FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 24
Dores, escolhas e relações


Notas iniciais do capítulo

Yooooo! Neko falando.
Um pequeno aviso é que, provavelmente, nesse final de semana, postarei um especial para comemorarmos a chegada de 200 favoritos no Social Spirit e a, bem, aqui por ser a FANFIC MAIS POPULAR QUE JÁ ESCREVI ALGUMA VEZ EM NOVE ANOS! Então fiquem atentos.
Teoricamente deveria ter sido lançado antes, mas como estou escrevendo ele junto com o capitulo 28 (porque a história original não pode parar), ficou meio atrasado. Ah! Já adiantando o tema do especial, aproveitando essa febre toda de pokemon Go (eu to viciada nisso!), vai ter como principal universo PokeTale. Se não conhece, pesquisa (tem TrainerTale tbm). Eu acho um particularmente interessante.
No mais é isso, divirtam-se com o capitulo!



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FusionTale - Dores, escolhas e relações

Chara tentou mais uma vez, materiais trabalhando com maestria em uma fechadura aparentemente simples, mas que ainda insistia em manter-se trancada a esconder os segredos que muito provavelmente estavam do seu outro lado. Não importava como, o que e quantas vezes ela tentasse a porta e a fechadura pareciam impossíveis de abrir, tão determinadas quanto a própria usuária a manter o lugar bem escondido e encoberto. Todavia, tal persistência apenas atiçava a curiosidade e desconfiança dos outros da casa, principalmente dos dois irmãos da envolvida.

O que Chara não imaginava e talvez nunca saberia era que Frisk tinha a magia para usar a seu favor. A moldagem e criação eram simples e poderiam servir de diversas formas diferentes, tudo que precisava ter era a criatividade para inventar. Depois de tudo que viveu, mesmo que não parecesse real, Frisk tinha criatividade e ideias o suficiente para conseguir utilizar de tal poder das melhores maneiras possíveis. Tendo como um ótimo exemplo a própria porta a qual Chara tentava inutilmente abrir.

 A tranca havia sido moldada para que as diversas curvas as quais fazia para prender a porta em seu lugar fossem impossíveis de se desfazer se não envolvesse algum tipo de moldagem a mais. Para onde a chave virasse alguma parte das bifurcações entre as engrenagens mantinha-se engatada e presa, impossibilitando o destrancar. Era como um pequeno quebra-cabeça, simples e complicado ao mesmo tempo, impossível de se ver. Frisk sabia que tentariam bisbilhotar o que tanto mantinha segredo, poderia não imaginar que Chara usaria de arrombamento, mas ainda suspeitava de pelo menos o uso de um chaveiro, a questão era que, assim como toda pessoa inteligente, Frisk foi precavida e tomou providencias para que o que mantinha guardado ali nunca fosse visto.

Ela não queria imaginar o que aconteceria se alguém descobrisse suas anotações sobre outras linhas do tempo, acontecimentos futuros e passados, ocorrentes de maneiras diferentes a cada vez.

Chara, por sua vez, bufou em irritação por não conseguir, talvez pela décima quinta tentativa, abrir a porta, desistindo por fim. Frustrada e com os nervos estourando-lhe a cabeça ela girou os pés na direção das escadas, subindo com passos pesados e fortes, resmungando blasfêmias por sobre sua respiração até o momento em que adentrou no quarto de seu irmão, jogando-se sobre a cama sem nem ao menos prestar atenção em Asriel, pacientemente esperando que a morena se tranquilizasse para que pudessem conversar.

— Vejo que não conseguiu. - comentou o mais velho, apesar de bem saber que era uma observação óbvia, recebendo como única resposta um grunhido irritado. O rapaz suspirou, olhos caindo sobre suas mãos as quais brincavam distraidamente com os dedos, mente infestada de diversas duvidas as quais começava a acreditar que nunca teria respostas. Afinal, quando foi que sua família começou a montar-se sobre tantos segredos e mentiras? - Onde aprendeu a arrombar, aliás? Não acredito que isso seja ensinado na escola.

— E isso importa?! Nossa irmãzinha está escondendo alguma coisa de nós, detalhe que nunca aconteceu antes. - em um impulso com as pernas Chara se sentou na cama novamente, olhos fulminando Asriel por um instantes antes das mãos tamparem o rosto de forma exasperada, em um visível estado de frustração e irritação. - Toda essa mudança repentina de atitude, noites no porão e agora volta tarde da madrugada, isso quando volta. Não acredito nessas desculpas de que está com aquele travesti escandaloso ou o moleque sem braços. Tenho certeza que ela está escondendo algo mais importante, mais perigoso... Eu tenho que saber o que é.

E Chara odiava toda essa situação, nunca pensou que sentiria falta de compartilhar uma mente e um corpo com a pequena morena. Apesar da irritante situação de não poder se mover livremente para onde queria, Chara ainda poderia saber exatamente tudo o que Frisk gostaria de esconder, com o pequeno inconveniente de ser uma faca de dois gumes, mas ainda assim útil. Agora, sem essa possibilidade, encontrava-se em um estado constante de ansiedade e curiosidade, uma terrível sensação de falta de controle a qual detestava sentir.

Não era como um controle visível, Chara conseguia não apenas prever como também manipular uma pessoa com o simples ato de dialogar. O manipulado, a marionete, ou como queira chamar nunca saberia o que estava a acontecer, acreditando avidamente que tinha total e completo poder sobre suas próprias decisões, quando elas, na verdade, eram influenciadas pelos comentários, conversas e opiniões de um individuo em especifico. Era assim que ela conseguia não apenas ter o que queria sempre que queria, como também manter longe quem queria longe. No entanto, evidentemente, a Frisk que chegou um dia a conhecer tão bem, por diversos fatores diferentes, agora havia mudado, tornando-se impossível de prever ou se quer controlar.

As cordas haviam sido cortadas e Chara não estava feliz com isso.

Frisk sempre foi uma criatura teimosa, mesmo quando caiu no underground a primeira vez. Sua determinação tornava quase impossível a manipulação de seus pensamentos para que mudasse de ideia, ainda assim sua alma não era de ferro e sua vontade não duraria para sempre. Aos poucos Chara colocou sua influencia e não apenas a retirou de diversas situações que consequentemente a levariam a morte como também obrigou-a a fazer o que queria.

Obviamente, também, Chara se recusaria a admitir que estava preocupada com sua irmã. Que seu controle derivava-se do medo que tinha do que acabasse por acontecer caso se metesse em uma situação a qual seria impossível de se reverter. Frisk era um imã para problemas e isso era apenas um agravante apimentado dos segredos os quais mantinha. Poderiam ser qualquer coisa! Era deveras frustrante!

— Você tem esses mesmos problemas, Chara. Pensa que não vejo, mas estou sempre do seu lado. Se não lembra além de seu irmão também sou seu namorado. — o cenho de Asriel se franziu profundamente, voz elevando-se junto a raiva acumulada pelo desconhecido. Naquele momento Chara gostaria muito de amaldiçoar toda aquela situação, sua irmã e no que quer que fosse que tivesse se metido. Por culpa de tudo isso Asriel também estava começando a questionar o limite que ela impôs para ele. - Quando vai me contar o que faz para chegar tão tarde em casa? Seus hematomas e machucados? Ligações estranhas durante o dia ou encontros com pessoas que eu tenho certeza que não são da sua escola? Estou cansado disso!

— Asriel, você está fugindo do foco principal do problema. - Chara tentou contornar, voltando a atenção para Frisk ao invés dela mesma. Existiam diversas histórias que ela preferiam manter Asriel alheio, mesmo que tivesse que enganá-lo para isso. Ainda assim, sua tentativa não chegou a ser muito efetiva. O rapaz ergueu-se de seu lugar próximo a escrivaninha que detinha seu computador, punhos apertados com força e olhos lacrimejando.

