FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 23
Determinação em Entender


Notas iniciais do capítulo

Wowie! 63 favoritos! Eu estou realmente orgulhosa de fusion, tanto por ter chegado tão longe como para ter tudo isso de leitores a gostar. É minha fanfic mais bem sucedida! Avisando que os caps podem ficar super duper grandes, então paciência comigo.
Alias, se alguma coisa não ficar esclarecida nessa parte (porque eu tenho o costume de esquecer alguns meros detalhes) não hesitem em perguntar. Autores às vezes esquecem que seus leitores não sabem a história como ele e é um pouco complicado colocar como se você não soubesse de nada do que está para acontecer ou outros potos de vista da história.
Bem, sem mais delongas, espero que gostem!



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FusionTale - Determinação em Entender

Frisk acordou aquela manhã, no dia seguinte ao seu primeiro encontro com Sans nessa linha do tempo, com mais de uma pergunta repetindo em sua cabeça sem uma resposta. Não para menos, ela simplesmente havia caído em um dos mais profundos segredos de Sans e ela simplesmente não sabia nada sobre essa parte de sua vida. Afinal, quem poderia realmente dizer que alguém tão preguiçoso quanto o mais velho dos irmãos Skelton poderia ser na verdade um líder de gangue? E não de qualquer uma, como uma das maiores e principais "governantes" das periferias da cidade!

Era bastante óbvio, porém, agora que passava a pensar mais sobre o assunto. Ela poderia não imaginá-lo como o líder em si, mas sim como um participante. Isso explicaria todo seu medo com que as pessoas descubram quem ele é fora de casa e do trabalho, seus segredos e atitudes estranhas. Ainda assim era complicado aceitar que Sans, o Sans que ela namorou e cuidou tantas vezes antes, fazia parte de um mundo como esse, que escondia e levava essa vida dupla por debaixo do nariz de Gaster e Papyrus por vai se saber quantos anos!

Quem saberia? Chara? Undyne? Como, por que e onde? Por que ninguém mais sabia? A gangue era um grupo grande e bastante conhecido, boatos deveriam ter se espalhado se Sans estava no comando por muito tempo. Quando ele começou? Por que? Ele teria um bom motivo, não teria? Ele não poderia fazer aquilo simplesmente por prazer, poderia? Matar, viciar pessoas, manipular e controlar... Ela não conseguia imaginar isso, Frisk se recusava a imaginar.

E não importava o quanto ela tentasse, durante todo aquele dia, colocar-se a sentir raiva, repulsa ou ódio para com toda aquela situação e quem Sans era por trás de sua mascará. Em sua mente sempre voltaria a promessa que fez, a promessa de que tentaria entendê-lo, independente de qual fosse seus pecados. E era exatamente isso que ela estava planejando em fazer.

Entrar na gangue foi apenas um começo. Ela queria ver exatamente o que Sans via, sentir o que ele sentia dentro daquele lugar, saber o que passava para quando ele contasse seus motivos ela pudesse ter uma ideia melhor de toda a situação. Julgar sem conhecer não era seu papel. Ela queria saber sobre Chara também, seu nome foi repetido vezes de mais para ser apenas uma coincidências, sem falar das estranhas circunstâncias. Frisk queria respostas e se os próprios envolvidos não lhes dariam o que queria ela teria que procurar.

Porém, ainda deveria ser cuidadosa. Chara não poderia saber, ao igual que Undyne e a maior parte de sua família. Ninguém além de Sans poderia saber no que estava se metendo. Caso contrário Frisk não saberia como realmente explicar a situação e teria novamente mais atenção do que realmente queria. Ela não sabia quando as redefinições viriam para concertar seus erros seguintes então a morena sempre tratava cada linha como se fosse a única e seus erros fosse irremediáveis, assim menos confusões ela se meteria e mais facilmente era viver dia após dia, mesmo que fossem repetidos.

Frisk havia decido seguir o que tinha começado, determinada a compreender o que antes ela não conseguia ver. Ela desafiou-se a descobrir o quão fundo ela poderia ir no mundo de Sans, o quanto mais poderia aprender sobre ele ou as outras pessoas com quem convivia tão constantemente e ainda pareciam tão distantes. Era um desafio o qual ela nunca se imaginou fazendo, um que, por mais que odiasse admitir, estava excitando-a.

Quando se conhece uma pessoa, quando se convive com ela, você sempre vai acreditar conhecer tudo e qualquer coisa sobre ela, que depois de um determinado tempo não existe mais nada que possa fazer para lhe surpreender. Mas isso nunca é verdade. Sempre existiam segredos, histórias não contadas e emoções não demonstradas, sempre haveria um lado o qual você não conhecia e que facilmente poderia lhe impressionar.

Frisk estava disposta a saltar de cabeça para isso, independente do que fosse encontrar ela tentaria estar preparada.

E, apesar de todos esses pensamentos conturbados viajando por sua cabeça e distraindo de toda e qualquer atividade que poderiam lhe apresentar, o dia transcorreu como qualquer outro. Ir a escola logo durante a manhã, rir internamente do rosto irritado e frustrado dos mesmos valentões que no dia anterior falharam em alcançá-la, mesmo agora eles não seriam capazes, em seguida vinha a saída da escola, despedindo-se de Blooky e Tinn afirmando ter algo importante para resolver naquele dia. Ainda recordou-se de pedir a Blooky para acobertá-la caso ela não retornasse cedo, seus pais já estavam irritados com seu atraso no dia anterior e não muito felizes por ela ter que contar que tinha problemas com valentões na escola.

Se realmente tinha aprendido a localização certa ela deveria levar entre meia hora a quarenta minutos para chegar ao prédio. Primeiro era pegar um ônibus até Snowdin, de lá ir a pé para as periferias sendo a parte mais complicada encontrar o exato prédio em que tinha estado ontem. Frisk tinha planejado toda sua rota no dia anterior, ela sabia exatamente onde estava e para onde deveria ir, mesmo quando desceu do ônibus e precisou seguir a pé pelas ruas bifurcadas e às vezes confusas da cidade. Sem telhados dessa vez, por mais que estivesse ansiosa ainda precisava ter certeza da localização exata, avaliar as construções desde onde estava.

Talvez tivesse sido uma sorte que, depois de tantas redefinições em que compartilhou um corpo com Chara, sabia exatamente como imitá-la. Ela sabia que agir da forma como costumava agir em um ambiente como o que estava se metendo era basicamente pedir para alguma coisa de ruim acontecer. Por mais que Frisk não queria agir como uma assassina em potencial, não era como se ela tivesse muita escolha. Foi sua decisão, agora que arcasse com as consequências.

Levou uns dez minutos de caminhada até finalmente identificar o prédio que havia visto do lado da janela do escritório de Sans, a partir dele soube exatamente onde deveria entrar e, sem hesitar se aproximou do que parecia ser um prédio mal terminado, paredes pichadas em desenhos estranhos e palavras as quais Frisk não queria entender. A porta estava trancada, como era de se esperar. Teria alguém vigiando por dentro? Bem, isso não importava muito.

Frisk caminhou pela parte frontal do lugar, olhos finalmente encontrando o que procurava. Bem no segundo andar, descuidadamente aberta, estava uma janela pela qual poderia entrar. E para sua grande alegria bem próximo ao que parecia ser um ladrão por onde a água da chuva vazava para a rua. Mais conveniente do que isso seria impossível.

Ela ajeitou a bolsa em suas costas, secou o suor das mãos nas calças as quais usava e sem pensar duas vezes começou sua escalada. O frio metal fez contato com sua mão, passando-lhe arrepio pelo corpo o qual foi completamente ignorado. Os pés profissionalmente apoiavam-se junto aos joelhos nas laterais do cano, mantendo-a no lugar mesmo quando suas mãos soltavam-se para alcançar um ponto mais a cima do que estava. Não demorou nem mesmo cinco minutos para que, de forma hábil, estivesse saltando para dentro da janela, pousando sobre o piso cinzento sem quaisquer tipo de inconvenientes seguintes.

