FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 10
Primeiro Dia - 273 dias para Reset


Notas iniciais do capítulo

Surpresa!
Ficaram surpresos? Ficaram?
Eu decidi, como vocês tem sido leitores tão fieis e lindos durante todo o processo de criação dessa fanfic e me enchido com uma determinação e alegria sem igual, recompensar vocês com uma semana de capitulo duplo! Agradeçam a Luna l Flame princess que teve a gentileza de sugerir a ideia.
Teoricamente esses dois capitulos se completam então eu pensei que deixá-los no mesmo dia não teria problema.
Aproveitem bem! Não sei quando vou poder fazer isso de novo!



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FusionTale - Primeiro Dia - 273 dias para Reset

— Assustada? - Frisk negou fervorosamente com a cabeça, o rosto erguido e determinado trazendo gargalhadas para a sala vazia em que se encontravam naquele momento. - Ok, então segure minhas mãos. - assim o fez, sentindo um leve arrepio subir por sua coluna quando o calor dos dedos de Sans passaram para a pele de sua mão. Era... Diferente do que estava acostumada a sentir. Ela não tinha parado para prestar atenção em outros momentos, Sans não permitia muito contato entre eles, mas agora que teriam que agarra-se um ao outro ela conseguia sentir a diferença entre suas mãos esqueléticas e suas mãos calosas as quais segurava agora. - Pronta? - Frisk assentiu. - Muito bem, vamos começar.

Sans fez um sinal para o vidro poucos passos de onde se encontravam, indicando para aqueles que observavam que eles estavam prontos para começar. Pouco tempo depois Frisk conseguiu sentir a magia deslizar fluida da mão de Sans para a sua, penetrando sua pele em ligeiras picadas de agulha, causando uma leve queima em seus músculos do braço e pouco a pouco correndo por seu corpo. Era uma sensação nova, estranha, mas facilmente dava para acostumar-se depois de alguns minutos.

Frisk ergueu sua cabeça, encarando o rapaz que tinha a frente, seu olho esquerdo reluzindo um pouco mais do que seu olho direito naquele momento. E, por alguma razão, ela sabia que ele não estava usando nem se quer um terço de sua magia. Sans era poderoso, todavia Frisk não conseguiria ver suas estatísticas agora, elas apenas se revelavam em uma luta séria, uma em que ambas as partes realmente estivessem interessadas em matar a outra, o que não era o caso. Todavia, ela sabia bem, mesmo que pudesse vê-las de nada valeria. Sans era a prova viva que números não queriam dizer nada com relação a força.

Acostumando-se com a magia que fluía agora por seu corpo, Frisk procurou alguma coisa que pudesse fazer para distrair sua mente. O quarto que se encontrava era bem simples, nem mesmo poderia realmente dizer que tal lugar era um quarto, não possuía moveis ou qualquer aparato do estilo, estava completamente vazio, apesar dos fios que escapavam do chão e conectavam-se a Frisk em diversos pontos diferentes, provavelmente medindo seus pontos de HP e magia, para que tivessem certeza que nada estava errado. Tudo era branco, paredes fechadas não muito espaçadas entre elas, sendo que uma possuía um alongado vidro escuro, o qual impossibilitava Frisk ver através dele, apesar de que ela tinha certeza que as pessoas por trás do mesmo podiam vê-la muito bem. Ao lado dele estava a porta por onde ela entrou junto com Sans, fechada, apesar de não estar trancada.

Não era um lugar com muito entretenimento, e sem suas mãos...

O melhor que poderia fazer era encarar seu companheiro com mais detalhes, reparando que Sans, definitivamente, era um rapaz atraente.

Ela nunca o tinha se quer encarado de forma diferente a de um amigo ou de uma suposta fonte de admiração, tanto por ser nova de mais para se quer começar a ter qualquer tipo de pensamento relacionado a atração física como por serem de espécies diferentes e, por tanto, estilos de beleza também diferentes. Nesse universo, no entanto, Frisk tinha que lidar com os hormônios da adolescência e, por consequência, a atração pelo sexo oposto, descobrindo quais eram suas preferências.

