FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 29
Troca de Experiências


Notas iniciais do capítulo

Para os ansiosos em saber um pouco mais sobre o Sans, temos aqui um pouco mais de explicação. Peço também que sejam gentis em seus pensamentos quanto a ele, coitado, não é como se tivesse muitas escolhas.
Cara eu não acredito que tem vinte e nove caps... Cruzes é minha maior história postada até agora. Bem, se mais nenhum capitulo se dividir ela terá 66 capitulos no total, então vejamos o que temos mais para frente.
Aproveitem o cap!



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FusionTale - Troca de Experiências

— D-da o-onde você t-tirou isso, Sansy? S-sabe que eu nunca t-te t-trairia assim. - rosto empalidecido, gotículas discretas de suor acumulando-se em uma fina camada sobre a pele de sua testa, não conseguindo ainda afetar a camada de maquiagem. Olhos desesperados procurando manter-se focados aos frios azuis que tinha a frente, mesmo que instintivamente tentassem escorregar para qualquer outro canto, talvez a procura de uma rota de fuga ou apoio de alguém. Todavia, em momentos como aquele, ninguém queria enfiar-se no meio. - V-você me conhece Sansy. T-trabalhei p-pra você j-já faz três anos. C-como pode suspeitar de mim?

— Realmente, você trabalha para mim faz três anos. Mas parece que ainda não aprendeu o simples detalhe de que, quando eu aponto uma acusação, eu nunca faço sem provas. - o calafrio que percorreu o corpo feminino durante o breve período em que a voz fria retrucou seu comentário, preenchendo a sala silenciosa, não poderia ser realmente descrito em simples palavras. Qualquer um que estivesse ali, seja um simples novato como um veterano dentro da gangue, sabia, com a mais detalhada perfeição, o que seu atual líder era capaz de fazer, sem nem ao menos ter que testar-lhe a paciência. Ele deixava bem claro, diversas vezes, o que aguardaria para aqueles que quebrassem suas regras.

Mas isso não aconteceu de um dia para o outro. Sans precisou de dezesseis longos anos para mostrar, provar e demonstrar tudo o que era capaz de fazer, toda força que conseguiria ter. Um respeito construído com árduas lutas que colocariam sua vida a perder, mantendo-se quieto em sua coleira até o momento que finalmente tivesse a brecha para mostrar suas presas. Ali apenas sobrevivia o mais forte ou o mais inteligente para sobrepujar o mais forte em simples jogos nos quais detinha a vantagem. E para a sorte de Sans ele tinha os dois, tanto a inteligência como a força.

Arrastado para aquele mundo cruel com escassos dez anos ele observou, ele aprendeu, ele se fez de submisso durante onze anos. Onze anos com a focinheira e a coleira, sendo usado como um capacho para limpar a besteira de outros, forçado a fazer o que não queria, temendo que, caso recusasse, as consequências caíssem em seus familiares. Ele arrastou-se calado durante todos esses momentos aprendendo tudo que precisava aprender, fortalecendo-se, mostrando para aqueles que seguravam sua coleira que, se caso soltassem, a mordida que se seguiria não seria leviana. E então ele conseguiu. Subiu para o topo, detendo não apenas o poder de fogo, sendo uma arma humana, como também o poder político, de opinar e comandar. Jogou fora a focinheira e mostrou suas presas. Não mais ser manipulado, mas sim ser aquele que manipulava.

Todavia, por mais que a sensação de estar no topo fosse tão bem apreciada, ainda não era o que ele queria. Ele ainda não tinha paz. Um passo fora da linha, uma brecha que deixasse transparecer em seu poder e já seria o suficiente para tentar derrubá-lo e, assim, puni-lo por todo o problema que tinha causado. Obviamente não o matariam, porém. Sua força era cobiçada de mais para ser desperdiçada de tal maneira. O que realmente serviria como moeda de pagamento seria a vida de quem amava, as vidas as quais zelava para proteger.

Mas então, a maioria deveria pensar, ele era um assassino que poderia estraçalhar uma alma a sangue frio, sem remorso ou culpa. Pois esse mundo, essa vida, chegava um ponto em que, depois de tudo que você era forçado a presenciar, ele te endurecia. De dentro para fora você tornava-se uma pedra de gelo dura e firme, insensível, pois ser mole, ter piedade e compaixão apenas serviriam para que fosse pisoteado assim como um fino e fraco papel delicado. E, ainda que muitos realmente acreditassem que Sans fosse o primeiro caso, era uma versão completamente equivocada da realidade a qual apenas ele conhecia. Uma realidade a qual ele não queria mostrar a ninguém.

A verdade era que Sans tinha ficado especialista em demonstrar o que não era exatamente a verdade. Por fora ele tornou-se o homem frio o qual ele precisava ser para manter-se intacto, mas por dentro... Por dentro situações como essa a qual vivenciava naquele momento eram terrivelmente esmagadora para sua mentalidade já recheada pela culpa, auto-ódio e tristeza.

— Não dificulte as coisas, por favor. - ele suspirou, depois de breves momentos de silêncio. Braços cruzando-se na frente do peito enquanto apoiava o peso do corpo em uma das pernas, inclinando-se ligeiramente para o lado. - Seja sincera e acabe logo com isso, sabe que sei quando mentem para mim. Já foram encontrados o grupo que foi contratado para  interferir em nossa... Reunião de ontem. E o seu telefone foi aquele usado para se comunicar com eles e efetuar o acordo.

— A-alguém poderia ter pego m-meu telefone e u-usado para fazer a chamada... T-tentariam me incriminar. - refutou, visivelmente desesperada para encontrar uma brecha. E, pobre, não existia qualquer uma. Assim como Sans imaginava ela não tinha a mínima noção de como a magia poderia funcionar e como poderia ser extremamente precisa.

— Eu poderia muito bem acreditar nisso, no entanto, existem alguns detalhes que acabam completamente com essa possibilidade. Já ouviu falar, Betty, que mesmo uma alma incapaz de fazer algum tipo de mágica visível, ela ainda precisa da própria magia para se manter inteira? E que, assim como tudo que foi criado pela natureza, ela faz trocas constantes com o meio? Sendo assim, mesmo um pequeno aparelho celular, poderia ter uma marca característica dos tipos de magia que o usam recentemente ou constantemente. E, por fim, existem pessoas especializadas em identificar e separar esse tipo de magia. Interessante não? - Betty tinha começado a tremer, seu medo bem exposto não apenas em suas feições, como também em seus olhos e no movimento agitado de seu corpo. - E para seu azar, foi exatamente um desses especialistas que conseguiu ligar você ao telefone e, por fim, ao grupo de atiradores.

— B-bem... E-eu...

— E até entenderia se tivessem mirado na Rainha de Copas, juro. Eu mesmo adoraria vê-la morta, principalmente se for por minhas próprias mãos, mas sabe... Frisk não estava nem um pouco parecida com ela naquela madrugada. - toda a frase havia se iniciado em um tom alegre, compreensivo, como se estivesse dentro de uma palestra. No entanto, com o decorrer das palavras e do assunto seu tom foi esmorecendo, caindo para um que poderia ser facilmente comparado com um ameaçador ao chegar ao final de toda a sentença, olhos, que antes mantinham-se a divagar para qualquer canto da sala, ao final do discurso, desceram predatórios para a garota encolhida não muitos passos distante. Betty chegou a soltar um chiado rouco, engasgado, encolhendo-se em si mesma por conta do medo. - Mesmo que realmente tivessem atirado na Rainha Vermelha, teria sido uma enorme dor de cabeça, afinal, os Navalhas não deixariam barato a morte de sua rainha e, eventualmente, assim como eu, descobririam quem foi. Mas ao invés de mirar em uma inimiga, você mira em uma aliada. Por que? O que você ganharia com isso? Você sabe, depois de tanto tempo trabalhando comigo, que eu sempre descubro o que aconteceu. Então o que faria valer a pena tanto o risco? E não me diga que é sobre a rixa entre vocês duas, seria ridículo de mais até mesmo para você!

Ele não chegou a mencionar como descobriu, quem era o especialista ou como conseguiu fez tudo tão rápido, principalmente porque dessa ultima pergunta ele não tinha uma resposta. Chara tinha seus meios e, apesar de curioso, agora ele não se preocupava em saber quais eram. Não tinha a necessidade de nenhum dos presentes saberem seus métodos de conseguir informações, sua palavra sempre seria a ultima a decidir quem seria o culpado.

Com o silêncio do lugar, porém, era possível escutar o mínimo ruído que chegasse a ser emitido em qualquer canto do lugar. Mesmo uma vagarosa porta a se abrir, com suas dobradiças rangendo em um tom fraco, junto ao leve clique que se fazia ao fechar, poderia ser identificado e chamar a atenção. Sans apenas ergueu um pouco seu olhar para observar os recém chegados, encontrando-se com o sorriso de escárnio de quem parecia saber perfeitamente o que acontecia. E era um dos vários motivos pelos quais ele odiava Ralph. E isso porque ele não fazia nem um ínfimo esforço para esconder o que sabia de Sans, desafiando-o sempre que podia.

Aquele sorriso de quem planejou, debochando de sua posição, sabendo perfeitamente que odiava fazer o que devia fazer, desafiando-o a dar para trás. E por mais que desejasse, com todas as suas forças, aceitar tal desafio ele sabia que não poderia, pois poupar naquele momento era o mesmo que dizer que alguém tinha privilégio sobre suas regras, era mostrar que elas não tinham importância e dar total liberdade para outros fazerem o mesmo. O único que ele se via obrigado a fazer era seguir em frente, manter-se firme, mesmo quando tudo que mais desejava era desmoronar.

