Estava tudo bem.

E talvez, o fato de sua fissura estar maior e constantemente em progresso, fosse pelo fato de ainda ter memórias do vazio? Era provável. Mantendo suas memórias dava-lhe um maior contato com ele do que os outros, todo o conhecimento ainda preso em sua mente sendo um link para ser puxado. E não era como se simplesmente pudesse jogá-lo fora, apenas deveria esperar que o tratamento que Gaster sugeria pudesse dar resultados. Ela sabia que teria que mantê-lo por mais tempo do que qualquer outra pessoa, mas foi uma consequência, nenhum conhecimento vinha de graça afinal, pelo menos era permanente, a certo modo.

Um tanto cambaleante ela se levantou e seguiu Gaster para fora. Ele lhe ofereceu ajuda ou que ficasse deitada, mas ela recusou. Mesmo que tentasse descansar ela não poderia dormir ou então tudo ia retornar ao desastre de antes e seu quarto já não aguentava mais, manter-se deitada ia fazer com que sentisse sono e agora ele era perigoso. E outra, se não tivesse força nem ao menos para andar quer dizer que sua situação estava mais decadente do que originalmente imaginava e ela se recusava a aceitar isso, arrastando-se próxima a parede para ter um pequeno apoio, ainda assim indo sozinha.

Apenas para quando chegasse próximo a sala ter Sans e Chara para vir lhe apoiar. Bem, era sua chance de pedir desculpas a sua irmã, de qualquer maneira.

Gaster foi até Asgore e Toriel, ansiosos para saber qual era o problema de sua filha mais nova. Eles agarravam-se um ao outro, como se assim pudessem sustentar-se de alguma forma no meio de toda aquela crise. Sempre foram um casal muito próximo e meloso, enquanto muitos não compreendiam como Gaster e Miriam poderiam ainda estar casados com a forma apenas amigável a qual se tratavam em meio publico, Asgore e Toriel deixavam sempre evidente o amor e carinho que compartilhavam para que qualquer um pudesse ver. Para alguns poderia ser extravagante, para outros lindo, mas para eles era apenas natural agir dessa forma.

— Então? - Asgore perguntou, ansioso.

"Eu conheço o que ela tem, não me admira que a comida mágica não conseguiu resolver. É sério, mas sei como tratar, não se preocupem. Vocês tem sorte de ter uma garota forte para aguentar até aqui" apenas o fato de saberem que teria como tratar já era o suficiente para trazer um pouco de alívio para os rostos envelhecidos pela preocupação.

— Muito obrigado, meu amigo, muito obrigado mesmo.

"Era o mínimo que poderia fazer por um amigo como você, Asgore"

— E o que temos que fazer para esse tratamento? - Toriel questionou, ansiosa para finalmente ver sua filha poder descansar novamente.

"Não é complicado. Irei precisar que ela me visite algumas vezes, se não tiver problema. O que ela tem em sua alma só poderá ser tratado com magia em seu estado mais puro e a maior parte ela terá que fazer sozinha, mesmo que, posso dizer, tivemos sorte que meu filho tenha uma compatibilidade tão grande com ela."

— O que quer dizer com compatibilidade? - bem, Gaster não estava acostumado a um possível ciúme paterno por parte de Asgore, mas ele deveria ter esperado. Com um sorriso de canto, procurou explicar sem transparecer seu divertimento:

A magia de uma pessoa é quase como sua digital. Única em diversos aspectos, mas existem aquelas que, por algum motivo, tornam-se sincronizadas o suficiente para ser semelhantes, compatíveis, por assim dizer. O fato é, para fechar a fissura que Frisk tem em sua alma, ela precisará de um grande esforço de magia, Sans pode fornecer essa magia e ajudá-la tornando o processo bem mais fácil e rápido do que originalmente seria se Frisk fosse forçada a fazê-lo sozinha. Como um exemplo, se eu tentasse forçar minha magia em sua alma sem que, pouco a pouco, ela fosse se acostumando com ela, ela seria repelida e poderia causar dor, por não ser compatível, com Sans esse não seria o caso, sua magia age quase como a dela e facilmente poderia ser aceita por sua alma." Gaster deu uma pequena conferida onde seu filho se encontrava, constatando, sem realmente duvidar, que ele não parecia ter qualquer incomodo quanto a ajudá-lo nesse tratamento. Parecia já bem próximo a garota, isso se interpretasse bem o vermelho em seu rosto. "Apenas tenho um conselho a vocês. O que Frisk tem é facilmente influenciado por seus sentimentos. Situações de estresse podem prejudicar no tratamento. Sei que é quase como pisar em ovos, mas o quanto mais evitarem situações que a deixem sentimental e psicologicamente instável, melhor será. Qualquer variação podem acelerar a degradação de sua alma."

Asgore e Toriel se encararam, apreensivos ao começo, então determinados ao final. Eles estavam decididos que fariam de tudo para que sua filha pudesse se sentir melhor.

— Compreendemos, Gaster. Tomaremos cuidado. - Asgore disse com firmeza. Ele ergueu o olhar para o pequeno grupo próximo ao corredor, concentrando-se principalmente na pequena morena que mantinha-se apoiado no albino a seu lado, olhar visivelmente cansado, quase não conseguindo manter-se em pé, apesar de insistentemente querer aparentar que estava bem. Ela então percebeu seu olhar, retornando-o com um ar de desculpas.

— Sinto muito pelo quarto. - ela chiou, voz rouca como aparentemente estava acostumando-se a ficar por conta de toda a gritaria que aprontava quando estava dormindo. - Prometo que vou concertar.

— Minha criança... - Toriel chorou, correndo para onde a pequena estava, apressadamente abraçando-lhe com força enquanto Sans se afastava para dar espaço, tentando de alguma forma conter o pequeno sorriso que lhe queria surgir.

— Você está proibida de usar sua magia, Frisk. - Asgore proclamou, autoritário. Frisk surpreendeu-se, desde os braços de sua mãe encarando seu pai com os olhos bem abertos.

— Mas...

— Sem mas. Está proibido até a ultima ordem. Sua saúde é prioridade, o quarto podemos deixar para depois, por enquanto concentre-se em melhorar.

E a discussão foi encerrada, não era como se pudesse realmente prometer que não usaria sua magia. Frisk deixou encoberto o fato de continuar a fornecer, mesmo em seu estado, magia para sustentar suas coisas no porão. Ela negava-se a abrir mão do que tinha lá, suas memórias preciosas sobre outros momentos no tempo. Suas anotações e fatos sobre outros universos eram importantes, por mais que pudessem ser perigosos se fossem descobertos.