Sans, ela deveria admitir, estava entre elas. Seu rosto maduro, com o queixo quadrangular coberto com uma superficial barba por fazer, os cabelos de aspectos macio, cobrindo-lhe a cabeça com o tom negro já desbotado, provavelmente com a tintura a qual usava precisando de retoque, fios brancos começando a aparecer, iguais aos de Papyrus e Gaster. Ele era robusto, todavia não gordo, um pouco mais destacado por culpa do grosso casaco a qual usava diariamente junto a roupas folgadas. Frisk podia notar, agora que ele encontrava-se com seu jaleco e uma blusa mais justa por baixo, como, na verdade, seu corpo era moldado de forma... Como dizer? Muscular. Seus braços eram grosso e o tronco largo junto aos ombros, Frisk era um palito de fósforo comparado a ele.

Todavia, o que definitivamente se destacava nele, eram os olhos azuis. Eles eram de um azul celeste invejável, quase comparável ao céu da tarde, limpo de nuvens. Frisk poderia ficar encarando-os durante todo o dia e não se cansaria de perder-se naquela cor tão bela. E mesmo assim, quanto mais ela observava, quanto mais fundo ela procurasse ir, mais sombrio aquele olhar lhe parecia. Sans sempre tinha um sorriso no rosto, mas mesmo em sua dimensão Frisk sabia a fachada que existia por trás daquela aparência imutável.

Será que o Sans dessa dimensão era igual? Escondendo, enterrando no mais profundo de sua alma, os pesares que vivia durante todos os dias de sua vida? Por que? O que tinha nessa dimensão que poderia lhe atormentar tanto? Não existiam redefinições e Frisk tinha absoluta certeza que Sans não recordava-se dos outros universos ou linhas do tempo então, qual era seu motivo? Por que ele se mantinha tão fechado em si mesmo?

 - Continue a me encarar dessa maneira, Kiddo, e vou começar a pensar que está querendo me seduzir. - a súbita intromissão de sua linha de pensamentos a assustou um pouco enquanto seu rosto queimava ao se dar conta do tempo que deveria ter se mantido a observar com intensidade o rapaz a sua frente. Frisk revolveu-se incomoda em seu lugar, desconfortável. - É tranquilo, Kiddo. Estava apenas brincando. Não é como também se tivesse muita coisa para fazer além de observar um ao outro.

E como Sans odiava isso.

Não que estar preso em um mesmo cômodo com uma garota fosse um problema, pelo contrário! Ele apreciaria bastante se não tivesse que manter suas mãos constantemente nas dela e não poder correr os dedos por outras partes. Merda, ele estava há quase um mês sem qualquer contato intimo com o sexo oposto, ele precisava aliviar um pouco sua tensão e estar sozinho em um quarto com uma garota que tinha seus atrativos não ajudava muito a manter-se na linha.

Gaster o havia avisado para ser cuidadoso, Frisk não era qualquer uma, e porra, Sans sabia muito bem disso. Filha adotiva do melhor amigo de seu pai e prefeito da cidade, isso definitivamente não era pouca coisa. Gaster o havia escolhido para esse trabalho tanto por seu controle ser extremamente promissor como também por confiar mais em Sans, membro de sua própria família, do que qualquer outra pessoa. Mas, ei! Sans era um homem de vinte e seis anos, cheio de necessidades biológicas que não poderiam ser caladas tão facilmente, ele não estava em uma posição muito favorável nem mesmo para manter seu controle sobre sua magia.

Seus olhos azuis voltaram a encarar a garota a sua frente, detalhando-se novamente em cada recanto que poderia ver. Os cabelos curtos, agora presos em um curto rabo de cavalo, ainda deixando madeixas rebeldes caindo-lhe sobre o rosto junto a franja que praticamente tampava-lhe os olhos constantemente encobertos pelos longos cílios, ele nunca tinha visto de que cor eram. O rosto era arredondado, as bochechas bem demarcadas, com a pele morena, lábios em um meio termo, nem finos e nem carnudos, ele questionava-se qual seria o gosto que poderiam ter. O queixo era ligeiramente pontudo, uma curva mais demarcada, todavia ainda bastante circular, descendo mais ele via o corpo pequeno, magro, ela não era muito menor do que ele, alguns centímetros mais baixa, todavia ela definitivamente era bem mais magra, com curvas discretas, seios pequenos, apesar do quadril mais largo, as pernas eram bem fartas e alongadas. Era o tipo de corpo que, bem escondido, poderia se disfarçar de um garoto, mas que, por baixo, guardava segredos que qualquer homem queria descobrir.