Um suspiro escapou de seus lábios, pequeno sorriso sendo puxado para o lado enquanto seguia seu caminho. Ela estava no segundo andar, se bem se recordava tinha que subir mais cinco lances de escadas para chegar ao andar que queria. Passos firmes ecoando pelo lugar, ignorando tudo e todos que passavam a encarando de forma estranha, questionando-se, muito provavelmente, o que ela estava fazendo ali, quem era e como havia entrado.

Quando finalmente deparou-se com o conhecido salão em que havia sido jogada antes foi fácil encontrar Sans não muito distante de onde estava. A tinta em seu cabelo já estava começando a desbotar, uma pequena parcela de branco aparecendo no topo de sua cabeça, indicando que logo teria que pintá-lo novamente. Ele usava a jaqueta negra a qual Frisk teve o ligeiro impulso de chamar de "sua jaqueta". Afinal, durante várias linhas do tempo por meses ela havia tomado posse daquela peça de roupa e definitivamente acabaria por fazer de novo.

Não era a favorita de Sans de qualquer maneira.

Ele estava a conversar com um rapaz um pouco mais alto do que ele, cabelos negros e pele morena, um pouco mais escura do que a de Frisk, magro apesar de ainda ter músculos bem demarcados, rosto maduro, muito provavelmente por possuir uma idade bem próxima a de Sans ou mais velho, tatuagens por todo os dois braços e cicatriz no rosto, atravessando a boca para chegar ao pescoço. Frisk não o reconhecia, mas parecia ser bem próximo de Sans, mesmo que visivelmente não gostasse dele. Nenhum dos dois parecia realmente estar muito feliz em estar na presença do outro.

Uma amizade falsa, forjada pelas influencias, ela supunha.

Seja como for se aproximou, cabeça ainda erguida com o objetivo logo a sua frente. Sans finalmente reparando em sua presença.

— O que faz aqui? - ele questionou, cenho franzindo-se em desconcerto.

— Você disse eu poderia vir hoje quando tivesse tempo. Bem... Aqui estou. - Frisk sorriu de canto, cheia de deboche. Ela não gostava muito dessa mascara, era a personalidade e Chara afinal, não sua. Ainda assim era arriscado ser quem realmente era naquele lugar.

— Eu não me lembro de ter lhe falado a localização.

— Não precisava. - Frisk deu de ombros, rosto caindo em um de desinteresse. - Eu conheço a cidade como a palma da minha mão. Mesmo que tenham tampado meus olhos sei exatamente qual foi o caminho que seus capangas percorreram para me arrastar até aqui. Eu apenas não poderia dizer o prédio, mas com a breve visão que tive do que estava de frente para a janela do seu escritório foi fácil achar depois. E mesmo que não soubesse de tudo isso eu sempre poderia ir ao Grillbys perguntar onde era.

Sans ergueu uma de suas sobrancelhas, sorriso divertido em seu rosto. Ele tinha passado o resto de sua noite duvidando que seria capaz de encontrar algum lugar para colocar aquela garota, mas aparentemente ele a tinha julgado mal. O companheiro a seu lado, no entanto, tinha seus olhos bem abertos avaliando a garota que tinha a frente, surpresa demarcada em seu rosto.

— Ela é a irmã de Chara! - exclamou, antes mesmo que Sans pudesse abrir a boca para continuar a conversa a qual tinha com Frisk.

— Sim, e? - o sorriso de Sans ainda estava ali, apesar da tensão em seu rosto parecer estar maior, mãos caindo dentro do bolso a tentar passar uma posição de desinteresse.

— Como assim "e"? É a irmã de Chara! - Frisk cruzou os braços, apoiando-se em um das pernas inclinando seu quadril ligeiramente para o lado enquanto esperava o rapaz parar de dizer o obvio. Como se ela não soubesse quem eram seus irmãos. - Chara, nossa rival, a que vem dando problemas desde que apareceu de vai se saber onde! A única capaz de lutar contra você! Tenho certeza que não esqueceu dela. E ainda assim o que a irmã dela faz aqui? E andando pelos nossa cede como se estivesse em casa!

— Ela pediu para entrar. - Sans deu de ombros, olhos vagando pelo lugar. O rapaz a seu lado falava tão alto que obviamente havia chamado a atenção de mais do que apenas um passante. Sans conseguia espantá-los com apenas um olhar, porém.

— E você deixou?!

— Por que não? Se ela quer jogar a vida fora, quem sou eu para impedir?

— Bem que eu vi que você não tinha cara de um cavaleiro de armadura dourada. - riu Frisk. Ela não precisava de ninguém a dizer o que fazer também, afinal, não importava qual fosse o argumento, ela estava determinada a seguir o caminho que ela escolhesse. Sans deu de ombros, sorriso zombeteiro no rosto, todavia o rapaz a seu lado franziu ainda mais o cenho.

— Você não está levando a sério de novo, Sans! E se ela contar a Chara?! E se for uma espiã?!

— Oh! Mas claro que eu seria! - exclamou Frisk, sarcasmo e ironia bem demarcados em sua voz. - Assim que sair daqui hoje irei sentar no nosso quarto e contar tudo que vi e ouvi aqui enquanto tomamos um boa xícara de chocolate quente. Quando terminarmos ela sadicamente arruma maneiras de diminuir meu HP de forma dolorosa e sem que ele chegue a zero. Talvez até nos encontremos no inferno depois que ela termine comigo. Claro que ela vai levar todos nós pessoalmente e ainda ter uma conversinha amigável com o capeta.

— Vadia...

— Você provocou. Acha mesmo que sou doida de contar a minha irmã que estou entrando em uma gangue? É o mesmo que assinar minha sentença de morte, se é que não conhece a peça. - Frisk zombou. - Tudo que sai do controle dela é colocado como uma ameaça. E posso te garantir que eu estar aqui definitivamente não fazia parte dos seus planos.   

— Isso soa como Chara. - apontou Sans, tentando não rir. Seu companheiro soltou um grunhido descontente, obviamente irritado. - Não tem que esquentar a cabeça, Ralph. Ela dentro ou fora não vai mudar nada, regras serão aplicadas seja quem ela for. Você sabe muito bem que eu sempre descubro quando alguém faz alguma merda nessa lugar. Você, garota, vem comigo. Já sei onde te colocar.

Frisk ainda dedicou-se a um pequeno aceno na direção de Ralph antes de finalmente colocar-se a seguir Sans para fora da sala, descendo as escadas novamente para andares mais abaixo. Droga! Se ela soubesse que teria que descer tudo novamente ela nem ao menos tinha perdido seu tempo em subir. Ela sabia o telefone de Sans de cor em sua mente de tantas vezes que foi forçada a anotá-lo novamente em seu telefone, não tinha a verdadeira necessidade de subir.

Detiveram-se em uma das portas do que seria o terceiro andar do prédio, desde fora Frisk conseguia ouvir o som rápido dos teclados a digitar o que pareciam ser vários textos por minuto. Quando entraram, Sans nem ao menos dedicando-se a bater na porta pra anunciar sua chegada, foi fácil ter a certeza de que eles tinham muito mais ali do que realmente aparentava. Frisk conseguia distinguir pelo menos cinco ou seis computadores, todos eles ocupados por pessoas concentradas, enormes fones em suas cabeças com microfones bem postos na frente da boca, boa parte delas digitava rápido, copos de café sobre a mesa bem ao lado do aparelho.

No centro de todo o maquinário estava uma mulher de aspecto adulto, visivelmente mais velha do que Sans, provavelmente com a mesma idade que Gaster e seus pais ou um pouco mais nova. Olhos de um verde claro, cabelos de um castanho arruivado bem curtos presos em um coque alto, pareciam ser ondulados, mas Frisk não poderia ter certeza pela firmeza em que estavam presos. Corpo esbanjado, obviamente atlético, pele parda e não muito mais alta do que Frisk, provavelmente do mesmo tamanho que Sans. Ela atentamente observava alguns papeis em suas mãos, belos olhos deslizando de um lado para o outro com pressa.