O começo de outubro, seguindo para o meio de novembro, Frisk fez constantes visitas aos Skeltons para seu suposto tratamento, nada muito diferente do que inicialmente teve que fazer quando descobriu sua magia pela primeira vez. Sans posicionava-se a sua frente no sofá, o lugar onde escolheram para fazer a sessão, Gaster os orientando em todo o processo inicial, totalmente atento a qualquer mudança que exigisse sua intervenção. Em seguida ela deveria deixar sua alma novamente exposta, flutuando entre suas mãos, mesmo que inicialmente senti-se incomoda com expor a terrível mancha negra que continuava a crescer no vermelho vivo de sua alma, ainda assim prosseguiu. Sans, por sua vez, colocaria suas mãos sobre a dela e, simultaneamente, forçariam a magia a empurrar a enorme rachadura de anti-magia, ocupando o espaço. Quanto mais magia fosse produzida ou importada para a alma, mais o acumulo de anti-magia seria forçado a diminuir, contudo, não poderia empurrá-lo de uma vez, seria arriscado de mais e a alma em questão poderia não suportar a mudança brusca depois de tanto tempo a gerir ambas as formas de magia.

Não era como se Frisk, também, precisasse ir rápido com o tratamento. A alma de Sans tinha um efeito calmante na sua, naturalmente, talvez por conta da fusão que fizeram em suas almas em uma linha do tempo anterior. Seja como for era mais fácil para ela dormir ou descansar quando estava a seu lado, então não se importaria de vê-lo, mesmo que fosse algumas vezes na semana, para não dizer do sentimento já aflorado e que adorava incomodá-la sempre que encontrava-se perto dele, intensificado pelo mesmo motivo de se sentir tão segura em dormir a seu lado.

Ser uma garota apaixonada era uma dor de cabeça.

Olhando pelo lado positivo, porém, ela não tinha mais que percorrer todo um caminho para aproximar-se dele. Os mesmos sentimentos de atração os quais ela sentia ele também tinha. Ele próprio sentiu a curiosidade de se aproximar, a naturalidade da confiança mútua ao instante, o desejo de estar perto e ser mais do que apenas um amigo. Ainda não havia pulado para o estágio de namorados, eles nunca fariam isso ao início, Sans precisava se acostumar com a atração estranha e sentimentos novos tão abruptos e confusos no começo já Frisk, agora, estava muito cansada com sua alma em tal estado para preocupar-se com um possível relacionamento ou qualquer coisa parecida. Ela apenas deixou que fluísse, levada pela maré.

Ela decidiu, porém, que não voltaria para a gangue daquela vez. Seu estado era muito frágil e enquanto não recuperasse suas noites de sono e o controle de sua magia deveria evitar locais que constantemente afetariam seu psicológico ou emocional. Principalmente começando já sendo amiga de Sans e um possível alvo para Ralph, ela não poderia arriscar tanto, apenas pioraria a situação, Gaster mesmo havia avisado que quanto mais pressão emocional colocasse em sua alma, mais a Anti-magia aproveitaria para crescer.

Então Frisk tentou, da melhor forma possível, formar um bom convívio com o que tinha. Pap sempre seria um amor de pessoa, assim que soube que estaria visitando sua casa por conta de um suposto tratamento o qual seu pai não quis entrar em detalhe, mas tinha sido informado que precisava de toda a tranquilidade, calma e cuidado possível tinha-se colocado como o responsável de cuidar dela enquanto esteve lá. Deu-lhe as melhores comidas balanceadas para doentes, bem nutridas e com um pouco de sua magia de cura, esteve a seu lado para conversar e entreter-lhe, a fez sentir-se acolhida e em casa mesmo quando Sans ou Gaster não estava e ela deveria esperá-los. Estar com ele era como estar com seus irmãos e Frisk sempre o considerou como mais um de sua família, mais um irmão mais velho. Afinal, toda sua família era estruturada não a base do sangue, por que não acrescentar mais um membro então?

E foi mais fácil, por assim dizer, juntá-lo a Mettaton. Era evidente, afinal, para que qualquer um visse, que Papyrus tinha uma enorme admiração e atração por Mettaton. E, como todos já sabiam, Frisk era uma conhecida e grande amiga da estrela de televisão. Colocar os dois juntos, como provado em outras linhas do tempo, não era nada complicado.

— WOWIE! VOCÊ REALMENTE CONHECE A GRANDE ESTRELA METTATON?! - o mais novo dos irmãos havia exclamado, olhos brilhando em empolgação quando Frisk soltara o comentário em uma de suas diversas conversas sobre seus shows. Divertida, a garota assentiu, levando a boca mais um pedaço da saborosa torna a qual Pap havia feito, receita pega de Toriel. - WOWIE, SINTO INVEJA! COMO ELE É? QUERO DIZER, AO VIVO? É TÃO INCRÍVEL QUANTO NA TELEVISÃO? QUERO DIZER, ELE É SEMPRE INCRÍVEL, MAS DEVE SER AINDA MAIS INCRÍVEL AO VIVO! E COMO CONSEGUE VÊ-LO? SUA AGENDA DEVE SER LOTADA! COM TODOS OS SHOWS QUE TEM QUE FAZER QUASE NÃO DEVE ESTAR NA CIDADE!

— Na verdade ele passa grande parte do tempo em Ebott, algumas vezes grava até no estúdio que tem aqui. Não era muito bom, mas ele fez questão de investir nele. Mas é verdade que ele viaja muito, passa meses viajando para outros países. - Frisk comentou, sorrindo ao ver os pulinhos animados e curiosos que Papyrus dava sentado ao sofá. A televisão tinha sido esquecida ligada enquanto conversavam. Sans ainda não tinha chegado ao igual que Gaster, provavelmente concentrados no trabalho. - E, respondendo a suas perguntas, eu diria que ele é... Excêntrico, não muito diferente do que você vê em seus shows. De acordo com ele "não tem o que mudar na perfeição".

— WOWIE! CONHECER ALGUÉM TÃO GRANDE! ACHA QUE PODE ME APRESENTÁ-LO ALGUM DIA?! - o rosto de Pap estava iluminado, apesar do pequeno rubor em suas bochechas pela vergonha do que tinha perguntado. Frisk abriu o maior sorriso que poderia dar, tendo esperado todo esse momento para ter a oportunidade de sugerir tal encontro.

— Mas é claro, Pap! Eu mesma não o vejo já faz um tempo por conta do problema que estou tendo esses últimos meses, mas assim que estiver melhor e com permissão para sair eu irei apresentá-los, garanto!