— Mas quer saber? Isso não importa. Você quebrou uma regra e tem que pagar, você sabe disso, não é? - a magia fluiu por seu corpo, ele poderia sentir. A garota a sua frente, por sua vez, congelou em uma expressão de terror, olhos arregalados com lágrimas a beira de cair, seu corpo tremendo como uma folha ao vento, todo o sangue deixando seu rosto, tornando-o pálido como o leite. - Agora vamos lembrar a contagem. Hum... Não é seu ultimo strike, Betty?

A mulher engasgou em um respirar mais profundo de surpresa e medo. Bastou tal constatação para que sua falta de reação fosse deixada de lado, o corpo voltasse a se mover para jogar-se a frente, caindo sobre suas mãos e joelhos enquanto os olhos derramavam todas as lágrimas que podiam, borrando a maquiagem que tão perfeitamente tinha sido mantida em seu rosto.

— Por favor, Sans, por favor, não me mate! Eu prometo não fazer mais nada de errado! A ideia não foi minha, por favor, me perdoa! Eu sinto muito, juro! - implorava entre prantos, desesperada a encarar os olhos frios queimando em chamas azuis que tinha a frente. Sans, no entanto, mantinha-se imutável ao seus lamentos, sabendo que nada poderia fazer. Ela havia cavado a própria cova achando que poderia sair impune. - Por favor! Por favor! Eu não quero morrer!

A alma roxa foi puxada para fora, enchendo a sala com seu brilho resplandecente, flutuando poucos centímetros a frente do peito de sua dona. Perseverança, Sans percebeu. O roxo era a marca de tal característica e bem lhe cabia. Apesar de todos os seus defeitos Betty nunca se deixou esmorecer, ela insistia e persistia, ela perseverava e continuava, mesmo para as coisas erradas. Tanto que sua obcessão por Sans não se desvanecia mesmo sabendo que não teria nenhuma chance. Era uma característica que poderia levar, também, uma pessoa a ruína, pois nunca sabia quando ceder, tão próxima a determinação quanto qualquer outra característica a qual ele conseguia lembrar.  

Decidido a terminar com isso o mais rápido possível o brilho roxo deu espaço ao azul, marcando o envolvimento da alma com sua magia, pronta para dar fim a mais uma vida. E, por mais que as vezes ele imaginava que ela realmente merecesse, ainda era uma crueldade e ele sentia pena. Afinal, ela tinha sido nada mais nada menos do que manipulada por aqueles que simplesmente queriam se aproveitar de seus desejos e sentimentos mais sombrios.

Todavia, como nada naquele dia realmente poderia ter um desfecho tranquilo e aceitável, sua visão sobre Betty foi logo interrompida pela aparição de ninguém menos do que Frisk, interpondo-se entre ambos com os olhos dourados faiscando em determinação. Ele muito queria dizer que estava surpreso, que tal atitude ele não esperava, mas seria uma mentira. Levando em consideração a pessoa que Frisk era, obviamente não suportaria ver tal cena e ele se sentia um lixo por tal. Forçá-la ver como retirava uma vida... Ela era um anjo que não deveria ser maculado, mas insistentemente ele manchava sua brilhante existência.

— O que está fazendo, Frisk? - questionou, procurando manter sua voz longe do verdadeiro desespero e preocupação a qual sentia. Ele sabia que ela não ficaria satisfeita até o momento que ele recuasse, a questão é que ele não poderia e ela era determinada de mais em seus objetivos para realmente tocar-se sobre esse detalhe.

A sala estava em um silêncio mortal, muitos pareciam ter prendido a respiração assim que viram a pequena garota adiantar-se para o meio de toda a confusão. Ninguém mais poderia prever o que aconteceria e muitos temiam o desenrolar do restante daquela trama.

— Frisk, meu anjo, meu amor, pelo amor de todos os deuses desse mundo, volta para cá. - chiou Carl. Ele tinha, anteriormente, tentado segurar a garota assim que percebeu ela se mover, falhando miseravelmente quando ela desvaneceu-se com facilidade, mais rápida do que ele poderia gerenciar, jogando-se para o maior problema que poderia arrumar. E agora não sabia mais o que fazer, suas pernas estavam congeladas em medo e preocupação, seu coração aos saltos dentro de seu peito enquanto o suor escorria-lhe pelo rosto decorado com a melhor expressão de terror que poderia fazer, olhos arregalados e maxilar apertado. Sua voz quase não conseguiu elevar-se acima do que seria dito como um murmuro engasgado.

E não apenas Carl encontrava-se em um estado lamentável de preocupação. Alguns ali já tinham tido seus momentos de conhecimento com a pequena morena para apegar-se a sua pessoa. Bill e Thomas eram alguns dos exemplos que poderiam ser citados naquele momento, tão tensos e assustados quanto Carl e Sans. Existiam aqueles que estavam surpresos, também. Afinal, porque Frisk se intrometeria, arriscando sua própria pele, para ajudar alguém que insistentemente implicava com ela, atacando-a de todas as formas possíveis? Para eles não tinha sentido.

— Frisk... - Sans começou novamente, bem devagar, procurando ajeitar o próprio ritmo de seu coração para que sua magia não escapasse de seu controle. - Saia da frente.

— Não. - insistentemente ela falou, em nenhum momento seus olhos dourados deixaram os azuis. Mais de um conseguiu sentir o calafrio percorrendo do o corpo ao escutar a firme resposta desafiante. Alguns já a colocavam como morta.

 E não deveriam se enganar, Frisk tinha o coração puro para perdoar, mas ela ainda era humana e como tal poderia muito bem escolher quem queria salvar e quem não. Betty não tinha as boas intenções que todos os monstros do Underground possuíam ao tentar matá-la. Suas más atitudes decorriam de seu própria caráter e, por mais que não se importasse, Frisk sim sentia-se magoada por algumas delas. Então o que estava a fazer agora não era por ela, não era por piedade ou pena, não era um perdão, seu objetivo era salvar outra alma que precisava mais do que ela.

Frisk não era cega, pelo contrário, depois de tantas redefinições observando e aprendendo ela foi capaz de perceber quando alguma coisa estava fora e ela sabia que, por mais que Betty realmente fosse culpada por ter feito a ligação que basicamente gerou sua morte, ela não tinha sido aquela a realmente ter a tal ideia. Poderia muito bem dizer apenas de encarar ao pequeno grupo que cercava Ralph, rindo em silêncio de toda a situação. E era tão óbvio, como ela bem tinha pensado Ralph era uma pessoa que usaria de todos os seus artifícios, até os mais ilícitos, para conquistar seus objetivos. Uma víbora que descartava os inúteis e escalava por seus corpos como degraus para o topo. E só existia uma pessoa que estava acima dele, impedindo seu progresso.

Sans.

Apesar de sua costumeira mascara de frieza, a jovem morena já estava perfeitamente hábil para ver através dela, percebendo, tão claramente como ver através da água cristalina, toda a culpa e hesitação que ele carregava, o desejo fervente de não fazer, da piedade e da tristeza. Ela não entendia seus motivos para continuar, mas sabia que, por algum motivo, ele se via forçado a fazer e tal estado de dualidade o matava pouco a pouco, consumindo-o em uma massa de auto-ódio que crescia a cada continuidade daquele tipo de situação.

Ele não era perfeito, ele não era gentil, ele não era misericordioso, Frisk sabia, mas ele também não era cruel como tentava transparecer em momentos como aqueles. Ela estava ali então, determinada, erguendo-se contra sua vontade para salvá-lo de si mesmo, do que ele sentia-se obrigado a fazer. Ela estava poupando Sans de mais um ato de assassinato, ela estava aliviando uma carga de sua alma. Ou pelo menos isso esperava.

— Frisk, eu não quero discutir, saia. - ele insistiu, seus olhos azuis implorando para que dessa vez ela obedecesse a sua ordem. Ela simplesmente não poderia tornar toda a situação mais fácil, não é? Afinal era tão teimosa! Quando se tratava dela, ele não poderia controlar a situação e era tão frustrante!

— Se o assunto é o que aconteceu ontem, então eu deveria ser aquela a ser punida. - declarou, tão firme quanto se estivesse dizendo o óbvio. E foi assustador, para todos aqueles que apreciavam a garota, escutar tais palavras. Sangue gelou em suas veias, medo correu arrastou-se pelos ossos ao observar a pequena garota erguendo-se como uma verdadeira guerreira em um desafio o qual ninguém naquela sala um dia ousaria fazer alguma vez. E eles não sabiam se deveriam admirá-la ou chamá-la estúpida. - Toda a confusão só aconteceu porque eu não fui atenta o suficiente. Por minha causa quase aconteceu uma guerra e todos foram prejudicados. Ninguém estaria na situação que está agora se não fosse por mim. Então mais do que ninguém eu deveria levar a punição.

E Sans admitia, tremulo, que teve que tomar mais do que uma profunda respiração para manter a calma. Antes de continuar ele precisava voltar sua mente para o lugar, ele precisava se tranquilizar e esquecer os sentimentos, pelo menos por enquanto.

— Você não sabia do pacto, em primeiro lugar. Em segundo você tem toda a liberdade de escolher o que faz da sua vida. - retrucou ele, firme novamente, devolvendo o olhar determinado da garota a sua frente.