— Ei, Mensageira! Um pulo aqui! - a mulher ergueu o olhar, voltando-se para Sans e Frisk com curiosidade, aproximando-se não muito tempo depois.

— Qual o problema dessa vez, chefe? Estou atolada na porra do trabalho que o senhor fez questão de empurrar para mim. - as mãos finas foram parar na cintura, uma delas ainda a segurar os papeis. Seu rosto mantinha-se sério, dando a impressão para Frisk que ela não se encontrava tão estressada como queria aparentar.

— Esqueça tudo que está fazendo, tenho um novo trabalho para você. Quero que ensine a novata tudo sobre os afazeres do seu grupo e as nossas regras. Ela é de sua responsabilidade agora.

— Porra, Sans! Você não poderia pelo menos ter explicado algumas coisas por si só?! Seu desgraçado preguiçoso, não pode ficar empurrando tudo para os outros!

— Eu sou o líder, eu posso. Agora para de gritar ou vai estourar meus ouvidos. Ainda preciso deles se não sabe.

— Quando as putas que você pega ficam gritando você ta pouco se fodendo, não é?

— Cada caso é um caso. Agora não reclama, tenho meus próprios problemas a lidar. - Sans deu a volta, pronto para sair pela porta novamente enquanto Frisk mantinha-se bem quietinha durante toda a discussão.

— Não sabia que dormir era um problema para você. - zombou a ruiva, recebendo como resposta o simples gesto de mostrar o dedo do meio antes de finalmente o rapaz fechar a porta, deixando Frisk sozinha com a nova conhecida a qual nem ao menos sabia o nome ainda. Caramba, ela muito menos sabia o que exatamente estava fazendo ali! - Então... Novata, certo? - Frisk assentiu, olhos voltando-se para a mulher que tinha a seu lado. A mesma suspirou. - Sans chegou a te explicar alguma coisa? - dessa vez a morena negou. - Tudo bem, vou explicar do início para você. Siga-me.

A sala não era tão grande. Frisk facilmente vislumbrou a porta para a qual se dirigiam enquanto a mulher esbravejava ordens aqui e ali para as pessoas que passavam. Não eram muitas, a morena facilmente poderia contar cinco, talvez no máximo sete pessoas além das que trabalhavam nos computadores vagando pelo lugar carregando pacotes de todos os tipos de tamanhos, algumas vezes cartas as quais liam e prontamente passavam para aqueles que teclavam apressadamente nos computadores. Por instantes Frisk sentiu-se dentro de uma empresa e não em um prédio abandonado recheado de foras da lei.

Ela acompanhou a ruiva até uma sala repleta de mapas, cartazes pregados em uma das paredes, um bocado de caixa recheadas de papeis em um canto, janelas com persianas caindo aos pedaços, deixando transpassar alguns raios do por do sol daquela tarde. Um quadro se encontrava bem a sua frente, a partir do lugar em que entrou, recheado com pontos, nomes, lugares e rabiscos os quais muitas vezes Frisk não identificava do que se tratava. Todo o lugar parecia uma enorme bagunça.

A mulher se sentou em uma cadeira logo a frente, fazendo um gesto em seguida que indicava que Frisk poderia ficar a vontade. A morena preferiu, então, manter-se de pé. De qualquer maneira ela não via onde mais poderia se acomodar no meio de todo aquele amontoados de papeis.

— Você está ciente de que vai estar envolvida em um mundo onde drogas, prostituição, assassinato, roubo, traição, orgia, entre outras coisas proibidas por leis e condenadas moralmente são normais de acontecer, não está? - Frisk assentiu, tentando ignorar o tremor em uma de suas mãos. Dizer que não estava assustada e ociosa quanto a tudo isso seria mentira, no entanto, mais do que isso, estava determinada. - Tudo bem, se está tão certa assim, vamos continuar. Em primeiro lugar vou lhe dar as boas vindas a uma das maiores e mais influentes gangues da cidade. Não fique esperando algo tão grandioso, nossos negócios são agitados até mesmo para novatos, como nosso chefe parece ter deixado bem claro. Temos debaixo de nosso poder boa parte do comercio da cidade, da entra e saída de habitantes, tráficos e por aí seguimos a lista. Tudo dentro e fora de nosso território é monitorado por nós. Em segundo, mesmo que possamos ser um bando de desajustados, ainda temos nossas regras, e aconselho você a aprendê-las, decorá-las e até mesmo dormir com elas. Não vai gostar do que acontece quando não são cumpridas.

— E essas regras são...

— Vou chegar lá. - Frisk calou-se, observando como a ruiva a sua frente, sem uma única vez dirigir o olhar em sua direção, jogou os papeis que segurava em uma direção qualquer da mesa ao mesmo tempo em que abria uma das gavetas do móvel. Cavando na bagunça que deveria estar o lugar, a mulher retirou um envelope pardo ligeiramente amassado, avaliou o que tinha dentro e então se levantou. - Depois que crescemos para onde estamos hoje algumas funções foram divididas em setores para facilitar a organização. Uma ideia de Sans, antes mesmo de se tornar líder, devo acrescentar. Cada setor tem um representante que monitora e coordena as atividades, eles são escolhidos pelo próprio líder para essa função, então mesmo que mate essa pessoa, não necessariamente vai conseguir tomar seu lugar. Tudo precisa da aprovação do chefe, no caso, Sans. Você foi jogada aqui, o que quer dizer que faz parte da equipe de comunicação. Eu sou a chefe desse departamento, Diana, meu nome, apenas no caso. Nossa função é de passar toda e qualquer tipo de mensagem ou produtos para todas as nossas conexões na cidade, então é muito comum cairmos em território alheio ou toparmos com membros de outras gangues. Por isso é sempre bom conhecê-los e saber quando correr. Aqui tem uma lista das mais perigosas, sugiro que leia o quanto antes. Um foco especial nos membros da gangue de Chara.

— Chara? - Frisk tomou o envelope pardo que foi lhe oferecido, olhos subindo para a mulher com uma enorme interrogação bem aparente em sua expressão. Diana, como era chamada a ruiva, nem ao menos parecia prestar atenção em sua pergunta, suas atividades logo voltando-se para outros papeis jogados sobre a mesa.

— Sim, costumamos chamá-la de Rainha de Copas.

— Tipo Alice no País das Maravilhas?

— Algo assim. Ela é a líder da nossa principal rival, Navalhas Vermelhas. Ela é bem pior que Sans em suas regras e estava em constante conflito conosco antes de Sans formar um pacto de não agressão entre as duas gangues. Eu não sei como ele conseguiu, pensei que seria o ultimo a oferecer isso sendo que odeia tanto ela, mas ajudou ambas as gangues. Quanto menos atenção da polícia chamarmos melhor é para nossas atividades. - Frisk desviou de um ou dois pacotes repletos de papel, jogados para trás ao acaso, enquanto tentava assimilar as informações que recebia.

— Como os dois se conheceram para se odiar tanto?

— Bem, Sans chegou a gangue bem cedo, ele não fala muito sobre ele então eu apenas sei porque também já estava aqui. Chara apareceu nesse mundo de surpresa, ninguém sabe como ou quando, ela simplesmente surgiu e tornou-se líder muito rápido. A primeira vez que esses dois ficaram cara a cara foi no meio do campo de batalha entre as duas gangues. Acontece de vez em quando, era tão normal para nós quanto respirar. - o celular vibrou sobre a mesa. Diana largou os papeis os quais verificava para dar atenção ao aparelho. - Sans foi o único que conseguiu lutar contra ela, de todos nós. Ambas as gangues basicamente pararam apenas para observar, foi assustador, nunca vi tanto poder em uma luta só. Acho que foi ódio a primeira vista. Oh! Vejam só, já temos sua primeira missão!

