FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 28
Conflitos de uma alma culpada


Notas iniciais do capítulo

Preparem-se pra dois capitulos monumentais! Para alegria de vocês será mais uma semana de capitulo duplo e desculpa os comentários não respondidos, minhas provas estão batendo na minha porta. Nem ao menos sei se vou poder escrever os outros dois capitulos para a próxima semana. Talvez acabe aparecendo apenas um.
Aliás, se vocês querem sempre manter-se informados sobre lançamentos, alguns spoilers leves (como nomes dos titulos de capitulos seguintes) e afins, é só me seguir no Twitter, se ainda não está seguindo. Sem falar de poder trocar algumas ideias. Meu twitter é @NekoLully
Enfim, para esses capitulos eu selecionei algumas musicas que acho que cairiam bem na sua playlist enquanto está lendo.
Nightmara - Set it off
Behind Blue Eyes - limp bizkit
Unbroken Heart - Three Days Grace
Fallen Angel - Three days grace
The Real You - Three days grace
O mais engraçado é que enquanto tava vagando em buscas dessas musicas descobri que o Sans e a Frisk foram basicamente baseados nas letras das musicas deles (quase todas). É assustador, definitivamente.
Mas bem, espero que aproveitem o cap, mais tarde irei aparecer com mais, então bom proveito!



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FusionTale - Conflitos de uma alma culpada

Estava escuro.

E ele odiava o escuro.

Não era medo, era ódio. Um ódio bem lógico em sua concepção. Em primeiro lugar porque para estar tão escuro a ponto de bloquear todos os seus sentidos de qualquer noção que pudesse ter do seu entorno era o suficiente para classificar esse momento como um pesadelo.

E ele odiava pesadelos.

Simplesmente pelo fato de sempre insistir em mostrar fatos os quais ele não queria pensar, fatos que mesclavam seus medos e suas memórias, tornando tudo tão real que facilmente poderiam levá-lo ao ápice de sua sanidade, mesmo que soubesse que tudo aquilo não era, de certo modo, real. O pensamento cientifico lhe dizia perfeitamente que se tratava de um momento criado por seu subconsciente durante 15 segundos durante seu período entre o dormir e o acordar. Entretanto esses eram seus 15 segundos mais longos de toda sua vida, não conseguindo safar-se mesmo que já estivesse consciente do que estava acontecendo.

Em segundo lugar vinha o fato de que, para alguém que dependia essencialmente de sua visão para utilizar de qualquer tipo de magia, estar no escuro era o mesmo que estar indefeso. Diferente das magias do tipo Metamorfose e Criação, as magias do tipo de Controle precisavam de alguma ligação com alguns dos cinco sentidos humanos, mesmo que pequena. A visão comumente era a mais utilizada, mas facilmente poderia ser substituída pela audição se bem soubesse nortear-se por ela. E, acreditem, para ter uma falta de iluminação suficiente para deixá-lo cego, definitivamente não era um escuro normal.

Talvez fosse um dos únicos pontos positivos em ter uma alma com um núcleo mágico tão grande e bem "desfiado" com os tipos de magias. Para que seu corpo não entrasse em colapso, instintivamente, o fluxo mágico era redirecionado para outros sentidos de seu corpo, elevando-os ao ponto em que estivessem além dos de uma pessoa normal. Por tal, sua visão, por exemplo, não apenas era mais sensível a poucas luminosidades, como também eficaz o suficiente para detectar mais refrações de cores do que outras pessoas, por consequência, enxergando com mais detalhes. Era uma das formas com que poderia "enxergar uma mentira". O pulsar mais rápido nas veias do pescoço, infimamente elevando a pele do lugar em um ritmo acelerado, o dilatar das pupilas, o contrair de algum músculo... Eram tantos detalhes que, por sorte, seu cérebro ainda não tinha entrado em choque. E tudo isso apenas para dizer que, uma escuridão que fosse capaz de tornar tal sentido aguçado inútil com toda certeza era má notícia.

E o pior de tudo isso, de odiar tanto o escuro como os pesadelos, era o fato de não ter controle sobre os acontecimentos. A sensação de impotência, de inutilidade que vinham acompanhados da amargura daquele momento, daqueles breves 15 segundos. Ele questionava-se qual seria dessa vez. O que o atormentaria naquela noite, em qual momento de seu passado retornaria?

A massa de escuridão a sua volta elevou-se em deformadas figuras as quais, pressupôs, tratar-se de vultos humanos, apesar de aparentarem ter saído do desenho rebuscado de uma criança perturbada a qual, em sua inútil tentativa de desenhar sombras humanas, fez simples e arredondados traçados, pernas e braços sem juntas aparentes, como os bonecos de biscoitos natalinos, preenchidos de piche negro com duas enormes esferas brancas representando olhos arregalados e uma meia lua deitada a formar a boca sorridente, também esbranquiçada. E elas se moviam de forma tão sofrida como sua própria aparência poderia demonstrar, como se seus membros não tivessem ossos e passassem apenas de um monte de gelatina amontoada e moldada em uma forma especifica.

Perturbador em sua opinião.

Elas se amontoaram ao seu redor, erguendo seus supostos braços com extremidades sem dedos ou mãos, tentando agarrá-lo, arrastá-lo, machucando-lhe a pele enquanto se contorcia, tentando escapar, divertiam-se em risadas sôfregas e chiadas. E estava tudo bem, o incomodava, mas não o assustava. Ele já tinha lidado com pesadelos piores.

— SANS! SANS, ME AJUDA, POR FAVOR! - a voz chorosa lamuriou por cima das risadas em zombaria. E não importava o quanto estivesse consciente de que se tratava apenas de um pesadelo, de que não era real, sua mente sempre ficava em branco ao ouvir a voz de seu irmão a lamuriar, sempre voltaria a seus instintos mais primitivos de proteção e perderia a razão. - ESTOU COM MEDO, SANS!

Desesperado para achar a origem do choro, moveu a cabeça como um louco de um lado para o outro, empurrando e afastando as mãos que interpunham-se em seu caminho, aproveitando as brechas entre as massas negras para observar mais ao longe, procurando e procurando a única pessoa que ele implorava ao deus que fosse para que não estivesse ali. De todas as pessoas, de todos os pesadelos, definitivamente os piores eram aqueles que envolviam seu irmão.

E lá estava ele, chorando compulsivamente enquanto encolhia-se em si mesmo, tentando, inutilmente, escapar das figuras que insistentemente tentavam assediá-lo com suas mãos desprovidas de dedos. Nada mais do que um pequeno garotinho de não mais de dez anos, contorcendo-se em desespero enquanto esperneava, procurando um lugar seguro no meio de tantas pessoas que queria machucá-lo, procurando a única sua família, quem sabia que poderia contar. Pois era o dever de um irmão mais velho proteger o mais novo, não era?

E não importava que Sans soubesse que seu irmão não tinha mais apenas dez anos, não importava que soubesse que quilo era apenas um sonho. O fato de ver, diante de seus olhos, a imagem de seu pequeno, magro e indefeso irmão chorando, machucado e chamando por ele já era o suficiente para enlouquecê-lo.

— Sans é um tolo. - vozes distorcidas, ecoantes, esganiçadas e de variações constantes de timbre ecoavam das criaturas as quais nem ao menos moviam as bocas, sempre de sorriso imutável e perturbador, pronunciando-se antes mesmo que tivesse a capacidade de chamar por seu irmão, de garantir a ele que estava ali e que iria protegê-lo, independente como. Seus olhos focaram-se nas figuras sombrias, desviando-se por breves momentos da representação mais jovem de Pap, surpreso que elas poderiam realmente falar. - Um grande tolo. Acreditou mesmo que poderia ter alguém, que poderia confiar. Um idiota, assassino, cão domestico... Nesse mundo é matar ou morrer. Não importa os meios, não importa como, você deveria saber, deveria saber que aconteceria. A culpa é sua, toda sua! Um tolo abençoado com poderes incríveis, um tolo que deveria saber que não existe amizade, não tem como sair ileso.