— Eu soube depois. Deveria saber que minha irmã me reconheceria mesmo sem ouvir meu nome ou minhas descrições. Por não ser cuidadosa estamos a onde estamos. - definitivamente ela queria se condenar.

A tensão cresceu, Sans procurando novos argumentos enquanto Frisk esperava pacientemente e determinada seu julgamento. Carl deslizou para fora da sala de fininho, ele sabia que a única capaz de realmente tirar Frisk daquela situação era Diana, mas precisava ser rápido em encontrá-la e trazê-la até ali. Ele não tinha certeza se Sans poderia realmente deter o que Frisk parecia querer tornar inevitável.

O silêncio se estendeu por mais um tempo, até finalmente ver-se quebrado pela voz agitada.

— É verdade! Se ela não estivesse aqui a Rainha Vermelha não nos tinha ameaçado de guerra e Betty não teria que contratar atiradores para garantir sua lealdade! Quem poderá dizer que ela está realmente do nosso lado?! - esbravejou uma voz no meio da multidão, trazendo um burburinho para os presentes, agora agitados.

— Você diz isso porque não a conhece! - refutou outro, erguendo sua voz acima daqueles que murmuravam. - Anjo é mais fiel do que qualquer um de nós! Não é sua culpa que sua família esteja em um lado oposto ao nosso e seja uma maluca sanguinária!

— E como sabe que ela é fiel?! - mais um questionou, desgosto em sua voz. - Todos aqui sabemos que existe a mentira. Ela pode estar fingindo, ela pode estar do lado da Rainha! Se não formos cuidadosos todo nosso império vai para o chão!

— Por que estão atacando Anjo agora?! - Bill intrometeu-se, indignado. - Foi ela que quase levou um tiro, de um dos nossos! Ela foi até a Rainha de Copas, colocando sua vida em risco, para resolver o problema! Se não fosse por ela todos nós estaríamos em guerra agora e é assim que vocês a tratam?! Como uma inimiga?! Vocês merecem o julgamento mais do que ela! Falam sem saber e é exatamente por isso que temos tantos problemas!

— Anjo é exatamente o que seu nome fala, todos vocês sabem disse e apenas se recusam a ver porque ela apoia Sans e vocês não! Acham que não sabemos que seus grupinhos ficam conspirando um golpe de poder nas nossas costas?! Tudo que vocês querem é poder e privilégio! - acusou Thomas, erguendo-se desafiante ao lado de Bill.

— Por favor! Ela nem ao menos deveria estar correndo real perigo ao enfrentar a Rainha! Quero dizer, são irmãs, não são? O pacto foi feito para ela, inicialmente, como parte de sua família, então nunca que a própria Rainha colocaria ela em perigo! Como não podemos ter certeza de que ela não está apenas com um plano junto a Rainha? Tudo pode ser um showzinho para nos enganar, ninguém é tão bom! Todos sabem disso.

E era verdade que a desconfiança para com alguém com tão boas intenções era comum. Eles viviam em uma realidade diferente da de Frisk, mas não apenas por isso. O ser humana era naturalmente uma criatura desconfiada com seu semelhante, pois ele também era, naturalmente, uma criatura cruel que não se importava quem seria prejudicado desde que conseguisse ter o que queria. Sorrisos falsos, duplas intenções, mentiras e falcatruas não eram coisas que começaram recentemente e nem que haviam surgido de lugares onde era matar ou morrer. Isso já era antigo, vinha de primórdios da humanidade, pois ser humano, normalmente, remetia-se a ser cruel, e eram poucos aqueles que realmente escapavam a essa natureza, eram poucos aqueles que eram como Frisk.

Quem a conhecia sabia, mas aqueles que se recusavam a tal sempre arrumariam uma desculpa para desconfiar de suas atitudes. A própria garota não se importava, o que ela fazia era natural, era de seu próprio caráter, mas ninguém nunca imaginou que poderia repercutir em tal situação.

A sala havia sido divida em duas naquele momento. Aqueles que apoiavam Frisk e não queriam que ela sofresse a punição por um erro que ela não tinha como ter evitado e aqueles que, insistentemente, queria que ela fosse a culpada por todos os problemas que até agora tinham sido apresentados. Todo o lugar tinha se tornado um alvoroço, vozes agitadas ao ar embolando-se de forma que ninguém realmente conseguia escutar uma frase até o final e no meio de toda a desordem Sans e Frisk continuavam a encarar-se, desafiando-se com o olhar, debatendo-se sem palavras.

— CALEM A MALDITA BOCA! - o grito reverberou por todo o prédio, talvez ligeiramente embutido com magia, ninguém seria realmente capaz de dizer realmente. Sans estava se irritando e quando ele se irritava sua magia perdia um pouco de seu controle, escapando de todas as formas possíveis mesmo que ele mesmo não percebesse. Carl havia voltado quase no mesmo momento, esbaforido e suado, fato que odiava, trazendo atrás dele tanto Diana quanto Anabelle, tão cansadas quanto ele, procurando desesperadas a visão de Frisk, ainda imutável em seu lugar. - Por que estão discutindo sendo que todos sabem que quem decide o que vai acontecer na porra desse lugar sou eu?! Estão me irritando! Parem de discutir coisas inúteis e vão fazer algo que presta da maldita vida miserável de qualquer um de vocês, seja a merda que for! Frisk, pra minha sala. Agora!

Sem se importar com o tom usado ou protestar a garota começou seu caminho para a porta aberta, cabeça erguida ainda cheia de determinação. Ela não tinha medo, afinal, não poderia morrer de qualquer maneira e sabia que estava fazendo o certo. Sans ainda se debateria muito e ela sabia que, se ele fosse realmente forçado a machucá-la, o que realmente seria, ele se culparia novamente, mas isso ela poderia concertar, tinha certeza que sim. Tudo bem, as redefinições sempre iriam concertar os erros, mesmo que Sans matasse Betty o mundo iria se refazer e tal acontecimento poderia ser evitado, no entanto, ela ainda teria as memórias, ela saberia e não se sentiria bem em deixar Sans fazer isso consigo mesmo, apesar de, em uma linha do tempo paralela, ele realmente não tivesse feito. Foi culpa sua no final.

— Sans, espera! - Diana adiantou-se um pouco, olhar preocupado em seu rosto. Ela sabia o que aconteceria, por mais que confiasse que Sans não queria machucar Frisk. ela sabia que ele não teria muitas escolhas. - Podemos resolver isso de outra forma. Nós sabemos que Frisk nunca...

— Fique fora disse Diana. - o olhar foi melhor expressivo do que sua voz. Diana era do tamanho de Sans, mas sentiu-se como uma criança pequena a ser repreendia por um pai exageradamente furioso. Ou talvez, uma melhor comparação seria estar de frente para um penhasco e saber que iria cair e morrer ao acertar o chão. Não para nada ele tinha como nome ceifador.

— Não se preocupe Dee-dee, vai ficar tudo bem. - sorriu Frisk, tão diferente do que a ruiva tinha acabado de ver com o rapaz ao lado da morena. Tão pequena, tão brilhante... Seu coração caiu enquanto observava a pequena adentrar na sala sem olhar para trás novamente, perdendo-a de vista depois que a porta se fechou.

Agora só restava esperar.

Dentro da sala o clima não havia diminuído. Frisk manteve-se parada próxima a porta apenas observando como Sans, em todo seu estado de estresse, andava em círculos pela sala tentando se acalmar e voltar a pensar. Ele suspirou algumas vezes até finalmente deter-se de frente para ela, olhos azuis ainda ostentando um leve brilho por conta de sua magia ainda em ebulição.

— Por que? - ele começou, voz novamente ao seu tom normal. Seus olhos subiram para encarar os dela, sua posição encurvada com rosto baixo não deixando que olhasse para baixo como todas as outras vezes em que precisavam conversar. Ele estava furioso, confuso, seus olhos azuis agora opacos, sem saber exatamente se pela iluminação ou os sentimentos conturbados que carregava. - Por que proteger alguém como Betty? Até onde eu saiba ela nunca fez nada a você para merecer.

— Eu poderia dizer algo como: não preciso de um motivo para ajudar alguém. Mas não foi por ela que fiz o que fiz. - respondeu com honestidade, retribuindo seu olhar com um mais tranquilo. Ela não estava com medo, por enquanto...

— Você não teve culpa de Chara ter descoberto que estava aqui. - ele estreitou os olhos, suas mãos, segurando a beirada da mesa em que escorava, apertavam-se ao ponto dos nós dos dedos tornarem-se brancos.

— Se eu não estivesse aqui nada disso teria acontecido.

— Assim como qualquer um dos idiotas que estão aqui você tem o direito de escolher o que faz da sua vida. Eu já disse isso antes. Sem falar que até então você não tinha a menor ideia de que Chara fazia parte de uma gangue rival ou que ela poderia realmente atacar-nos dessa maneira.

— Mas eu soube depois. Estou meses aqui, já tive muita informação para saber que deveria ter cuidado, que minha irmã poderia colocar tudo a perder. Eu deveria ter sido mais atenta, pessoas poderiam ter morrido.

— Você concertou tudo. Você foi lá na frente e fez o que ninguém mais seria capaz. Foi você que parou a guerra. - seu maxilar estava tenso, ela quase conseguia jurar escutar os dentes a trincar pela pressão que era postas neles, a voz saindo não mais do que um leve assobio baixo.

— No entanto, foi por minha causa que ela começou. - insistiu, determinada.