Sem esperar qualquer tipo de pergunta por parte de Frisk a ruiva a arrastou corredores a fora, gritando nomes ao vento sem nem ao menos olhar se os mencionados estavam a segui-la, por mais que realmente estivessem. Foi arrastada até o primeiro andar do prédio, o qual Frisk havia saltado descaradamente. Ele assemelhava-se muito ao hall de entrada de um hotel, grande e espaçoso, com uma recepção colocada em uma das paredes, com balcões e armários divididos em pequenas gavetas numeradas.

Um senhor próximo aos cinquenta anos, aparentemente, os esperava postado do outro lado da bancada da recepção, olhos mais focados na tela de seu telefone do que no que realmente acontecia a sua volta. Diana se aproximou, batendo a mão sobre o balcão com tal força que por muito pouco o homem não cai de sua cadeira pelo susto.

— Se o chefe te pega mexendo no celular eu não quero saber o que vai acontecer. - inquiriu a ruiva com o cenho franzido. O homem deu de ombros.

— Ele é o mestre da procrastinação, não pode reclamar de nós. - ele levou a mão para debaixo do balcão puxando em seguida um pequeno montante de papel e colocando sobre a madeira que compunha a parte de cima da construção. Seus olhos voltando para a tela do telefone logo em seguida. - São todos os endereços que precisa, as sacolas com pacotes estão logo ao lado. Algumas encomendas são urgentes.

A ruiva avaliou os papeis que tinha em mãos, olhos apressados sobre as palavras. Ela fez cinco pequenos montes antes de finalmente voltar a falar:

— Muito bem, meus pequenos peões. - Diana se virou para aqueles que a acompanhavam, tirando Frisk deveriam ter pelo menos mais três, duas garotas e um rapaz. A maioria não parecia muito interessado no que ocorria. - Vou separar as rotas entre vocês. Entreguem as encomendas ou as cartas e então retornem aqui. Quero todos aqui antes do começo da manhã.

 Cada monte foi divido entre os presentes. Frisk avaliou o que tinha em mãos, reparando que em cada pequeno quadrado branco encontrava-se um endereço bem especifico, numero com o que deveria ser o pacote o qual deveria levar. Até mesmo o nome e foto daquele que iria receber a encomenda estavam incluídos. Frisk deveria admitir que ficou impressionada com a organização de tudo aquilo.

— E quem é a garota? - a voz foi irritantemente conhecida. Não foi surpresa nenhuma, ao erguer o olhar, encontrar com um rosto demasiadamente familiar para o gosto de Frisk. Bem, agora ela sabia da onde Sans havia conseguido arrumar a namorada que antecedeu Frisk na primeira linha do tempo.

— Uma novata. Agora sem mais perguntas e ao trabalho!

Foi ensinado então que para entrar existia uma batida certa que ajudava a identificar os membros da gangue. Frisk deveria lembrar de avisar para eles melhorarem o controle de entrada, se ela foi capaz de burlar tão facilmente assim toda a suposta segurança então queria dizer que não estava tão bem como eles deveriam imaginar. Ou talvez eles simplesmente não se importassem com isso, estivessem demasiadamente confiante em suas habilidades e poder para impedir a entrada e saída de pessoas desconhecidas. Mas isso não importava, Frisk tinha um trabalho a fazer afinal.

Frisk apenas não compreendeu o motivo de todo o limite de tempo. Era muito longo para os poucos lugares que tinha que visitar, seu trabalho foi finalizado nas primeiras horas em que começou e nem ao menos havia se apressado tanto ou tido mais do que um pequeno inconveniente o qual foi resolvido sem quais quer transtornos. Quando voltou ninguém havia chegado ainda, aproveitando então para dar uma melhor olhada nos documentos de outras gangues que Diana lhe havia entregado, acomodando-se nos sofás velhos e desgastados do primeiro andar do prédio. Não teve muito tempo de avaliar os papeis com detalhe, apenas conseguiu um breve vislumbre durante o caminho.

Não como se tivesse marcado o tempo de chegada de cada um, Frisk estava muito concentrada no que lia para tal, ainda assim foi demasiadamente engraçado ver a reação de cada um quando chegavam. Talvez ninguém realmente esperasse que ela cumprisse sua tarefa, a desconfiança estava em cada olhar dirigido a sua pessoa, alguns sem ao menos disfarçar.

— Tenho certeza que ela não fez nada! - esbravejou uma das garotas, dedo apontado para o rosto de Frisk. - Ninguém demora tão pouco tempo para fazer entregas.

— Não é porque não demorei que não fiz as entregas. - refutou a morena, deixando os documentos em sua mão de lado, braços cruzando-se na frente do peito. - Eu fiz todas as entregas. Podem conferir se quiser.

— Como levou tão pouco tempo? - questionou Diana, interesse queimando em seu olhar ao invés de acusação, semblante desinteressado nunca sumindo de sua face. Depois de tanto tempo em que tinha que separar os desordeiros e preguiçosos dos trabalhadores esforçados ela sabia quando alguém escondia alguma coisa. E aquela garota sentada no sofá, sendo acusada por seus colegas, não possuía os traços de um mentiroso. Sua confiança era exalada em cada movimento de seu corpo.

Frisk, por sua vez, deu de ombros.

— Eu conheço todos os atalhos da cidade. Pegar vias pelo subterrâneo, passar pelos telhados ou cortar pelas vielas diminui consideravelmente o percurso. Sem falar de evitar alguns problemas. Quase tive que alterar um dos percursos por causa de ruas fechadas em um dos caminhos. Tinha uma briga de gangue no lugar.

— Briga de gangue?

— Unhun. Se eu vi direito eram os Cachorros Loucos e os Monstros. Estavam perto do final da cidade na parte norte, eu tirei uma foto até. - Frisk ergueu o aparelho que antes mantinha guardado no bolso de sua calça, na tela mostrava uma visão superior de uma rua da cidade, um grupo considerável de pessoas reunidas a bloquear qualquer passagem, vários tipos de armas visíveis em suas mãos. Na imagem seguinte focavam duas pessoas em especifico, encarando-se de forma desafiadora, não pareciam ter uma conversa muito amigável. - A sorte foi que deu para subir no telhado dos prédios ou eu ia precisar fazer uma volta bem grande.

Diana avaliou o que tinha em mãos, olhos focados tanto nas imagines mostradas pelo aparelho quanto na garota despreocupadamente sentada em um dos sofás da recepção do primeiro andar, onde tinham se reunido. Seria mentira dizer que não estava surpresa, apesar de sua expressão estoica de desinteresse. Não sabia de onde Sans havia desenterrado aquela garota, mas ela tinha talento, seria bastante útil em sua área. Obviamente ainda precisava aviar-lhe o caráter, mas para isso ainda tinha tempo, muito tempo e quanto mais próximo a mantivesse, a segurasse ali, mais otimizado ficaria seu trabalho. Diana se sentiu caindo em uma mina de ouro.

— Venha comigo agora. - não era como se realmente precisasse de uma resposta. As palavras foram pronunciadas quase ao mesmo tempo em que Diana segurava o pulso da pequena garota, arrastando-a pelas escadas para os andares superiores sem realmente dar uma explicação. Seu rosto determinado surpreendia um pouco a Frisk, mas não teve coragem de questionar. Ela sabia muito bem que tentar interferir na determinação de uma pessoa poderia não dar muito certo, ela mesma era a prova.

