À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 71
Capítulo 58 - O Pedido Impossível


Notas iniciais do capítulo

EU TO VIVA!
Heeey meus amores ❤
Geeeente, estava com tantas saudades :3 Peço mil perdões por não estar postando ultimamente, de verdade. As coisas não estão colaborando muito, infelizmente.
Fico radiante sempre que lembro de todo amor que vocês me dão nos comments, então estou tentando seguir os conselhos de vocês e ser paciente com a minha criatividade para escrever minhas fics. Obrigada por me ajudarem a ficar bem comigo mesma. Love you ♡



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686033/chapter/71

 

"Essa sempre foi a minha intenção"

Enterrei meu rosto em seu peito novamente, agradecida, apesar de não ter compreendido o quão profunda era a disposição de Ian quanto àquilo. Talvez, se soubesse o quão longe ele estava disposto a ir para me conservar, eu não lhe teria feito aquele pedido desesperado daquela maneira suplicante. Mas, ao contrário, naquele momento, tudo o que eu sabia era que Ian vinha me protegendo há anos. Tudo o que eu sabia era que ele era a pessoa a quem eu confiaria a minha vida sem hesitar. Tudo o que eu sabia era que ele faria o que pedi. Por isso, com o medo na garganta, fiz-lhe aquela súplica. E não me arrependi.

Mas na verdade nem tive tempo para repensar minhas palavras ou ações. Minha vida não me dava folgas. Tão logo Ian pronunciou as palavras que me conferiram alívio, um raio iluminou o céu, e junto com ele um trovão ribombou. A luz breve e intensa se espalhou ao nosso redor, revelando uma figura parada a poucos metros de nós, escondida nas sombras formadas por dois contêineres. Foram apenas dois breves segundos de luz, mas eu poderia reconhecer aqueles olhos até no escuro. Dourados. Olhos de alguém que foi tomado por um eidolon. 

Fitar um par de olhos naquele estado sempre gerava em mim um reflexo involuntário de puxar Prostátida e atacar. Mas não daquela vez. Daquela vez, tudo o que pude fazer foi ficar imóvel. E tudo o que pude pensar foi em como aqueles olhos dourados pareciam tristes.

O corpo tremeu, andou meio passo mais para perto da luz, num movimento fraco, seus olhos tremeluziram. Ian levou a mão direita ao cabo de sua espada em suas costas, enquanto a outra segurava meu braço de forma protetora. Ele desembainhou a lâmina lentamente, mas também não pareceu capaz de partir para o ataque. 

O corpo exprimiu um resmungo, e ergueu o braço, a mão estendida para mim como quem suplica alguma coisa. Mais um relâmpago espalhou uma breve luz e pude ver o hospedeiro com mais clareza: era uma garota de talvez 14 anos, vestia roupas de hospital, estava com os pulsos cortados e pés descalços inchados. O rosto de tez pálida parecia ter sido arranhado diversas vezes, e o cabelo castanho se revoltava, colado à testa e à nuca. Naquele momento, o pensamento que cruzou a minha mente foi o de que aquela era uma pessoa cruelmente perturbada pelos espíritos de vingança. Senti um furor tomar conta de mim e me desvencilhei de Ian. Arranquei Prostátida do meu braço, fazendo a lâmina reluzir, e preparei-me para avançar, mas Ian ergueu o braço para me parar.

— Maya, espere. - chamou e eu o olhei com ar confuso - Veja os olhos.

Fitei novamente o rosto da hospedeira. Franzi a testa.

— Era assim que estavam os olhos do rapaz no hospital? - ele tornou a falar.

Confirmei.

— Parecem ter um brilho mais pálido; e, quanto mais se olha, mais se esvai. - completei, ainda observando o corpo - Mas... Esse parece diferente. Nem tanto, nem tão pouco. 

— Não vai me dar as boas-vindas de volta ao mundo dos vivos, espertinha? 

Congelei, à medida que a voz de Mike soava naquele tom gélido, penetrando fundo em minha pele, perfurando meus ossos, estraçalhando meu coração. O nó que se formou em minha garganta foi crescendo, arregalei os olhos ao ponto de arderem. Michael Yew? Um eidolon? Aquela cena toda estava tentando me dizer que realmente estava acontecendo? Que Mike havia se tornado um demônio completo; que ele agora artomentava e feria mortais por aí? Que a minha espada erguida estava apontando agora... para o espírito de Michael Yew?

Senti as pernas tremerem.

Eu havia pensado que seria capaz de resolver as coisas para Mike. A Teia não tinha a cura, mas... Ao menos eu sabia que alguém esteve procurando um jeito, esse tempo todo! Eu podia encontrar os estudos! Só precisava de mais alguns dias, talvez... Mas o que eu deveria fazer se ele aparecia assim na minha frente? 

Ian segurou o meu braço novamente, talvez achando que eu perderia o equilíbrio ali mesmo, e Mike soltou uma risada.