— Por que insiste tanto nisso? Ela não merece, e você mesma disse que não foi por ela, então por que está aqui agora me dizendo tudo isso? Por que não pode simplesmente deixar toda a situação mais fácil?

— Eu não tenho striks, Betty tem dois. Quem sairia menos prejudicado? Não existiriam mortes. - as palavras assassino de seu pesadelo voltaram a ecoar em sua mente, por instantes vendo a imagem de um pequeno Pap a sua frente ao invés de Frisk, o medo congelando-o por alguns instantes, forçando-o a recuar por milésimos de segundos antes de perceber que não era real. Ele tinha que manter a compostura.  

— Você se machucaria! - seu cenho franziu-se profundamente, desgosto bem visível em sua expressão, apesar dos braços a tremer, não pela força que exercia nas mãos, mas sim pelo medo que voltava a incomodá-lo. Ele sabia que alguém deveria ser punido nessa história, mas por que deveria ser Frisk? Por que ele sempre acabava tendo que quebrar suas promessas ou machucar alguém que gostava? Era seu pagamento? Era seu carma? Então por que outros tinham que sofrer junto?

— Feridas se curam, mas uma pessoa não pode voltar a vida. - tudo bem, ela sabia que de certa forma não era verdade. Com as confusões temporais que ocorriam mesmo uma pessoa morta poderia retornar, dependendo de quando ela morreu e para quando voltaria, mas Sans não sabia e Frisk não gostava de ter esse tipo de memória em sua mente, principalmente sabendo o peso que o albino carregava com tal.

— Não importa. Eu não vou te machucar! Qualquer um na porra daquela sala merece mais do que você! - por que? Ele não entendia, ela estava ali, na sua frente, basicamente pedindo para ele a ferisse. E se fizesse... Se ele realmente fizesse nunca mais poderia encarar-lhe novamente nos olhos ou viver consigo mesmo.

— Se não fizer nada vão falar que esta dando privilégios.

— Foda-se! Dane-se o que vão dizer! Pra merda qualquer desgraça que acontece nesse lugar! Eu não vou te machucar! Não você!

— Sans, por favor...

— Eu já disse que não!

E realmente não adiantava jogar argumentos agora. Não era como se Frisk, porém, pudesse culpá-lo. Ela poderia não saber exatamente qual era o tipo de sentimento que ele tinha por ela, não sabia se continuava a ser apenas atração ou se realmente nutria algo próximo a uma paixão, mas ela tinha certeza que era carinhoso o suficiente para que ele recusasse a machucá-la, assim como recusaria ferir algum amigo. No entanto, mesmo que não soubesse a maior parte das motivações de cada ação de Sans, ela sabia que tomar partido naquele momento seria sua pior escolha, tudo porque era exatamente o que Ralph estava esperando.

Assim como muitos outros ele notou a afeição que Sans tinha por Frisk, e como todo o canalha que era, muito provavelmente tentaria usar desses sentimentos os quais julgava como uma fraqueza, contra Sans. E como ela sabia? Oras! Ela convivia com Carl! Nada naquele lugar escapava de seus ouvidos atentos e sempre seria Frisk a primeira a saber. Ralph queria quebrar Sans, mesmo que aos poucos, para que finalmente pudesse arrumar uma desculpa para tirá-lo do poder, já que pela força não adiantaria. Uma víbora traiçoeira que estava envolvido em mais do que apenas um dos conflitos que já tinha escutado sobre a gangue, mesmo antes dela chegar. Era até uma ofensa ao pobre animal ser comparado com tal ser humano podre.

E, por mais que tentasse disfarçar, Sans já começava a demonstrar sinais óbvios de desgaste, seja mental ou físico. Frisk conseguiu reparar alguns deles, mesmo agora ela via as olheiras em seus olhos, a lentidão em cada um de seus movimentos, o desanimo, o estresse, a afobação... Alguns desses sintomas muito bem poderiam ser atribuídos a preguiça ou até mesmo uma noite mal dormida dentro de uma vida conturbada dividida em duas, mas, para quem realmente prestasse atenção, era fácil perceber que alguma coisa estava errada. E Frisk poderia conhecê-lo melhor do que qualquer outra pessoa.

Ralph poderia não ter esperado realmente que ela colocasse na frente, mas, muito provavelmente, em sua forma de olhar para a situação, era um lucro da mesma forma. Ela, porém, não o deixaria Sans cair no jogo de Ralph, por mais que estivesse a tentar forçá-lo a algo que não queria. Ela própria não se sentia bem com aquilo, sabia que isso o afetaria também, por mais que quisesse evitar danificar mais ainda a sanidade mental que ele mantinha-se por um fio, mas isso ela acreditava que poderia curar. O problema realmente era o fato do que teria que fazer para obrigar Sans a fazer o que queria que ele fizesse. Definitivamente não gostava desse tipo de método, mas não via outras escolhas, ele não escutaria de forma simples e cooperaria.

Com um suspiro pesado e desgostoso, ela ajeitou-se novamente em suas pernas, tentando esconder as mãos que tremiam pelo que sabia que viria. Sim, ela tinha medo, pois a dor já era conhecida por seu corpo, principalmente a que ele era capaz de causar, mas tentava consolar-se apenas com o fato de saber que ele não queria e sim que ela o estava forçando a ir a esse ponto.

— Se não fizer o que tem que fazer eu vou contar a Pap sobre tudo que acontece aqui.

O clima no local que antes já encontrava-se pesado e abafado, agora parecia tão sufocante quanto uma fornalha e muito mais pesado do que o chumbo. Ela observou com cuidado como os ombros ficavam tensos, elevados ligeiramente enquanto os braços prendiam-se ao corpo. Com cautela ela percebeu a expressão cair de raiva para pavor em um lapso tão rápido de tempo que parecia sempre ter estado ali.

— V-você... Você não faria. Prometeu que não faria! - ele engasgou, ainda aparentando assimilar o fato que ela o havia ameaçado com tal ideia. Papyrus não poderia saber, definitivamente não poderia. Se soubesse... Se caso seu irmão descobrisse o que acontecia ali ele... Não! Sans não poderia permitir algo assim. Ainda assim Frisk mantinha-se como uma estatua em seu lugar.

— Farei se continuar a negar a punição que estou pedindo. - apesar de seu coração começar a quebrar ela ainda tentou manter a voz firme. Era como se o tão firme albino tivesse caído para uma criança a qual agora deparava-se com seu pior pesadelo. Ver esse Sans dessa forma era totalmente surreal, ainda sendo, no entanto, a melhor comparação a qual conseguia encontrar. - Eu já acreditava que Pap deveria saber de tudo, apesar de achar que deveria ser você a dizer. Mas eu vou contar se continuar a recusar.

— Não pode me fazer escolher algo assim! - exclamou atônito. Era ridículo! Um absurdo! Ele não poderia realmente dizer o que deveria fazer. Seu irmão deveria ficar longe dessa realidade, ele estava convencido disso, mas não queria colocar isso acima de sua moral. Ele tinha seus princípios e um deles era não acertar ninguém sem que merecesse. Dentre todos, todos os que estavam em sua lista, definitivamente Frisk não fazia parte. Isso tudo para não dizer o fato dele realmente gostar dela. Ele se preocupava com ela, queria protegê-la, pois assim como outros ele havia caído em seus encantos. Não poderia dizer que ela poderia ser comparada a seu irmão ainda, mesmo assim...

— Não estou te dando uma escolha Sans. Você não quer que Pap saiba do que acontece aqui, e eu entendo o motivo, então é muito simples o que tem que fazer.

Suas mãos tremeram, erguendo-se para longe da mesa a qual se apoiava, olhos bem abertos, tão desesperados quanto o próprio tremor em seu corpo, magia trepidando em agitação ao seu redor, reagindo a suas emoções agora fora de controle. A alma de Frisk saltou para fora, vermelho característico reluzindo próximo ao peito prontamente tornando-se azul, puxando para o chão em uma força tão conhecida que chegou até mesmo ser nostálgica, mesmo a dor em seus pulsos, que serviram como amortecedores para que seu rosto não sofresse qualquer dano, era assustadoramente conhecida.

Entre ela e Papyrus, ela sabia perfeitamente que ele escolheria Pap. Não que realmente fosse um problema.

Todavia havia hesitação em sua magia, ela não era forte o suficiente para causar mais danos do que a leve dor em seus pulsos decorrente da queda ou se quer mantê-la no chão. Com algum esforço ela colocou-se novamente de pé, lutando contra a gravidade que era exercida em sua alma, rosto determinado desafiando aquele que se encontrava terrivelmente perturbado.

— Não é o suficiente. Tem que ser um verdadeiro strik. - disse com firmeza, o dourado queimando como ouro ao fogo. Ela precisava tornar aquilo tão real quanto possível, uma verdadeira punição.

E o que ele deveria ter feito? Sua mente estava tão assustada, tão confusa, sua magia em ebulição dentro de sua alma implorando para sair, liberar-se de todas aquelas emoções conturbadas. Fechando com força os olhos ele deixou que ela escapasse, tentando convencer-se que era por Papyrus, para que não se envolvesse, para que não o odiasse. Suor escorria por seu rosto, sua respiração sem saber se deveria acelerar-se ou parar, coração saltando no peito enquanto o corpo encolhia-se a cada som abafado e conhecido de amontoados de carne e ossos acertando o concreto.