— Não, eu não estou! - gritou furioso, calando a garota que tinha a frente. - São os mesmos problemas, Chara, os mesmos! Apenas as pessoas que mudam e você ainda começou com isso antes mesmo de Frisk! Eu não duvidaria nada que ela se inspirou em você para começar tudo isso!

— Asriel, chega.

— Você volta durante a madrugada, sai sem falar nada para ninguém, conhece pessoas que nunca nem ouvimos falar e nunca me fala nada! Eu tenho certeza que te conto tudo, vivemos juntos, crescemos juntos, você foi minha melhor amiga e ainda assim sinto que não sei nada sobre você! Não sei se posso continuar tendo um relacionamento com uma pessoa que não conheço!

— Chega! - Chara se ergueu também, seu grito saindo tão alto que não apenas calou o mais velho, como também reverberou por toda a casa. Ambos agradeceram naquele momento por estarem sozinhos ou então com toda certeza teriam chamado mais atenção do que deveriam. Eles não saberiam como explicar aquela situação. O silêncio que se seguiu ainda durou alguns segundos, Chara tomando-os para respirar fundo e se acalmar para em seguida continuar: - Apenas chega... Eu não quero discutir isso agora. Não agora... Temos problemas o suficiente para ter que pensar nisso agora.

— Nossa relação tão pouco importa assim? - o rapaz murmurou, olhos voltando-se para um quanto qualquer do quarto, chão parecendo ser melhor para se encarar do que Chara.

— O que? Não! Asriel não faça drama. Você sabe muito bem o valor que dou para o que temos, sabe que é o mais importante para mim.

— Então por que não parece? Por que parece que sou apenas um boneco de enfeite para você?

— Asriel, por favor! Você sabe que não é isso, você sabe que te amo, mas existem determinadas coisas que prefiro manter para mim, apenas isso. - Asriel ainda não parecia convencido, rosto ainda emburrado e mal humorado, olhos lacrimejando por conta das fortes emoções. Chara, por sua vez, deixou-se cair novamente sentada sobre a cama, um suspiro pesado escapando de seus lábios. Agora ela teria que concertar aquilo. - Venha aqui. - sua voz saiu doce, um grande esforço para que tais palavras não formassem uma ordem. Asriel aproximou-se, ainda hesitante, sentando-se ainda alguns bons centímetros distante da morena. Chara voltou-se para ele. - Não me peça para ser melosa, Asriel, você sabe que está além de minhas capacidades. Você sabia como eu era antes mesmo de começarmos a namorar.

— Mas...

— Não insista, Asriel. Talvez um dia eu chegue a contar, mas não agora, você sabe muito bem que nossa maior preocupação deveria ser Frisk ela é nossa irmãzinha e até pouco tempo atrás era você a chorar dizendo que estava preocupado e pediu minha ajuda. Você sempre foi um bebê chorão.

— Eu não sou mais esse garotinho! - apesar de sua exclamação indignada, o próprio muxoxo o qual havia feito involuntariamente já era demasiadamente infantil para contradizer sua afirmação, olhos ainda molhados. Chara, no entanto, percebeu que toda a indignação sobre seus segredos haviam desaparecido.

Ela bufou em diversão, aproveitando o bico em seus lábios para poder beijá-lo, braços envolvendo-o pelo pescoço enquanto seu próprio tronco empurrava o dele para trás. As mãos de Asriel apoiaram-se em sua cintura, primeiramente hesitantes e em busca de equilíbrio antes de finalmente firmarem-se em um aperto voraz, atraindo-a para mais perto. Toda a timidez, infantilidade ou frustração esvaindo-se para abrir espaço para a paixão, corpos roçando-se com desejo enquanto os lábios dançavam sobre o outro, línguas brincando uma com a outra a aquecer ainda mais o momento.

Chegou um momento, não muito tempo depois, deveria se acrescentar, em que Asriel finalmente havia recostado-se por completo na cama, Chara sobre ele, mergulhados em seu próprio mundo perfeito. Os momentos de separarem-se por ar eram raros, aguentando-se até o ultimo segundo, hesitantes em se afastar, mesmo que fosse apenas por alguns segundos.

— É o meu bebê chorão, Azzie. E apenas meu. - a possessão no tom baixo e rouco da morena arrepiou até o ultimo fio de cabelo do mais velho, agora completamente excitado e esquecido da confusão anterior. Tomando-se pelo impulso dado por toda aquela ocasião, Chara logo foi jogada para o colchão, Asriel postando-se sobre ela com os olhos famintos e necessitados.

O que aconteceria depois era evidente e óbvio. Cada minuto sozinhos foi aproveitado da melhor maneira possível, problemas anteriores provisoriamente esquecidos para dar espaço a um momento de descanso. Ainda assim Chara procurou anotar em sua mente para procurar, de uma forma mais minuciosas, pistas sobra as atividades de sua irmã.

Ela temia, mais do que tudo, que por algum motivo desconhecido, Frisk tivesse se mentido na exata confusão que Chara tão avidamente tentou afastá-la.

Alguns quilômetros dali, em uma área da periferia próxima a Snowdin, Frisk espirrava inexplicavelmente, erguendo as mãos com os papeis os quais olhava para que as letras não fossem borradas e as folhas sujas. Ela fungou, culpando a poeira que erguia-se com o mover das diversas caixas de um lado para o outro dentro da sala, mesmo as janelas estando abertas a camada espessa de poeira chegava a ser visível com os raios de luz que escorriam para dentro da sala pelas janelas.

Tinha basicamente gastado todo seu dia dentro de tal cômodo fechado movendo e organizando documentos que tornavam o lugar muito menor do que realmente parecia. Não era divertido, mas necessário, Diana não soube lhe explicar exatamente como aquilo havia se acumulado, aparentemente a antiga ocupadora de seu cargo não era muito organizada e por tal, ao sair, tinha deixado o lugar em tal estado. Seja como for alguém deveria arrumar e Frisk, como boa pessoa que era, tinha se oferecido para ajudar sua superior em tal situação enervante.

Carl também havia se juntado. Ele não fazia parte de seu setor, mas estava desocupado e desejoso por notícias. Frisk havia se tornado sua ouvinte favorita para fofocas de todos os tamanhos e assuntos, muito provavelmente porque Frisk realmente escutava e não reclamava sobre a quantidade de informação desnecessária a qual era submetida. Ela diria até mesmo que alguns casos era divertidos e engraçados de ouvir.

No entanto, durante alguns minutos incluindo os atuais, Frisk se viu rodeada não apenas de papeis como também de crianças as quais pulavam ao seu redor desejosas por sua atenção. E era uma cena deveras divertida, presenciando de fora. Seis a sete pequenos garotos com idades variadas de sete a dez anos, seguindo como patinhos atrás de sua mãe enquanto ela perambulava ao redor, Frisk obviamente tentando manter a continuidade de seu trabalho sem pisar em documentos, tropeçar em caixas ou nas crianças que cismavam em pisar-lhe o calcanhar.

E ela nunca perdia a paciência. Rosto sereno falando quando lhe era permitido pelas crianças, recusando-lhes seus pedidos insistentes.

— Por favor, senhorita Anjo! Queremos ouvir mais histórias! - chiava uma das garotas, mãos pequenas a puxar a blusa de Frisk insistentemente, sem desgrudar ou dar-lhe espaço mesmo quando a pobre garota precisava se mover para outros cantos, carregar caixas ou avaliar outros documentos. - Conte aquela dos monstros que apenas dançam!

— Não, conte aquela onde todos tem asas! - exclamou outro garoto, o mais novo do grupo. Ele fez questão de demonstrar seu pedido, erguendo os braços bem esticados para os lados enquanto corria ao redor, fingindo voar.

— Eu prefiro a do monstro entre os humanos. - resmungou outro, tímido a encolher-se tão próximo de Frisk quanto podia, ainda sem atrapalhá-la em seu caminho. Seu olhar estava baixo e suas mãos remexiam inquietas as barras de sua blusa, puxando e repuxando o tecido.