Passaram pelo segundo, terceiro, quarto e quinto andar. Não foi surpresa nenhuma se ver diante do sexto, adentrando a sala que tão constantemente estava passando durante aqueles últimos dias. Frisk questionava-se se, durante seus momentos naquele lugar, ela seria forçada a voltar ali mais vezes. Talvez sim, afinal, Sans estava lá e não importava o quanto tentasse escapar dele de alguma forma eles passavam a estar juntos. Coincidência ou destino, Frisk não queria pensar nisso agora, já bastava os atuais problemas e questões em sua mente para acrescentar incógnitas de cresças existenciais. Seja como for, naquele momento, aquela sala parecia o lugar onde os participantes da gangue costumavam passar seu tempo vago quando eram forçadas a estar na central, o que explicaria os sofás, almofadas e cadeiras espalhados, Frisk não se surpreenderia se algum aparelho eletrônico fosse incrementado as mobílias.

Ainda assim não foi isso que chamou a atenção da morena. Diana não parecia ter notado, sua pressa e foco em seu objetivo impediam-na de detalhar-se no clima que rodeava o lugar, no entanto, Frisk, por sua vez, sentia perfeitamente a tensão exalada por cada pequeno grupo aglomerado no lugar mesmo em altas horas da noite, quase começo de madrugada. Era uma estranha tensão, como estar em um barril de pólvora prestes a acender uma faísca, a ansiedade e agitação de esperar o que estaria por vir. Era um clima pesado, quase palpável. Frisk já sentia o suor em sua testa apenas por repará-lo nos poucos segundos em que adentrou no lugar, Diana basicamente arrombando a porta de entrada em um ponta pé apressado atraindo a atenção de alguns quantos grupos.

A pequena morena apressou o passo para mais perto da ruiva, sentindo-se ociosa e nervosa. O que estivesse prestes a acontecer não deveria ser nada agradável e isso era visível no rosto de cada pessoa, de cada membro daquela gangue. O  que poderia deixá-los assim?

— Carl! Onde está Sans?! - exclamou Diana sua visão focada em um rapaz pardo de ares extremamente afeminado sentado em um dos sofás espalhados pelo lugar a conversar com uma garota de vestes bem curtas. Inicialmente Frisk questionava-se como seria capaz de usar tais roupas durante a fria madrugada como se não fosse nada, ela precisava de ao menos dois cobertores para se sentir bem aquecida quando ia dormir. No entanto, seus pensamentos logo mudaram de direção ao ver o rosto sério que o estranho casal mantinham em seus rostos mesmo após a abrupta chegada de Diana, arrastando em um aperto firma Frisk, não muito atrás.

— Querida, acho que você não deveria procurá-lo agora. - a voz parecia ser forçada de tão pomposa que havia saído. Frisk não julgava pessoas assim, Mettaton poderia ser o mais exagerado dos gays quando queria, apesar de sua sexualidade ainda ser deveras um mistério, mas ainda assim era engraçado de se escutar em algumas ocasiões. Essa, no entanto, não era uma delas. Diana ergueu a sobrancelha em confusão, uma das mãos caindo para o quadril inclinado.

— O que aconteceu dessa vez? - ela questionou, seu tom saindo descrente e repleto de descaso, como se não esperasse um grande problema de tudo aquilo. Vindo de Sans ninguém realmente esperava um evento muito grande.

— Lembra da garota que foi violada e morta em um dos becos da nossa área? - as três garotas presentes estremeceram. Frisk conhecia o caso, ele havia se iniciado há uma semana e meia mais ou menos quando uma garota foi encontrada basicamente nua em um beco próximo a uma das maiores boates da periferia. Undyne não tinha parado de reclamar desde então da dificuldade que era tirar alguma pista do local por encontrar-se dentro do território de uma das gangues da cidade, aparentemente da que Frisk havia entrado naquele mesmo dia. As evidências, no entanto, mostravam que havia sido estuprada e deixada desacordada no beco durante a madrugada fria, sendo tal circunstância a que a havia levado a morte.

— Difícil esquecer. Sans moveu todos para tentar encontrar o culpado, ele odeia quando corpos desconhecidos são encontrados em nossas áreas. - murmurou Diana, seu tom tornando-se mais sério e preocupado. Qualquer outro pensamento que poderia ter ocupado sua mente minutos atrás tendo se esvanecido naquele exato instante.

— Parece que alguns dos que estavam encarregados de manter a segurança da boate naquele dia abriram o bico. Não me pergunte o porquê, sabe que sou fã de fofocas, mas tem coisas que estão acima do meu poder.

— Não enrole, Carl. Quem é?

— Ok, ok, estava fazendo uma pausa dramática. Cruzes, alguém precisa de um chazinho para desestressar. - o rapaz fez um leve muxoxo antes de limpar a garganta, novamente empinando-se para voltar a contar o caso aos sussurros. - Pelo que eu vi e ouvi tudo indica que foi o Batedor de Carteira.

— Ruffos? Ele é um dos principais homens do Ralph!

— Shh, não fale muito alto. - uma olhada ao redor para ver se alguém tivesse prestando atenção no que falavam antes de voltar a continuar. - Chefinho quase o arrastou para dentro da sala, e juro querida, nunca o vi tão irritado. Seu sorriso me dava arrepios! Dava juz a seu codinome.

— Isso não é bom... A tensão entre ele e Ralph está aumentando e se for realmente confirmado que Ruffos foi quem matou essa garota Sans não vai deixar barato... - Diana levou o polegar aos lábios, dentes mascando a unha já curta, preocupação evidente em seu olhar. - Ralph não vai deixar que mate um dos seus.

— Não sei se ele vai ter poder de argumento nessa história, querida. Sabe que em situações como essa o chefinho não...

Qualquer coisa que pudesse ter sido dita ou argumentada naquele momento foi interrompida e esquecida no mesmo instante. E não para menos, toda a sala, talvez até mesmo o prédio inteiro, foi recoberta por uma pressão mágica assustadoramente monstruosa que facilmente daria a impressão do chão ter balançado. Frisk, em sua própria descrição, poderia dizer que era como estar de frente a um predador voraz, um medo lacerante somada a desesperação de saber que não tinha fuga. Ela nunca tinha sentido nada parecido, suas pernas bambeando ligeiramente, ameaçando deixá-la cair ao chão. Nem ao menos importou-se com o aperto de ferro a aumentar em seu pulso prendendo-lhe a circulação da mão.

Todo o lugar havia caído em um mórbido silêncio, olhos voltando-se para a porta não muito distante dos pequenos aglomerados. Corações na garganta e respiração presa, ansiedade correndo pelas veias a espera do que iria suceder depois daqueles breves segundos. Frisk aprenderia naquele dia, naquele mesmo dia, que alguns pecados eram assustadores de mais para serem ditos até mesmo pelo próprio pecador e que alguns segredos, realmente, não deveriam ser descobertos.

A porta arrombou-se aberta, um vulto veloz atravessando quase todo o comprimento da sala arrastando-se pelo chão, algumas pessoas na sala chegaram a saltar e gritar pela surpresa, Frisk mesmo tinha dado um salto para trás de Diana que prontamente colocou-se em um pose mais tensa, mão nunca desgarrando do pulso de Frisk.

O vulto em questão, agora que Frisk poderia vê-lo, tratava-se de um rapaz dentro da casa dos trinta, talvez um pouco mais novo, cabelos de um encaracolado de uma castanho claro, pele bronzeada e de estatura aparentemente não muito elevada, mediana talvez, Frisk não poderia dizer corretamente. Seu corpo tinha conseguido alguns arranhões por conta da forma como foi arremessado para fora da sala, ainda assim nada muito grave, conseguido colocar-se novamente sobre seus pés. Não muito tempo depois, no entanto, enquanto ainda tentava erguer-se de sua posição, passos foram ouvidos na sala mortalmente silenciosa.

Os olhos da pequena morena caíram na figura que apenas pensou que voltaria a ver em seus pesadelos, de volta ao salão do julgamento. Sans, mesmo sendo humano, poderia ter uma presença esmagadora e assustadora, sua magia era absurdamente grande e agora que ele se encontrava na sala mais esmagadora era para aqueles que a estavam sentindo. Seus olhos haviam tornados negros na região que deveriam ser brancos enquanto o azul de sua íris reluziam com a magia trepidante que exalava de seu corpo, sorriso tenso ainda gravado no rosto pálido.