Dizer que Papyrus estava animado era um eufemismo de marca maior. Era bastante fácil compará-lo a uma criança no natal ou em sua festa de aniversário e foi, simplificando, adorável. Mesmo que Frisk não tivesse as experiências de linhas do tempo passadas ela facilmente poderia dizer que Mettaton cairia perfeitamente em seus encantos. Uma pessoa tão simples, era complicado imaginar Papyrus sendo odiado por alguém, mas sempre existiriam pessoas que simplesmente não queriam conhecer outras e as julgavam simplesmente pelo que queria ver. Ela ainda tinha algumas perguntas sobre ele, detalhes os quais não se havia aprofundado até então, mas poderiam esperar. Assim como descobriu, lentamente, os de Sans, ela poderia aprender sobre Papyrus.

Sans chegou poucos minutos depois, ainda deparando-se com seu animado irmão a zanzar pela casa. Mesmo que ele sempre fosse demasiadamente extrovertido e bastante empolgado em fazer o jantar, seu estado era exaltado de mais para ser simplesmente isso. Aproximando-se de Frisk, jogando-se despreocupadamente no sofá, um dos braços ao redor de seus ombros enquanto ela aconchegava-se a seu lado, como toda vez acontecia quando estavam juntos, ele questionou:

— Eu perdi alguma festa? - seus olhos ainda acompanhavam seu irmão que, até então, em toda sua euforia, não havia notado que havia chegado. Seu pai ainda manteve-se no laboratório por um tempo, resolvendo alguns detalhes antes de sair. Foi outros dos pontos positivos de ter Frisk em sua casa algumas vezes por semana, Gaster deixava o trabalho um pouco mais cedo, ou seja, dentro de seu horário normal.

A garota, por usa vez, riu.

— Apenas prometi que o apresentaria a seu ídolo. - respondeu a morena apoiando a cabeça no ombro de seu companheiro enquanto erguia os pés para cima do sofá a abraçar os joelhos. Mesmo que a fissura de sua alma pouco a pouco estivesse melhorando e seus pesadelos, junto aos sentimentos ruins, diminuindo, estar com Sans ainda era refrescante. Era como um oásis em meio ao deserto, finalmente conseguindo respirar corretamente. 

— Não me diga que é com aquele ser extravagante que ele gosta de ver na televisão. - o albino franziu o cenho em desgosto e, mesmo que Frisk não pudesse vê-lo por manter-se de cabeça baixa e olhos fechados a escutar as batidas de seu coração, ela ainda sorriu.

— O próprio.

— Devo me preocupar? - ele abaixou o olhar para a garota, amolecendo por completo ao vê-la tão tranquila. Ele não poderia descrever ao certo como era o sentimento que lhe preenchia ao vê-la tão cômoda ao seu lado e apenas a seu lado.

— Me recorde a idade de seu irmão. Com toda sua superproteção acho que me esqueci. - debochou Frisk, recebendo, para seu agrado, o vibrar do peito do rapaz por conta de sua gargalhada.

— Vinte e dois, mas não importa o quanto ele cresça, sempre vai ser o meu irmãozinho.

— Vai ficar tudo bem, Sans. Mettaton pode parecer um pouco louco, mas não é uma pessoa ruim, prometo deixar claro o que vai acontecer se ele fizer algo a Pap.

— É uma promessa, Sweetheart.

Eles se acomodaram juntos para ver a televisão, qualquer coisa que estivesse a passar, Frisk quase cochilando e Sans mais concentrando no calor que o corpo dela transmitia ao seu do que nas imagens a sua frente. Gaster chegou meia hora depois, Sans foi forçado a acordar Frisk de seu breve cochilo para que começassem a cessão, em seguida Frisk iria para casa com Asriel, que voluntariamente se ofereceu para buscá-la todas as vezes.

Outra proximidade, bastante inesperada em sua opinião, que ocorreu depois desse pequeno problema em sua alma, foi com Gaster. Ele parecia ter visto a sinceridade em sua curiosidade sobre o assunto de magia e instantaneamente começou a explicar-lhe alguns conceitos os quais, provavelmente, eram dados como errados nas escolas. E nisso divergiram para outras matérias que consequentemente os levaram a assuntos triviais ou até mesmo pessoais. Ele era um homem que sabia muito, aparentemente desde pequeno foi assim, com uma sede por conhecimento que não poderia ser contida ou medida. Chegou a pensar em dar aula, pois seu amor por saber era apenas comparado ao que tinha por ensinar e repassar o que sabia, contudo, desistiu da ideia ao perceber que sua personalidade não seria adequada para tal e ter sido prendido pela área da pesquisa.

Frisk sempre foi uma pessoa que gostava de escutar histórias, principalmente de mais velhos, muitas vezes tinha perguntado sua mãe ou seu pai sobre suas histórias de faculdade e Gaster era um homem que tinha a necessidade, de alguma forma, falar sobre seu passado, principalmente sobre sua esposa, a qual, aparentemente, tinha sido importante em sua vida. Ele apenas era introspectivo de mais para realmente ser motivado a tal. Frisk apenas deveria ter-lhe demonstrado que, com ela, ele tinha toda a liberdade para falar e o assunto transcorreu naturalmente.

Ela nunca imaginou que tal situação desconfortável poderia guiar-lhe exatamente para o que havia procurado na ultima linha do tempo. E quem realmente poderia dizer que aconteceria assim?

Foi apenas em janeiro que Frisk realmente teve a autorização de Gaster para sair de casa. Como, em seu estágio avançado, deveria evitar estresse, quanto mais se mantivesse em um ambiente controlado, melhor seria. Toriel havia informado a escola sobre o problema e durante todo o tempo em que Frisk se manteve afastada foi colocada para fazer determinadas atividades entregues pelos professores, apesar de cansativo, estudar não era estressante, principalmente depois que já o havia repetido diversas outras vezes e sabia o assunto quase de cor, para não dizer já tê-lo decorado. A escola, em si, começaria na semana seguinte, mas a garota já tinha aproveitado para rever seus amigos.

Mettaton estava deveras animado, quando foi informado que sua pequena amiga estava doente ele se manteve preocupado durante todo o tempo, ansioso para ter boas notícias. Ele aceitou, alegremente, o encontro com Frisk e um novo amigo o qual ela tanto havia falado por telefone com ele.

Apesar de que, com muitos deles, tivesse mantido o contato, tanto por computador como por celular, nada era comparado ao encontro real, onde poderia ser abraçada e mimada por cada um deles.

O único verdadeiro porém de ter retornado a um ambiente conturbado é que nem sempre as pessoas levariam em conta sua situação, pelo contrário, se aproveitariam dela. Frisk já deveria ter isso em mente, contudo, estar envolvida o tempo inteiro pelo aconchego de quem ama talvez a tivesse distraído. O fato era, escola, apesar de ser o primeiro local onde começava suas amizades e contato com a sociedade, podia ser o lugar mais cruel que poderia se encontrar. E nem sempre por conta de todas as pessoas em si, bastava um pequeno grupo, uma ou duas, para fazer de sua vida, emocional, psicológica e até mesmo física um inferno!