Frisk tinha achado uma boa ideia contar em forma de conto suas memórias de outras dimensões, ninguém precisava saber que era real, seriam apenas histórias para dormir e ela se livraria um pouco do peso de ter que recordar tudo sozinha. É dispensável dizer que havia feito um grande sucesso com as crianças que abrigavam-se ali. A maior parte era órfã ou com pais problemáticos de mais para manterem-se em casa, passavam a maior parte do tempo a perambular pela cede a procura de alguma coisa para fazer ou vendendo alguns produtos fornecida pela gangue pelas periferias, sendo o único meio de pagar a comida e estadia que lhes era oferecida ali. Ainda assim eles não poderiam ficar sozinhos, sendo revesado as pessoas que ficariam a vigiá-los.

Algumas vezes Frisk oferecia-se para tomar conta delas, como tinha experiência em lidar com crianças era uma tarefa demasiadamente fácil para cuidar em sua concepção, mesmo que a maioria não concordasse com tal argumento.

— Certo, crianças, agora chega. - interveio Diana, batendo palmas para chamar a atenção das crianças que permaneciam a incomodar Frisk. Obedientemente cada uma delas calou-se e posicionou-se de forma a prestar completa atenção da ruiva que levava, agora, as mãos ao quadril, olhar autoritário em seu rosto estoico. - Frisk está me ajudando agora, depois, quando ela tiver tempo, ela vai contar uma história para vocês. Então parem de incomodá-la e vão arrumar alguma coisa para fazer antes que eu os expulse daqui. - obedientes e apressadas as crianças correram para fora, gargalhadas infantis sendo escutadas pouco tempo depois. Diana bufou. - Você os mima de mais, Frisk. Deveria ensiná-los a respeitar o "não" como uma resposta.

— E aí está a nossa Mãezona! - animou-se Carl, braço jogado para cima com o punho fechado, enorme sorriso zombeteiro em seu rosto, pernas jogadas sobre a mesa enquanto ocupava a cadeira que originalmente deveria ser de Diana. A ruiva, por sua vez, encontrava-se em pé próxima a sua mesa, braços cruzados com um pequeno sorriso em seu rosto, apenas uma sombra quase imperceptível. Ela novamente havia voltado a seu trabalho de separar mapas. - Tenho certeza que o pequeno Pablo vai ser um menino direito. Por falar nisso, ele está com quantos anos agora?

— Vai fazer três daqui algumas semanas.

— Você tem um filho? - Frisk estava surpresa, ela não conseguia imaginar Diana com alguma criança ou se quer casada. Não era como se Diana não fosse bonita o suficiente para ter algum tipo de relacionamento estável a esse ponto, ela tinha uma beleza exótica e atrativa, não havia quem pudesse negar, mesmo sua idade de trinta e sete anos não parecia ter sequer lhe afetado, mantendo-se quase com o rosto e corpo de vinte e poucos. A questão era sua personalidade estoica e desinteressada para romances, nada do que você realmente esperaria de alguém que já era mãe.

— Um garotinho de dois anos. Fica com a babá a maior parte do tempo. - o celular da ruiva passou para as mãos de Frisk que, curiosa, encarou a imagem da criança que divertidamente abraçava um enorme ursinho de pelúcia marrom desgastado, com um dos olhos de botões faltando, seu enorme sorriso trazia alegria para qualquer um que o estivesse vendo. Ele tinha a pele escura, cabelos negros como a noite, curtos e lisos, olhos da mesma cor que os da mãe, de um verde claro e invejável. Era uma graça de criança.

— E o pai? - o celular voltou para as mãos de sua dona, os olhos verdes tendo caido em uma profunda tristeza.

— Morreu antes de saber que teria um filho.

— Sinto muito, não deveria ter perguntado.

— Tudo bem, você não sabia. - Diana deixou escapar um pequeno sorriso triste. Ela normalmente não gostava de falar sobre esse tipo de assunto, muito já tinha perdido em todo seu caminho até ali, porém, com Frisk, ela não se sentia tão mal. Talvez porque aquela garota, tão simples apesar de suas origens, era um porto seguro em todo aquele mundo de caos. Um mundo onde a confiança e lealdade eram raros e a vida era difícil, pessoas como Frisk, fáceis de conversar e com a certeza que nunca fariam nada para prejudicar outra, eram como um oásis no meio do deserto, a luz no final do túnel, assim como Undyne, em alguma linha do tempo passada, havia mencionado para Sans, sem que a morna tivesse escutado.

Não de outra forma ela tinha conseguido o apelido de "anjo" entre os membros da gangue. Talvez, apenas por conta da intimidade que havia criado com Diana, Carl, Sans e alguns outros ela ainda mantinha-se intacta. Nenhum deles sabia que Frisk tinha, de alguma forma, a malicia para sobreviver, principalmente por conta do amadurecimento de sua mente e alma devido as redefinições pelas quais passou.

— Se não for muita ousadia da minha parte, como você se envolveu com tudo isso? Quero dizer, eu não te conheço por muito tempo, apenas essas poucas semanas que fiquei aqui, mas não te vejo como uma pessoa que se envolveria com isso por gosto e escolha própria.

A ruiva suspirou, seus ombros caídos enquanto acomodava-se em sua mesa, já mais limpa a organizada do que originalmente.

— Carl, se isso sair daqui você está morto! - avisou Diana antes de começar. Ela não tinha pensado muito para aceitar e simplesmente dizer, cegamente ela havia confiado em Frisk, via-a como a garotinha inocente a qual deveria proteger. Esse era o efeito que Frisk costumava ter nas pessoas. Carl ergueu as mãos, indicando que se manteria calado, rendendo-se a ameaça. - Começou quando eu, meu namorado e minha irmã fugimos do México onde nascemos para cá. Minha irmã, Camila, e meu namorado, Pablo, eram usuários de magia e é desnecessário dizer que viam-nos como aberrações em nossa terra natal. A vida já não era fácil para os "normais", então para portadores de tal especialidade era impossível. Vi muitos cometerem suicídio, apenas por medo de que descobrissem sobre seus poderes.

— Você não parece mexicana. - intrometeu-se Carl, seus olhos a avaliar a aparência de Diana. A mesma deixou escapar um sorriso maroto.

— Minha maior descendência é irlandesa, apenas meu pai é mexicano. Meus avós se mudaram para o México quando minha mãe tinha dois anos. Eu nasci lá. - respondeu, mãos brincando com a beirada da mesa em que estava sentada, unhas ralas arranhando a madeira em uma pequena manifestação nervosa. - Voltando ao assunto, chegamos a América como imigrantes clandestinos e, depois de tentar sobreviver como podíamos, roubando e fazendo pequenos trabalhos, ficamos sabendo em boatos sobre a liberdade e aceitação que as pessoas com magia tinham em Ebott. Bem... Foi um sonho. Pensamos ter uma boa vida aqui, morarmos os três e finalmente vivermos em paz, uma família normal. Mas não foi bem assim. Camila se envolveu com as pessoas erradas, não foi bem culpa dela, estávamos desesperados por dinheiro, mas a divida que ficamos depois... Nos envolvemos com a gangue para pagar o que devíamos, foi um pouco antes de Sans aparecer, talvez... Um ou dois anos antes. Minha irmã se envolveu com drogas, eu não consegui tirá-la a tempo de matarem-na por conta disso. Meu namorado... Morreu uma semana antes de ficar sabendo que estava grávida. Tínhamos planos de nos casar, talvez arrumar um emprego melhor, Sans estava nos ajudando como já era o líder na época. Foi em um tiroteio. Sans evitava brigas de gangues, mas é complicado com as novas surgindo na região. Eles gostam de pensar que podem contra nós e acabam por empurrar uma confusão... Bala perdida, direto na cabeça. Nem ao menos soube o que o acertou.