— Ah, olha só você... - disse olhando para Ian - Colocando as mãos na minha garota de novo. Vocês ficaram bem íntimos, não é mesmo?

Consegui forçar a voz pra fora da garganta:

— Mike... É você...? 

Ele abriu um sorriso macabro.

— Sou eu. Não o mesmo "Mike" que você conheceu, mas meu verdadeiro eu. 

Franzi a testa. Ele pareceu à vontade o suficiente para continuar:

— Sabe... Gaia tem sido de grande ajuda quando até você me abandonou. Ela me levou a descobrir meus mais profundos desejos, e me deu um meio para alcançá-los. Posso dizer que ela me ajudou a descobrir quem eu sou de verdade.

Aquilo era mais que um absurdo. 

— Mike... - fitei aqueles olhos dourados, e então as feridas espalhadas pelo corpo da menina.

Trinquei o maxilar, em uma mistura de raiva e desespero.

— O que está dizendo, Michael? - perguntei com a voz quase trêmula - Está tentando me falar que é isso que você é? Um monstro que toma o corpo de garotinhas e lhes atormenta, fere e oprime? Está querendo me dizer que Gaia realmente o convenceu de que você é um deles? 

Seu olhar vacilou, vi a mão direita tremer um pouco, mas ele abriu mais um sorriso.

— Por que? Não gosta do que vê? — abriu os braços e apontou o corpo da hospedeira - Não fiz nada de mais com ela, pra falar a verdade. Esse corpo aqui... consegui no reformatório. Aparentemente, essa garotinha de quem tem pena matou os pais para defender sua gangue. Algumas horinhas diversão comigo serão melhores que os anos que ela passará na prisão. 

Meu rosto ficou quente. Comecei a perder o controle de mim, e sabia disso, mas não pude me obrigar a afrouxar o aperto forte que fazia no cabo de Prostátida.

— Diversão...? - repeti num tom perigosamente baixo. 

— Ah, você sabe. Uns cortes aqui e ali, coisas do tipo. É menos do que ela merece.

— Do que está falando, Michael? - praticamente rugi - Realmente deixou que Gaia fizesse o que queria com você, é isso? 

O corpo tremeu com um espasmo, mas em seguida ficou firme, lançando-me mais um sorriso confiante. Tive vontade de arrancar cada um daqueles dentes com um único soco. Toda a raiva que tivera que reter para não matar Nam Woon inundou meu peito, senti as batidas pulsarem em meus ouvidos à medida que meu rosto ficava mais quente. 

— Está me dizendo que se transformou em um deles? - gritei - Que agora é igual aos desgraçados destruíram minha família? 

Ele não se moveu. Senti uma lágrima quente correr por meu rosto em meio às gotas de chuva que nos molhavam. E então proferi palavras das quais me arrependi profundamente mais tarde, que foram injustas e que me fariam perder o sono por várias vezes. Mas eu as disse. E, assim que as proferi, vi a revolta passar pelo rosto da menina.

— Que direito você tem? - ele gritou em resposta - Que direito acha que tem para exigir de mim alguma coisa? Eu morri, Mayara, e a culpa é toda sua! Se você não tivesse aparecido, eu teria ido embora do Acampamento, e isso nunca teria acontecido! Mas eu te amei, e você me desprezou. Você abandonou a mim, Shay, Kyle e seus irmãos. Sabe como estávamos com dificuldades por causa disso? Você ao menos sabe o quanto Shayla estava sofrendo por sua causa, já que diz tanto se importar com ela? Não! Porque você só dá valor a essa missão! Você não passa de uma bastarda egoísta que usa as pessoas à sua volta e as descarta quando não precisa mais!

Senti as pernas falharem junto com a voz novamente, meus sentimentos divididos entre a fúria, a angústia e confusão.

— Não o escute, Maya. - Ian murmurou para mim, mas sua voz soou muito distante.

Eu não tinha mais o controle de mim. Era algo que costumava acontecer quando Michael estava por perto. Eu sempre perdera a fala ao fitar seus olhos, ficava sem ação com suas provocações, tendia a ficar vermelha com seu toque e minha mente ficava em branco quando o beijava. Mas naquele momento, o motivo pelo qual eu não tinha o controle de mim mesma era porque sentia raiva. Porque sentia o desespero me consumir. Porque Michael era um eidolon completo. Porque eu o perdera. Havia me agarrado a uma centelha mínima de esperança, mas acabara perdendo-o mesmo assim. Porque havia dito a mim mesma que o salvaria, mas ali estava ele. 

"Sabe o quanto Shayla estava sofrendo?" Suas palavras ecoaram em minha mente. Não. Eu não sabia. Ela era minha melhor amiga, e ainda assim eu ignorava que ela estivesse em algum momento difícil. Ela estava em coma... E ainda assim não fui vê-la. Por que? Porque estava no meio de uma missão. Eu estava priorizando a missão. 

Meus pensamentos pareciam querer me devorar, a sensação angustiante ficou mais intensa e levei a mão ao peito ao sentir como se meu corpo estivesse sendo comprimido. Nunca antes havia sentido a presença dele tão intensa daquele jeito, mas reconheci imadiatamente. De repente, tudo fez sentido.