E sim, ele admitia que era um tolo. Sans era um tolo, um idiota, um desgraçado miserável desmerecedor de piedade. Ele sabia disso, sempre soube, consumido pela culpa ele nunca poderia se quer entrar na possibilidade de esquecer. E ele também sabia que merecia todo tipo de tratamento que posteriormente iria persegui-lo, cada gota de ódio e empatia, pois ele era um tolo com diversos pecados. Não se importaria, de forma alguma, ser agredido, ser espancado, ser deixado de lado, ser julgado, pois ele sabia que merecia tudo isso, ele realmente esperava isso daqueles que sabiam seus segredos, por mais doloroso que fosse receber cada uma dessas respostas negativas e sua alma humana ansiasse compreensão. E sim, ele permitiria tudo, poderiam fazer qualquer coisa com ele... Apenas... Apenas não encostem em seu irmão. Não encostem no único de bom que ainda lhe restava.

De alguma forma conseguiu se desvencilhar das sombras, empurrando-se para perto de seu irmão, envolvendo-o em seus braços de forma protetora, magia borbulhando para fora de seu corpo. E talvez ele também tivesse sido um tolo naquela hora, pois em sua mente não existia a possibilidade de piedade naquele momento, não por estar puto o suficiente para perder sua cabeça naquele momento e se deixar levar pela selvageria, seu estado era melhor descrito pelo desespero do que pela raiva, no entanto, o que realmente o levava a apenas uma opção era o fato de saber que aquelas... coisas não ouviriam uma lamuria se quer que tivesse a dizer. Ele imaginava que, mesmo que implorasse para que deixassem seu irmão em paz, mesmo que tentasse negociar, lamuriar, chorasse naquele exato instante, nada funcionaria e o único modo de realmente resolver o problema era pela violência.

E não deveriam culpá-lo por pensar dessa maneira. Pelo mundo e a forma em que viveu, onde tudo e qualquer coisa poderia ser usado contra você e, sempre era mais fácil, para afetar uma pessoa, atingir aqueles mais próximos a ela, principalmente quando se tratava de alguém com força o suficiente para defender-se sozinha. Era o problema, naquele mundo onde era obrigado a conviver, de se ter pessoas as quais apreciava, sejam amigos ou família, pois sempre seriam um alvo fácil para seus inimigos caso você saísse muito da linha ou não tivesse a força o suficiente para mantê-los afastados. Sans sabia que seu pai era perfeitamente capaz de cuidar de si mesmo, a força que herdou deveria ter vindo de algum lugar, sem falar da influencia que tinha no mundo da ciência, tornando mais evidente qualquer coisa que lhe acontecesse. No entanto, seu irmão, por mais capaz que fosse de cuidar-se sozinho, ainda era um alvo fácil para pessoas que sabiam como usar da lábia para atrair e para enganar.

Precisava protegê-lo... Não poderia deixar que nada acontecesse com Pap! Não com ele! Tinha uma promessa e a iria cumprir custe o que custar. E talvez, exatamente por essa maneira desesperada de pensar, não tivesse realmente medido a quantidade de magia que iria usar. Talvez, apenas talvez, pudesse ter apenas usado o suficiente para causar um nocaute, desacordá-los e assim fugir, no entanto, no calor do momento, a quantidade foi tão absurda que as figuras sombrias foram completamente incineradas do lugar.

Mas tudo bem, Sans tentava se convencer, pelo menos Pap estava seguro.

— Você os matou, Sans. - a voz de seu irmão encheu o silêncio que recobria aquela lugar ainda escuro, era um milagre que ainda conseguisse ver Papyrus em seus braços naquele momento.

— Pap, eu não...

— Você é um assassino, Sans. Assassino, assassino, assassino! - acusava Pap, cabeça sem se erguer para encarar seu irmão. E não era como se Sans não quisesse dizer alguma coisa em sua defesa, mas ele não conseguia! Sua reação estava estancada em uma surpresa sem fim, assustado com as acusações de seu irmão em sua direção, a raiva em sua voz, o fato de tudo ser um pesadelo caindo completamente no esquecimento e se deixando tragar por aquele momento. - Eu não quero um assassino como irmão! Você não é mais meu irmão! Vá embora! Vá embora! Eu te odeio!

— Não! Pap, por favor, não...! - e ele estava de volta a realidade, deitado em sua cama empapado de suor, lençóis enroscado em suas pernas , embolados e amarrotados. Sua mão estendia-se a frente, provavelmente tentando alcançar a imagem em seus pesadelos, coração aos saltos dentro de seu peito, respiração ofegante junto ao empalidecer da pele, mais do que naturalmente ela já era.

Com um suspiro pesado, Sans levou a mão até o rosto, limpando a espessa camada de suor que se acumulava em sua testa antes de finalmente chutar as cobertas para longe, erguendo-se de sua cama. Definitivamente ele ansiava por uma bebida forte, alguma coisa que conseguisse, pelo menos, arranhar-lhe a garganta e afogar sua mente na incerteza da embriagues, no entanto, ele precisava ir ao trabalho e sabia bem que não seria muito bem aceitável, por seu pai ou qualquer um, que estivesse alterado. Mas tudo bem, talvez um banho já valesse de alguma coisa.

Arrastando-se para o banheiro, desgraçadamente no final do corredor do segundo andar de sua casa, ansiosamente ligando a água e deixando que o frio retirasse os resquícios do pesadelo que tivera. Não era tão efetivo como uma bebida, mas ainda tinha seus pontos positivos e ele estava grato por isso.

Dentre as coisas que mais odiava, os pesadelos definitivamente estavam no topo. Não ocorriam todas as noites, porém, constantes o suficiente para causar-lhe problemas. E para piorar eles sempre vinham acompanhados de alguma memória a qual definitivamente não queria se recordar. E o intrigava porque essa em especifico? Logo agora?

Não que ele acreditasse realmente em "significados dentro dos sonhos" ou qualquer coisa parecida, ainda assim, era coincidência de mais.

Já pronto ele desceu para a cozinha onde já esperava um café da manhã pronto pelo cheiro que exalava do lugar. Com toda certeza seu irmão era incrível apenas pelo simples fato de acordar todas as manhãs com toda essa disponibilidade. Dificilmente Sans conseguia acordar durante as tardes sem parecer um zumbi e sem a ajuda de um bom despertador o qual só poderia ser desligado caso levantasse e sem o uso de magia, sendo o ultimo detalhe brinde de seu pai que já estava cansado de vê-lo levantar atrasado para as aulas da faculdade.

Papyrus eram uma pessoa admirável.

— BOM DIA, SANS! - cumprimentou Pap assim que escutou o som da cadeira de arrastando. Ele tinha certeza que era seu irmão, se por acaso fosse Gaster teria batido na porta da cozinha para anunciar sua chegada e assim poder dedicar-lhe um bom dia. Sans, com toda a animação que tinha durante as manhãs apenas conseguia arrastar-se para um novo lugar no qual poderia se acomodar.

— Bom dia, Bro. - naquele momento, apesar de responder ao cumprimento, o único pensamento que conseguia passar pela cabeça do mais velho dos irmãos era a constante ideia de esconder e mandar para longe os fatos ocorridos durante seu pesadelo. E ainda assim era demasiadamente complicado encarar Pap depois do que havia escutado, por mais que fosse apenas um fruto de sua própria imaginação perturbada.

— TUDO BEM, SANS? - com toda certeza não, mas Sans não poderia preocupar seu irmão mais novo.

— Por que não estaria?

— BEM... EM PRIMEIRO LUGAR PORQUE VOCÊ ACORDOU ANTES DO SEU DESPERTADOR EM PLENAS 6 HORAS DA MANHÃ. - ops. Ele deveria ter olhado seu relógio depois de ter despertado. Para alguém como ele estar acordado nesse horário sem qualquer tipo de interferência era sinal de problemas. Papyrus, no entanto, suspirou. - EM SEGUNDO PORQUE DEU PARA OUVIR SEUS RESMUNGOS DAQUI. OUTRO PESADELO? - não era uma boa maneira de descobrir que você fazia barulho enquanto dorme, principalmente porque lhe cortava por completo a saída da mentira a qual seria sua única opção além de dizer a verdade e Sans, definitivamente, não gostava de preocupar seu irmão. - NÃO MINTA PRA MIM, SANS! SE TEM ALGUMA COISA ERRADA SÓ TEM QUE ME DIZER.