Se Frisk um dia tivesse visto o sorriso da morte, com toda certeza seria igual ao que estava a ver no rosto enfurecido de Sans naquele momento.

— Welp, acho que teremos alguns telespectadores dessa vez. - sua voz ainda conseguia sair tranquila, despreocupada e repleta de descaso, completamente contraditório ao estado enfurecido de sua magia e de seu olhar. Ele deu alguns passos para fora da sala, postando-se quase no meio do salão, não muito distante de onde o rapaz agora mantinha-se temeroso sobre suas pernas. - Mas esse não é o problema. Eu acabei de entrar em um grande dilema que não sei se vou poder resolver. Eu não consigo nem ao menos imaginar nada próximo do que um maldito bastardo como você poderia merecer. Acho que terei que ser bem criativo.

— Sans...

— Não se intrometa Ralph! - Frisk saltou para perto de Diana ao escutar o grito, coração descontrolado em seu peito. Ela nunca tinha ouvido Sans gritar, ela nem ao menos sabia que ele era capaz disso, sua voz grossa ressoando por todo o salão, forçando a todos a se encolher. Sans respirou fundo e então continuou, dessa vez mais calmo. - Eu fui bem claro com minhas regras e fui bem misericordioso e paciente com vocês dando-lhes três, três malditas chances para remediar seus erros. E vocês ainda insistem em me tirar do sério. Será que vou ter que deixar mais claro o que acontece quando vocês usam de todas as suas três chances?

A resposta foi o silêncio, alguns a desviar o olhar, outros a tremer. Frisk não desviou o olhar, ela não poderia desviar por mais que seu medo, suas memórias de outras linhas do tempo de outros universos estivessem a encher sua mente naquele exato momento. Sans poderia ser um rei, poderia ser um assassino, ele poderia ser um criador e um destruidor, tudo dependeria do mundo o qual Frisk queria lembrar. Ela não sabia o que ele era agora, mas ela queria entender e para isso precisava ver.

— Sans, pense bem. - intrometeu-se o mesmo rapaz o qual viu com Sans quando havia chegado no meio da tarde. Ele foi o único que ousou se aproximar, abrir a boca e intrometer-se em tudo o que ocorria. Ralph era seu nome, se não se enganava e Sans não parecia nem um pouco feliz com sua intromissão. - Ele é um de nossos melhores homens, esse é o pior momento para enfraquecer nossas forças por causa desse tipo de coisa! Além do mais ele apenas tem um strike.

— Em primeiro lugar, Ralph, eu agradeceria se não se intrometesse em meus julgamentos. Duvidar da minha palavra na frente de outros pode dar uma impressão errada, você deveria saber. Em segundo, não diga para privilegiar um por conta das situações. É por esse "mimo" que você dá a eles que coisas assim acabam acontecendo. - Sans voltou seus brilhantes olhos para o rapaz que arrastava-se para trás, talvez em um intento inútil de fugir. Magia azul prontamente o envolveu jogando-o segundos depois para uma das paredes do lugar. As pessoas próximas correndo para outros cantos da sala, tentando manter-se o mais longe possível da confusão para não serem pegas no fogo cruzado. - Inflando o ego dessa maneira, acreditando que valem mais do que outras pessoas... Eles não tem privilégios, regras serão aplicados mesmo para mim. Bastardos como ele podemos encontrar em qualquer lugar, até melhores do que ele.

— Se as regras são aplicadas a todos, não pode fazer muito comigo. Eu apenas tenho um strike! As regras dizem que só pode me matar no terceiro! - o rapaz preso a parede sorriu com presunção, sua confiança aparentemente tendo sido reerguida ao perceber que Ralph estava a seu lado. Frisk não sabia se deveria chamá-lo de corajoso ou idiota, talvez a adrenalina do medo naquele momento tivesse sido de mais para seu cérebro processar.

Ainda assim, contra todas as possibilidades e expectativas possíveis, Sans riu. Gargalhadas altas salpicadas com ironia e descaso, fazendo-as soar falsas aos ouvidos dos presentes a observar.

— Devo fazer uma anotação para procurar alguém melhor de conta, depois de me resolver com você. - zombou, um pouco da pressão de sua magia sendo aliviada naqueles breves instantes, ainda assim seus olhos faiscavam, o esquerdo trepidando em um fogo azul. - Você não tem a mínima ideia de quantas regras você quebrou naquela noite, tem? Quantos problemas você trouxe apenas por querer um pequeno momento de diversão. E você ainda me diz que merece apenas um strike. Tem que ser piada!

Bastou um movimento de pulso, bem simples e quase imperceptível, para que o que parecia ser um osso aparecesse em suas mãos. Era muito semelhante a um fêmur, retirando o simples detalhe de que, em uma de suas pontas, ao invés de espelhar a outra, ela afinava-se em uma ponta perigosa, afiada e mortal. Serviria muito facilmente como uma lamina, talvez até melhor. Polida, reluzia com a pouca luz artificial do lugar.

O estranho e peculiar objeito dançou pelos dedos longos e calosos de Sans, jogado de uma mão a outra como se testasse o peso, tamanho e qualidade, assim como um profissional fazia com suas armas assim que as ganhava. O rosto despreocupado, porém, desprovido de qualquer emoção apesar do sorriso imutável em seus lábios, davam quase a impressão que não era uma arma mortal a qual detinha em suas mãos, mas sim um brinquedo qualquer. Sua familiaridade com a situação era tal que nem ao menos incomodava-se com a tensão e expectativa que pairava a sua volta, o julgamento daqueles que encavaram.

Ou pelo menos, não parecia se preocupar.  

— Já que parece que você faltou as aulas de matemática, vou fazer um favor a você e citar cada mancada daquela noite. - o braço cortou o ar em uma parábola com um angulo lateral, ponta afiada do osso seguindo o movimento para deter-se assustadoramente próxima ao pescoço do rapaz que ergueu o queixo em uma expressão de pavor, suor escorrendo-lhe pelo rosto. - Todos aqui presentes vão escutar e no final verão que estou sendo até mesmo gentil com você. - um pequeno raio de esperança e alivio passou pelas feições paralisadas do rapaz quando Sans afastou a ponta afiada de seu pescoço. Era possível até mesmo notar outras pessoas suspirando juntamente com ele, como se durante todo aquele momento mantivessem presas suas respirações. No entanto o momento durou pouco e o grito gutural de dor tomou o ar de todo o prédio. - Vamos começar.

A ponta fina e pontuda do osso facilmente transpassou carne, ossos e ligamentos que o rapaz um dia chegou a possuir em sua mão direita, atravessando para a parede ao outro lado e muito provavelmente perfurando-a também. O vermelho manchou o cinza desbotado e rachado da parede, o branco poroso do osso e o pardo da mão do rapaz que ainda permanecia a choramingar pela lacerante dor. As gotas grossas e pegajosas escorriam para o chão em um fluxo considerável, não o suficiente para causar muito estrago, talvez apenas no estomago de alguns que já tornavam-se verdes e esgueiravam-se para fora da sala. Frisk apenas sentiu um forte arrepio subindo por sua coluna.

Sans, por sua vez, continuou sua fala:

— Em primeiro lugar vamos esclarecer a situação em que você se encontrava naquela exata noite. - Sans caminhou pela sala, um novo osso brincando em sua mão, ponta preparada para exercer seu trabalho de perfurar boas camadas de carne e ossos. - Você, assim como outros cinco, foram encarregados de vigiar a atividade de uma boate em nosso território porque, você sabe, os novatos estão achando que enfraquecemos e pensam que podem se divertir por nossas bandas sem consequências. Obviamente não poderíamos permitir algo assim, temos que mostrar a eles do que somos capazes para que nos respeitem, certo? - um urro ecoou pela sala. Aqueles que tinham ficado, os mais fortes e resistentes, manifestaram-se em concordância. - Seu único trabalho era manter os olhos atentos em qualquer confusão que pudesse acontecer naquela noite, era simplesmente isso. Bem simples, se quer minha opinião. Mas foi então que você cometeu seu primeiro delito: Bebeu durante o trabalho.