Ian me segurou pelos ombros assim que me viu começar a desfalecer.

— Maya!

— Ian... - forcei-me a dizer, finalmente entendendo o que estava acontecendo - É Daímonas. Ele está aqui.

Ele franziu a testa.

— Como...?

— Ei, acho mesmo que você deveria tirar suas patas dela, filho das águas. - Mike interrompeu.

Fiz o meu melhor para aquietar minha inundação de emoções e pensar racionalmente. O que eu deveria fazer...?

Respirei fundo e me apoiei em Ian para fincar os pés no chão. Num tom autoritário, ordenei:

— Daímonas! Volte para O Livro agora, ou juro pelo Estige que te açoitarei com aquela sua maldita corrente de Prata. É uma ordem de sua senhora. 

O ar ficou mais frio à minha volta, e então a imagem do Demônio da Página de Prata tremulou muito fracamente à minha frente. Sua voz ecoou gélida e afiada como sempre, mas seu tom soava quase submisso:

— Milady... - ele sorriu — Estou impressionado, devo dizer. Como percebeu que eu estava aqui?

— Suas induções já me são familiares o bastante para reconhecê-las, Daímonas. - falei, dura - Se quer me convencer a alguma perversidade, que seja jogar lixo na rua, e não assassinar alguém. Quem sabe assim você não tenha ao menos um sucesso para se orgulhar.

Ele abriu um sorriso de canto, mas não respondeu. 

— Agora volte para A Página. - mandei - Teremos uma conversa depois. 

Ele levou dois dedos ao coração e se curvou.

— Sim, milady. - e sua imagem desapareceu.

Voltei a fitar a hospedeira de Mike. Seus olhos estavam brilhando num dourado quase inexistente, e isso praticamente me fez suspirar de alívio ao constatar que meu pensamento estivera correto. Era a presença de Daímonas que estava piorando o estado de Michael. Como esperado, seu espírito ainda não estava totalmente transformado.

— Mike... - chamei, hesitante - Ainda está aí?

Não houve resposta, ao que reagi dando um passo mais para perto, ainda com a espada em minha mão. A hospedeira desabou no chão, e eu e Ian correndo até ela, imaginando que o corpo fora abandonado. Eu guardei Prostátida e a virei para nós, segurando sua cabeça. Seus olhos ainda estavam dourados, mas as pálpebras pareciam cançadas. Estava chovendo, mas mesmo assim pensei ter visto lágrimas brotarem e correrem por seu rosto.

— Mike? - chamei novamente - Pode me ouvir, Michael? 

Os lábios se moveram, sem nenhum som por alguns segundos, até sua voz sair fraca: 

M-May... 

Minha respiração se tornou ofegante. 

— Mike! Estou aqui, Mike.

Ele agarrou meu braço, sem forças.

Rápido... Sua espada... 

Franzi a testa.

— O-o que...?

Use... A espada... Em mim.

Sem entender, ergui o olhar para Ian, esperando ajuda, mas o filho das águas parecia surpreso. Voltei a Michael.

— Do que está falando, Michael? - repeti.

O corpo tremeu, fechou os olhos com força, contorceu-se um pouco, até fitar-me novamente.

— Perdoe-me, May... Eu não fui capaz de resistir muito. Ela... Disse coisas que parecem verdade. Eu não sei de mais nada. Só tenho certeza de duas coisas agora... A primeira é que eu te amei muito. - fez uma pausa, fechou os olhos e torceu o rosto como se tentando suportar uma dor muito forte, mas forçou-se a continuar com a voz falha - A segunda é que não quero me tornar um monstro. 

Senti meus olhos nublarem. E não era só pela chuva.

— Você não vai, Mike. Eu estou procurando um jeito. Vou conseguir te trazer de volta, você só precisa aguentar mais um pouquinho, tá? Eu vou...

— Eu não consigo. - interrompeu — Hoje, agora, essa é a minha última chance de morrer como Michael Yew. — suspirou e tremeu - Perdoe-me, May, mas agora vou te fazer um pedido impossível. 

Meu coração afundou tanto que pensei ter perdido as batidas, alastrou-se por meu peito uma dor inexplicável. Lá no fundo, sabia o que ele diria, mas me neguei a aceitar, já balançando a cabeça enquanto chorava. Minha respiração ofegante virou um soluçar, e ainda assim esperei que ele desistisse de falar. Tudo em mim queria se recusar a ouvir o que ele diria a seguir.

— Não diga isso, Mike, por favor... - chorei, mas ele agarrou meu braço com força, obrigando-me a ficar calada. 

Estou suplicando, May. Mate-me.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu de novo!
Espero que tenha gostado, e obrigada por ler ♡ Deixa aí um comment me contando tudo o que achou, por favor ♡♡
Amo vocês muito muito ^ㅅ^
~jaa ne



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "À Espada Pelo Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.