— Vou borrar minha maquiagem, não sei lidar com histórias tristes. - resmungou Carl, olhos chorosos enquanto abanava o próprio rosto tentando, de alguma forma, impedir que as lágrimas escorressem. Não como se Frisk pudesse realmente culpá-lo, mesmo ela estava com um nó na garganta e aperto no coração ao escutar a história. Não existiam dores piores que as outras, cada um sabia o peso de seu próprio passado, mas ainda assim, algumas experiências, poderiam ser mais marcantes que outras.

— E você, Carl? Fala muito sobre os outros mas nunca ouvi uma história sobre você, e olha que me lembro de quando entrou, todo tímido. - incentivo Diana, seu corpo virando-se ligeiramente mais sobre a mesa para poder ver Carl do outro lado.

— Não é muito interessante. - resmungou o rapaz. Carl era um gay assumido que, apesar de seu corpo forte e musculoso, tinha seus traços femininos bem demarcados. Cabelos lisos, ligeiramente longo com a franja próxima a lhe cobrir os olhos castanhos claros, pele parda e ligeiramente marcada por manchas amarronzadas, sardas delicadas que recobriam-lhe o rosto e os ombros. Era alto, facilmente chegaria aos cento e oitenta e cinco centímetros. Suas atitudes facilmente assemelhavam-se as de Mettaton, apesar de mais escandaloso e expressivo com o mover de mãos, voz fina, de um tom agudo elevado. Frisk havia conversado muito com ele desde que entrou para a gangue no mês anterior e, apesar de ele ter muito o que falar sobre os outros, era complicado ouvi-lo a tagarelar sobre si mesmo. Aparentava confiança, mas, ao reparar bem, era o que mais lhe faltava.

— Vamos! Uma fofoca por outra. - a ruiva continuou a insistir, fazendo o rapaz suspirar. Ele sabia que ela não desistiria até ele abrir a boca e talvez não fosse uma má ideia desabafar um pouco. As duas garotas ali eram de confiança, ele sabia com certeza. Frisk nunca contaria um segredo, ela parecia incapaz de trair alguém e Diana, como várias vezes havia demonstrado em seus tempos na gangue, era fiel a seus conceitos e crenças. Ela era uma das únicas que não gostava de bisbilhotar a vida alheia e momentos como aqueles, os quais ela verdadeiramente se abria, eram raros.

Talvez ele devesse isso a ela. Compartilhar sua história em troca da dela, uma promessa garantida de que se manteria calado. A porta estava fechada e ele poderia falar baixo que ambas o escutariam sem problemas, não existiam muitos riscos.

— Não tenho muito o que falar. Meus pais me expulsaram de casa por ser gay, são religiosos conservadores e disseram que não queriam pecadores que renegavam os Deuses em sua casa. Passei a maior parte da minha adolescência nas ruas, cheguei a me envolver com prostituição antes de conseguir entrar na gangue. E... Bem, aqui estou. - o rapaz deu de ombros, como se não importasse, ainda assim seu olhar estava baixo, mãos a brincar com os dedos de forma nervosa. - Eles passaram a me procurar mais pelas informações que tinha. Sou um amante de fofocas, então sempre acaba escutando uma ou outra pelas redondezas. Com o tempo mais membros de gangues começaram a me procurar para comprar essas noticias até que no final fui monopolizado por essa. Um lugar para ficar, dinheiro, proteção... Era uma proposta perfeita para mim e não era como também se eu pudesse escolher.

— Mas as coisas melhoraram, não é? - Frisk sentou-se em uma cadeira qualquer do lugar, pernas subindo para o banco enquanto os braços as abraçava com força, joelhos colados ao peito sentindo a batida pesada e rápida de seu coração.

— Em parte sim. Ainda existiam os engraçadinhos que gostavam de implicar comigo por ser gay. Aqueles que aproveitavam de sua força ou poder para abusar de mim, as regras não eram tão rígidas para proteger os menos influentes. Prostitutas, mulheres, gays, crianças... Até mesmo alguns usuários de magia mais fracos. Todos nós éramos usados como brinquedos por aqueles que tinham uma posição mais elevada. Falar normalmente significava receber pior depois. - Diana abaixou a cabeça, consentido de forma silenciosa. -  Depois que Sans tomou o poder... Ele estendeu a mão para todos nós, tornou isso o mais próximo de um lar como poderia, controlou os mais rebeldes com mão de ferro.  Ainda temos muitos problemas, é verdade, mas está bem melhor do que antes.

Não era a primeira vez que o nome de Sans escapava em uma conversa assim. Frisk tinha seus contatos, Anabelle, a prostituta que conversava com Carl no dia em que viu Sans matar pela primeira vez, sempre encantava a tagarelar sobre o rapaz com animação e admiração. Outro era o porteiro, Bill, o qual muitas vezes Frisk cumprimentava ao entrar. Era um homem muito gentil, apesar de suas atitudes desleixadas e, aparentemente, tinha um bom convívio com Sans desde que havia entrado na gangue, muitas vezes comentado de como seu trabalho tinha melhorado depois que o rapaz tinha ingressado como líder. Mesmo em sua idade já ligeiramente avançada, sua falta de exercício e pouca habilidade com armas ele manteve seu emprego e sua proteção. Ele contou que era normal, antigamente, os descartes de "inúteis" pelo assassinato. Era uma sorte sua que havia durado tanto tempo para ver as regras mudarem.

Em todas essas semanas as pessoas acostumavam-se com a presença da morena e pouco a pouco se aproximavam para falar. Frisk era uma ouvinte, ela era a garantia quase inexistente naquele lugar de uma boa conversa, onde o desabafo não precisava ser contido ou calculado, onde podiam sentir-se aliviados em simplesmente falar. Frisk nunca contaria, ela era uma confidente, um ponto de apoio e confiança. Ninguém sabia como explicar, nem ela mesma, como poderia atrair e relaxar tanto uma pessoa. Talvez fosse instintivo, uma aura invisível que inconscientemente atraia outras pessoas.

Seja como for, o caso era que, sempre existiam elogios para o atual líder da gangue. Frisk não poderia negar que sentia-se aliviada sobre isso, queria dizer que nem tudo que conhecia sobre ele era uma mentira e que talvez existisse uma explicação bem plausível para sua presença ali. Ela estava curiosa, mas, por mais que quisesse descobrir e ela não tinha certeza se teria a liberdade de perguntá-lo. Era errado perguntar para outros, mas ela não se via com muitas outras alternativas.

— Vocês falam tanto sobre Sans. - começou, queixo apoiando-se sobre os joelhos enquanto encaravam os dois mais velhos a sua frente, curiosidade queimando em seus olhos dourados. - Eu nunca consegui ouvir uma reclamação sobre ele.

— Isso é porque você tem uma aproximação considerável do chefinho, querida. Aqueles que não o apoiam mantêm distancia por medo e empatia. - zombou Carl em um tom divertido. Frisk, por sua vez, nem um pouco ofendida ou afetada pelo tom, bem sabendo que era o jeito de Carl, inclinou a cabeça para o lado, em um visível estado de confusão.

— Bem, Sans não se tornou líder por meios convencionais. Normalmente o anterior, quando decide deixar o cargo escolhe os melhores candidatos para a vaga e eles competem entre si para ver quem será o melhor para substituí-lo. Mas com Sans não foi assim. O anterior chefe estava no auge de sua idade, longe de querer se aposentar, acho que foi o carrasco mais mesquinho e rígido que já conheci... Foi em uma noite, Sans apareceu carregando a cabeça decepada dele e se declarando o novo líder da gangue. - Diana contava com os olhos perdidos, muito provavelmente relembrando aquele momento. - Ninguém protestou na época, Sans era famoso por sua força e assassinatos bem sucedidos, então...