A respiração de Frisk tornou-se pesada, olhos focando-se em cada movimento de Sans, coração tamborilando no peito em um compasso louco, desorganizado. Sua mente tentava associar o que via agora com o que tinha presenciado em outras linhas do tempo naquele universo fundido, mas era impossível. O Sans que conheceu e o que via agora pareciam... Duas pessoas completamente diferentes, distintas não apenas em personalidade como também em aparência. O Sans que agora via a sua frente, caminhando despreocupadamente com uma arma mortal em suas mãos, magia estalando pelas paredes e expressão sombria apesar de seu sorriso, pronto para matar, ela não conhecia e ela temia.

— Mas tudo bem, isso nem ao menos poderia contar como um delito, afinal, corremos o risco de morrer cada dia, não é? Nossa vida é uma merda, podemos pelo menos encher a cara para a compensar, eu entendo, também tomo alguns copos de vez em quando. O problema foi que você passou da conta. Qualquer um que estava na festa, - Sans abriu os braços, seus pés dando voltas em si mesmo como se mostrasse todos no lugar sem realmente indicar ninguém. - pode comprovar que você estava chapado. Esse poderia ser colocado como seu strike dois. - dessa vez, ao invés de se aproximar para perfurar o pontudo osso no rapaz, Sans preferiu lançá-lo de onde estava certeiramente perfurando a mão esquerda, novamente forçando-o a soltar um urro animalesco de dor, olhos virando-se para dentro de suas orbitas corpo a tremer. - E talvez apenas esses dois furos em sua mão seriam o suficiente para pagar o erro. Mas não paramos aqui, não é?

Não desvie o olhar, era tudo que Frisk tentava manter-se a pensar. Ela precisava ver, ela precisava entender, mas ainda assim era complicado não apiedar-se do rapaz.

— E foi aí que começamos a ir para os piores erros que você poderia cometer naquela noite. Como se já não bastasse estar bêbado você ainda teve a brilhante ideia de terminar sua noite com alguma garota que estava na boate, afinal, uma boa noite nunca é completa sem uma gostosa na cama, certo? - alguns homens presentes soltaram risadinhas e exclamações de concordância, porém nada que durasse muito tempo. Sans ainda tinha que continuar. - E foi aí que você foi no caminho para o seu segundo erro naquela noite: ao invés de procurar uma prostituta qualquer você achou que seria melhor economizar uma grana e pegar uma garota que muito provavelmente estava tão bêbada quanto você. E não adianta negar, eu vi os vídeos das câmeras de segurança da boate, a garota encharcou tanto a cara que mal conseguia se manter sobre os pés.

O silêncio mortal voltou a tomar conta do lugar e Frisk finalmente conseguiu encontrar o que tanto procurava, sem saber exatamente se era uma ilusão criada por seu próprio desespero, um reflexo inexistente de seu desejo. Mascarada ao fundo de toda a fúria e insensibilidade estava a tristeza, o cansaço e o auto-ódio que tanto procurava, uma sombra facilmente encoberta por uma mascara bem posta a qual Sans era especialista em colocar.

Ele não tinha prazer nenhum naquilo. Frisk queria acreditar nisso.

— Acho que você não sabia, mas fazer sexo com uma mulher sem que ela tenha se quer a capacidade de consentir ou negar é considerado estupro. Então você, muito esperto, foi até uma garota que não tinha mais noção de nada, - outro osso dilacerou a carne, dessa vez cortando a cintura, não exatamente aparentando uma perfuração, inicialmente ao lado esquerdo. - a levou para fora da boate e se satisfez o quanto podia. - outro osso, dessa vez ao lado direito da cintura. - Como se a nossa principal regra não fosse "sem estupros". Temos contatos com boa parte das melhores prostitutas da cidade, um comercio inteiro com o qual temo um desconto exclusivo. Não existe necessidade alguma de estuprar ninguém!

Sans afastou-se, respirou fundo, dedos apressados a passar pelos cabelos empurrando-os momentaneamente para longe de seu rosto, tentando se acalmar. Em seguida utilizou de sua magia para retirar, sem qualquer tipo de pudor ou piedade, cada osso que havia usado para perfurar o rapaz, deixando que ele caísse sobre seus joelhos choramingando e lamentando-se, ligeiramente zonzo, pela dor que ainda corria por seu corpo. Sangue manchando suas roupas, escapando das feridas abertas e expostas.

Sans acocorou-se de frente ao rapaz, uma de suas mãos agarrando os fios encaracolados e puxando seu rosto para cima.

— Nisso vamos a sua terceira mancada daquela noite: você por acaso sabia que frio também mata? Mesmo que não tenha feito com suas próprias mãos, com o simples detalhe de tê-la deixado nua na rua vazia durante a madrugada foi o suficiente para levá-la a morte. E você nem deve ter se lembrado disso, na manhã daquele dia, despertando em sua cama aliviado por ter descarregado o estresse. Nem deve ter passado pela sua cabecinha de minhoca podre - Sans sacudiu a cabeça do rapaz, com tal força que foi quase possível ouvir as juntas estalando. - todo o problema que ia trazer depois. E por que deveria se preocupar, não é? Membro de uma das maiores gangues da cidade, com contatos e influências, quase imunidade completa. Você deve ter mesmo pensado que ia sair impune com isso.

A cabeça do rapaz foi jogada bruscamente ao chão, Sans a fazer pressão sobre seu crânio durante alguns segundos antes de erguê-lo novamente, apreciando a visão do nariz a sangrar. Um mover de pulso a mais e o rapaz arrastava-se pelo chão da sala, um rastro de sangue marcando seu caminho, camisa rasgando-se pela pressão de seu corpo contra o chão somada ao mover contínuo.

— E nessa brincadeira vamos para o seu quarto erro: deixando o corpo em nossas áreas não apenas chamou a atenção da polícia, que já é um pé no saco para despistar e manter longe de nosso território, como nos deu uma terrível dor de cabeça com os moradores da região. Se você não sabe para mantermos eles de bico calado não apenas precisamos de medo, mas a garantia de que nada aconteça a eles, de que estão seguros baixo nosso comando. Assim eles nos respeitam, assim eles calam a boca e se fazem de cegos para as autoridades e nós continuamos com nossas atividades. Perder esse respeito, essa confiança, é o mesmo que pedir para sermos traídos. - novamente a alma do rapaz foi envolvida com magia, corpo sendo forçado a erguer-se do chão para acertar de forma brusca o teto do lugar antes de ser jogado novamente ao chão. Sons incoerentes sendo emitidos em assobios pela boca do rapaz. - E você não deve nem ao menos ter pensado que, aquela garota era filha de um dos moradores de nosso território, a procura de um pouco de diversão dessa vida de merda. E simplesmente não existe maneiras para me desculpar, nem ao menos se eu te matar, porque seja o que for que eu fizer com você agora não vai trazer a garota de volta para eles.

Novamente o rapaz foi arremessado, o corpo na direção da parede, apenas que, dessa vez, o ataque foi diferente. No lugar onde apenas deveria estar um muro de concreto o qual formava a sala, ossos haviam salientado-se magicamente do lugar, transportados de vai se saber onde com suas cabeças apontadas para aquele que se dirigia velozmente em sua direção.

Frisk já tinha visto aquele filme diversas vezes antes, em outras perspectivas, mas ainda assim igual.

O corpo acertou os ossos, ainda assim em ângulos aceitáveis para manter o rapaz ainda vivo, mesmo que moribundo. Parecia ser o suficiente para Sans.