Ele não sabia se estava pegando leve ou se realmente estava sendo cruel, não tinha mais o controle de sua magia e recusava-se a ver o que acontecia. Poderia ser covardia, mas se sua alma estraçalhava-se apenas com os sons engasgados ele não queria nem ao menos imaginar o que aconteceria se estivesse a ver o estrago que estava fazendo.

Não durou mais do que alguns segundos, talvez bem próximo a um minuto, mesmo que tivesse aparentado a eternidade. Sua alma estava confusa de mais para realmente continuar, pausando pouco tempo depois de começar. No entanto, foi o suficiente para causar um considerável estrago. Joelhos e mãos raladas, um hematoma considerável começando a colorir-se sobre a sobrancelha esquerda por debaixo dos fios castanhos, seu tornozelo havia sido torcido em uma das quedas, dificultando manter-se de pé corretamente, quadril dolorido que muito provavelmente manteria-a com dores ao andar por alguns dias. Ninguém, agora, poderia dizer que ela não tinha recebido um strik, seu castigo.

E Sans apenas observou, respiração presa na garganta, mãos a tremer e olhos azuis demonstrando o quão assustado estava. Ele havia feito isso. Ele a tinha machucado. A culpa era dele, toda dele!

E Frisk sorriu. Um sorriso tão brilhante quanto qualquer outro, arrastando-se para fora da sala em passos pesados e cansados, quase não aguentando-se em pé. Não existia culpa em seu olhar, não existia julgamento, acusação, rancor, magoa ou qualquer outra emoção negativa que ele poderia imaginar que alguém dirigiria a ele depois do que aconteceu. O que viu, no rosto brilhante e dolorido dela foi o simples e singelo sorriso sincero, como se estivesse a agradecer um velho amigo. E ele não conseguia suportar, encarando agora as próprias mãos tremulas com nojo, asco, terrivelmente perturbado.

E por que? Ele tinha feito isso antes, não era novidade. Mas sentiu tão errado. Definitivamente não estava bem.

Arrastou-se até sua cadeira, deixando-se cair sobre a mesma um tanto desengonçado, desesperadamente procurando em suas gavetas o único "remédio" que poderia realmente tranquilizá-lo naquele momento. Sua magia ainda borbulhava em seu interior, as dores no corpo começavam e sua mente tinha lapso de lucidez. Ele sabia que não estava bem, mas não poderia ir para casa ainda, não ainda. Sem realmente saber se conseguia segurar alguma coisa direito ele levou o enrolado de papel até sua boca, isqueiro acompanhando na outra mão, demorando-se ainda alguns instantes para finalmente conseguir acendê-lo e finalmente sentir o alivio da droga percorrendo seu sistema, atordoando alguns sentidos enquanto, pouco a pouco, fazia efeito.

Estranhamente ele sentia-se lúcido novamente, memórias retornando para torturá-lo naquele breve instante de ponderação, arrastando o desespero e o auto-ódio junto.

Ele apenas queria parar de pensar, encolhendo-se em sua cadeira enquanto levava os braços para a cabeça, segurando-a com firmeza, quase a arrancar os próprios fios albinos. Culpa consumindo-o por dentro, sentindo asco de si mesmo, como se estivesse sujo, terrivelmente manchado.

Ele era um idiota, não era?

Do lado de fora, Frisk arrastava-se pela sala silenciosa, ninguém realmente sabendo o que sentir ao vê-la mancar com a dor que sentia pulsa em seu tornozelo. Carl, Anabelle e Diana sendo os primeiros a dignar-se a sair da surpresa evidente que percorreu todos os membros presentes para finalmente amparar a pobre garota, quase ao ponto de carregá-la até o sofá mais próximo.

— Eu não acredito que ele realmente fez isso com você. - resmungou Anabelle, delicadamente deixando a garota sentada sobre a poltrona antes de permitir que Diana aproximasse para avaliar os estragos feitos. Suas meias calças tinha rasgado deixando bem visível os joelhos manchados em vermelho vivo, apesar de ainda ser feridas superficiais. O vestido grosso o qual usava, de mangas compridas, frouxo apesar de prender-se por conta de um elástico na barra do tecido na metade das cochas, estava completamente sujo e amarrotado. O hematoma sobre seu olho esquerdo começava a inchar, roxo misturando-se a verde e amarelo de forma dolorida, suas mãos também avermelhadas, cortadas e dolorosamente ardidas. As botas as quais usava, de cano curto e acolchoadas, agora pareciam mais apertadas com o decorrer do inchaço devido a torção de seu tornozelo. A prostituta franziu profundamente o cenho em desgosto, carranca se formando no belo rosto enquanto cruzava os braços em resignação. - Não precisava de toda essa brutalidade, é quase equivalente a um segundo strik... Que desprezível.

— Não o julguem assim. Eu provoquei. - murmurou Frisk, soltando um suspiro dolorido em seguida ao sentir as mãos de Diana tocando levemente o hematoma por trás de sua franja. Apesar de sentir-se aliviada ao não estar apoiando seu peso sobre o tornozelo machucado, seu quadril ainda estava dolorido e, por tal, sentar-se não parecia sua melhor escolha, mesmo que fosse definitivamente forçada a fazer.

— Oh meu amor. Por que fazer isso então? Você não merecia, muito menos aquela cadela ingrata que você defendeu. - Carl murmurou, aproximando-se com uma pequena caixa a qual, Frisk supunha por uma leve olhada, ser um quite de primeiro socorros simples. Ele entregou para Diana a qual prontamente colocou-se a trabalhar, molhando um pequeno pano branco em álcool e, o mais delicadamente possível, passando por sobre as feridas da mão. Frisk escolheu-se pela dor.

— Não foi por ela. - disse entre dentes, tentando arduamente não arrancar sua mão fora da de Diana que insistia em apertar seu pulso para mantê-la quieta. Depois de limpo a faixa branca enroscou-se em sua palma para assim poder concentrar-se no membro seguinte. Seriam minutos dolorosos.

— Garota... Você é o anjo da guarda daquele rapaz, definitivamente. - resmungou Diana, ela com toda certeza seria a única a reparar as verdadeiras intenções de Frisk, mesmo que por breves detalhes que deixava transparecer. Ela era uma mãe afinal, e toda mãe sabia o que seus filhos queriam e pensavam, suas intenções mesmo em momentos como aqueles em que se metiam em problemas. Poderia não ser parente da morena, mas tinha certeza que a proximidade entre elas já estava estreita o suficiente para ter tais pensamentos certeiros. A garota, no entanto, apenas deu de ombros.  

Quando seus dois joelhos estavam vendados, meia calça concertada por sua própria magia de moldagem, hematoma sobre o rosto com uma boa camada de pomada para não apenas desinchar como também aliviar um pouco a dor, Betty apareceu a sua frente, rosto contorcido em uma raiva perturbada a qual poderia ser facilmente colocada como confusão. Sua maquiagem ainda estava borrada em seu rosto por conta das lágrimas que anteriormente tinha derramado, cenho franzido e cabelo desfeito, bagunçado sobre sua cabeça como um ninho de pássaros. Ela não deve ter tido muito tempo para se arrumar ou colocado muito afinco em tal atividade, seus olhos fulminando a pequena garota ainda jogada desconfortavelmente sobre o sofá a tentar lidar com suas próprias dores.

— Eu não vou te agradecer. - declarou com insistência, rosto furioso erguendo-se em uma posição de determinação. Suas narinas estavam abertas em bolas furiosas que Frisk quase poderia jurar ver fumaça a escapar enquanto bufava irritada. - Eu não pedi sua ajuda, eu não precisava da sua ajuda!

— Novamente, eu não fiz isso por você. - preguiçosamente a morena respondeu dando um leve sinal de mão que não era necessário nenhuma dessa ladainha a qual, sinceramente, não estava interessada em lidar. Seus olhos dourados caindo na figura ainda postada em um dos cantos da sala a cochichar com seus colegas, sorriso orgulhoso cheio de prepotência desenhado no rosto maduro. Não precisava pensar muito para saber que ele acreditava que tinha ganhado seu pequeno joguinho. - Não tenho nada contra você e sinceramente não queria ver um assassinato, mas meus motivos são apenas meus e não peço que entenda ou saiba quais são, muito menos que me agradeça, sendo que realmente não mereço. Apenas aconselho que comece a observar mais com quem você se envolve. Mesmo eu poderia dizer que facilmente poderiam te usar como um simples peão descartável e já deu pra perceber que você dá muito valor a sua vida apenas pela forma com que implorava por ela.

Ignorando completamente o rosto vermelho enfurecido a sua frente, ainda dolorida, Frisk se ergueu de seu lugar, fazendo sinal para os outros que não precisava de ajuda ou não escutaria as insistências em manter-se parada. Ela tinha um assunto a tratar muito mais importante do que uma birra infantil de alguém que, consequentemente, havia salvado. Poderia ser perigoso, mas ela não se importava. Novamente, ela não poderia morrer e o mundo sempre seria refeito, seu senso de perigo havia caído consideravelmente e o apego a sua própria vida era quase inexistente nessas ultimas linhas temporais.

Fogo queimavam em seu olhar quando parou de frente ao moreno alto, rosto contorcido em uma expressão de pura determinação desafiante. Ralph, por sua vez, ergueu uma sobrancelha divertido ao ver a pequena garota erguer-se a sua frente de peito estufado e expressão fechada.

— Ele não vai cair. - sua voz era convicta, tão firme que cada palavra pareceu dizer apenas uma verdade absoluta e imutável. Ainda assim, o rapaz a sua frente riu em zombaria, divertindo-se com o desafio da morena a qual tinha a frente.

