Durante toda a madrugada, enquanto todos se repousavam no mais profundo sono, Miranda permanecia atenta sentada observando aquele pequeno pedaço de papel, lia e relia centena de vezes como se não acreditasse no que estava lendo. Uma única folha dobrada em três partes, relatava o que mais temia Miranda.

Era uma carta de sua prima, aparentemente enviada a duas semanas. Na carta, as palavras escritas expressavam uma angústia. Miranda logo percebeu que Jane se enrolava nas palavras, como se tivesse medo de escrever o que queria: “Eu sei que faz tempo que você não tem notícias de seus pais, por isso sei que não vai ser fácil para você resistir a isso”. Foi o suficiente para ela entrar novamente em prantos, suas lágrimas escorriam como cachoeiras sem fim. “Por isso, e por outros motivos acho melhor você vir aqui pessoalmente” Esse pequeno trecho a intrigou, não fazia ideia de quais outros motivos eram estes.

Na manhã seguinte todos seguiram seu rumo diário, Miranda não fazia ideia de qual decisão tomar. Então resolveu agir normalmente, até ter alguma certeza. E enquanto disfarçava sua angústia e curiosidade, notou algo estranho e diferente em Johnny, por algum motivo estranho é momentâneo, o carinho e atenção tomaram conta daquele sorriso frio e rude:

—Bom dia amor! – A cumprimentou com um beijo enquanto a abraçava por traz.

—B-Bom dia. – responde Miranda assustada com o que a anos não ouvia, um pequeno sorriso se estendeu pelo seu rosto, naquele momento a chama da esperança de que um dia sua vida voltaria a ser o que era se acendeu. E então veio em sua mente, que essa era a oportunidade perfeita para que ela pudesse desabafar ao menos uma vez:

—Johnny, vou precisar viajar por alguns dias! – Diz Miranda em um tom baixo e assustada, esperando uma resposta grosseira, ou até mesmo um tapa violento. Mas se espantou com a reação de seu marido aparentemente transformado:

—O que aconteceu querida? – A resposta a assusta, não faz ideia do que está acontecendo, mas entra na onda e tira proveito da situação:

—Terei que ir a Londres para ver meus pais, sei que não estão bem.

Mesmo percebendo uma possível mudança de Johnny, Miranda se recusa a confiar cem por cento, e prefere não revelar que tem contato com seus familiares, coisa que ele jamais tolerou.

—Hoje mesmo compro suas passagens! – Johnny a responde se despedindo com um beijo na testa.

O espanto foi tão grande que Miranda nem se lembrava da notícia que a pouco recebeu, nem menos percebeu a presença de seu filho mais velho. Que mesmo sendo um menino complexo, fazia questão de demonstrar o seu respeito a sua mãe.

—MÃE! – Um terceiro grito a despertou do transe que se encontrava.

—O que foi?

—Eu que te pergunto o que foi? – Blane responde confuso.

—Na verdade eu também não sei!

Com a resposta, Blane sai andando, preferiu não tentar entender o que se passa na cabeça de sua mãe naquele momento, a muito tempo que não via ela assim, precisamente desde quando era apenas uma criança. Mas nem se importou em saber mais, para ele isso não importava. Mas ao contrário de seu irmão, Drake sempre foi um garoto atencioso, logo depois de dar um grande beijo em sua mãe já se prontificou em tomar banho e preparar seu material para a escola.

Mas tarde naquele mesmo dia, Miranda terminava de arrumar suas malas, um alívio tomou conta quando percebeu que as passagens para Oxford estavam em suas mãos. Não conseguia acreditar que Johnny realmente tinha feito isso, era como se ele quisesse ver ela o mais longe possível. Preferiu não se preocupar com isso, e sim com seu pequeno garotinho de quem tinha total e completa certeza que ficaria morrendo de saudades.

Drake a esperava diante da porta da casa, e com um forte abraço, a fez perceber que ele saberia se cuidar mais do que os outros. Nesse momento uma lágrima escorria pelo rosto de Miranda, lágrima que antecipava a tristeza e a saudade. Ela se vira e entra no carro dirigido por Johnny, que a esperava para leva-la a St Pancras International, estação central de Londres.

Enquanto via sua mãe se afastando lentamente, Drake se perguntava aonde estaria indo sua mãe e quando voltaria, a final ela nem teve a oportunidade explicar para a pobre criança o que estava acontecendo. Nesse momento só restava uma dúvida, por que?