— Ouch, Pap! Chamando seu pobre irmão de mentiroso? Eu não vou mentir, foi apenas um sonho ruim, nada mais! Não tem que se preocupar com isso, acontece. - tudo bem que Sans não era o maior contador de verdades da história, mas também não poderiam chamá-lo de mentiroso. O máximo que chegava a fazer, talvez, era omitir a verdade e isso era completamente diferente de mentir, certo?  Ainda assim seu irmão franziu o cenho.

— COMO EU PODERIA SER TÃO GRANDE SEM ME PREOCUPAR COM O QUE ACONTECE COM MEU PRÓPRIO IRMÃO?! VOCÊ SABE DE SEU PROBLEMA QUANDO FICA ALTERADO DE MAIS. SERIA PERIGOSO SE POR ACASO ACONTECESSE O MESMO DAQUELA VEZ.

— Você se preocupa de mais, Pap. Você sabe que Gaster já preparou tudo para que momentos assim não voltem a acontecer e eu sempre sei quando está acontecendo. Se um simples pesadelo pudesse me deixar naquele estado definitivamente eu mudaria pelo menos quatro vezes na semana. O que, como pode ver, não acontece. - Sans tomou um pouco do café deixado na mesa a sua frente, talvez o calor queimando sua língua ajudaria a deixar de lado as diversas memórias que agora insistiam em açoitar seus pensamentos no meio da conversa. - É preciso muito mais do que isso para me deixar naquele estado.

— SANS... EU SÓ... EU NÃO GOSTO DO QUE TEMOS QUE FAZER EM SITUAÇÕES COMO ESSA! NÃO GOSTO DE COMO VOCÊ FICA! UM DIA PODE ACABAR SE MACHUCANDO OU... - um suspiro pesado, mãos passando pelos cabelos brancos puxando-os para trás. Pap às vezes esquecia-se como era complicado abordar detalhes sobre Sans para ele mesmo. Seu irmão sempre parecia querer ficar longe desse tipo de conversa, concentrando-se mais em assuntos adversos, normalmente relacionados ao próprio Papyrus. - SEU HP É MUITO BAIXO, SANS! MESMO QUANDO AQUILO ACONTESSE E ME ASSUSTA O QUANTO VOCÊ SE ARRISCA NAQUELA FORMA. SE ALGUMA COISA ACONTECER... QUALQUER COISA PODERIA TE MATAR!

— Pap eu não vou morrer tão fácil assim. Agradeço sua preocupação, mas já faz vinte e seis anos que vivo dessa mesma forma, acho que já sei como lidar.

— EU APENAS NÃO QUERO QUE NADA ACONTEÇA COM MEU IRMÃO.

— E nada vai acontecer, Bro. Escute, foi apenas um pesadelo, ok? Acontece com qualquer um! Eu vou ficar bem, vou ir pro meu trabalho e se sentir que tem alguma coisa errado você será o primeiro a saber, certo? - Papyrus ainda parecia  um pouco hesitante em concordar, ainda assim, consentiu, tentando relaxar os ombros que já tinha tornado-se duros pela tensão. - Boa. Agora, fique de olho nas panquecas antes que elas comecem a queimar.

— COMO SE EU, O GRANDE CHEFE PAPYRUS, FOSSE CAPAZ DE DEIXAR ISSO ACONTECER! VOCÊ POR ACASO ESTÁ SUBESTIMANDO MINHA CAPACIDADE DE CAZINHA, SANS?!

— Nunca, Bro. Apenas não quero recordar da ultima vez que se distraiu do fogo. - zombou Sans, novamente bebericando um pouco do café enquanto seu irmão voltava-se para as panquecas a qual continuava a fazer. Um prato já estava pronto e Sans decidiu que iria puxá-lo para ele, afinal, não poderia deixar uma comida tão apetitosa esfriar.

— ISSO FOI PORQUE VOCÊ ME DISTRAIU COM SUAS MALDITAS MEIAS PELO CAMINHO! VOCÊ NÃO TEM MAIS DOZE ANOS PARA QUE TE LEMBRE QUE TEM QUE ARRUMAR SUAS COISAS!!

— Heh, tem razão, foi mal, Bro. Mas não é minha culpa se elas gosta de estar onde estão. - mais duas garfadas forma ao boca, saboreando o delicioso sabor que era a comida de seu irmão. Poderia não transparecer muito, mas Sans verdadeiramente apreciava esses momentos tranquilos com sua família, sejam eles quais forem. E não era bem porque ele não queria demonstrar o que sentia para quem realmente amava, era mais por, naturalmente, não conseguir. Foi uma forma bem estranha de se aproximar da personalidade introvertida de seu pai, mas não exatamente pelos mesmos motivos ou da mesma forma. Sans simplesmente havia sido amargado pela vida e não mais conseguia, por guardar tantos segredos, retirar com facilidade a mascara que precisou usar para dividir suas duas vidas. Mas agora não era o momento de pensar nisso, ele tinha alguns assuntos para resolver. - Ei, Bro. Falando em memórias, aquela sua amiga é irmã gêmea de Chara?

— QUER DIZER FRISK? - questionou Pap, sem retirar os olhos da frigideira a qual fazia as panquecas, recebendo como resposta um murmuro em concordância de seu irmão. - NÃO. PELO QUE FRISK ME FALOU AS DUAS FORAM ADOTADAS EM MOMENTOS E FORMAS DIFERENTES PELOS DREEMURS.

— Sério? As duas são extremamente parecidas.

— EU TAMBÉM FIQUEI SURPRESO QUANDO ELA ME CONTOU. APARENTEMENTE CHARA FOI ADOTADA DE UM ORFANATO ENQUANTO FRISK FOI ENCONTRADA NA CARAGEM DOS DREEMURS EM UM DIA DE INVERNO, OU PELO MENOS FOI O QUE METTATON ME CONTOU. FRISK NÃO ENTRA MUITO NESSE ASSUNTO. - foi realmente estranho... Sans não conseguia ver Frisk como uma garota de rua, apesar de se dar bem com eles. - MAS VOLTANDO AS SEMELHANÇAS DAS DUAS, METTATON TAMBÉM ME CONTOU QUE AS DUAS APENAS SE PARECEM EM APARÊNCIAS. EM PERSONALIDADE SÃO COMPLETAMENTE DIFERENTES.

— Mesmo? Isso é um alívio, não quero mais ninguém igual a Chara. Seria assustador. - e Sans já tinha comprovado esse ponto. Diversas vezes havia presenciado Frisk mantendo a calma em situações de estresse, sendo piedosa e caridosa, poucas vezes, ou quase nunca, ela deixava-se levar pela raiva, completamente diferente de sua irmã, tão explosiva como poderia ser, sem um pingo de misericórdia. No entanto, Sans não precisava de fatos dos quais ele já tinha conhecimento. Ele queria ir mais afundo, ele precisava tomar uma decisão ainda naquele dia. - Como ela é?

— ORA, SANS! PARA SER MINHA AMIGA ELA JÁ TEM QUE SER INCRÍVEL! - vangloriou-se Pap, um enorme sorriso desenhado em seu rosto enquanto acomodava-se na mesa, já com os três pratos de panquecas sobre a mesa, no entanto, apenas dois copos de café, um para Sans, que já deveria estar no final de seu primeiro copo, e outro para Gaster, que muito provavelmente estava a se arrumar para o trabalho e logo desceria. Papyrus não era fã de café, o que os outros dois membros da família estavam agradecidos por. Eles não queriam imaginar como um hiperativo Papyrus ficaria com dozes de cafeína em seu sistema. 

— Vamos, Pap. Seja mais específico. Ela parecia uma garota legal, eu não nego, mas não entendo como pode gostar tanto dela. - tudo bem, era um incentivo com um leve interesse por trás, ainda assim não muito longe da verdade.