Porém, Frisk sabia lidar com o assunto, desviar nunca tinha sido um problema e ignorar sempre parecia ser a melhor solução. Ainda assim, existiam momentos em que não dava para escapar e eles arrumariam um jeito de te encurralar.

Seus professores tinham sido alertados, junto a direção da escola, sobre o problema. Eles sabiam que deveriam ter cuidado com seu estado delicado e que, qualquer mudança, imediatamente deveriam enviá-la de volta para casa. Frisk não gostava de todo esse zelo e atenção, ela sentia que só o vaziam porque seu pai era o prefeito e não queriam estar mal com ele. Quem conhecia Asgore sabia que ele não exigia favores ou abusava de sua autoridade, contudo, por conta do próprio preconceito com relação a seu cargo elevado e suas condições, tanto sociais como financeiras, era de se esperar que tivessem pessoas que procurassem algum tipo de benefício ao fazer alguns favores. Ela não culparia seu pai, ele fazia o que queria fazer de sua vida, mas não significava que não quisesse dizer umas poucas e boas para as pessoas com tais pensamentos frívolos e corruptos.  

Depois diziam que apenas as classes mais altas eram o problema. Os únicos hipócritas. Seres humanos eram terríveis, Chara tinha razão.

Mas e quando estava fora da escola? Quem realmente poderia garantir que não seria abordada em sua volta para casa? E quem se daria ao trabalho disso? Por uma única pessoa?

Não se sabia bem o que poderia passar na cabeça daqueles determinados a atormentar, mas uma coisa era certa: quando marcavam um alvo, era complicado deixá-lo fugir. E talvez, exatamente pela hipocrisia citada a cima de pessoas "menos favorecidas", elas tivessem o interesse desesperado de atormentar aqueles com "melhores condições", não exatamente querendo reparar se a pessoa era realmente de mau caráter ou não. Eles apenas tinham essa intenção por si mesmos.

E tudo bem, Frisk tinha um "status" social por ser filha do prefeito e, sim, ela estava a ter a atenção dos professores e o cuidado deles depois que voltou para a escola, para não dizer que ela também não era uma pessoa popular, e nunca quis ser, forçar amizades não era muito sua atividade preferida, ela gostava dos poucos que tinha e não abria mão, mais de uma vez provaram ser verdadeiros, seja nas notas extras que Blooky lhe fez ou nos insistentes relatos do que se passavam na escola feitos por Tinn, sem que nem ao menos tivesse pedido. Ela não pediu por privilégios e não gostava da maior parte da elite da cidade que achava que poderia conquistar todo o mundo sendo que nem ao menos tinha a decência de ter seu dinheiro honestamente. E ela sabia por já ter feito parte de uma gangue e os podres que desvendou estando lá poderiam facilmente preencher toda uma edição de jornal, para não dizer de enviar mais do que um para a cadeia.

Mas a ignorância era um benção! Querendo ser ou não ela sempre seria a justificativa perfeita para um ato de vandalismo, para abusos, qualquer erro poderia ser justificado pela ignorância sobre o assunto, mesmo em uma era tão modernizada. E eram exatamente essas pessoas ignorantes que facilmente eram manipuladas por aqueles que tinha a lábia para falar, convencer.

Entremos no exemplo de Frisk: Ela havia machucado um grupo de estudantes com "sua terrível magia" e não recebeu nenhuma punição. Faltou diversos dias de aula depois, recebendo o privilégio de ter seus deveres enviados para sua casa e trabalhos avaliativos no lugar das provas que outros estudantes eram forçados a fazer. Agora ela retornava, como se nada tivesse acontecido, com a desculpa esfarrapada de estar "fragilmente doente", tendo a proteção de não apenas os professores, como a direção da escola, cuidado digno de uma princesa, só porque era a "filha do prefeito". Deveria ter mentido a doença, deveria querer abusar de seu poder, ser melhor que os outros, nunca tinha ido realmente com sua cara, esse doce rosto de anjo não enganava ninguém. Era mais uma mimadinha a qual achava que tinha direitos maiores que os outros, apenas porque o "papai" era importante, nem ao menos sangue dividiam!

As pessoas não queriam saber a verdade. Elas insistiam em descontar suas frustrações e inveja naquilo que lhe era mais fácil. Frisk foi apenas o alvo da vez, mas poderia ter sido facilmente outro. Poderia ter sido a pessoa mais pobre, poderia ser a pessoa de classe média, poderia ter sido negro, branco, asiático, poderia ter sido qualquer um. Desculpas sempre surgiriam para acusar alguém, sem saber os "comos" e "porques".

Julgar era apenas tão fácil.

O bulling era simplesmente tão clichê que já havia perdido a graça. Mas acontecia com mais frequência e sem qualquer critério do que realmente poderíamos imaginar.

A ocorrência havia se passado durante a tarde, depois de quase uma semana de volta as aulas, quando Frisk tinha se despedido de seus amigos desde Muffet para então, enfim, retornar para casa. Ela tinha recusado a companhia de seus dois amigos para retornar, eles teriam que andar muito mais se a acompanhassem até em casa e ela não via problemas em retornar sozinha, afinal, desde a loja de Muffet até onde vivia não levava muito tempo, o que poderia acontecer?

Deveria faltar apenas mais um quarteirão quando alguém saltou a sua frente, sobressaltando-a um pouco por estar concentrada de mais a desfrutar de seus doces. Em seu salto para trás trombou com outra pessoa e, antes que pudesse realmente reagir, estava cercada. Todos, reconheceu, sendo algum colega de classe. Pessoas as quais nunca em sua vida pensou que, de alguma maneira, iriam se interagir com ela. Figurantes em sua vida, por assim dizer.

— Olá, Frisk. - o que inicialmente havia saltado a sua frente cumprimentou, sorriso debochado em seu rosto já indicando que, o que quer que quisesse não era agradável. O estomago de Frisk revirou-se e os sentimentos ruins já começaram a borbulhar em seu interior. Sem responder, ela tentou se afastar de sua aproximação, mas às suas costas encontrava alguém para barrar-lhe o caminho. E ela estava proibida de usar magia, será que poderia lidar com isso apenas com a agilidade que tinha? - Fazia um tempo que não te víamos pela escola. Pode nos dizer o que aconteceu?

— Problemas de saúde. - ela resmungou, olhos a observar ao seu entorno com certa inquietação. Ela precisava manter seus sentimentos sob controle, manter-se calma, não poderia piorar todo o progresso que tinha tido com aqueles meses de tratamento. Droga, ela seria mandada de volta a seu isolamento domiciliar se acontecesse.