Ele não conseguia evitar olhar, por mais que quisesse manter distância da garota ele não conseguia evitar a atração física. Porra, ele era um homem e ela uma garota bonita com um rostinho de anjo tão delicado que dava vontade de devorar! Pelos deuses, como ele queria ser o lobo mal que a devoraria por inteira.

O leve puxar em sua mão o chamou a atenção, voltando a concentrar-se no que a garota queria indicar. Seria complicado conversar com ela agora que ela estava incapacitada de usar suas mãos, ele sabia que ela ainda tinha sua voz, mas se ela deliberadamente havia escolhido não usá-la até então, então muito provavelmente não usaria agora.

Ela fez um gesto de confusão em sua direção, indicando suas mãos ainda unidas, magia azul fluindo entre eles. Sans supôs que ela queria entender o que exatamente eles estavam fazendo.

— Quer saber o que está acontecendo? - ela assentiu, a curiosidade bem destacada em seu rosto. Ela poderia não usar os olhos, mas seu rosto era demasiadamente expressivo para indicar tudo o que bem queria. Sans, por sua vez, sorriu. - Bem, depois de algum tempo de pesquisa descobrimos que talvez desse para liberar a magia de outra alma injetando constantemente um fluxo continuo de magia em seu sistema, um pouco além do que normalmente a alma estaria acostumada. A teoria é de que, depois de um tempo em que a alma acumularia essa energia nova, chegaria o momento em que teria mais do que o suficiente para a autossustentação, levando-a a liberar o fluxo extra de outra forma, no caso, a magia que, por enquanto, apenas alguns conseguem usar. Obviamente apenas você não seria suficiente para comprovar o ponto, mas já seria um incentivo maior para continuar as pesquisas e ter mais voluntários.

Frisk assentiu, mostrando que havia compreendido o que ele havia explicado.

— Agora é minha vez de fazer uma pergunta. - Frisk voltou a lhe encarar, por um minuto com confusão visível. Depois de alguns segundos de ponderação, ela indicou suas mãos, mostrando que ela não poderia lhe responder. Sans, por sua parte, sorriu. - Não se preocupe, não é nada que vá precisar de suas mãos para responder. - Frisk ponderou por um tempo e então assentiu, um singelo sorriso desenhado em seu rosto. - Poderia me mostrar seus olhos? Eu acho que nunca os vi realmente.

Por alguns instantes Frisk hesitou. Não era como se tivesse algum problema realmente, era mais pelo fato de ser desconfortável. Ela teve alguns problemas por causa da cor de seus olhos, fato que a levou a escondê-los quase constantemente da maior parte das pessoas. Seus pais e seus irmãos já os tinham visto e não tinham criado qualquer problema, como era de se esperar, mas ainda era um costume de Frisk manter seus olhos longe da vista de outras pessoas. Ficaria realmente tudo bem mostrá-los a Sans?

Bem, ela não tinha realmente muita coisa a perder. Talvez o máximo que ela recebesse fosse a sugestão de não mais abrir os olhos novamente.

Com um suspiro, ela assentiu com leveza e puxou Sans um pouco mais para perto. Ele poderia ver, mas apenas ele, ela não queria ver a reação de outras pessoas. Sans, por sua parte, ficou tenso, sem saber exatamente o que fazer com a nova proximidade, os olhos focados nos da garota a sua frente, tão próxima que poderia sentir sua leve respiração em seu rosto, testas coladas, um pouco do roçar leve de seu cabelo castanho em seu rosto. O rosto pálido de Sans tomou uma coloração avermelhada, coração acelerando um pouco e a respiração ligeiramente engatada na garganta.

Lentamente Frisk começou a abrir as pálpebras, cílios sendo retirados do caminho do campo de visão de Sans. E, se sua situação já estava complicada com a proximidade, ele não sabia o que fazer quando a garota terminou de abrir seus olhos, foi definitivamente inesperado, afinal, ele nunca imaginou que veria os olhos mais lindos que já tinha visto em toda sua vida. E não como se estivesse exagerando, os olhos de Frisk eram de um dourado reluzente, um tom de amarelo o qual nunca tinha visto antes, quase como ouro puro, destacando-se em seu rosto como duas joias, joias as quais ele se sentia perdidamente atraído.