— BEM... - Papyrus levou o cotovelo a mesa, apoiando seu rosto contra sua mão, pondo-se a pensar. - NÃO SEI SE POSSO SER TÃO ESPECÍFICO. NOS ENCONTRAMOS NO ANO PASSADO NO SHOPPING, ELA FOI MUITO GENTIL E DIVERTIDA. BEM QUIETA ÀS VEZES, UMA BOA OUVINTE E COM ÓBVIOS BOM GOSTOS, AFINAL, ELA APRECIA MINHA COMIDA E MEUS GOSTOS. CLARO, POR MAIS QUE ME COPIE, NUNCA SERÁ TÃO INCRÍVEL QUANTO EU!

— Claro que não, Pap. Ninguém é mais incrível que você. - incentivou Sans, um pequeno sorriso desenhando-se em seu rosto. Ele escutou todo o dialogo prolongado de Papyrus, divagando em assuntos triviais que havia ocorrido em suas saídas com a pequena morena. E para Sans foi agonizante, pois não fugia muito da realidade a qual ele já vivenciava. Talvez por isso Chara a tinha encontrado, Frisk era sempre a mesma pessoa, sempre a mesma garotinha gentil que sempre estava a estender a mão para quem precisava, que flertava quando queria se divertir, que fazia amigos com facilidade, por mais improvável que fosse. E cada vez mais ele percebia que, sua preocupação em ter um relacionamento com ela não derivava-se de sua desconfiança, mas sim do fato de já estar ligado emocionalmente a ela e não querer trazer-lhe problemas. Estar com ele, assumir um compromisso com ele, significava ser alvo dos inimigos os quais ele havia feito no decorrer de sua vida. Sua família não tinha escolha, mas ela tinha.

— MAS METTATON ME DISSE QUE ULTIMAMENTE ELA TEM ESTADO ESTRANHA. - lamuriou Pap no meio de todos os seus devaneios de momentos passados. Isso fez com que o sangue de Sans gelasse por um instante. Será que a entrada na gangue a tinha afetado de alguma forma? Será que estava lhe fazendo mal? Então por que tinha entrado?

— Estranha como? - insistiu.

— BEM... TUDO O QUE SEI VEIO DO QUE METTATON ME FALOU. APARENTEMENTE COMEÇOU ANTES DE NOS CONHECERMOS, ENTÃO ELE FALA QUE EU NÃO IA REPARAR MUITAS DIFERENÇAS... QUANDO ELE ME FALOU EU COMECEI A VER, EU ACHO, QUE REALMENTE TINHA RAZÃO. FRISK É UMA GAROTA BEM ANIMADA PARA TUDO QUE TEM PELA FRENTE, MAS... É COMO SE NADA MAIS IMPORTASSE PARA ELA, COMO SE FOSSE UM ROBÔ A SEGUIR O ENREDO DE UM FILME. ELA NÃO MENTE MUITO BEM, ENTÃO SEMPRE SABEMOS QUANDO NÃO ESTÁ BEM E ELA INSISTE EM DIZER QUE NÃO É NADA... - Pap abaixou o olhar, pousando as mãos sobre a mesa, encarando-as com mais atenção do que realmente parecia ser necessário. - EU ME PERGUNTO SE SOU UM AMIGO BOM O SUFICIENTE PARA AJUDAR. APENAS FUI PERCEBER DEPOIS QUE METTATON ME DISSE E...

 - Ei, Bro, não diga isso. Tenho certeza que você é o melhor amigo que alguém pode ter. Afinal, faz apenas alguns meses que se conhecem e você já se preocupa com ela dessa maneira, como se fosse sua amiga há anos! Tem como pedir alguém melhor?! - Sans tentou animar, no entanto, em sua mente, os pensamentos obscuros que haviam sido afastados com o começo da conversa voltaram. Pois sim, seu irmão era um excelente amigo, uma pessoa gentil que, apesar de seu egocentrismo, preocupava-se verdadeiramente com cada pessoa que conhecia, disposto a ajudar a qualquer momento. Ele nunca, em momento algum de sua vida, aceitaria o retirar de uma outra vida, seja quais foram seus pecados. Ele era benevolente. Uma pessoa como ele... Alguém como ele nunca aceitaria... Nunca deveria aceitar alguém como Sans. Iria odiá-lo, e o mais velho sabia e tal pensamento doía. Sabia que merecia esse ódio, mas não queria que Pap o sentisse por ele... - Se ela realmente for essa pessoa que você fala tanto, tenho certeza que deve estar agradecida por ter alguém como você ao seu lado. Acredite Pap, apenas com se importar já é uma grande ajuda. Para resolver o problema, apenas precisam de tempo para pensar e conversar. Mas nunca duvide do valor da amizade que tem por ela.

— OBRIGADO, SANS...

E o maior problema dos pensamentos negativos era que eles eram persistentes e imprevisíveis, não importa o quanto tentasse espantá-los.

Sans sorriu fraco em resposta para seu irmão, mente perdendo-se novamente em seus medos e inseguranças, retornando ao sonho que tivera apenas alguns minutos atrás. E para ele era assustador pensar que seu irmão poderia um dia chegar a odiá-lo, porque, apesar de muitas vezes não aparentar, Sans amava seu irmão. O amava tanto ao ponto de colocá-lo como a base de sua sanidade, a sustentação que o impelia para frente. E não era como se seu pai também não fosse alguém importante, mas Pap era um caso bem especial, era o irmãozinho que deveria proteger e resguardar. Uma alma ainda pura e inocente que deveria ser protegida do mundo cruel que existia hoje, foi isso que prometeu. E se alguém que odiava promessas chegava a realmente fazer alguma, com toda certeza a cumpriria. Pois eram exatamente essas pessoas que sabiam o peso que suas palavras poderiam ter.

E ele odiava admitir, mas Sans não era uma pessoa boa, existia algo em sua alma que apreciava o simples fato de, não apenas estar no comando, como também ter o poder que vinha junto a violência. O crescimento do LOVE era assustador e tentador ao mesmo tempo, muito semelhante a uma droga. Mesmo quem não possuía magia poderia facilmente lutar em vantagem contra outro que possuía se por acaso tivesse um LOVE alto. Era um poder esmagador... Sans lutava todos os dias contra esse anseio de poder e Pap era o seu freio, seu motivo para não se deixar levar.

Mas ainda existiam muitos pecados... Uma sombra tão obscura em suas ações que, em qualquer momento que Pap chegasse a realmente reparar, Sans tinha medo de perder o freio que o segurava.

— Ei, Pap... - sua voz escapou hesitante, fraca, não passando de um murmuro engasgado que seu irmão demorou a escutar. Suas mãos apertavam-se por debaixo da mesa em punhos bem fechados, olhos caídos para a comida deixada pela metade a sua frente. Ele não teria coragem de encarar seu irmão agora. - Se... Se algum dia você... Você souber que eu fiz algo muito errado... Uma merda bem grande, quero dizer, você pode, por favor, não me odiar? Eu sei que... Talvez seja pedir de mais... Que eu mereça, mas... Apenas... Por favor, não me odeie...

— ISSO FOI SEU PESADELO? - Sans sentiu seus ombros subirem em tensão, mas nada respondeu. Em nenhum momento ousou erguer o olhar, o silêncio alastrando-se por vai se saber quanto tempo, Sans preso em seus medos enquanto Papyrus ponderava a situação. Apesar de já ter sua resposta pronta ele manteve algum tempo para avaliar seu irmão, sabendo bem que, o que quer que se tratasse aquele pesadelo o tinha realmente afetado. Não era sempre que Sans quebrava-se dessa maneira. Pap sabia que seu irmão era bem mais amargurado do que mostrava, desde o acontecido de dezesseis anos, mas ainda era complicado encontrar um momento em que, mesmo por míseros segundos, ele deixava escapar um pouco dessas feridas. - SANS, NÃO IMPORTA O QUE ACONTEÇA, EU NUNCA VOU TE ODIAR! COMO SE EU, O GRANDE PAPYRUS, NÃO PUDESSE PERDOAR MEU PRÓPRIO IRMÃO POR ERROS QUE COMETEU! O MAIOR SEMPRE DEVE AJUDAR AQUELES MENORES DO QUE ELE! FOI O QUE VI NOS DESENHOS QUE UNDYNE ME MOSTROU!

— Acho que você está certo, Pap. - mesmo que sua inquietação não tivesse passado ainda se sentia mais aliviado do que inicialmente, o suficiente para voltar a sua postura descontraída de antes.