— Oh, sério? Você não parece mal. Quer dizer, basta olhar para você, toda alegre com seus amigos, se divertindo como se não tivesse agredido um grupo de estudantes apenas no começo do ano letivo, não é? - debochou, tão ironicamente que mesmo Papyrus, tão alheio a essa forma de linguagem, teria entendido. - E como se não bastasse não ter sido punida nem um pouco, ainda está sendo protegida por todos os professores. Talvez ser filha adotiva do prefeito não deve ser tão ruim assim, não é? Quero dizer, olhe Chara! Toda pomposa achando que comanda a escola, deixando todos com medo. Tenho certeza que foi ela mesma que espalhou os boatos, duvido que sejam verdadeiros - apenas esperemos que ela não o escutasse dizendo isso, ou então Frisk teria certeza que alguém não iria a escola definitivamente depois. - Mas pelo menos sabemos que ela não se esconde atrás da imagem do pai para fazer qualquer coisa, não é?

Bem, nem Frisk, mas aquelas pessoas não queriam saber. Elas estavam convencidas e não mudariam de ideia, mesmo com fatos e provas. E não era também como se aquilo, normalmente, afetasse Frisk. Ela sabia quem era e seu caráter, sabia que não usaria de seu pai para ter qualquer privilegio e as verdades por trás dos boatos que muito provavelmente estavam rolando sobre ela e suas condições, distorcidos e modificados para agradar a quem queria ouvir. Contudo, da forma em que estava, com sua alma do jeito que estava, qualquer indício de pensamento negativo que pudesse, por ventura, chegar a lhe aparecer pela mente, mesmo que por alguns segundos, seriam usados para aumentar os sentimentos negativos e assim o tumor de anti-magia. E, consequentemente, traria a tona o descontrole de sua magia.

Frisk precisava chegar em casa.

— Olha, eu realmente não estou afim de esclarecer nada, acreditem no que quiserem, mas podem, por favor, me deixar chegar em casa? - era muito a se pedir, afinal. Parecia até mesmo ter dito algo ridículo pelas gargalhadas que recebeu como resposta. Não estava sentindo-se muito bem...

— Por que não fica para conversarmos? - a pessoa que antes encontrava-se a suas costas passou para seu lado, apoiando um dos braços em seus ombros. - Mostre para nós sua magia, como bateu nos outros alunos. Deve ser muito legal.

— Estou proibida de usar magia, então se me dão licença. - Frisk tentou escapar dos braços que envolviam seu ombro, dando curtos e apressados passos para frente, determinada a ir embora. Suas entranhas já se agitavam, o mal estar começava a incomodar mais do que deveria, poderia muito bem sentir os sentimentos ruins aflorando como pragas em uma plantação, tão rápidos e fáceis de brotar quanto qualquer outra cultura.

Com um puxão, porém, ela cambaleou para trás, caindo sobre um dos seus agressores que prontamente a segurou pelos braços. Ainda assim, mesmo que seu corpo ainda não tivesse se recuperado das noites mal dormidas, que ainda persistiam mesmo com a melhora, levariam um tempo para se tranquilizarem por completo, ela ainda era capaz de se defender, pelo menos um pouco. Bastou um movimento rápido e estava fora do agarre, apressando-se para um brecha que encontrou entre o grupo, pronta para correr. Entretanto, eles estavam em quatro e ela era apenas uma com uma alma em degradação, corpo cansado e incapacitada de recorrer a magia. Bastou um puxão em seu cabelo e uma perda de equilíbrio para que ela se encontrasse no chão.

— Por que está fugindo da gente? Vamos! É só uma demonstração! Não é como se algo de ruim pudesse acontecer com você, afinal, é a filha do prefeito, não é? - um deles provocou, Frisk não conseguiu ver exatamente quem era.

— Eu só quero ir para casa. - chiou, tentando levantar-se novamente, apenas para ser frustrada por mãos em seu ombro, empurrando-a para o chão de novo. Por que nunca tinha alguém na rua nesses momentos para ajudar?

— Não seja uma estraga prazeres, estamos tentando nos divertir, de graça! Não é como seus amiguinhos fajutos. Quanto pagou a eles para que pudesse se passar de pobre nerdizinha? O que prometeu dar a eles para que fizessem seus deveres e você pudesse dar uma de espertinha? Por que, claro, uma pessoa bonitinha e rica como você definitivamente não poderia ter feito tudo isso sem algum segredo sujo por trás. Foi professores particulares? Quantos benefícios a mais você tem? - as lágrimas se acumularam no canto de seus olhos. Ela não queria chorar, mas os sentimentos de ressentimento, tristeza e revolta acumulavam-se de mais para conseguir evitar tais reações de seu corpo. Ela nem ao menos conseguia mais abrir a boca. - Vai chorar agora?! Não vai nos convencer! Pode ter esse rostinho de anjo, mas a nós não engana. No entanto, vamos ser bonzinhos com você. Para ir para casa tudo que tem que fazer é garantir que os professores nos deem notas boas, assim como sabemos que você faz toda vez. Bem simples não? Moleza para alguém como você.

E foi a gota d'água. A revolta transformou-se em raiva e de raiva rapidamente passou para fúria, bem próximo ao ódio. Ela nunca tinha realmente odiado nada, mas agora sentia-se tão perto de tal definição que sua magia simplesmente perdeu seu controle. Ela não viu exatamente o que fez, olhos ainda embaçados pelas lágrimas que começaram a cair sem qualquer retenção. Foi uma reação simplesmente natural, ela não tinha qualquer tipo de controle sobre suas emoções.

Ela não chegou nem ao menos a ver o que aconteceu em seguida, quem a salvou da autodestruição quando não existia ninguém por perto para ajudá-la. E foi realmente uma questão de acaso, ou talvez o fortalecimento de uma ligação a qual tinha sido montada por mera curiosidade, não teria como realmente saber. O fato foi que, prestes ao horário de sua saída do trabalho, pronto para seguir em direção a sua vida dupla, Sans sentiu um arrepio em sua espinha, forte o suficiente para sacolejá-lo de forma visível, tanto que mesmo Alphys, a seu lado, o encarou com preocupação. E, de alguma forma, ele sabia a que se devia.

Não precisava realmente pensar, ele apenas se teletransportou para o lugar, sem qualquer explicação para seus colegas, deparando-se com não apenas o concreto do passeio destroçado em formas estranhas, como uma boa parte do asfalto. Quatro adolescentes ao redor, assustados e tentando escapar, enquanto Frisk mantinha-se no centro da confusão, lágrimas reluzindo com a luz do entardecer e da magia que lhe rodeava. Não precisava ser um gênio para saber o que aconteceu e a fúria seria apenas um décimo das emoções que lhe preencheu.

Com sua própria magia, ele puxou os quatro ao redor, sem realmente preocupar-se se chegavam a ser atingidos por alguma matéria em transformação.

— Muito obrigado. Muito obrigado. - chiou um dos garotos, tão branco quanto papel. - Ela ficou louca de repente, pensamos...