— A é? E como pode ter tanta certeza? - desafiou, sorriso convencido ainda em seu rosto, inclinando-se um pouco sobre o rosto da garota. No entanto, novamente e novamente, Frisk não seria aquela a se intimidar por tamanho. Se ela tivesse medo de topar-se com pessoas maiores do que ela ou se quer mais fortes, nunca em sua vida tinha atravessado todo o mundo dos monstros, encarando criaturas como Papyrys, Undyne, Mettaton, Asgore ou até mesmo Omega Flowey. Muito menos Toriel, a primeira a colocar-se, sendo verdadeiro desafio, a sua frente. Se tamanho realmente contasse de alguma coisa Sans não seria tão desafiador.

— Você não conhece a força que ele tem e nunca vai conhecer. Não importa qual jogo colocar para cima dele, não vai funcionar. Ele não vai cair para você. - sua voz não era mais que um silvo baixo. Se teve algum momento em que sua determinação e confiança ficaram tão evidentes, definitivamente era naquele momento.

— Tão confiante... Tão confiante a ponte de apostar a verdade em suas palavras? - ele ergueu a mão em sua direção, sorriso maroto em seu rosto. Frisk não precisou abaixar o olhar para ver a mão ou levar mais de segundos para ponderar, ela não tinha nada em que pensar sobre o assunto.

— Eu não vou fazer parte dos seus joguinhos. Eu posso te mostrar, todos os dias, que você é apenas um saco de lixo covarde e imundo que não consegue erguer-se contra uma pessoa que você sabe que nunca iria perder para você em um luta justa. - desdenhosa Frisk acertou a mão do moreno a sua frente, afastando-a para longe, obrigando-o a perder o sorriso. - Se precisar eu mesmo vou erguê-lo, dia após dia. para que a única forma de você ter o que quer é levando sua bunda covarde até ele e enfrentando-o por si próprio, sem mais os peões que você gosta de colocar como um escudo. E quando isso acontecer, eu quero ser a primeira da fila para ver o inferno de um mal tempo que ele vai te dar.

— Veremos isso, Anjo.

Frisk afastou-se, tão altiva como havia se aproximado. Ela ignorou as perguntas de seus companheiros que depois de um tempo desistiram de insistir e a deixaram quieta. Ela não foi permitida a levantar do sofá pelo resto de sua estadia ali, porém. Seu tornozelo e quadril ainda estavam machucados, ela mal conseguia manter-se em pé e ir a qualquer lugar em tais condições era definitivamente fora de questão. A morena tentou protestar, dizendo que tinha trabalho, no entanto, Diana foi determinada em seu ponto e arrumou uma maneira dela permanecer parada e trabalhar ao mesmo tempo.

Olhando pelo lado positivo hoje era um dos dias em que não deveria se preocupar com horários para retornar. Chara ficaria mais tempo fora, também, o que lhe daria uma chance para, quando terminasse, arrastar-se para casa da melhor forma que pudesse encontrar e despistar seus amigos insistentemente superprotetores.

Isso lhe deu algum tempo para pensar, acalmar-se das novas emoções e relaxar, mesmo com os diversos papeis a ordenar e reorganizar. No entanto, ela preocupou-se que Sans não tivesse deixado sua sala desde o que tinha acontecido, ela temia que o ocorrido tivesse afetado mais do que deveria, muito provavelmente por ela ser mais próxima dele do que as pessoas com quem ele normalmente deveria dar um strik.

Ele realmente foi sair apenas depois de uma ou duas horas, olhos pesados varrendo o lugar a procura de alguma coisa a qual não chegava a dizer especificamente o que. Quando finalmente eles a vislumbraram, ainda quieta sentada no sofá, envolvida por algumas pilhas de papeis, ficou evidente que seu objetivo era exatamente ela. Todavia ele não chegou a realmente dizer, dedicando-se apenas a um leve aceno que indicou que se aproximasse. Sua expressão neutra não deixava claro o que exatamente poderia estar a querer.

Carl a encarou com duvida. Durante todo aquele tempo ele tinha mantido seu olhar atento sobre ela, tagarelando sobre diversos assuntos os quais acreditou que poderiam ser interessantes para mantê-la entretida durante seu chato trabalho. Ele ainda não conseguia tirar de sua mente a incerteza que havia se apoderado de sua confiança depois de ver o estado no qual seu tão admirado chefe havia deixado sua pequena amiga, desmerecedora de qualquer tipo de tratamento equivalente. Talvez ele devesse procurar Diana para discutir se realmente deveriam deixar que os dois ficassem sozinhos novamente ou talvez devesse chamar Anabelle que definitivamente seria a única com coragem para desafiar Sans.

Contudo, antes que tivesse a oportunidade de realmente tomar qualquer decisão Frisk já tinha se erguido de seu lugar, sorriso carinhoso em seu rosto enquanto encarava sua expressão duvidosa e preocupada.

— Ele não vai me machucar. - ela afirmou com convicção e certeza, mesmo com a voz mansa e tranquila a qual usava.

— Mas... - ele procurou protestar, não querendo que mais nada chegasse a atingi-la durante aquele dia exaustivo. Já não bastava quase morrer, por que ela ainda deveria passar por tudo isso? Não era sua culpa, ela não merecia esse tratamento.

— Eu disse, eu o forcei a ter essa reação. Basta olhar para ele, vai perceber que parece um animalzinho arrependido. - brincou, tocando-lhe com delicadeza o ombro enquanto arrastava-se na direção da sala. Carl não sabia o que fazer. - Eu vou ficar bem, não tem que se preocupar.

Sem esperar qualquer resposta seguinte Frisk mancou até Sans o qual abriu um pequeno espaço para que ela pudesse entrar, ele a seguindo não muito tempo depois. Em nenhum momento ele reclamou de seu andar lento, pelo contrário, parecia tentado a pará-la e carregá-la, aliviar sua dor, olhar pesaroso em seu rosto mostrando o quanto sentia pelo que tinha feito.

A porta se fechou assim que os dois se viram dentro e quase imediatamente ele avançou para ela, tomando-a em seus braços com delicadeza e a dirigindo para sua mesa, onde a sentou com cuidado, único lugar alto o suficiente para que ela pudesse estar, mesmo sentada, próxima ao alinhamento com sua altura.

Com mãos novamente borbulhando em magia ele aproximou os dedos do enorme hematoma o qual ela ostentava em seu rosto. Não chegou a tocá-la, mão pairando centímetros de sua pele enquanto a magia fazia seu trabalho e o leve calor tomou seu rosto mais uma vez, desaparecendo com a enorme coloração doentia a qual anteriormente havia possuído. O formigamento permaneceu mesmo quando ele afastou-se para dar atenção a suas mãos, em seguida ao joelho e então ao tornozelo, nunca realmente chegando a tocá-la, rosto sério obscurecido por suas emoções, recheado pela culpa e arrependimento.

— Onde... Onde mais dói? - ele perguntou, o mais casualmente que conseguiu, apesar da leve engasgada inicial. Porém ele nunca ergueu o olhar para encará-la. Assim como ele não queria tocá-la ele não conseguia encará-la, muito provavelmente, Frisk supunha, pelo que havia acontecido anteriormente. Sua alma deveria estar a se culpar e a mente distorcida a jogar os fatos contra sua cara.

Sendo assim, determinada a acabar com tal sentimento de auto-ódio, ela tocou-lhe as mãos, sem dizer uma palavra, recusando-se a soltá-las mesmo quando ele mesmo tentou recuar. Com cuidado, bem devagar, aproximou ambas de seu quadril, deixando-as lá para indicar que era ali que continuava a sentir dor. E, enquanto a magia fazia seu trabalho, ela delicadamente dedilhou seu caminho até o rosto do rapaz, erguendo-o contra sua vontade para que pudesse encará-la, olho no olho, como deveria ser.

— Não entendo... - ele murmurou, voz tão baixa que mesmo Frisk tão próxima a ele teve uma pequena dificuldade em escutar. Olhos azuis reluziam com tristeza, confusão e culpa, encarando-a mesmo que seu real desejo era de afastar-se o quanto antes. Ele precisou de algum tempo para voltar ao normal, ou pelo menos o mais próximo de normal que pudesse estar naquele momento, contudo, ainda não estava dentro de seus padrões, forçando-se a permanecer por mais alguns instantes apenas para, pelo menos, poder se desculpar. - Como ainda consegue tocar em mim depois do que fiz? Como ainda consegue me olhar dessa forma? Sem medo...

— As pessoas costumam te olhar com medo depois de um strik? - questionou, voz tão baixa e calma quanto a dele, nunca deixando que se afastasse.

— A maior parte das vezes. - deu de ombros. Era relativamente comum, por mais que a pessoa soubesse que merecesse o que iria receber, o medo estampado em seus rostos assustados era o que Sans mais estava acostumado a presenciar. Afinal quem não tinha medo de se machucar? Medo de sofrer? Sendo aquele que mais trazia ambas as situações, não realmente culparia alguém por ter tal reação perante a ele. - Não sou uma pessoa muito gentil, que digamos.

— Não é o que eu vejo. - Frisk cantarolou, um pequeno sorriso desenhado em seus lábios.

— Definitivamente eu não entendo você. Olha o que fiz sem que você merecesse, como ainda pode dizer que sou gentil?

— Pare de se culpar, Sans. Eu fiz você fazer isso, se tem alguém que realmente tem culpa nessa história sou eu.

— Eu poderia ter recusado, não tinha que fazer.