Gaster não demorou-se a juntar-se a eles depois, chegando a cozinha ainda bocejando por conta do sono que ainda deveria estar sentindo, sua noite deve ter sido tão curta quanto a de Sans, focado no trabalho como era, nenhum dos dois filhos duvidava que havia passado mais uma noite em claro. Ele, no entanto, surpreendeu-se ao ver ambos seus filhos já a tomar o café da manhã. Papyrus era normal, despertava junto as galinhas com mais disposição do que qualquer galo disposto a cantar e anunciar a hora, mas Sans? Seu filho mais velho estava mais para o tipo que se manteria na cama até o ultimo segundo possível, procrastinando como sempre. Vê-lo ali, em plenas seis horas da manhã era um fácil indicativo que alto estava fora do lugar.

No entanto, Gaster era o tipo de pai que deixava que seus filhos se aproximassem por conta própria. Como um homem introspectivo, com pouca experiência em contato com outras pessoas e más memórias com tais, suas atitudes muitas vezes poderiam ser taxadas de frias até mesmo com seus próprios filhos. E não era por mal, ele simplesmente pensava que, ao dar espaço a eles, como todos os adultos que eram, eventualmente eles se aproximariam por conselhos. Gaster sempre pensou ter deixado bem claro que sempre estaria disposto a ajudar seja em qualquer coisa. Ainda assim, com Sans, tudo parecia ser um pouco mais complicado.

Onde foi parar o garotinho animado de anos atrás, ele não saberia dizer. Parecia ter sido bem mais fácil naquela época do que agora, mesmo quando ele prendia-se em uma de suas pernas, agarrando-se como um pequeno peso animado e elétrico, rindo de suas travessuras, correndo o risco de se machucar, não temendo, em nenhum momento, o HP baixo que possuía. Não para menos, naquele momento ele era apenas uma criança sem quaisquer conhecimento sobre os riscos de um corpo frágil. Tão pequeno... Gaster sentia falta dessa época. Sua esposa seria bem melhor para lidar com as complicações que tinham agora, ela sempre foi mais comunicativa, muito parecida com Papyrus, animada e social. Como alguém como ela foi se interessar por alguém como Gaster ele nunca saberia, mas estava feliz que aconteceu. E ainda que não a tivesse por perto ele tentava manter a memória dela para que pudesse pelo menos tentar resolver tais situações inconvenientes com seus próprios filhos.

O café foi tão tranquilo quanto possível. Era previsível para o mais velho da família saber que seu primogênito havia tido um pesadelo. Desde os dez era bem comum, agravados aos quatorze. Recentemente haviam diminuído consideravelmente, mas ainda eram uma normalidade no cotidiano, bem sabendo que de nada importava pergunta, incentivar a conversa, Sans estava determinado a manter-se calado, segurando tudo para si. Com toda certeza uma característica que puxava do pai.

A questão foi que logo tal preocupação caiu por terra, pelo menos para Sans, deixando como único pensamento em sua cabeça durante o resto do dia a indecisão sobre sua vida amorosa. E não deveria ser algo complicado de se pensar. Cooperemos que ele era um homem já crescido, com diversas experiências anteriores e que deveria saber o que queria e o que não queria, mas a realidade era bem diferente do que achávamos que adultos eram quando ainda nos encontrávamos como crianças ingênuas. Adultos tinham duvidas, inseguranças, medos e frustrações. Eram como crianças maiores, basicamente, talvez melhores comparados com adolescentes, que tinham a cabeça mais enfurnada com dramas da vida. Obviamente existia a maturidade em certas partes, mas ainda adolescentes.

A maior questão era: Ele seria realmente egoísta o suficiente para colocar uma garota tão boa como Frisk em uma situação que possivelmente poderia levá-la, na melhor das hipóteses, a morte? E não se enganem, Sans era uma pessoa demasiadamente egoísta, tanto que mesmo com seus pecados ele não conseguiu abrir mão de sua família, do que lhe era importante. Como um assassino, um meliante, um criminoso, repleto de inimigos perigosos com contatos além da imaginação, ter algum tipo de intimidade, contato, qualquer relação social além do interesse profissional era o mesmo que colocar-se nu em meio a um tiroteio e rezar para nenhuma bala acertar-lhe a pele exposta. E mesmo sabendo disso ele permanecia a insistir em manter ambas as suas vidas.

Pessoalmente, retornando ao seus problemas amorosos, ele só tinha a ganhar. Obviamente seria mais alguém a manter sobre vigilância constante pelo medo da perda, mas poderia ser... Talvez... Um começo diferente, uma ideia de mudança, talvez um respiro tranquilo no meio da turbulência que era sua vida. Fazia um tempo que ele não sabia o que era a estabilidade e o conforto de um relacionamento sério, se é que ele chegou um dia a saber. Ele já tinha vinte e seis anos, o tempo não parava, e por mais que ainda fosse jovem, talvez estivesse na hora de procurar alguma coisa em que se fixar.

E ele já estava começando a parecer um velho pensando assim...

Bem, como todo um egoísta que era decidiu que iria arriscar. Talvez pudesse manter o relacionamento em segredo, explicaria para Frisk a situação e ela escolhesse o que preferia. Ele não precisava necessariamente fazer tanto drama sobre o assunto, não é? Apenas... Apenas se deixar levar, parar de pensar um pouco e finalmente agir.

Decidido então ele esperou até o começo do final da tarde, o fim do seu expediente de trabalho e começo de sua vida noturna. Nem sempre, no entanto, Sans ia para a cede, apenas quando via alguma necessidade em monitorar os acontecimentos decorrentes ou em algum dia para receber relatórios, já pré determinados em datas e horas. O lugar era bem estruturado sozinho para funcionar sem tê-lo por perto e, como muitos ali, ele orquestrava uma vida dupla que precisava da devida atenção em seus devidos momentos. Ausentar-se todas as noites de casa chamaria muita a atenção de sues familiares e ele não queria, definitivamente, dar alguma explicação.

Seja como for, no começo daquela tarde ele estava na cede. Sua esperança era encontrar algum momento em que pudesse ter uma conversa privada com Frisk sem que chamasse a atenção, no entanto, as circunstâncias pareciam estar a seu contra e a garota tinha, aparentemente, o dobro do trabalho que originalmente ela deveria ter, pulando de um canto ao outro, saindo para entregas várias vezes consecutivas e ainda tentando distribuir as tarefas para ajudar Diana, que estava tão afobada e atarefada quanto. Talvez fosse por conta da anterior ameaça com Chara. As informações deviam estar uma loucura e repassar a mensagem para todos sem o uso de aparelhos mecânicos para não correr o risco de serem interceptados por usuários de magia de controle eletrônico era complicado. Era um sistema mais seguro, no entanto mais trabalhoso e demorado.

Ele começava a acreditar que aquele não seria seu dia e que talvez deveria esperar até o seguinte para ter alguma oportunidade. A noite já caia, madrugada se aproximava e ele apenas a tinha vislumbrado algumas poucas vezes em sua correria pelo sexto andar. Agora, jogado sobre sua cadeira, pés sobre a mesa, cabeça jogada para trás no encosto lendo um livro qualquer em sua sala ele tentava distrair sua mente da frustração. Não ajudando muito o fato de seu próprio corpo ferver na expectativa de conseguir, pelo menos, um único beijo. Aquela garota o deixava louco e se ele não pudesse, pelo menos, experimentar um única vez aqueles lábios com toda certeza ele perderia a cabeça e não precisaria de Chara para isso.

Para aqueles que não sabem usuários de magia podem sentir, por assim dizer, as ondas mágicas desprendidas de outro usuário naturalmente. Quanto mais forte seu núcleo mágico fosse e mais sintonia estivesse com ele mais dessas fracas ondas conseguiria identificar, consequentemente, sendo mais sensitivo a idas e vindas de outras pessoas. Mesmo aqueles completamente desprovidos de magia poderiam ser identificados, apesar de mais dificilmente, pelas leves ondas que suas almas produziam apenas para manter-se como eram. Mas o fato era que, ele a percebeu antes mesmo de entrar em seu escritório, mudando completamente o rumo de sua sorte naquele dia.