— Assassinatos? - os olhos de Frisk se abriram como nunca. Sim ela tinha visto ele matar um única pessoa, ela sabia que ele era capaz de tal, mas teve motivos. Ela não apoiava a prática, mas tentava não pensar muito sobre. Para ela sempre existia um maneira não violenta de resolver a situação, ainda assim ela não sabia nada sobre Sans e por tal não poderia julgá-lo. Porém, querendo ou não, saber que ele foi um assassino, pelo motivo que for, a apavorava instintivamente. Diana simplesmente assentiu.

— Seu trabalho antes de ser líder era encarregar-se dos "problemas" da gangue, como um lixeiro. Sans sempre foi muito forte, sua magia dá medo mesmo quando ele está calmo. Quando chegou, com dez anos de idade, conseguia colocar no chão boa parte dos brutamontes de outras gangues. Até os mais velhos e mais experientes. - os braços de Diana se cruzaram, rosto franzindo-se em uma careta pensativa. - Na verdade, eu não sei o que levou um garoto de dez anos a ser um assassino, ele nunca contou nada sobre si mesmo a ninguém, mesmo os mais próximos dele. Chega de repente e desaparece quando vai embora, lembro que quando chegou era um garoto calado e retraído, demorou um pouco de tempo para começar a se abrir. Eu ainda diria que foi um teatro para fingir que estava bem e ter mais informações. Por muito tempo a maioria acreditou que ele seria um garotinho bobo submisso o tempo inteiro, desleixado e desinteressado, sempre fazendo o que o chefe mandava sem questionar. Ninguém sabe exatamente o motivo de ter dado um golpe como esse, eu acho que foi planejado, mas não tenho como provar.  Como seja, ele apenas mostrou o quão esperto era depois daquele dia, regras foram mudadas, setores melhorados e pessoas realocadas.

— Com toda certeza ele já tinha planejado essas mudanças antes, foram perfeitas! Uff, já perco o fôlego apenas de pensar... - Carl se abanou, sorriso malicioso no rosto sonhador. Frisk riu divertida enquanto Diana rodava os olhos em exasperação fingida. - É uma pena que ele não tenha interesse em semelhantes.    

 - Seja como for, Sans mudou basicamente todo nosso sistema e mesmo que tivesse beneficiado a maioria, otimizando tantos nossas relações comerciais quanto nosso trabalho, existiam aqueles que ainda não se sentiram muito satisfeitos coma mudança repentina. As brigas contra gangues mais antigas foram basicamente cortadas para zero e a melhoria nas condições de vida e segurança das pessoas de nosso território aumentaram, o que trouxe mais apoio dos moradores. Mas nem tudo era perfeito. Alguns perderam o privilégio e luxo que tinham, Sans não favorecia ninguém sem o devido esforço e isso enfureceu uma parte dos membros. Nisso a gangue se dividiu em duas: os que apoiam Sans e os que querem tirá-lo de lá.

— Ralph faz parte do segundo grupo, aliás.

— Mas ele não é o segundo no comando? - bem, isso explicava a antipatia que viu entre os dois no primeiro dia em que apareceu. Uma amizade falsa forjada por interesses, como bem pensou.

— Você conhece o ditado, meu anjo: mantenha os amigos perto e os seus inimigos mais perto ainda. Chefinho com toda certeza está mantendo um olho bem aberto nas atividades da oposição. - Carl parecia vangloriar-se, orgulhoso de seu chefe, provocando uma leve risada tanto em Diana quanto em Frisk. Segundos depois, porém, ele havia mudado completamente de fisionomia, corpo ajeitando-se na cadeira para que pudesse inclinar-se sobre a mesa enquanto apoiava o rosto de feição maliciosa nas costas das mãos de dedos entrelaçados, seus olhos encarando atentamente Frisk que já sabia que o que quer que viesse não seria um assunto que lhe agradaria. Era a mesma expressão de quando Mettaton descobria um de seus segredos e queria, ou melhor, exigiria, mais detalhes sobre ele. - Mas vamos deixar esse assunto velho de lado, euzinho estou interessado em outras coisas bem mais... Picantes. Coisas que apenas você, meu pequeno anjo, meu amor, minha linda Frisk, pode responder.

— Não sei se estou muito confortável com isso.

— Não vai machucar, querida. Eu apenas quero saber quando você e o chefinho vão finalmente para o rala e rola.

— O que?

— Vamos Frisk! Não se faça de desentendida, qualquer um percebe de longe o tesão que tem entre vocês. Parecem dois animais pronto para atacar. - Carl fez questão de representar a situação com um movimento com as mãos, mostrando os dentes no que seria um rugido silencioso. Diana bufou em diversão. - Desde que chegou vocês dois flertam um com o outro, rola uma química forte entre vocês dois e não pode negar que até um cego percebe o jeito que ele olha para você.

— Poxa, alguém tem que avisá-lo então para esconder melhor. - riu Frisk.

— Então? Quando? Porque, menina, se você deixar um homem desse escapar por seus dedos eu mesmo te estrangulo! Salve-o dessas vadias sujas que ele apenas usa para comer e jogar fora! - dessa vez Diana soltou uma gargalhada, realmente imaginando as diversas garotas que arrastavam-se atrás de Sans como cadelas no cio. Sim que Sans era um rapaz bonito, era verdade, mas nem mesmo Diana ou Frisk viam a necessidade e implorar-lhe atenção como outras garotas tentavam fazer desesperadamente.

— Não quero ter nada com ele.

— Não é isso que parece. - insistiu Carl.

— Devo concordar com a bicha louca agora, Frisk. Você até mesmo ri das piadas terríveis dele. - intrometeu-se Diana, aparentemente interessada no assunto. - Se quer minha opinião acho que você seria a melhor garota que ele poderia arrumar.

— Rir das piadas dele não quer dizer que me interesso por ele. Tudo bem, eu sinto atração, ele é meu tipo, mas não quero um relacionamento que vai basear-se puramente em sexo. Ele não quer nada com nada, vai me jogar fora quando encontrar uma pessoa mais interessante. Enquanto ele não mudar e querer ser sério nem mesmo um beijo ele vai ter de mim. - teimou Frisk. Seus companheiros nunca saberiam, porém, o quanto doía dizer tais palavras, saber que, mesmo que o conquistasse ao ponto dele querer apenas ela não importava, porque ele a esqueceria novamente e novamente e sua luta seria uma causa perdida. Ainda assim ela nunca conseguiria se afastar, nunca conseguiria jogar fora o afeto, amor e carinho que sentia por ele e, por tal, insistia em sempre ser um apoio, moral ou emocional, para ele sempre que poderia. Ela não sabia se conseguiria salvá-lo de si mesmo, mas pelo menos poderia tentar.

— Você é realmente um anjinho. Posso te colocar em uma caixinha e guardar pra mim?

— Desculpe Carl, meu amor, mas acho que o mundo precisa de mais anjos fora de caixas do que dentro. - Frisk riu, sem saber o quão verdadeiras eram suas palavras. Pessoas como Carl e Diana, que viviam entre verdadeiros demônios sem coração, sabiam o quanto o mundo precisava de mais pessoas como Frisk, anjos caídos do céu, sem asas ou aureolas, espalhando sua luz invisível para aqueles largados no escuro.

Ambos os mais velhos sorriram com carinho. Mesmo que, literalmente, não pudessem guardar a pequena morena em uma caixinha, ainda se dedicariam a guardar toda essa bela gentileza, para que a luz de esperança que tinham agora não se apagasse nunca mais. Não eram solidários, mas eram egoístas ao ponto de fazerem a coisa certa, mesmo por motivos errados.

— Bem, temos que voltar ao trabalho. Frisk, você vai entregar esses documentos para Sans enquanto eu e Carl terminamos de arrumar as coisas aqui. - Diana entregou um pequeno amontoado de papel, todos eles com uma longa tabela repleta de nomes de produtos, dinheiro e nomes de remetentes. Frisk supôs, quase imediatamente, que se tratava da lista de produtos distribuídos durante os últimos meses pela gangue.