Seu coração foi parar na garganta, a respiração já engatada soltou-se em um som engasgado de surpresa. Ele não tinha nem palavras para começar a descrever e Sans se sentia um idiota por reagir dessa maneira. Pelos deuses, ele tinha vinte e seis anos! Já tinha estado com diversas mulheres diferentes, não mais um adolescente cheio de hormônios perto de uma garota bonita.

— W-wow! Seus olhos são... - ele engasgou, enquanto observava a garota voltar a fechar os olhos e afastar-se dele, a expectativa pairando o ar. Sans limpou um pouco a garganta, tentando livrar-se da desconfortável sensação de nervosismo antes de voltar a falar. - Seus olhos são incríveis, Kiddo. Por que os mantêm escondidos? Mais de um garoto se apaixonaria por eles assim que olhasse.

Frisk corou fortemente com o elogio, dando levemente de ombros com a pergunta. Ela não era capaz de respondê-la sem usar suas mãos e Sans compreendia isso. Todavia, ele estava mais concentrado em tirar a primeira impressão que teve daqueles olhos. Isso que era dizer de um olhar cativante, ele não podia negar que havia perdido por completo a compostura por apenas alguns instantes assim que viu aqueles enormes olhos.

Aquela garota não parava de surpreender-lhe.

Frisk lhe cutucou mais uma vez, dessa vez indicando, da melhor maneira possível, seu cabelo. Ele prontamente deu-se conta que deveria ser por causa da cor que ele estava voltando a ter. Ele não teve muito tempo de tingir novamente para o negro escuro que costumava usar, ela deveria estar questionando o motivo da tintura, pensando bem.

— Eu acho que já sou claro o suficiente com as pessoas, não acredita? - Frisk riu ligeiramente com o comentário, mas então inquietou-se novamente em seu lugar. Ela parecia bem desconfortável em não poder dizer o que queria. - Kiddo, agora que estamos nessa situação, por que não usa sua voz? Eu sei que você deve ter um bom motivo para escolher não falar, mas suas mãos estão meio ocupadas agora. - a garota abaixou a cabeça, ainda mais inquieta sobre seu lugar. Sans suspirou, talvez não tivesse sido uma boa ideia ter comentado sobre isso. - Ok, Kiddo, deixamos isso de lado. Quando tomarmos uma pausa você me diz o que tem a dizer.

Tardou ainda uns bons minutos para que finalmente fossem liberados para um descanso. Sans nem ao menos tinham começado a se sentir cansado, ele ainda tinha muita magia, todavia, Gaster não queria arriscar nenhum incidentes indesejável. Era melhor garantir que Sans estava em completo controle de sua magia deixando-o se recuperar mais frequentemente do que originalmente estava se esperando. 

Por sua parte Sans não sabia se sentia-se irritado ou indiferente com tal situação.

Irritado por Gaster tratá-lo como uma bomba relógio descontrolada e imprevisível. Não que fosse muito longe da verdade, mas Sans ainda sabia bem como seu corpo reagia e sabia com antecedência quando um de seus... episódios, estava para acontecer, não precisava ficar tomando tais tipos de precauções.  E indiferente porque era uma pausa de todas as maneiras e Sans era do tipo de pessoa que amava pausas. Como seu trabalho havia sido reduzido a apenas bombear magia para a alma de Frisk ele poderia ter muito mais tempo de folga do que de costume.

— Ei, Kid! Está com fome? - a garota assentiu. - Eu estava indo ao Grillbys para um lanche antes de começarmos novamente, quer vir comigo?

O bar do Grillbys era bastante conhecido nos subúrbios da cidade, Frisk já tinha ouvido algumas pessoas falando sobre ele e como todos os tipos de pessoas reuniam-se lá. Frisk tinha muita curiosidade em ver como era o bar nessa dimensão, todavia nunca que Chara, Asriel ou até mesmo seus pais a deixariam pisar naquele lugar, tanto pela localização conturbada quanto pelo tipo de pessoa que frequentava o lugar. Agora que a oportunidade aparecia, ela não seria aquele que iria negá-la.