A magia se espalhou pelo lugar, desprendida como finos fios vermelhos ligados a alma bem protegida por camadas de matéria. Um constante fluxo leve, quase imperceptível, fluindo através da figura esguia que erguia-se cansada e apressada a sua frente, pilhas de papeis em seus braços. Ele nunca compreenderia porque sempre parecia que ela estava usando seus poderes, apesar de seu núcleo mágico nunca aparentar estar a se dispersar para manter o fluxo, concentrando-se e expandindo-se constantemente em pulsações leves acompanhando o coração de sua portadora.

Frisk mantinha-se imutável, porém, a seu olhar, aproximando-se com passos firmes para depositar os papeis em sua mesa.

— Relatórios do que aconteceu ontem meu e da Dee-dee. Ela ainda pediu para avisar que na próxima vez que precisar informar, quase no mesmo dia, para todas as pessoas da cidade o começo e o fim de uma guerra, que pelo menos avise antes. E não, ela não aceitou as minhas desculpas, disse que era você, como chefe, que deveria ser responsabilizado. O outro é de Ray e Carl, sendo que Carl pediu para avisar-lhe que deixou umas informações adicionais as quais eu não poderia ler. Sinceramente espero que não seja o que estou pensando. - Sans deixou escapar uma gargalhada fraca, pés caindo ao chão e livro deixado de lado sobre a mesa para que pudesse conferir os papeis que lhe foi entregue, mesmo que não estivesse nem um pouco interessado naquele momento. Sua mente estava indo para outros lugares.

— E como foi o acordo com Chara? - perguntou casualmente, ainda folheando desinteressado os relatórios. Ele teria tempo depois.

— Nada além do normal. Terei que livrar a barra dela com nosso irmão, que está começando a desconfiar da vida dupla que ela leva, terei que dar satisfação do que faço ou deixo de fazer e voltar, sempre que possível, antes da meia noite para casa. Oh! E minha sobremesa será dela pelo resto de nossas vidas debaixo do teto de nossos pais. - Frisk deu de ombros, um pequeno sorriso zombeteiro em seu rosto, não realmente se importando com as implicações de sua irmã, apesar de ter realmente sofrido algumas boas ameaças as quais envolviam uma faca assustadoramente perto de variadas partes de seu corpo. Não poderia dizer ainda que saiu ilesa. Foi o ultimo aviso que ela poderia dar, a próxima ocorrência que lhe desagradasse envolvendo o mais velho dos irmãos skelton definitivamente seria resolvida na luta, e nada do que ela pudesse falar poderia mudar isso.

Sans, por sua vez, ergueu uma sobrancelha em descrença.

— Eu pensei que ela iria pedir algo... Bem maior do que isso.

— Como eu disse, Chara não é tão ameaçadora quanto parece, principalmente se souber estar em seu lado bom. Mais ou menos como Papyrus.

— Por favor, não compare meu irmão com aquele projeto de demônio. Me sinto doente apenas de pensar.

— Apenas tentando fazer uma boa comparação. - Frisk riu, divertindo-se com a careta que Sans fazia. Era realmente complicado comparar alguém benevolente como Papyrus à alguém cruel como Chara, no entanto, depois do que viu no dia do boliche ficou claro que nem tudo era o que parece e que mesmo alguém tão gentil poderia ser cruel, assim como alguém cruel poderia ser gentil, tudo dependeria das circunstâncias que lhe eram apresentadas. O mundo deveria viver em equilíbrio afinal. - Bem... Melhor eu ir, tenho ainda trabalho a fazer.

Girando sobre seus calcanhares Frisk caminho para fora, determinada a sair. Sua mão chegou a pousar na maçaneta quando outra postou-se por cima, impedindo-a de girar o metal para abrir a porta. A respiração quente em seu pescoço veio em seguida, trazendo arrepios para seu corpo, outra mão acomodando-se sobre a porta, não muito longe de onde encontrava-se seu rosto. Ela poderia sentir sua presença, escassos centímetros de suas costas, pairando sobre ela com óbvios anseios. Automaticamente seu coração passou para um pulsar mais rápido e muito provavelmente sua respiração teria o acompanhado se ela não tivesse a dignidade de controlá-la.

— Sans, eu tenho trabalho. - murmurou, sem ao menos erguer sua cabeça, olhos encarando fixamente a mão pálida a envolver a sua.

— Eu sei, mas não te deixei sair ainda. Temos assuntos inacabados a discutir e eu já esperei tempo suficiente para ter um fodido segundo a sós com você. - delicadamente ele a fez soltar a maçaneta, girando seu corpo para que assim pudesse encará-lo. Tão pequena... Mesmo ele que era relativamente baixo conseguia erguer-se acima de sua cabeça. A tinha encurralada, olhos dourados a encará-lo com toda a atenção que poderia focar e, com todas as suas forças, ele tentava manter-se ainda são enquanto os observava. - Você me disse que me daria até hoje para pensar no que eu queria e bem, já me decidi. Decidi que talvez não fosse tão mal arriscar alguma coisa diferente do que estou acostumado e que talvez eu possa tentar ser o cara certinho.

— Não peço para mudar, Sans. Apenas quero que me trate como uma namorada e não um brinquedo.

— Qualquer coisa que seja.

— Tão desesperado? - brincou Frisk, a distância encurtando tanto do rosto quanto do próprio corpo. As mãos de Sans desceram para suas pernas, dedilhando por sobre a meia calça a qual usava trazendo arrepios bastante evidentes para Frisk. Ele não sabia o quanto ela gostava quando ele a tocava dessa maneira.

— Talvez. Se eu disser que sim você me permite um beijo? - os olhos se fechavam a respiração ficava pesada, pouco faltando para o que ambos ansiavam.

— Apenas um beijo. Tenho trabalho a fazer e você sabe disso.

Sans não reclamou, para alguém que estava prestes a desistir da noite qualquer coisa era um lucro.

Sem esperar qualquer segundo a mais, já tendo recebido a permissão que precisava, ele avançou a pouca distância que ainda restava, devorando os lábios da garota com voracidade e vontade, nem um pouco delicado ou casto. E assim que começou não quis mais parar, a ideia de apenas um se desvaneceu de sua mente, deixando apenas o incrível anseio de mais e mais e mais e mais. E era que na realidade um beijo com uma pessoa desconhecida não era toda a beleza que as pessoas costumavam imaginar em romances ou contos de fadas. Beijar era estranho, não poderia ser dito como bom desde o começo e demorava ainda algumas tentativas a mais para que finalmente pudesse apreciar de uma boa sensação, no entanto, Sans surpreendeu-se ao deliciar-se com um  beijo perfeito logo no começo.

Ele não poderia explicar exatamente como, mas era como se a garota que tinha agora em seus braços fosse feita para ele e apenas para ele, seus lábios movendo-se com maestria contra os seus, sabendo exatamente o que deveria fazer para enlouquecê-lo ainda mais. Era familiar, como se já tivessem se beijado diversas vezes antes e, se por acaso fosse possível se apaixonar apenas com isso, ele definitivamente estava inclinado a aceitar o derradeiro fato de ter caído para aquela garota.

Sua mão subiu pelas pernas esguias, dedicaram-se um pouco ao quadril antes de finalmente prender-se as cochas um pouco abaixo das nádegas, puxando a garota para cima o suficiente para ter um melhor acesso e conforto da deliciosa boca a qual mantinha-se a provar. Os braços finos envolveram-lhe os ombros, agarrando sua jaqueta com força, quase arrancando-a de seu lugar. O beijo ficou mais intenso, o calor cresceu entre os dois e as roupas começaram a ser um incomodo. Ele poderia facilmente passar da linha, mãos massageando a carne a qual segurava com firmeza, deliciando-se com os suspiros entrecortados pelo beijo frenético, não conseguindo evitar seus próprios ruídos enquanto sentia como mordia sua boca e sugava sua língua.