— Cale a maldita boca. Eu não me importo com vocês, apenas trouxe aqui para saber quem foi o idiota desgraçado filho de uma puta que infernizou Frisk! - esbravejou, olhos queimando em magia, o branco desaparecendo para dar lugar a um preto profundo, destacando-se a íris reluzente. Os quatro que sustentava por sua magia engoliram em seco, mas mantiveram-se calados. - Se não falarem eu posso fazer pior do que a magia descontrolada dela, e acreditem, eu tenho coragem.

— N-nós... nós apenas queríamos a-alguns benefícios também... - um deles começou, completamente assustado.

— Carlos! - os outros chiaram em desgosto, provavelmente sentindo-se traídos, mas Sans não deu importância, sua concentração focada no único que parecia querer falar.

— E-ela é f-filha do prefeito e... E desde o c-começo d-do ano tem tido a-alguns privilégios... N-nos disseram q-que t-tinha forjado uma d-doença para ficar longe da escola por um tempo, j-já que t-tinha agredido u-uns garotos n-no começo das aulas. Ela é a filha do prefeito, uma riquinha, não devia ser nada de mais para ela!

E se Sans pudesse ficar com mais raiva do que originalmente já estava, definitivamente ele tinha estourado ali e agora. A ignorância realmente deveria ser uma dádiva, assim como um grande pecado. Mesmo que a pessoa tivesse forjado uma doença, o que parecia ser bastante comum em períodos estudantis, ou ter privilégios, não significava que você poderia simplesmente vir e apontar sem provas, acusar e atormentar como se todos os erros dessa pessoa, comprovados ou não, desse motivos para cometer tal ato de violência. Ele sabia que deveria ser o ultimo a poder julgar alguém, principalmente com o que já tinha feito, mas nunca tinha agido sem qualquer tipo de provas, nunca fez nada sem procurar saber o que exatamente estava acontecendo.

Sans poderia ser tudo, mas não era ignorante.

— Privilégios? Doença falsa? Vocês ouviram falar? Por acaso chegaram a ver qual dos boatos é verdadeiro? Perguntaram a verdadeira história? Tentaram saber a verdade? Ou simplesmente quiseram aproveitar disso para ter uma forma fácil de resolver seus problemas? Acharam que importunando uma pessoa, só porque ela possa ter cometido um erro o qual você não tem certeza, é certo? - Sans não tinha nem um pouco de paciência em lidar com esse tipo de pessoa. - A garota que vocês supunham ter forjado uma doença está realmente doente! Um tumor na alma, sabe o que é?! - o pequeno grupo negou rapidamente, assustados com o tom elevado do homem. - É basicamente ter sua alma degradada aos poucos! Sofrer com seus sentimentos em decadência, a magia sem controle! Pesadelos que são capazes de fazer você mijar em suas calças! Mas é muito mais fácil julgá-la por ser a filha do prefeito, não é?! A sorte de vocês que ela é prioridade, se não eu juro que seus pais nunca mais iam encontrar nem ao menos pedaços de seus corpos! Agora sumam da minha frente!

Largando-os ao chão para que fugissem com o rabo entre as pernas, Sans concentrou no que realmente deveria fazer, aproximando-se de Frisk com o coração na mão, preocupado. Tudo bem, seu corpo estava em melhores condições para usar magia, mas não significava que poderia continuar a usá-la de forma tão indiscriminada. Ele sabia que Frisk não estava ciente sobre ela, o fluxo apenas fluía como uma torneira aberta, com uma pressão muito mais forte do que o próprio registro era capaz de aguentar. Ele não sabia mais até quando ela poderia ir.

Usando de sua própria magia para controlar a dela ele se aproximou, cauteloso e ainda apressado. Sentiu o chacoalhar de sua alma, tão costumeiro quando estava perto, juntamente a um fiapo de dor, tristeza. Era quase como poder ouvir sua alma chorar por socorro, de alguma forma e ele estava odiando sentir isso, o link entre a sua e a dela tinha se tornado tão estreito com o tempo que, naquele momento, sua própria alma queria saltar para fora e consolar, unir-se com a dela. Era uma sensação tão estranha, tão nova, ele apenas se deixou guiar, encarando apenas ela e nada mais.

Quando esteve próximo o suficiente pareceu que apenas o contato de sua mão no ombro da garota foi suficiente para acalmá-la, toda a confusão mágica a seu redor se dispersando como se nunca tivesse existido, apesar de seus rastros grotescos marcando toda a rua. Ela o observou, sem realmente aparentar vê-lo, até finalmente cair no choro, não parecendo ter qualquer ideia do motivo pelo qual estava a chorar. Suas emoções deveriam estar uma bagunça e ele nem ao menos queria pensar sobre a fissura em sua alma.

Com todo cuidado a embalou em seus braços e carregou-a da melhor maneira que conseguiu. Apesar da casa dela ser a mais próxima ele tinha certeza que ela não gostaria que seus pais soubessem o que aconteceu, principalmente por ter sido liberada de casa recentemente. Ela já o havia confessado de se sentir sufocada com todos a tratando como se fosse de porcelana, que apesar de compreender o cuidado que tinham com ela não era como se fosse se partir a qualquer momento. Agora ele não poderia concordar com ela, embrulhando-a em seus braços, escutando seus soluços, era complicado não pensar nela como uma garotinha pronta a se quebrar em pedaços. Mas respeitava sua forma de pensar, dirigindo-se a sua própria casa em um teletransporte rápido.

Ele a deixou sobre o sofá, lutando com o agarre em sua jaqueta, tornando impossível afastá-la, mesmo que fosse apenas para sentar-se a sua frente. Ela choramingou e prendeu-se mais a ele, recusando-se a soltar, por mais que procurasse afastá-la. Não era bem por querer, ele precisava verificar sua alma.

— Frisk, por favor, coopere comigo. - pediu, mais calmo do que realmente estava, o mais delicadamente que conseguia tentando empurrá-la para que se recostasse no sofá, contudo, ela resistia, rosto ainda choroso bem escondido no peito amplo do rapaz, braços envolvendo-o com força, agarrando o tecido da jaqueta em suas costas o mais forte que conseguia, ralas unhas fazendo barulho ao arrastar pelo tecido. Ele suspirou, não sabendo qual sentimento deveria controlar primeiro, ele mal conseguia controlar os dela. - Frisk, eu preciso conferir sua alma, por favor. Eu não vou a lugar nenhum.