— E no final de toda essa merda acumulada quem vai ter que limpar sou eu. Acho que o mínimo que posso fazer para começar a concertar é matando você, mas antes, quero sua opinião sobre o que vou dizer aos pais da garota, porque tenho certeza que um "me desculpe" não seria nem perto do suficiente. - ligeiramente consciente, preso nos ossos e anestesiado pela dor intensa, o rapaz simplesmente cuspiu, desafiadoramente em seus últimos suspiros, aos pés de Sans. O sorriso no rosto pálido quase alcançou as orelhas. - Muito bem, eu imaginava algo assim. Nos vemos no inferno.

Talvez tivesse sido exagero, talvez pouco para o que era merecido, seja como for não era nada agradável de se ver. Erguendo o corpo moribundo e irremediável com sua magia Sans o acertou diversas vezes no teto e no chão da sala, velocidade e força não sendo poupados para cada rebatida, ossos esfarelando-se dentro da carne cortada e dilacerada, sangue manchando os locais no qual o corpo batia e respingando-se em alguns recantos mais longe.

Tempo não precisou ser marcado, ele pareceu eterno enquanto o eco de cada choque da carne com o concreto retumbava pelas paredes. Quando Sans finalmente deteve-se não existia mais nada do que antes deveria ser um rapaz não muito mais velho do que seu próprio assassino. O mesmo o qual encarava com indiferença, talvez ainda certo rancor, o corpo esfarelado no chão.

— Alguém limpe a bagunça, não quero nem mais um rastro dele na minha frente. O resto volte ao trabalho, a diversão acabou. - a voz rouca parecia um pouco mais sombria, pés arrastando-se novamente para sua sala a qual fechou com magia, sem nem ao menos voltar-se para trás uma única vez.

Frisk precisou ainda de alguns segundos para que pudesse processar tudo que tinha visto naquele dia e o que mais deveria ver a partir dali. Definitivamente ela precisava daquelas regras.

Diana já tinha voltado-se para o estranho casal com o qual conversavam antes da confusão, Frisk não chegou a prestar atenção no que falavam, sua mente perdida em outros cantos e acontecimentos, universos alternativos os quais não mais existiam e apenas ela lembrava, linhas do tempo adversas que até mesmo pareciam um sonho em realidades como aquela. Quando deu-se conta estava sendo novamente arrastada na direção da mesma porta a qual tinha observada o originalmente albino desaparecer sem ter a capacidade de impedir.

Assim que se viu na conhecida sala, porém, a mente que anteriormente estava desligada voltou a funcionar com o estranho cheiro familiar. Frisk já tinha perambulado por recantos inimagináveis daquela cidade, lugares onde o cheio forte e característico de determinadas drogas permaneciam impregnadas nas paredes, sendo impossível não reconhecê-los depois. Principalmente pelo detalhe das periferias de Ebott serem um ponto estratégicos não apenas para o uso como a distribuição de tais materiais ilícitos. Frisk já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha deparado-se com aglomerados de pequenos grupos a usar descaradamente não apenas as drogas já conhecidas, como também as novas que haviam entrado no mercado depois do descobrimento massivo da magia.

O fácil acesso por conta da distribuição fornecida pelas gangues dominantes do território e a pouca fiscalização por conta do difícil acesso das autoridades no lugar, também a causa das gangues, tornava as periferias o ponto de encontro para qualquer tipo de atividade ilegal. Mas a questão em si era o fato de, assim que colocou os pés para dentro da sala, o forte odor de maconha preencheu seu nariz.

Frisk não sabia mais quantas surpresas poderiam cair-lhe em cima naquele dia. Maconha era uma droga ilícita em alguns países, mas no seu havia sido liberada, era verdade. Seu uso individual era legalizado e liberado, a compra por distribuidores ilegais era o que dava o real problema de tal produto. Ainda assim seu uso basicamente consistia em tratamento medicinal e, até onde sabia, Sans não tinha qualquer tipo de doença que requisitasse o uso de tal droga.

— Não quero ser incomodado. - ele resmungou, uma baforada de fumaça escapando-lhe pela boca e subindo ao teto. As janelas estavam abertas, mas o cheiro ainda se acumulava e tornava o lugar abafado, ele não parecia se importar, porém. Seus olhos mantinham-se focados no teto, cabeça jogada para trás no encosto de sua cadeira enquanto os pés recostavam-se sobre a mesa, basicamente largado de qualquer forma.

— Não incomodaria se não fosse importante. - insistiu Diana, queixo erguido e voz firme, rosto imutável. Se ela tivesse sido afetada pelo acontecimento de poucos minutos atrás, não demonstrava. Sans apenas a encarou de soslaio, esperando que continuasse. - Quero essa garota como meu braço direito.

— Ela não acabou de entrar? - a surpresa era presente não apenas para Sans como também para Frisk. De tudo que ela poderia esperar ao ser arrastada até ali, aquela seria a ultima coisa.

— Não importa. Seu conhecimento sobre a cidade é tudo o que precisamos, vai facilitar meu trabalho e o seu. - Diana fez um movimento leve com o braço, indicando para Frisk entregar-lhe o celular, prontamente sendo obedecido, sem ao menos que a morena soltasse um pio. O aparelho logo foi para as mãos de Sans que segundos depois ergueu o olhar ainda mais surpreso. - Com esse conhecimento teremos mais facilidade para lidar com as comunicações e vigias do nosso território. Você sabe que precisamos, agora mais do que nunca.

Sans ainda dedicou-se um tempo para pensar, seus olhos novamente se perdendo em um canto da sala. Quando terminou, devolveu o celular para Diana e recostou-se mais comodamente na cadeira.

— Faça o que quiser. - ele murmurou, o que parecia ser muito bem a permissão que Diana queria, sorrindo vitoriosa para então arrastar Frisk para fora, a pequena morena esquecendo-se completamente que a madrugada arrastava-se e ela ainda não tinha voltado para casa.

Mas isso não era importante. A bronca que levaria seria facilmente ignorada e relevada diante de todos os acontecimentos daquele dia. Acontecimentos nos quais, definitivamente, teria que pensar com mais detalhe e cuidado para finalmente conseguir saber se realmente tinha sido uma boa ideia meter-se em toda aquela história.


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Notas finais do capítulo

Para aqueles que acreditaram que o Sans tem LOVE, acho que respondida a pergunta, como um pouco do relacionamento, por assim dizer, que ele teve com a Chara. Alguns especularam um romance, mas não, é ódio a primeira vista mesmo. Oh e sorry pelos terríveis nomes de gangues, para isso me falta criatividade -.-'...
Motivo de ter colocado Sans como um "assassino": em algumas AUs ele é retratado com bastante LOVE, então foi para retratá-las aqui. Maiores detalhes em capitulos seguintes.
Seguintes referencias de outros universos também:
— Rei vem de storyshift
— Assassino poderia ser tanto para o Murder de DustTale, Reaper de ReaperTale ou o Horror de HorrorTale
— Criador obviamente seria sobre o Ink de InkTale
— Destruidor seria sobre o Error de ErrorTale
Oh, já avisando que estou meio embolada com os capitulos seguintes. O 26 e 27 deveriam ser apenas um, mas como tive que dividi-lo acabou que se tornou os dois e vou postá-los no mesmo dia, ou seja, capitulo duplo. Entretanto, o 29 e 30 tbm seriam marcados para o mesmo dia ou seja, outro capitulo duplo. Dois assim tão próximos um do outro vão me deixar bem apertada, pq teoricamente eles contariam apenas como um capitulo. Então, se Fusion tiver um pequeno travamento (recordem-se do tamanho dos caps e que eu ainda ESTUDO, parece que não, mas estudo sim xD) a culpa é desse nó que me deu nesses capitulos. Estou fazendo o que posso para evitar, mas nunca se sabe.
Espero que tenham gostado, semana que vem tem mais! Até~