Facilmente poderia perder o controle. Tão perdido em seus próprios anseios nem ao menos parou para escutá-la depois que se separaram por instantes, recuperando o fôlego perdido. Bastou uma simples bocada de ar para puxá-la novamente para outro beijo, apertando-se mais contra ela, procurando sentir mais, ouvir mais, querer mais. Suas mãos subiram paras as nádegas, erguendo-a um pouco mais para que os pés deixassem definitivamente o solo, divertindo-se com a abafada exclamação de surpresa que ela havia deixado escapar, abraçando-o mais forte como um reflexo de evitar cair.

Quando seu celular começou a tocar sobre a mesa o que ele mais desejou fazer foi ignorar, finalmente largando-lhe os lábios para descer até o pescoço, abaixando com seu próprio rosto o tecido do cachecol vermelho para poder ter contato com a pele morena que lhe esperava por baixo. Frisk engasgou baixo logo após sentir a mordida, uma sensação tão conhecida que não mais lhe incomodava, mesmo se chegasse a lhe machucar. Tudo o que lhe restava era o prazer e arrepios pelo corpo.

— S-sans... O celular. - ela resmungou, tentando o máximo possível voltar sua mente para fora do topor que tinha se metido. Ela sabia que isso iria acontecer, ela sabia que a partir do momento que ele começasse seria complicado colocar um fim. Sans, por sua vez, apenas soltou um resmungo, continuando em seu trabalho de mordiscar-lhe o pescoço, algumas vezes propondo-se a lambê-lo ou, em outras, beijá-lo. - Pode... Pode ser importante.

— Isso é importante. - ele retrucou, arrepios constantes subindo sua coluna cada vez que Frisk resmungava algum protesto, tão próxima de seu ouvido que ele sentia como uma provocação a mais. Ele não aguentaria muito mais dessa maneira, seu corpo ansiava por algo a mais, para finalmente pular para o mais interessante.

— Sans... Por favor. - ela o forçou a erguer o rosto, encarando-a diretamente nos olhos enquanto fazia o pedido. E com toda certeza alguma coisa deveria ter queimado em seu cérebro, pois, por mais que tentasse, ele sabia que não poderia dizer-lhe que não. Ele faria tudo e qualquer coisa que ela pedisse naquele momento e isso era assustador.

— Tudo bem... - ele suspirou, derrotado. Com delicadeza a colocou novamente no chão, seu celular ainda tocando enquanto ajeitavam-se para que estivesse apresentáveis novamente para os de fora. Mas o assunto ainda não tinha acabo, Sans precisava garantir que o que aconteceu ali ficaria apenas entre os dois, para a própria segurança de Frisk. Ele a segurou pelo pulso, tão de leve como conseguia, aproveitando para roubar-lhe mais um beijo antes de finalmente começar a falar. - Ninguém pode saber o que aconteceu aqui, entendeu sweetheart? E não tire conclusões precipitadas, eu vou explicar o motivo, então me espere depois que terminar seu trabalho, vou te acompanhar até em casa e aí vou te dizer. Depois vai ser você que vai ter que escolher.

— Ok, só não me deixe esperando de mais. - Frisk tentou brincar. sorrindo feliz enquanto sentia a mão de Sans brincar com seu cabelo e acariciar-lhe o rosto. Sans sorriu de volta, finalmente afastando-se para poder pegar seu telefone enquanto Frisk finalmente poderia sair do cômodo e continuar seu trabalho.

 Encarando a tela de seu telefone agora Sans estranhou ao ver um numero desconhecido sendo marcado na chamada, tão persistente em continuar apesar da demora. Dando de ombros ele atendeu, levando aparelho para o ouvido apenas para escutar uma voz demasiadamente conhecida para seu gosto. Ainda assim demasiadamente surpreendente que tenha seu numero.

— Eu deveria me preocupar que a Rainha de Copas me tenha como contato em seu telefone? - questionou em resposta a chamada, novamente sentando-se em sua cadeira, ignorando todas as folhas sobre sua mesa para simplesmente levar os pés a ela, apoiando-se comodamente. - Como conseguiu meu numero?

Peguei do telefone de Frisk, é claro. Sem ela saber, obviamente. Uma pequena parte não dita de nosso acordo, afinal, eu tenho que ter certeza que você não está torturando minha irmã.

— Que irmã exemplar você é, sinto até inveja. - respondeu sarcástico. - Agora me conte, por que ligou? Duvido que seja pra saber como Frisk está. Teria ligado para ela se fosse esse o caso.

Tenho informações que tenho certeza que vão ser do seu interesse.— Sans ergueu uma de suas sobrancelhas, realmente intrigado com o que Chara havia acabado de anunciar. Ele não imaginava que ela realmente tivesse algo interessante para ele, a maior parte de suas conversas resumiam-se a provocações e ele bem sabia que ambos já haviam se afundado bastante em detalhes sobre o outro, apenas para ter uma arma que poderiam usar em caso de emergência.

— É bom que seja realmente uma boa notícia. Estava em um assunto importante. - não era bem uma mentira, apesar de realmente admitir que estava ansioso para terminar sua conversa com Chara o mais rápido possível. Se ele tivesse perdido um bom momento com Frisk por conta de uma besteira definitivamente não deveria ser responsabilizado por seus atos seguintes.

Oh! Sinto muito em ter interrompido sua foda, Sans! Mas tenho certeza que a garota poderia entender.

— Não me tente, Chara. Sabe que posso chegar a onde está muito rapidamente e sem que ao menos perceba. Diga logo qual a informação que tem para mim.

Ok ok. Também não posso ficar muito tempo para falar com você, apesar de nós dois sabermos o quanto adoramos ter uma conversa saudável. - Sans grunhiu em resposta. Apesar de seu humor não estar tão ruim, ainda não tinha muita paciência para lidar com as brincadeiras de Chara. - Já vou avisando que não vai gostar. Eu mexi alguns pauzinhos para descobrir quem foi o idiota que se intrometeu em nossa conversa ontem.

— Espera. Como conseguiu achá-los tão rápido?

— Como eu disse, mexi alguns pauzinhos. Você sempre subestima minha força de informação, como acha que consegui encontrar Frisk sem nem ao menos ter seu nome ou aparência? Meus homens são bem capazes de detectar qualquer magia que seja, tenho especialistas para isso e você sabe muito bem. - um estranho silêncio se colocou do outro lado da linha, por instantes Sans tentou imaginar o que Chara poderia estar pensando naquele momento. - Você sabia que Frisk tinha magia desde quando, comediante?

— Estranha mudança de assuntos. - comentou, uma de suas sobrancelhas erguendo-se em desconfiança. Ele ainda se colocou a pensar, recordando-se que a primeira vez que realmente a viu utilizar de sua magia foi no mesmo dia em que toda a confusão começou, ou seja, ontem. No entanto, ele não poderia negar que já estava suspeitando de tal capacidade, ele poderia sentir o potencial a distancia, mesmo que demasiadamente fraco. Os fios que escapavam de sua alma deveriam ter deixado claro antes, mas... Ele nunca realmente dedicou-se exclusivamente a pensar em tal. Bem, não faria mal dizer a verdade, ele não via nada a perder ou que pudesse, posteriormente, prejudicar Frisk. - A primeira vez que vi ela usá-la foi ontem. Por que?

Foi também a primeira vez que a vi usar, eu nem sabia que ela era capaz disso. Quando levou o tiro... Ela usou uma placa de metal para interceptar a bala, foi difícil de ver, apareceu e desapareceu muito rápido, mas tenho certeza que ela fez com magia. - não deveria negar que definitivamente aquilo havia lhe chamado a atenção. Sendo sua própria irmã, Chara deveria saber sobre a magia de Frisk, se ela a liberou assim como todas as outras pessoas a família sempre era a primeira a saber e fornecer o devido apoio. Sans conhecia Toriel, muitas vezes já tinham trocado boas conversas recheadas por trocadilhos, os quais ambos usufruíam e apreciavam, e, por tal conhecimento, ele sabia que ela nunca deixaria de apoiar seus filhos seja no que for, apesar de seu forte senso super protetor derivado de qualquer mãe. Por que Frisk não havia contado a família? Como eles poderia não saber? - Tentei fazê-la falar quando conversamos, mas ela se recusou. Não gosto de ter que dizer isso a você justamente, mas como faz parte de um dos segredos dela e sei que ela confia em você mais do que deveria, pensei que pudesse saber de mais alguma coisa. Ela está escondendo mais do que realmente eu acho que sou capaz de descobrir.