Por tal Frisk assentiu novamente.

— Ótimo, eu conheço um atalho.

Sem hesitar em nenhum momento Frisk segurou-lhe a mão, deixando que Sans levasse-a pelo suposto atalho. Ela sabia muito bem como eles funcionavam, Sans nada mais faria do que teletransportar-se para o lugar em que queria, encurtando exageradamente o caminho. Era prático, Frisk não poderia negar, o problema era que, qualquer um que não fosse Sans a usar essa magia, sentia-se como se tivesse sido jogado em um barril vazio e rolado morro abaixo em velocidade descontrolada, sacolejando durante todo o percurso sem saber onde era direita ou esquecer, em cima ou em baixo, para frente ou para trás.

Ao chegar de frente a construção de madeira que era o Grillbys, Frisk estava tonta, instável em seus pés, ligeiramente mareada.

— Opa, cuidado com os efeitos colaterais, Kiddo. - Sans a segurou pela cintura por um instante para que recuperasse o equilíbrio, o rosto de Frisk ardendo como fogo quando sentiu-se extremamente perto do rapaz. Sans não poderia evitar, droga ele tinha que se controlar mais, era uma criança! Não tinha a mesma idade que as garotas as quais se envolvia, nem mesmo era igual!

No interior Grillbys era tão rústico quanto Frisk poderia ter imaginado. Tudo feito de madeira polida e de uma tonalidade escura, na parte de traz do balcão uma parte para o barman se locomover de um ponto ao outro, uma enorme estante cheia dos mais variados tipos de bebidas que nunca Frisk seria capaz de conhecer e a porta que levava a cozinha ou a dispensa, talvez ambos. O lugar estava praticamente vazio, apenas algumas poucas pessoas diferentes espalhadas aqui e ali, cada uma delas aparentemente conhecendo Sans, já que prontamente o cumprimentaram quando passou.

— Vai querer o que, Kiddo? - perguntou Sans assim que o barman se aproximou.

Dizer que Frisk se sentiu um pouco aturdida ao ver o próprio Grillby em forma humana seria o de menos. Cabelos vermelhos como o fogo puxados para trás de forma elegante, trajando seu costumeiro terno preto e branco, pele café com leite e de rosto maduro, envelhecido provavelmente pela idade, mas ainda com traços jovens, belos, óculos retangulares pequenos enfeitando sua face. Frisk precisou de alguns segundos para poder sair do choque.

"Um hambúrguer e um refrigerante está bom para mim."

Sans deu um leve olhar para o ruivo a sua frente e o mesmo desapareceu pela porta próxima a estante.

— Então, Kiddo, o que ia me dizer no laboratório sobre meu cabelo? - começou Sans, o cotovelo apoiado sobre o balcão enquanto a mão sustentava o rosto relaxando, sorriso imutável enfeitando novamente seu rosto.

"Apenas que deveria mantê-lo branco. Ficaria bonito e, se o tinge por culpa de outras pessoas, não deveria. Pensei que você fosse do tipo que não se importasse com a opinião alheia"

— Eh? Então você me acha bonito, Kid? - o rosto da pobre garota tomou tal grau de vermelho que ela quase podia jurar que o próprio tomate perderia contra ela. Sans, por sua parte riu. - Apenas brincando, Kid. Mas pensarei na sua sugestão, realmente dá trabalho tingi-lo. E acho que deveria fazer o mesmo com seus olhos, sendo sincero nunca vi uma cor tão bonita. Por que os mantêm escondidos?

"Pelo menos motivo que não uso minha voz"

— E qual seria? - os pedidos havia chegado, Frisk tinha a sua frente um gordurento e suculento hambúrguer caprichado, pedaços de alface, tomate e ovos escapando pelas beiradas, o cheiro inundando suas narinas e fazendo seu estomago roncar alto, ao lado dele uma pequena lata de coca-cola, tão gelada que Frisk conseguia ver a pequena camada de gelo por cima do alumínio que formava a lata. Sans, por sua parte, tinha apenas um corpo repleto de um liquido espumoso, o qual Frisk supôs ser cerveja. Ela tentou evitar seu ar decepcionado por não ser ketchup, ela realmente esperava que ela permanecesse com esse hábito, mas talvez fosse pedir de mais. Ela também não questionaria sua escolha, ele era um adulto, poderia beber. Até mesmo Asriel fazia de vez em quando.