Pelos valores que via bem que o salário que ganhava por transportá-los pela cidade poderia ser um pouco maios...

— Depois me conta como foi! - exclamou Carl em um tom malicioso, uma piscadela dirigida a morena que simplesmente rodou os olhos em uma diversão exasperada. Ela sabia que Carl a estava empurrando para Sans, o motivo obviamente era pela forma óbvia de atração a qual eles se tratavam mesmo em lugares públicos. Frisk sabia perfeitamente bem que seu atual chefe queria-a em sua cama, e ela também não mentiria dizendo que não estava tentadoramente reclinada a aceitar as insistências, no entanto, sua determinação e teimosia eram mais fortes do que os anseios de seu corpo e, por tal, mantinha essa linha fina entre eles.

Mesmo que ela soubesse que ter um relacionamento fixo com Sans era doloroso ela não queria recair para o desejo físico. Frisk, como a maioria das mulheres, não queria ser usada e jogada fora, não queria ser apenas mais uma na vida de alguém. E não foi como se ela não tivesse tentado outros, com Sans tinha uma barreira emocional, ser jogada fora por ele seria doloroso de mais, mas nada a impedia de divertir-se com outros rapazes que chegavam a ser de seu interesse.

No entanto, como nem tudo eram flores, sempre acabavam de um jeito nada agradável, pelo simples detalhe de todas as vezes, de uma forma ou de outra, Sans tornar-se ciumento quanto a ela. Eles se aproximariam, não teria como impedir, ele provavelmente se tornaria seu amigo e muito aos poucos tentaria afastar outros homens dela, porque ele, uma hora ou outra, começaria a se interessar e instintivamente teria o impulso de sentimentos possessivos para com ela.

Até mesmo em momentos atuais. Frisk era uma garota bonita, atrativa e chamativa, seu jeito inocente de ser era apenas um agravante a mais para atrair cafajestes, por algum estranho motivo. Mais de um dos rapazes do lugar aproximavam-se com intenções maliciosas, cortejando-a de todas as formas imagináveis possíveis as quais Frisk ignorava com louvor. Nos primeiros dias Sans não parecia se importar, mas quanto mais estreita sua relação ficava com ele, mais irritado ele parecia demonstrar-se quando alguém insistia em paquerá-la e mais furioso ainda quando ela flertava de volta, mesmo sem quaisquer intenções de tornar verdadeira as intenções que transpareciam no momento.

Ele a queria, ela sabia, ele a queria apenas para ele e ninguém mais. Talvez uma lembrança vaga de seu próprio corpo, dentro de seus instintos e subconsciente, fazia com que ele tivesse esses impulsos de namorado. Mas Frisk não se importava, pelo contrário, ela sentia-se um pouco... Lisonjeada talvez, pelo fato de saber que de uma forma ou de outra ele a queria, que ele mantinha as chamas que cativou diversas linhas do tempo atrás. Mesmo que fosse falsa, uma ilusão, uma inutilidade ela não podia evitar tais sentimentos de felicidade e orgulho enchendo seu peito.

Com passos largos ela atravessou o salão do sexto andar, cumprimentou alguns conhecidos que acenaram-lhe com animação antes de finalmente deter-se na frente da porta de Sans, separada dela pela presença do braço direito do mencionado que a encarou com tal desagrado que quase o sentiu palpável a sua volta. Ainda assim Frisk o encarou altiva, mantendo sua posição determinada mesmo que fosse visivelmente menor do que o rapaz e aparentasse desvantagem.

— Onde pensa que vai? - questionou com um ar autoritário e desconfiada, olhos sondando-a de cima a abaixo. Frisk não queria saber o que ele pensava, ela era a ultima ameaça que poderiam ter, mesmo sendo a irmã de Chara.

— Diana me pediu para entregar alguns documentos para Sans, nada de mais. - deu de ombros, olhos nunca deixando os do rapaz a sua frente, mantendo-se atenta a cada movimento. Ela nunca tinha se dado bem com ele, e não tinha um exato motivo para tal, apenas não gostava dele. Ralph era o tipo de homem do qual gostaria de se manter distante, dentro das concepções de Frisk, alguém que parecia ostentar mais do que tinha e pisar em qualquer um que estivesse a sua frente. Traiçoeiro e imprevisível, poderia atacar de qualquer meio que percebesse viável, mesmo os menos honráveis. - Poderia me deixar passar?

Ele ainda hesitou, encarando-a com desconfiança, como se pretendesse permanecer ali por mais um tempo a bloquear seu caminho. Todavia, ainda em passos desconfiados, ele se afastou, dando total liberdade para Frisk entrar pela porta e deparar-se com Sans quase cochilando sobre sua mesa, enorme pilha de papeis ao lado, provavelmente os relatórios os quais ele exigia de cada representante de setor para informá-lo das atividades constantes da gangue e assim ter um melhor controle.

Poderia muito bem culpar sua preguiça, mas, para os mais observadores, era possível ver o cansaço que ele procurava mascarar por trás de um sorriso fácil. Frisk começou a questionar, nas ultimas semanas, quantos dias ele passava sem dormir. Ela havia ouvido de Diana, não muito tempo atrás, que ele não dormia na cede, a cama que tinha no escritório era para quando levava uma das garotas até lá. Suas procrastinação, normalmente, iam de devaneios no telefone e conversas fiadas com outros membros da gangue, algumas vezes ele ia para o telhado, beber ou fumar durante um tempo, para depois retornar.

Com um pouco de pena, mas bem sabendo que ele não poderia cochilar agora, deixou cair o amontoado de papeis que tinha em mãos sobre a mesa, um som abafado e relativamente alto ecoou pelo cômodo fechado como consequência. Sans, por conta do abrupto som não esperado, sobressaltou-se, coração a loucura em seu peito enquanto, ainda um pouco grogue por conta do sono, encarava a nova inquilina de seu quarto. Frisk sorriu inocente em resposta.

— Uma pequena lista das entregas que Diana pediu para trazer. E sugiro que tome um café extraforte, já estava começando a babar, Chefe. - foi possível ver o estremecimento de Sans com a ultima palavra. Frisk nunca o tinha chamado daquela forma e apenas havia feito agora com o intuito de brincar um pouco, ainda assim foi divertido ver Sans atordoado em sua embriagues pós sono.

Com o trabalho feito, no entanto, Frisk já não tinha mais nada o que fazer ali, dando meia volta para retornar pela porta e continuar a ajudar Carl e Diana na arrumação da sala. Ainda assim, não era como se Sans fosse deixá-la escapar tão facilmente depois de provocá-lo daquela maneira. Ela não sabia o efeito que tinha nele, nem mesmo ele parecia saber qual era o limite de sua loucura por ela. Ele nunca se viu tão atraído e a garota não ajudava nem um pouco.

Ela escapava dele, escorregava de seus dedos sempre que o provocava. Ele estava cansado de se manter apenas nos flertes, ele queria algo mais físico, ele queria pular para os próximos passos.

Completamente acordado por conta do desejo, Sans se teletransportou para entre Frisk e a porta, interpondo-se persistentemente no caminho, um sorriso maroto em seu rosto enquanto a encarava desde cima, a confusão nos belos e irresistíveis olhos dourados tornando a situação mais animadora do que ele poderia realmente imaginar.

— Sans... O que está fazendo? - ela perguntou com cautela, pernas arrastando-se para trás tentando abrir mais distancia entre eles, Sans encontrava-se demasiadamente perto para seu agrado. No entanto ele ainda persistiu, recusando-se a deixar-se longe, dando passos a frente para acompanhá-la, até o momento em que Frisk viu-se irremediavelmente presa contra a mesa de Sans. Os olhos nunca deixavam uns aos outros, Frisk poderia ver o desejo bem evidente no mar azul no qual se perdia tão facilmente.