Admitia, seu coração falhou um pouco ao ouvir que Frisk confiava nele. Levando em consideração sua personalidade ele chegava a pensar que era com todos, mas... Da forma como Chara colocava parecia que ele era um caso especial, o qual confidenciaria fatos que nem ao menos a família parecia ter conhecimento. E, mesmo que não se considerasse realmente digno ou merecedor de tal confiança, seu coração inflou em alegria e orgulho, precisando conter, de alguma forma, um sincero sorriso que começava a se desenhar em seu rosto.

Ele estava perdido...

Chara suspirou do outro lado da linha, ele talvez tivesse se mantido tempo de mais calado.

— Espero que me mantenha informada sobre qualquer atividade de minha irmã, comediante, não queremos outra confusão, queremos? Mas bem... Continuando o assunto, eu estava esperando encontrar uma dessas novas gangues pequenas que acham que conseguem subir rápido dando uma de corajosos idiotas, mas acho que me enfiei em um de seus problemas internos. - Foi uma mudança brusca na conversa, saltando de um pouco a outra, no entanto, foi o suficiente para tirar Sans de seus devaneios de adolescente. Mais atento, Sans inclinou seu corpo para frente, expressão tornando-se séria. Ele não estava gostando do rumo dessa história. - Encontramos os contratados, realmente, mas pelo que eles nos disseram apenas estavam fazendo um trabalho de ultima hora valendo uma boa grana. E adivinha de quem é o nome do contratante. Eu realmente sugiro que faça uma limpa no seu ninho de ratos, pq acho que tem algumas cobras escondidas. Betty Finigan, tenho certeza que esse nome é familiar para você.

Você tem certeza sobre isso?

Não subestime minha rede de informações, Comediante. Um dos meus usuários rastreou as mensagens de numero privado e definitivamente veio do celular dela. Não existe duvidas. Sua assinatura mágica estava lá.

A assinatura mágica era um leve resíduo deixado por qualquer alma em determinado recipiente de uso constante. Naturalmente, em um fluxo natural de trocas, a alma estava recebendo e doando magia para o meio em que existia, assim como a energia gerada na física. Algumas vezes, em usos constantes, a magia prendia-se em ondas características da pessoa em objetos que tinham usos constantes de pessoas. Isso facilitou um bastante as investigações forenses, afinal, mesmo alguém incapaz de usar da magia de forma visível, ainda a possuía em sua alma, consequentemente, também fazendo trocas com o meio, objetos e outras almas. Se o celular tivesse sido usado por outra pessoa dentro de um curto período de um dia a assinatura mágica teria sofrido oscilações perceptíveis para um especialista em controle eletrônico, mas se Chara não tinha levantado tal informação, quer dizer que apenas Betty havia utilizado do aparelho.

Mas não era isso que preocupava Sans. A informação veio fácil de mais, para pessoas acostumadas a manter negociações em segredo o nome do contratante havia aparecido como mágica em suas mãos, revelando um único traidor. Ele tinha certeza que era apenas um bode expiatório, outras pessoas também deveriam estar envolvidas. Chame de instinto, mas covardes que contratavam outros para fazer o trabalho sujo nunca andavam sozinhos. Betty era fácil de se manipular por culpa de seu temperamento explosivo e seus desejos egoístas evidentes, para não dizer de sua inveja. Como também era uma não usuária de magia e com pouco conhecimento sobre tal, sem falar de suas ultimas intrigas com Frisk, ela seria o boneco perfeito para ser usado em casos como esse. A questão era, Sans não poderia provar sua linha de pensamento. Tudo que tinha era suposições baseados em instintos e experiências passadas, não poderia julgar alguém apenas com isso, mesmo que tivesse em mente já alguns nomes que poderiam ter seu envolvimento na história.

E o pior de tudo ele teria que dar seu julgamento, querendo ou não. Obviamente ele poderia manter em segredo enquanto procurava mais a fundo, no entanto, querendo ou não Betty tinha feito parte de todo o projeto, tentando ferir um de seus próprios companheiros de forma fatal, o que era contra as regras. Ela deveria ser julgada, assim como todos os outros, ele deveria fazer seu trabalho ou o respeito cairia.

Terei que interferir?

— Isso é problema interno meu, Chara. Nem ouse em meter seu nariz aqui.

Tudo bem, tudo bem. Mas dessa vez Frisk quase morreu por esses problemas, comediante de merda. Se não souber lidar com seus próprios subordinados e minha irmã sair no prejuízo por causa disse eu juro que a guerra não será apenas uma ameaça.

Nada vai acontecer com Frisk, Chara. E não tente me ameaçar com isso, eu sei muito bem como cuidar dos problemas da minha gangue. - sem esperar qualquer tipo de resposta ou uma despedida adequada, Sans desligou o telefone, deixando por fim escapar um suspiro cansado. Sua mão subiu até seu cabelo, puxando-o para trás por alguns instantes antes de finalmente soltá-lo, a mão ainda escorregando pelo resto do cabelo até alcançar a nuca, esfregando-a com cansaço evidente. E era porque às vezes odiava ser quem era e o que se via forçado a fazer.

Não querendo adiar o inevitável, Sans ergueu-se de sua cadeira e arrastou-se para fora. Ele sabia que Betty costumava ficar em seu tempo livre na sala do sexto andar, o motivo era bem evidente, mas sinceramente para Sans era um fastígio sem tamanho e agora que estava com Frisk seria ainda pior. E ele não necessariamente desagradava-se dela, era uma garota bonita que ele não se importaria de passar uma noite com, todavia, suas atitudes naturalmente escandalosas não o deixavam simpatizar com ela ou ter mais do que uma atração momentânea. O que era diferente de Frisk a qual ele não conseguia, definitivamente, parar de pensar, mesmo antes de seu beijo. 

Do lado de fora de sua sala ele conseguiu reparar algumas pessoas a ir e voltar de andares mais abaixo, alguns poucos mantinham-se tranquilos a conversar sentados em alguns dos sofás dispostos pelo lugar. Frisk ainda se encontrava ali, aparentemente tinha sido arrastada com Carl para um conversa acalorada entre um pequeno grupo de pessoas, no qual a pobre morena parecia um tanto perdida. Ele tentou não focar-se nela, tinha um dever a cumprir e quanto antes o fizesse mais cedo estaria livre para lidar com a culpa que se acumularia. Apenas desejava que não tivesse que fazer nada em frente a, agora, sua namorada. Tudo bem que já tinha feito antes, mas agora... Ele apenas pensava que não seria agradável dar-lhe mais motivos para se afastar. Ele ainda não entendia como ela poderia estar ao lado dele tão tranquilamente bem sabendo de todas as vidas que ele era bem capaz de tirar.

Mas, novamente, a sorte não estava do seu lado e Betty, como era de se imaginar, também estava no sexto andar, conversando despreocupadamente com seu pequeno grupo de seguidoras, como se realmente não tivesse uma enorme quantidade de trabalho para fazer.

— Betty. - chamou, alguns passos de onde o grupo se encontrava. Ele conseguiu ver perfeitamente o brilho no rosto da garota desvanecer-se aos poucos assim que seus olhos avaliaram a expressão em seu rosto. Ele apenas poderia imaginar como estaria, supondo que não era muito amigável, afinal, não conseguia deixar de pensar que Frisk poderia estar morta naquele momento por uma simples inveja. - Poderia me informar o motivo de ter contratado atiradores para espirar nosso encontro de ontem com os Navalhas Vermelhas?


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Notas finais do capítulo

Acreditem se quiser, o próximo é maior. Bem vocês vivem me dizendo que gostam de caps grandes, então acredito que não tenha problema. Novamente peço desculpas se eu atrasar nas respostas de comentários, realmente a semana não está pra mim e eu realmente tenho que me concentrar tanto nos estudos quanto em escrever os próximos caps para vocês mesmos (não tenho mais nenhum já pronto T-T)
Espero que tenham gostado, preparem-se para as diversas tretas seguintes e emoções fortes.
Obrigada por lerem, continuem determinados!