"Passado"  foi sua única resposta antes de levar o suculento hambúrguer a sua boca. Ela estava agradecida que Sans não insistiu no assunto, era um detalhe complicado, em qualquer linha do tempo ou dimensão que até então ela tinha conseguido puxar para sua memória. Alguns não eram tão complicados, todavia ainda lhe causavam mal estar. Sans compreendia, aparentemente, e deixou-lhe saborear sua comida sem qualquer outro tipo de questionamento, ele mesmo tomava tranquilamente sua cerveja, olhar perdido em um canto qualquer.

O silêncio preencheu ambos, cada um perdido em seus próprios pensamentos enquanto permaneciam com seu lanche, se é que o de Sans poderia receber esse nome. O bar era tranquilo, com a pouca quantidade de pessoas, a maioria sentada sozinha, era como se não tivesse ninguém no lugar. Frisk supôs que o lugar deveria fazer mais sucesso próximo ao anoitecer. Era quando as pessoas costumavam sair de seu trabalho a procura de algum conforto, a maioria deles encontroando no álcool.

— Você ouviu o ultimo boato? - era uma conversa aleatório perto de onde estava, dois homens sentados em uma das mesas a conversar em sussurros. Frisk não estava querendo prestar atenção, mas ela não tinha muito escolha com o silêncio do lugar. - Dizem que o prefeito está financiando pesquisas de magia. Sabe, para todos possam tê-la.

— Como se isso fosse ajudar em alguma coisa! - zombou o companheiro do que tinha iniciado a conversa. Frisk sentiu um arrepio por seu corpo ao perceber o rumo da conversa, deixando de comer por alguns instantes. Seria melhor ignorar, ela sabia, mas a curiosidade picava-lhe a mente. - Ao invés de procurar fazer alguma coisa que preste, como melhor a nossa segurança, fica gastando nosso dinheiro suado com essas pesquisas inúteis. Será que não percebe que a maior parte dos bandidos são aqueles que usam magia?!

— Não pode culpá-lo, ele tem magia também. Aposto que, se descobrirem um jeito de tornar todos nesse tipo de aberração vão forçar todos a ser. Imagine o caos! - suas mãos apertaram a lata de refrigerante, a respiração engatada em sua garganta. Em sua mente repetia diversas vezes que aquilo não era nada, opiniões alheias de ignorantes, seu pai não era assim. A busca por uma nova forma de ter magia apenas era para possibilitar a igualdade. Quem quisesse ter que tivesse, quem não quisesse não seria obrigado a ter.

— Essas aberrações acham que podem fazer o que quiserem apenas por ter alguma coisa de especial. Ha! - debochou novamente o homem.

Frisk não tinha reparado suas mãos tremendo, muito menos o afastar das pessoas dos dois homens que conversavam, não reparou o tremor nos ombros de Sans, não reparou na magia que borbulhava a seu redor. Mas as pessoas que ali estavam sabiam o que iria acontecer, elas sabiam que aquele era o ultimo lugar no qual poderia se conversar descaradamente sobre suas objeções contra a magia. Pois naquele lugar, os que mais frequentavam, eram os usuários de magia. O próprio proprietário era um.

Mas não eram deles que deveriam se preocupar.

Existia alguém, um freguês frequente que particularmente era perigoso. Sua paciência curta e seu poder tremendo. Todos sabiam que era para ter cuidado quando ele estava por perto, não era uma regra verbal, era uma regra física. Os novatos que aprendessem por eles mesmos.

Sans chegou a se levantar, o rosto sombreado pelas circunstâncias, sorriso tenso quase cortando-lhe por completo a face. Todavia, antes que pudesse se quer fazer uma movimento na direções dos homens que cacarejavam em gargalhadas de suas próprias blasfêmias uma leve e pequena mão segurou-lhe a jaqueta. Não com força suficiente para pará-lo, todavia, chamou-lhe a atenção, o suficiente para que seus olhos deslizassem para a figura encolhida a seu lado, tremendo, sorriso instável em seu rosto.