E ainda assim parecia que ela não queria escutar. Procurou então ajeitar sua posição, sentando-se sobre o sofá e deixando que ela se colocasse em seu colo, cada perna de um lado de seu quadril, envolvendo-o de uma forma não muito favorecedora para ele, porém, não era momento para escutar os apelos físicos de seu corpo. De alguma forma conseguiu afastá-la um pouco, o suficiente para que pudesse postar as palmas de suas mãos de cada lado de seu rosto, limpando suas lágrimas com o polegar, erguendo-lhe para que pudesse encará-lo, mesmo que a visão não ajudasse seu coração a manter a calma.

— Frisk, Sweetheart, olhe pra mim. Abra os olhos e olhe para mim, apenas para mim. - e ela obedeceu, relutante, finalmente acalmando um pouco da choradeira, concentração agora totalmente voltada para os olhos azuis que tinha a frente. Sans sorriu, um pouco mais calmo, ela estava começando a sair da nebulosa reação causada pelos sentimentos. - Isso, muito bem... Eu estou aqui, estou com você agora, não vou a lugar nenhum. - ela fungou, consentindo enquanto seus braços pouco a pouco relaxavam o aperto. - Vai ficar tudo bem, ta certo? Eu apenas preciso conferir sua alma e vai poder descansar. Pode mostrá-la pra mim?

E ele não soube exatamente descrever o que exatamente sentiu quando observou a alma que tinha a frente. Talvez algo muito semelhante a frustração, mesclada a preocupação e um tanto de fúria para com aqueles que haviam causado aquilo. Naqueles meses tinham conseguido diminuir a extensão do tumor para a metade, no entanto, agora, metade do que haviam curado tinha voltado a seu estado anterior. Ele sabia que, mais do que nunca, ele deveria manter a calma, apesar do constante desespero que lhe subia pelo que via, sua magia deveria estar sob todo seu controle para que não piorasse a situação, mas sim pudesse concertar. Sabia que não voltaria todo o trabalho que tinha feito antes, mas poderia adiantar um pouco, já poderia ser o suficiente para ajudar Frisk a descansar pelo menos um pouco.

Respirando profundamente, mente limpa e em branco, ele colocou as mãos entorno da alma, alguns centímetros dela, no pouco espaço que lhe cabia entre eles. Com um fluxo baixo, ainda considerável, de magia ele tentou empurrar o tumor mais uma vez. Dessa vez ele não teria ajuda de Frisk, ela não parecia estar em condições para concentrar-se em tal tarefa e ele percebia a diferença que isso fazia. Sua magia, apesar de grande, deveria vir em porções pequenas e por isso tornava o andar do "tratamento" lendo.

Não soube exatamente os minutos que se manteve a bombear magia, empurrando a mancha de anti-magia, apenas decidiu parar quando percebeu uma mudança visível. Não grande, talvez até mesmo sendo sua impressão, mas ele gostaria de ter esperança que havia funcionado. Frisk precisava descansar, ao igual que sua alma, então a deixou voltar, um tanto inseguro. Talvez devesse ter tentado um pouco mais? Teria ajudado de alguma coisa? Por que não chegou um pouco antes? E se não desse mais para reverter aquilo?

Seus pensamentos se perderam quando Frisk voltou a se acomodar contra ele, pernas ainda a envolver-lhe o quadril, rosto escondendo-se na curva de seu pescoço enquanto o corpo pregava-se ao seu, parecia que quanto mais contato ela tivesse com ele, mais confortável ela se sentia. E, apesar de todas as reações físicas que derivavam-se de tal contato íntimo com a garota que havia ocupado a maior parte de sua mente e alma, Sans não sentia-se incomodado, para ele, também, ter tal contato era confortável, apenas um tanto tentador. Seus braços a envolveram pela cintura, uma de suas mãos a acariciar-lhe as costas enquanto a outra fazia círculos com o polegar próximo ao quadril, embalando-a em um ritmo leve, cantarolado uma canção qualquer a qual conhecia.

Ele não sabia porque Frisk gostava tanto de ouvi-lo cantar, muito menos como ela sabia que ele sabia cantar, apenas supôs que seu irmão novamente tinha dado com a língua entre os dentes e a garota simplesmente quis matar a curiosidade, para apreciar depois. Ele não se considerava um bom cantor, mas se isso a ajudava a cair no sono, quem era ele para negar-lhe?

— Deveria deixar seu cabelo branco, ficaria melhor. - ela resmungou, bem baixinho, fazendo-lhe cócegas no pescoço. Uma de suas mãos brincava com os fios tingidos do rapaz. Quando ele apareceu em sua casa pela primeira vez eles estavam brancos, provavelmente por ter tido preguiça de retocar, mas novamente eles encontravam-se negros. Frisk gostava deles naturais.

— Um milagre ainda estar acordada. - zombou o rapaz em divertimento, tentando esconder o arrepio que lhe subiu pela coluna junto ao rubor em seu rosto. Apenas deveria torcer para uma determinada parte do seu corpo não despertar também. - E depois de tudo o que aconteceu o primeiro que você fala é sobre meu cabelo? Você é inacreditável, Sweetheart.

Ela se ajeitou sobre seu colo, tornando-o rígido por alguns instantes, sentindo o atrito de seu quadril com o dela. Pelos deuses, por que ele não poderia ser um pouquinho menos pervertido?

— Desculpe toda essa confusão. Depois de todo o trabalho que tivemos para diminuir esse tumor... Agora ele volta a crescer...

— A culpa não foi sua, Sweetheart. Não tem que se preocupar. - em uma tentativa de consolo, ele acariciou-lhe a cabaça, afagando os fios castanhos com carinho, tocando bem de leve a ponta dos dedos em seu rosto enquanto puxava os fios para trás. Ela suspirou.

— Não conta pros meus pais, por favor. - pediu, encolhendo-se um pouco mais em seu colo.

— Eles deveriam saber, Sweetheart. Pode se repetir.

— Eu sei, mas se eles souberem vão voltar a me deixar dentro de casa e eu já estava ficando louca de não poder sair. É insuportável só poder ficar olhando para o teto o dia inteiro.

— Apenas se me prometer que vai me contar se alguma coisa acontecer, qualquer coisa.

— Pensei que odiava promessas.

— Vou abrir essa exceção.

— Eu prometo Sans. - um pequeno sorriso se delineou em seu rosto, seu coração saltando dentro de seu peito com a alegria de tê-lo preocupado com ela. Poderia ser um simples pensamento de garota apaixonada, uma bobagem simples, mas era agradável. Saber que alguém se importava, que alguém estaria ali para ajudar. Frisk tinha certeza que todos seus amigos eram queridos, era fieis e se preocupavam com ela, e sim, sentia falta de Diana e Carl que foram tão importantes para ela, mas a sensação de ter Sans como aquele que estava a se preocupar com ela sempre seria especial.

Foi uma reação em consequência ao sentimento, abraçando-o com um pouco mais de força, aproximando-se mais. E, na posição em que estavam, obviamente alguma reação em troca teria.