— Sejamos sinceros, sweet, eu me interesso por você e você se interessa por mim, isso é evidente para qualquer um que nos veja. Então por que não paramos de brincar e passamos para a parte mais divertida? - Sans se inclinou sobre ela, rosto tão próximo que facilmente o calor de suas respirações aquecia as maças do rosto de cada um, como se apenas o momento já não fosse o suficiente para tal.

E era em um daqueles momentos que Frisk se via presa em duas escolhas: ceder ao desejo ou manter a determinação de resistir.

E Frisk era uma garota determinada, não tinha como se negar, ela era uma pessoa que mantinha-se sempre focada em seu objetivo e nada a parava, mas existiam certos anseios complicados de deter, por mais determinação que chegasse um dia a reunir.

Definitivamente ela não era viciada em sexo como Sans, ela facilmente poderia viver sem ele, por meses, anos ou o que seja. O verdadeiro problema estava no fato de desde a primeira linha do tempo nessa loucura de universo fundido Frisk havia se viciado em Sans de todas as formas possíveis. Ela era viciada em seus beijos, em seus abraços, em suas carícias, viciada em seu cheiro que a embriagava naquele exato momento, quase obrigando-a a ceder. Ela era viciada na maneira como ele a segurava quando a prensava contra a parede, na forma como a mordia, como a tocava, na maneira como se preocupava com ela e na forma como perdia o controle. Ela era viciada nele e completamente nele.

E, como toda dependente, quanto mais próximo da origem de seu vício ela ficava mais sentia-se tentada a cair nele novamente e novamente. Ele era sua droga, uma tentadora droga que insistentemente batia em sua porta para levá-la ao limite de sua sanidade e força de vontade. Pois era tão fácil, tão simplesmente fácil deixar-se ceder, ter uma noite, um momento de divertimento insano do qual apenas ela se recordaria depois que o mundo se refizesse.

Suas mãos coçavam para tocá-lo, seus lábios pediam os dele, o corpo querendo aconchegar-se em um abraço esmagador, quebrar a distância que restava entre eles e fundir-se em uma dança louca que apenas os dois sabiam a coreografia. Ela queria o calor do toque em sua pele, sentindo-se perder a cabeça, prender-se a ele para nunca mais soltar. Mas era aí que escondia o problema.

Ela seria forçada, eventualmente, a soltá-lo. Mesmo que ele se apaixonasse por ela logo sua memória seria apagada e ela novamente teria que segurar sozinha o peso das memórias, dos momentos e dos desejos. Ela queria, mas e se ele não se apaixonasse dessa vez? E se para ele fosse mais um desejo impulsivo? Ela era imune as redefinições, não significava que a rejeição não a incomodava, não significava que havia perdido todo e qualquer sentimento que pudesse chegar a ter. Frisk não era de ferro, ela não poderia aguentar tudo. Seus problemas já eram grandes de mais para ter que lidar com preocupações amorosas.

Colocando em pratica todo o auto controle que pudesse um dia reunir, a morena deslizou uma de suas mãos pelo braço do rapaz, subindo bem devagar, dedilhando sua carne com delicadeza até o momento que encontrou-se com o cavanhaque em seu queixo, brincando com o pelo ralo de sua face enquanto quase podia ouvi-lo ronronar, cedendo como um gatinho manhoso a seu toque tão experiente.

— Sabe por que não vamos passar dos flertes, Chefe? - ele novamente estremeceu ao escutá-la dizer tal palavra em sua direção. Ela tinha certeza que se tornaria um fetiche e isso lhe trazia certa graça. Talvez um dia pudesse usar de tal artimanha, mas seria em outro momento. Sans resmungou, perdido no carinho que ela o brindava com mãos leves, facilmente derretendo-se em seu toque. - Porque eu sei muito bem que você não quer ir longe, você não quer ser sério. Enquanto não estiver decidido eu vou continuar a fugir. - os lábios próximos, Frisk ameaçava um beijo, Sans caindo como um patinho em sua armadinha, abrindo lentamente uma brecha para ela fugir. - Eu não sou como as garotas que correm atrás de você, apesar de ter certeza que você pensa o contrário. Eu não vou ser seu brinquedo, não vou ser jogada fora, eu tenho meu orgulho também. Sim eu admito que você me atrai, mas se quer, pelo menos, um beijo, vai ter que me mostrar que seu interesse não é diversão. Eu não quero qualquer um, Chefe. E eu não sei se você é digno de ocupar o meu lado.

Em um deslize rápido e preciso, Frisk escorregou para fora da jaula que Sans havia formado com seus braços, facilmente saindo da sala, deixando, por consequência, um rapaz perdido na súbita perda de calor, carinho e prazer, corpo queimando em uma vontade ardente que mal conseguia contralar. Suas grandes mãos apertaram a beirada da mesa, ainda sentindo o formigar de seus lábios por conta da ansiedade que a proximidade entre os dois havia causado, a expectativa de poder ter um beijo se quer.

Deveria recordar-se que, para Sans, agora, Frisk não era mais uma garotinha inocente, ele não mais a havia conhecido fora do vil mundo o qual encobertava. Para ele, ela era apenas mais uma caprichosa ao igual sua irmã e, por tal, não via motivos para evitar-se brincar com ela um pouco. No entanto ele não tinha a menor ideia de o quão escorregadia e esperta ela poderia ser, atraindo-o para sua teia de sedução com seu jeito meigo, fácil de lidar. Ela o fascinava, ela conseguia causar reações as quais ele não sonhava em poder sentir alguma vez mesmo que já tivesse bastante experiência com mulheres.

Ele a queria. Ela era um desafio o qual ele não conseguia ignorar e, como todo devoto de problemas, ele estava disposto a solucionar esse.

Por sua vez, Frisk se viu tentada a soltar um alto suspiro de alívio assim que se viu fora da sala, porta fechada a suas costas. No entanto seria demasiadamente suspeito tal feito, principalmente com o tempo que deveria ter demorado. Não que se importasse com opiniões alheias, mas sabia que naquele mundo cada passo deveria ser previsto e calculado com cautela, tanto ela como Sans poderiam sair no prejuízo, principalmente ela.

Voltando a dar passadas longas com o intuito de sair dali, Frisk manteve a cabeça erguida e respiração controlada, coração louco em seu peito quase a fazia acreditar que os outros que estava ali poderiam ouvi-lo. Ela estava quase chegando a porta que levava as escadarias quando um pequeno grupo de três a quatro garotas interpuseram-se a sua frente, rostos mal humorados, impecáveis de maquiagem erguidos em poses altivas dava a Frisk a impressão que o que quer que fosse acontecer não seria bom.  

A que mantinha-se na frente, como todo o líder de pequenos grupos, deu um passo na direção de Frisk, a morena reconhecendo-a como a ex namorada de Sans na primeira linha do tempo, braços cruzados na frente dos seios fartos, empurrando-os para cima e tornando-os ainda maiores. Ela parecia querer intimidar Frisk com seu tamanho mais elevado, no entanto, ela precisaria de muito mais do que altura para conseguir tal façanha. Frisk tinha enfrentado os piores monstros do subterrâneo, escapou das mais intimidantes e loucas situações. Não seria uma garota de queixo erguido e cara feia que a faria recuar.

— Então... A nova vadiazinha acha que pode ter alguma coisa com Sans. - começou, tom indignado na voz enquanto outras pessoas já começavam a prestar a atenção na conversa por conta da elevação de seu timbre. Frisk manteve-se neutra. - Acho que devemos mostrar para essa cadela metida como as coisas funcionam por aqui e o que dá mexer com o homem dos outros.

— Homem dos outros? Eu não vi uma plaquinha nele dizendo que era seu, mas não me interprete mal, eu não quero "roubar" nada de ninguém. Se ele quer você, não serei eu a me enfiar no meio, apenas não se esqueça de avisar a ele que tem dona. - Frisk zombou em um sarcasmo cordial, voz neutra e imparcial saindo com tranquilidade. Seu comentário, no entanto, causou gargalhadas naqueles que prestavam atenção.