"Não vale a pena" Frisk assinalou, apesar de sua própria vontade de interferir. Ela sabia que de nada adiantaria, opiniões não poderiam ser mudadas dessa maneira.

Sans a encarou por alguns minutos, avaliando seu rosto. Ele percebeu o tremor em seus lábios, a indignação em sua expressão, ele percebeu sua inquietação e o mover desconfortável de seu corpo sobre o banco no qual estava sentada, os idiotas estavam falando de seu pai e ela ainda pedia para que não fizesse nada? Ela era burra ou apenas não tinha orgulho próprio?

— Por que? - assobiou entre os dentes apertados, o sorriso nervoso ainda em sua face. - Esses idiotas nem mesmo sabem do que estão falando e você ainda pede para não fazer nada?!

"Exatamente por não saberem de nada que não vale a pena. Violência não vai mudar a ignorância, via apenas piorar, principalmente se usar magia. Vai dar mais ênfase no ponto deles." Frisk afirmou com firmeza, o rosto deixando a inquietação para dar espaço a determinação característica. Por sua parte Sans suspirou, ainda tenso, voltando a sentar-se no banco.

— Você é sempre tão piedosa assim ou hoje é um dia especial?

"Não gosto que as pessoas se machuquem. Existem uma solução não violenta para tudo. Eu nunca contratacaria uma agressão."

— Mesmo se te machucassem? Fisicamente quero dizer. Vamos lá, Kiddo, ninguém é tão bom assim. - zombou Sans, incrédulo com o que havia acabado de ouvir. Todavia, diferente do que imaginava, a garota endireitou os ombros, ergueu a cabeça, determinação borbulhando por cada parte de seus poros.  Não tinha como revidar aquilo.

"Mesmo que me matem, eu não vou lutar de volta. Eu nunca vou recorrer a violência!"

E Sans não sabia o que dizer. Ele não tinha ideia da veracidade dessas palavras, ele não tinha ideia das vezes que Frisk realmente morreu sem sequer levantar um dedo, ele não tinha ideia da experiência que a alma de Frisk carregava. Ele chegou a escutar a risada ao fundo vindo de Grillby, provavelmente zombando dele, de sua falta de reação. O que era de se esperar de Sans era uma gargalhada irônica, debochar da garota dizendo que nunca havia se encontrado em uma situação realmente desesperadora para saber, mas as entranhas de Sans diziam que não era verdade. Seu instinto gritava que a garota dizia a verdade, que ela realmente morreria, mas não mataria.

Ela era tão boa...

— Muito bem, sweetheart. Você venceu. - Sans murmurou, seu sorriso tenso substituído por um menor, carinhoso até. Ele levou uma de suas mãos para os cabelos castanhos da garota, bagunçando-os antes de voltar para sua bebida.

Frisk amuou, mas seu rosto estava corado pelo novo apelido que ele a havia dado, o fundo de sua alma chacoalhando em reconhecimento ao apelido.

Sans não poderia evitar, ele estava perdido, aquela garota definitivamente era boa de mais, gentil de mais. Ela deveria manter-se longe do mesmo mundo que ele, ela deveria se manter longe dele, mas ele não queria mais se afastar. Ela era como Papyrus, mas Pap lutaria de volta se sua vida fosse ameaçada, Frisk não o faria. O instinto protetor de irmão mais velho aqueceu seu peito, ele não poderia deixar aquela garota sozinha, ela definitivamente não poderia ficar sozinha naquele mundo de humanos cruéis, um mundo onde era matar ou morrer.

Ele a iria proteger, mesmo que fosse dele mesmo. Ele não deixaria nada acontecer com aquela preciosa garota de alma tão pura.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, é aqui que começamos a introduzir o nosso lindo casal SansxFrisk, sem falar de começarmos a introduzir a magia da Frisk. Será que ela vai conseguir usar? Saberemos mais para frente!
Agora deixem-me voltar a adiantar os capitulos, esse duplo me deixou meio apertada. Bom, mas para a alegria dos meus leitores eu faço tudo!
Até a próxima semana! Mantenham-se determinados!