— S-sweethart, eu sei que você pode estar bastante confortável, mas... Bem, digamos que para mantermos nossa relação como de apenas amigos eu sugiro que evite alguns movimentos. - ele comentou, voz um tanto engasgada e sem graça que deu Frisk um pouco de divertimento. Ela sabia muito bem o que ele queria dizer, mas quem disse que ela queria apenas amizade?

— O que quer dizer? - perguntou com inocência, novamente ajeitando-se sobre seu colo, queixo agora apoiado em seu ombro.

— Você sabe o que quero dizer, pare de me provocar. Eu sei que você sabe muito bem que eu não consigo te ver apenas como uma amiga ou uma irmã mais nova. Eu não quero apenas isso. - resmungou, braços a envolvendo com mais força, trazendo-a para mais perto, se é que era realmente possível. Ele não se importava mais com discrição, cuidado ou controle. Ela o estava provocando, ela queria também, então para que conter-se? Seu corpo e sua alma implorava por isso e, de alguma forma, ele sabia que os dela também. Mais um suspiro por parte dela e ele retornou a arrepiar-se. - Não me provoque se não quer o mesmo.

E Frisk adoraria deixar-se levar naquele momento, simplesmente jogar as cartas na mesa e esquecer que em algum momento aquele mundo poderia ser refeito, que ele iria se esquecer, que ela tinha uma degradação em sua alma que a arrastaria novamente para o vazio. O ali e o agora eram tentadores, mas ela estava cansada, o surto de magia tinha exigido de mais tanto de seu corpo como de sua alma e ela não poderia mais empurrar-se acordada por muito mais tempo.

Aconchegou-se onde estava, tentando ter o máximo de contato possível, olhos quase não conseguindo manter-se aberto.

— Talvez eu queira o mesmo. - sua voz não passou, talvez, de um sussurro cansado, manhoso e apagado, deixando-se cair no sono logo em seguida, corpo amolecendo contra o dele.

E droga, Sans foi mantido sem qualquer reação, respiração travada na garganta, atordoado e alegre. Mesmo que percebesse, de alguma forma, que talvez Frisk realmente não o visse como apenas um amigo, ter basicamente a confirmação falada era... era... Incrível! Aquela garota o deixaria louco, era verdade, mas ele não se importava de estar louco.

Com um enorme sorriso no rosto ele se deixou relaxar, acompanhando o ritmo da respiração da garota em seus braços até finalmente cair no sono junto a ela, embolados no sofá, abraçados a apreciar o calor um do outro. Papyrus chegou algum tempo depois de Sans ter dormido, deparando-se com a cena sem saber exatamente o que deveria pensar. Dando de ombros, não querendo meter-se na vida de seu irmão e de sua amiga, ele subiu as escadas, pegou uma coberta qualquer que encontrou no quarto de convidados e colocou-a sobre os dois, suspirando ao final.

Sim, seria legal ter Frisk como parte oficial de sua família, ele percebia o quanto seu irmão parecia mudar quando ela estava por perto, sua influência sendo tão benigna para ele quanto qualquer outra relação que ele já teve alguma vez em sua vida. Papyrus apenas temia que, se alguma coisa desse errado, duas pessoas tão importantes para ele saíssem machucadas. Não poderia escolher um lado, mas ele duvidava que tanto seu irmão como Frisk o fariam escolher e isso que tornava tudo pior. Ele poderia, apenas, torcer para que as coisas dessem certo no final.

Algumas poucas horas depois Asriel estava na porta, perguntando sobre sua irmã. O mais novo dos irmãos Skelton se sentiu um pouco mal em ter que despertar o casal no sofá, estavam tão embolados e presos um ao outro que ele pensava ser impossível separá-los sem que um ou outro acordasse. Ele chegou a tentar tirar Frisk do embolado de braços e pernas, mas acabou por despertar seu irmão que sonolento perguntou-lhe o que estava acontecendo, em nenhum momento soltando a garota que continuava a dormir sobre ele.

— O irmão dela veio buscá-la. - informou, apontando para a direção em que estava a porta. Bocejando, Sans assentiu, erguendo-se de alguma forma do sofá enquanto mantinha Frisk abraçada a ele, como uma criança a dormir contra o pai.

Quase como um sonâmbulo ele a levou até o irmão, de alguma forma dando-a para que ele a carregasse. Ela chegou a resmungou alguma coisa em protesto, agarrando-se a Sans como podia em seu estado de dormência antes de finalmente ceder, desabando nos braços do irmão, encolhida e tranquila.

— Alguma coisa que deva contar para ela ter vindo parar aqui? - Asriel perguntou, encarando o rapaz a sua frente com desconfiança, apenas para receber um aceno sonolento que não dizia nada em específico. Dando de ombros ele se foi, deixando que Sans voltasse a desabar sobre o sofá.

— VOCÊ PODERIA, PELO MENOS, IR PARA O SEU QUARTO, SANS! - Papyrus gritou desde a cozinha, recebendo unicamente como resposta um resmungo incompreensíveis.

Bem, esse era seu irmão.

No dia seguinte, quando Frisk voltou para escola, ela surpreendentemente deparou-se com aqueles que antes haviam tentado incomodá-la evitando-a como a peste. Ela supôs que deveriam achar que ela os deduraria para os professores, mas não parecia valer muito a pena. O dia seguinte veio, o próximo e o próximo e ela mantinha sua rotina, ignorando por completo o grupo que começava a estranhar sua falta de ação.

Sim, eles tinham lhe causado um problema enorme que poderia ter lhe custado a vida, mas ela também os havia assustado e, provavelmente, quase matado com o surto de sua magia. O que estava feito estava feito, dedurar não mudaria nada. Ela bem sabia que se tentassem de novo passariam pelo pior mal tempo de suas vidas.

Sans manteve sua promessa, mas o tumor ainda tinha muito o que ser resolvido e Frisk realmente não gostou da cara que Gaster fez ao perceber que uma parte do trabalho parecia ter sido regredido. Ela temia que ele, com suas próprias mãos, fosse resolver o assunto, provavelmente tendo adivinhado que teria sido na escola. Era impressionante com o quão próxima de uma filha ela estava começando a se tornar para ele, talvez por suas interações ou por sua proximidade com seus filhos, ela não saberia dizer, mas era mais um para protegê-la.

Ela não sabia se deveria sentir-se bem ou um tanto incomoda com isso.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que o titulo deve ter assustado alguns. "Pronto, agora ela mete a porra de um câncer na história pra fazer igual A culpa é das estrelas" Não gente, eu não mato personagens de doenças, mato eles com outros métodos mais sanguinários, mas vamos lá!
Espero que tenham gostado e aliás, notado as críticas próximas ao final, farei mais delas, adorei!
Até o próximo cap (já em andamento) e bye!