— Sua vaca... Vou ter que te ensinar boas maneiras também. - socos ingleses foram postos em suas mãos, posição de boxe preparada para o ataque. Frisk não estava com cabeça para lidar com tal situação.

— Olha, não precisamos chegar a luta, eu não quero. Mas acho que era você que deveria aprender respeito, afinal, além de sua superior estava quietinha cuidado da minha vida até você aparecer. - e por mais que tentasse apaziguar a situação não era como se seus comentários ajudassem muito. A garota a sua frente tornou-se vermelha pela fúria, prontamente atacando com o primeiro soco.

Um gancho de direita bem direcionado, acertaria diretamente o rosto de Frisk com toda a velocidade e força se ela não tivesse a capacidade de esquivar-se com leveza para fora do golpe. Sua guarda ainda estava aberta, Frisk não via necessidade de preparar-se para um luta sendo que não queria contra atacar.

— Cuidado com isso, pode machucar alguém. - comentou, esquivando-se de mais um golpe direcionado a seu rosto.

— Esse é o objetivo. - retrucou a garota, se Frisk se recordava bem seu nome era Betty, ou algo assim. Talvez fosse um apelido, as pessoas ali costumava esconder seus verdadeiros nomes para assim conseguirem se esconder depois ou terem duas vidas diferentes na mesma cidade. Mas isso não importava agora.

Com o passar dos minutos as pessoas aglomeravam-se ao redor, gritando, urrando e vibrando a torcer para um dos lados, incentivando a briga cada vez mais.  Frisk nem ao menos havia levantado a mão contra a outra garota ainda, punhos vindos de um lado para o outro a tentar acertá-la, mas eram lentos de mais em comparação com os objeitos em alta velocidade os quais Undyne jogava na pequena morena durante seus treinamentos.

Seus passos precisos escorregavam pelo chão, quase em uma dança, divertindo-se um pouco com a frustração que transparecia no rosto de sua oponente, insistentemente a distribuir golpes que variavam de seu rosto a seu abdômen. Chutes eram raros, Frisk sabia que o estilo era boxe pelo mover agiu dos punhos e saltos apressados com os pés. Era uma luta bruta, focada na pancadaria e pouco na esquiva, o estilo de Frisk era o oposto, concentrando-se mais nas esquivas do que nos ataques em si, velocidade e agilidade das pernas junto a elasticidade e mobilidade do corpo eram a chave para seu sucesso.

As apostas cresciam, em pouco tempo Carl e Diana também estavam no meio, o primeiro a gritar feito louco enquanto a segunda a sorrir com expectativa. Preocupação e apreensão, porém, reluzindo em seu olhar. Tanto ela como seu companheiro estavam prontos para interferir caso percebessem que Frisk poderia estar em um perigo verdadeiro. A morena mostrava confiança, por isso não quiseram meter-se na briga, ainda assim mantiveram-se atentos. Sans também havia se aproximado, sorriso interessado no rosto enquanto observava com atenção. Ele também havia apostado, uma boa quantia se o olhar rápido que Frisk foi capaz de dá-lo no momento era certo, olhos azuis reluzindo com um conhecimento estranho. As outras pessoas começava a inquietar-se pela falta de atitude de Frisk, que continuava a insistir em dizer que não queria lutar.

Lute de volta! - exigiu Betty em um estado de pura cólera, olhos queimando em fúria enquanto uma camada espessa de suor já começava a tomar-lhe a face. Mas Frisk se recusou. - Lute de volta ou eu vou acabar com você, desgraçada!

— Nem ao menos encostou o dedo em mim ainda. - retrucou, provocante, esquivando-se de mais um rápido soco proferido em sua direção, deslizando para o lado, mudando a direção no meio do circulo de pessoas o qual havia se formado ao redor. Seria mentir dizer que Frisk também não estava a se cansar de toda aquela situação, percebendo perfeitamente que a mulher a sua frente não desistiria apesar de já começar a ficar mais lenta. - Vamos, pare com essa bobagem, você já está se cansando e eu não vou te bater. Por que não deixamos isso de lado? Seria mais fácil.

— Cale a maldita boca do caralho, vadia! Eu vou te matar, pode ter certeza disso!

Em um suspiro derrotado, sabendo que aquilo poderia durar mais vários minutos, talvez até mesmo horas, Frisk decidiu-se por terminar com tudo de uma só vez. Talvez fosse o suficiente também para mostrar que, apesar de sua aparência fraca e boba, ela ainda poderia se defender e assim acabar com as possíveis provocações futuras.

Foi visível, para olhares mais experientes, a mudança na atmosfera que lhe rodeava em seguida, determinação queimando-lhe o olhar. Suas pernas se prepararam para o que se seguiria, olhos atentos como os de uma água pronta para atacar a presa em um veloz e rápido bote. Quando o próximo soco veio, Frisk estava preparada, esquivando-se mais uma vez, pés arrastando a poeira no chão enquanto o corpo ajeitava-se velozmente dentro da defesa de sua oponente apesar de manter-se de costas para ele.

O punho usado para atacar estava agora passando por cima do ombro de Frisk, enquanto um dos pés da pequena morena deslizou para entre as pernas de sua adversária, o outro bem posicionada a frente, servindo como um apoio. Mãos pequenas envolveram o braço forte, utilizando da própria cinética do ataque para empurrar a mulher por sobre seu ombro. Pernas foram ao ar enquanto o corpo esguio de poucos um e sessenta metros fazia uma parábola para cima e por fim acertava o concreto do chão em uma pancada surda e dolorida. Porém, mesmo que um considerável estrago tivesse sido feito, o golpe ainda não estava terminado. A pancada não era o suficiente para abaixar o HP ao ponto de tirar seu adversário do combate, ele apenas atordoaria para assim finalizar.

Em um movimento rápido, não muitos segundos depois do contato das costas de sua adversária contra o chão, Frisk pressionou o braço que ainda tinha segurado em suas mãos apertadas contra o próprio peito, torcendo-o o suficiente para que qualquer movimento fosse dolorido, em seguida deitou-se no chão, enroscando as pernas no pescoço da garota em uma chave de perna apertada, mobilizando-a por completo.

A luta tinha chegado ao fim e um silêncio mórbido havia preenchido o lugar. Ninguém ousava dizer uma palavra, perdidos ainda na velocidade dos acontecimentos e na surpresa que haviam proporcionado.

— Acho que ganhei as apostas. - comentou Sans, divertindo-se com o que via.

— Não se apresse tanto, chefinho. Eu também apostei no Anjo, acho que vamos ter que dividir. - apressou-se Carl, tom sugestivo no final de sua frase enquanto balançava as sobrancelhas na direção de Sans que quase imediatamente perdeu o sorriso, estremecendo em pavor.   

Gargalhadas escaparam pelo lugar, aliviando a tensão, Frisk finalmente soltando a garota a qual imobilizava para dar espaço ao assedio de curiosos que se aproximavam, animados com o que haviam acabado de ver. As crianças, que aparentemente haviam se enfiado escondidas ali para ver o tumulto eram uma das que mais tagarelavam perguntas, fascinadas e impressionadas pela demonstração de força. Algumas insistiam em serem ensinadas por Frisk.

Sem saber Frisk tinha conquistado o respeito de uma boa parte das pessoas que a haviam assistido e, infelizmente, chamado a atenção de outras.


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Notas finais do capítulo

To falando que esses capitulos estão ficando assustadoramente grandes.
Bem pessoal, espero que tenham gostado, principalmente dos meus lindos Ocs Carl e Diana, pq eu sinceramente estou amando os dois xD. Não esperem uma participação tão profunda deles, no entanto. Eles são mais como aqueles personagens informativos de jogos.
Bem, espero que tenham gostado, novamente avisando para ficarem de olho no especial que provavelmente sai final de semana (sem garantia). Continuem determinados e até~!