— Eu envolvi Papyrus na história. Sabia que você o escolheria, era óbvio. - Sans chegou a abrir a boca para retrucar, fechando-a segundos seguintes ao reparar que não tinha nada para dizer contra. Frisk, por sua vez, sorriu, acariciando-lhe o rosto tentando dizer que realmente não se importava, Papyrus era sua família, era natural dar-lhe prioridade. - Além do mais, não valeria a pena poupar-me dessa forma. Eu posso cuidar de alguns machucados, mas se tivesse me dado privilégios as pessoas que não gostam de você iriam começar a falar e não quero imaginar em todos os problemas que teria arrumado com isso.

— Por que se importa tanto?

— Porque você tem que continuar no poder, Sans. Pode não parecer, você pode não ver, mas tem pessoas que precisam de todas essas mudanças que você fez. Se você cair todo o sistema vai mudar e sinceramente eu não acho que Ralph traria melhoras para ninguém, muito menos para quem apoia você.

E Sans estava surpreso. Ele nunca tinha imaginado tanto o envolvimento de Frisk dentro da gangue a ponto de preocupar-se com todos os demais, como também dar tanto credito a ele. Quem era afinal? Foi apenas mais um a subir naquele trono manchado de sangue com suas próprias intenções egoístas. Ele nunca viu realmente uma boa ação que tivesse feito por aqueles os quais agora tinha sob seu comando, no entanto, ver tal admiração e confiança naqueles belos olhos dourados que tanto o haviam cativado era quase como forçá-lo a estourar-se em orgulho.

Suas mãos, ainda sobre os quadris, agora livres de dor, apertaram-se em reflexo a alegria em seu coração. Até então ele não tinha medido o tamanho de seus sentimentos para com aquela garota, durante todo aquele tempo pensou ser apenas um forte carinho salpicado pela atração física inicial a qual se viu submetido desde o primeiro momento que a viu. No entanto, agora que sentia o aquecer de sua alma com tais palavras carregadas em sua direção ele percebia o quanto desejava ser aquele que ela iria admirar e olhar por ajuda, aquele com quem ela poderia contar, aquele... Aquele o qual ela iria amar.

Tão poucos meses juntos eram o suficiente para tais sentimentos? E por que não pareciam tão poucos meses?

— Você não teria dito a Pap mesmo se eu não tivesse feito o que me pediu, não é? - ele riu para si mesmo, cabeça caindo para o ombro da garota, deixando que ela o embalasse em um abraço frouxo. Fazia quanto tempo que ele não recebia um abraço? Quanto tempo recusou carinho de outras pessoas? Por que, afinal, ele havia negado? Era tão confortável, com o cheiro embriagante que enchia-lhe os pulmões agora. Desejava simplesmente permanecer ali o resto de sua vida, afastado de todos os problemas que poderia ter.

— Eu não quero contar. Acho que você que deveria, ele merece saber ao igual que Gaster. São sua família. - suas palavras eram sinceras e firmes, ele poderia bem dizer. A risada amarga, no entanto, escapou-lhe ao escutar, mãos puxando-a para mais perto, dando mais força ao abraço que compartilhavam.

— Eles iriam me odiar...

— Não iriam, Sans. Tente explicar para eles, dizer seus motivos, suas razões! Eles vão entender. - uma de suas pequenas mãos subiu por seu pescoço, enroscando-se em seus fios brancos com o intuito de tranquilizá-lo, tentando passar não apenas confiança, mas também o carinho.

— Você não sabe minhas razões por estar aqui. Como pode ter tanta certeza que é algo que eles iriam compreender? Que poderia explicar tudo de ruim que já fiz?

— Eu vejo quem você é realmente, Sans, mesmo que você mesmo não enxergue. E por isso eu sei que, assim como eu, você tem um bom motivo para estar aqui, para fazer o que faz. - ou pelo menos ela queria acreditar que assim seria.

Sans afastou-se um pouco, finalmente dando-se conta de um mero detalhe o qual nunca tinha tido uma resposta. Seus olhos azuis pousaram-se sobre os dourados, como se apenas de encará-los poderia obter as respostas as quais queria e, apesar da magia realmente ajudá-lo a ter diversas informações de uma única pessoa com apenas um olhar, ele sabia que não poderia retirar uma história inteira dessa forma.

— E qual é a sua história? Qual o seu motivo para estar aqui?

— É complicado. - ela resmungou, desviando o rosto para um canto qualquer da sala. Sans estava ainda mais curioso.

— Bom, o meu também. - seu cenho se franziu, percebendo que simplesmente pedir não seria a maneira como chegaria a uma resposta. No entanto a ideia logo lhe surgiu quando avaliou a conversa. Não era exatamente um plano perfeito, mas pelo menos era um em que ambos conseguiam o que queria e ele a devia de alguma forma pelo que tinha feito. - Que tal assim: Você me conta a sua história e, em troca, eu te conto a minha.

— Por que tanto quer saber meu motivo a ponto de me contar um de seus segredos? - e não era como se realmente estivesse reclamando da proposta. Era basicamente ter uma das respostas pela qual correu durante tanto tempo entregue em uma bandeja de prata por um preço demasiadamente baixo. Obviamente ela deveria omitir alguns detalhes, como o simples fato de que seu motivo para estar ali estava bem diante de seus olhos, mas não era como se ela não pudesse.

— Digamos apenas que estou curioso em tentar saber como um anjo foi cair aqui exatamente. - ele deu de ombros, pequeno sorriso zombeteiro subindo em seu rosto enquanto puxava sua cadeira para acomodar-se ainda de frente para a morena. Pelo menos ele estava retornado um pouco de seu humor habitual e esquecendo o incidente de horas atrás.

— Bem... - inconscientemente Frisk procurou o anel dependurado na pequena corrente prateada a qual usava sempre por debaixo do cachecol vermelho. Sua mente procurando uma maneira de contar sua história. - Estou aqui por causa de um amigo.

— Grande amigo. - zombou Sans. Ele já tinha escutado esse tipo de histórias diversas vezes. Amigos que na verdade não eram amigos envolviam-se com coisas erradas e acabavam por arrastar aqueles que estavam a sua volta junto em sua merda.

— Não é bem isso que está pensando. Ele nunca deixou ninguém saber onde estava metido, mesmo quando nos tornamos muito próximos ele se recusou a contar-me qualquer um de seus segredos mais obscuros. Mas quando um me afetou ele... Bem, digamos que ele me contou uma pequena parte, dizendo que não contava porque tinha medo que o deixassem. Disse que tinha feito coisas ruins e que não queria perder o que amava... Na hora eu prometi que não fugiria, que sentaria e escutaria até o final para tentar entender a história dele... - seus olhos caíram um pouco. Frisk não gostava muito de pensar sobre a primeira linha do tempo em que havia vivido nesse universo. Era... Doloroso. - Um pequeno incidente aconteceu e ele esqueceu tudo que tínhamos construído. Nos tornamos estranhos um para o outro novamente e não importa o quanto tentasse me aproximar, depois de um tempo, ele sempre voltaria a esquecer-se de mim. Eu desisti de tentar depois de um tempo, era doloroso de mais então... Eu fugi dele.

Sans não poderia dizer que compreendia, mas sabia que existiam tipos de amnésias as quais faziam com que uma pessoa, depois de determinado período de tempo, perdesse as novas memórias e retornasse para um dado "começo". Elas normalmente derivavam-se de acidentes os quais envolviam batidas muito fortes com a cabeça. Ele apenas poderia imaginar como ela estaria se sentindo. Apesar de que, ele admitia, estava um tanto enciumado por esse cara.

— Nesse meio tempo de fuga eu meio que cai em um dos seus segredos e descobri que ele fazia parte desse mundo. - Frisk soltou uma risada amarga, quase irônica. - Eu não sei o quanto tentei ficar com raiva, nojo ou ódio dele por ter essa vida... Não parecia a pessoa que eu tinha conhecido, mas não importava o quanto eu tentasse, sempre recordava da promessa que fiz a ele... Prometi que tentaria entendê-lo, ver seus motivos, sua história. Então eu decidi que para entender eu tinha que viver o que ele viveu, ver o que ele viu e sentir o que ele sentiu para conseguir, pelo menos, saber pelo que ele passou. E aqui estou eu, vendo que o mundo não é tão brilhante como tentaram me mostrar toda a minha vida.

— Você... Gostava muito dessa pessoa, não é? - ele perguntou hesitante, seus olhos procurando qualquer outro lugar para encarar que não fosse ela. Ele nunca sentiu seu peito doer tanto.

— Pode se dizer que sim.

— Esse colar... Foi ele que te deu? - por que ele insistia? Já não estava óbvio que ela realmente era apaixonada por esse cara? Pedir por mais informações era o mesmo que jogar-se na cara que, apesar de dar-se conta do que sentia por ela, não seria retribuído. - Ficou brincando com ele o tempo inteiro enquanto falava.

— Apenas uma lembrança. - um sorriso carinhoso, nostálgico brilhou em seu rosto, enroscando o pequeno anel em seus dedos mais algumas vezes antes de finalmente escondê-lo novamente. Era precioso afinal.

—  Estar comigo é uma forma de esquecê-lo? De fugir também? - ele deixou escapar, não realmente reparando a força de suas palavras até que já tinha dito. O rosto pálido se tornou rubro quase ao instante, recusando-se a encará-la novamente. Frisk, no entanto, apesar de um tanto surpresa, soltou uma leve gargalhada.

— Ciúmes? - Sans não respondeu, braços cruzados na frente do peito como uma criança emburrada. Não era a melhor forma de agir, mas ele realmente perdia a compostura quando estava perto dela. Mãos, contudo, tocaram-lhe com delicadeza o rosto, brincando com alguns fios que insistiam em cair em seu rosto e ele sempre era preguiçoso de mais para afastá-los ou cortá-los. - Independente do que está no meu passado eu não fico com outras pessoas a não ser que eu realmente goste delas, Sans. Se estou com você agora não é por simples conveniência, eu não faço isso.

Ele se sentiu um tanto mais aliviado depois do que ouviu ao mesmo tempo que envergonhado por sua atitude. Não era como costumava ser, mas, novamente, ele não conseguia agir da mesma forma como acostumado perto de Frisk.

— Bem, sua vez. Eu já disse meu motivo. - como uma criança, a morena se acomodou sobre a mesa. cotovelos nos joelhos enquanto as mãos apoiavam o rosto iluminado e ansioso. E, bem, como dizer não a uma carinha como aquela? Ele havia feito a proposta, no final, e agora teria que continuar.

— Apenas... Não espere um motivo tão nobre quanto o seu. - ele suspirou, procurando uma forma de colocar todo seu passo condensado a ponto de não dizer o que realmente não queria dizer ainda. Talvez um dia tivesse a coragem de admitir tudo para alguém que não fosse ele mesmo, mas por enquanto, contentava-se com versões picadas da história. - Digamos que... Uma coisa terrível aconteceu que me deixou com muita raiva. Tanta raiva que quando dei por mim já era tarde de mais para voltar atrás. Foi... A primeira vez que matei alguém. Não pensei na hora, apenas fiz e quando percebi que poderiam haver outras soluções melhores já era tarde para lamentar. Ainda assim, mesmo na raiva, eu pensei em como sair em pune, pensei em tudo! Realmente achei que ninguém ia saber. Eu me senti enjoado depois, desejei nunca mais fazer nada assim, que foi a ultima vez. Não sei quantos banhos tomei naquele dia, sempre parecia sobrar um pouco de sangue, sempre parecia ainda me sentir sujo... Mas eu não tinha escondido muito bem e algumas pessoas... Ruins descobriram o que eu fiz. Eles foram atrás de mim, acharam que, como pagamento do que tinha feito com um deles, poderiam usar a força que eu tinha para benefício próprio.

As mãos de Sans se apertaram em punhos bem fechados. Ele não gostava de voltar a pensar nessa época.

— Sinceramente eu não queria, eu sabia que me juntar a eles era o mesmo que pedir para mais mortes e eu já tinha tido o suficiente com uma única. Mas eles ameaçaram tocar na minha família, disseram que tinham que dar o pagamento na mesma moeda se caso eu recusasse e o único em casa naquele momento era Pap. Não vi outra saída que não fosse aceitar. Pensei em fazer alguns favores e então sair, não precisava estar aqui o tempo inteiro... Infelizmente eles sabiam como manter seus... Cães, na coleira e continuaram a me ameaçar. Meus poderes facilitam muito o trabalho deles, não queriam perder isso. Então... Aqui estou.

— Mas... Você é o líder agora. Não poderia simplesmente... Não sei, sair?

— Apesar de já ter dado um jeito na maioria que sabia da minha vida fora daqui, ainda existem aqueles que sabem sobre Pap, Gaster, Alphys e até mesmo sua mãe. Estando no poder eu realmente tenho mais influências e por consequência mais proteção para quem gosto, mas é um passo para fora e eles vão voltar a procurar meios de me colocar na coleira novamente.

— Por que exatamente eles? Por que não atacam você?  

— Em primeiro lugar porque sou forte o suficiente para espantar a maioria deles. Em segundo porque eles ainda anseio pelo poder que eu tenho. Para meu azar eu sou o único que consegue bater de frente com sua irmã, o que faz de mim o único que realmente possa ter alguma chance de derrotá-la em uma lutar. Um poder como esse é cobiçado por mais de um aqui no submundo da cidade e como eles não podem simplesmente tirar isso de mim, vão fazer de tudo para que eu simplesmente obedeça.

— Foi por isso que disse para manter o que tínhamos em segredo?

— Minha família não tem escolha em ser alvo. Obrigatoriamente eles estão vinculados a mim, mas esse não é seu caso. Você pode escolher o que quer, escolher estar comigo e ser mais um alvo em potencial ou continuar a ter uma vida tranquila. E mesmo que escolha estar comigo eu ainda insistiria que mantivéssemos isso em segredo. Seria mais fácil atingir você do que qualquer outro e sinceramente eu prefiro evitar que isso aconteça.

Alguns detalhes ainda estavam em falta. Como o que aconteceu para deixar Sans com raiva o suficiente para fazê-lo cometer um assassinato? Frisk tinha algumas ideias, mas até então não poderia comprovar nenhuma delas. Mas pelo menos explicava a forma como afastava as pessoas, explicava o motivo de ser tão super protetor e o motivo pelo qual sentia tanto culpa e pesar. Bastou um simples erro em seu passado para jogá-lo em toda essa situação, forçado a fazer o que não queria, acorrentado a uma vida a qual queria se livrar desesperadamente.

Não explicava, agora que pensava, contudo, como ele tinha sido capaz de sair na primeira linha do tempo. Ela recordava-se ainda, vagamente, ele ter comentado, em sua conversa em relação as ligações que recebia durante a madruga, agora bem esclarecidas que eram das pessoas da gangue, muito provavelmente Ralph ou um de seus companheiros, que ele havia saído desse problema. Como Frisk talvez nunca saber dizer, mas ainda ficava a questão do, se a linha do tempo tivesse continuado ou invés de se refazer, o que teria acontecido no futuro? Teriam ido atrás deles? Ou Sans teria arrumado uma maneira de simplesmente livrar-se de vez do problema? Seria algo que poderia ser repetido? Como?

Esquecendo-se um pouco dos "e se", Frisk colocou-se a pensar no agora. Ela já tinha se envolvido com ele, mesmo que tentasse fugir durante todo o começo, era tarde para correr. Por mais que quisesse negar, também, ela queria, profundamente, estar com ele novamente, seja na situação que for. Sua alma ansiava pela dele, talvez por, de alguma forma, ter se apaixonado por ele de novo e de novo em cada linha do tempo seguinte. Por ver tantas facetas dele e gostar de cada uma delas. Talvez, simplesmente talvez, porque já era tarde de mais para tentar arrumar alguma outra pessoa depois de toda a insistência que ele fazia em, de alguma forma, estar em sua vida.

Por isso sorriu, um sorriso brilhante como fazia tempos que não dava, braços enroscando-se entorno de seu pescoço enquanto o puxava mais para perto, sentando-se, de alguma forma, em seu colo, cada perna em um lado de seu quadril.

— Acho que toda mulher gosta de um pouco de emoção em sua vida. - comentou com um certo toque de divertimento, puxando-o para um beijo profundo, a melhor maneira de dizer um perfeito "sim" para uma proposta. Mais do que nunca, agora, ela deveria estar ao lado dele. Mais do que nunca ele precisava de alguém que simplesmente pudesse segurá-lo para não cair. E ela não se importava de ser esse alguém.

— Tem certeza? - ele perguntou em um suspiro, ainda um tanto atordoado pelo beijo que havia puxado qualquer pensamento coerente que pudesse chegar a ter naquele momento. Ele queria continuar a beijá-la o resto de sua noite, talvez um pouco mais, manter seu corpo sempre preso ao dele para ter certeza que não iria desaparecer. Ele estava perdido.

Ela simplesmente consentiu com um doce sorriso, sorriso esse que ele guardaria ainda por muito tempo em sua memória, sendo novamente puxado para outro beijo de branquear a mente. Ela definitivamente era uma droga, uma a qual ele não temeria se viciar. Tão quente e sufocante, ele simplesmente deixava-se afogar no doce sabor, não se importando nem um pouco que fosse ela a guiar, pelo menos por enquanto.

Todavia, infelizmente, ele não poderia dar-se o luxo de permanecer ali, por mais prazeroso que fosse. Existiam contratempos os quais ele não podia mais lutar e sinceramente ele não queria ter que machucá-la novamente.

— Vou te levar para casa. - sussurrou depois de alguns minutos, soltando-a contra sua própria vontade para que ambos pudesse voltar a estar de pé.

— Não precisa.

— Eu insisto. - definitivamente não levaria um não como resposta aquela noite, não aquela noite. Precisava ter garantido que ela estaria segura em casa.

Pelo menos, apesar de todas as conturbações do dia, ele tinha certeza que os seguintes não seriam tão ruins.


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Notas finais do capítulo

Eu falei que o cap era grande. bem, novamente pedindo desculpa se caso não responder comentários, estarei focada em provas, novos caps, loucuras da minha vida, então seja pacientes.
Não sei como será semana que vem, minha pretensão era ter mais um duplo, mas isso vai depender muito de como vou me animar a escrever. Teoricamente os capitulos seriam fáceis, mas nunca se sabe. Sempre que tenho empolgação algo se coloca no meu caminho.
Espero que tenham gostado, continuem determinados e até o próximo! Novamente, caso quiserem alguns spoilers fracos, conversas tranquilas comigo, noticias sobre lançamentos ou qualquer coisa sobre mim ou minhas fanfics, me sigam no Twitter, @NekoLully. Eu estou usando muito essa rede social ultimamente, é divertida apesar de estranha.
Até~!