Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 7
Capture a bandeira


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Narração: Nico Di Ângelo

 

Se de cima da ponte o pôr do sol era lindo — Não, Apolo. Eu definitivamente não estou te cantando —, sobrevoar o Acampamento Meio Sangue em um pégaso tornava o crepúsculo no mar um momento digno de filmes românticos apaixonantes — Que em hipótese alguma eu (admitiria que) choraria vendo.

Thalia apertava meu corpo contra o seu, completamente aterrorizada pela altura em que Blackjack voava. Saquei o vidrinho do bolso da calça e engoli metade da poção, sentindo um gosto de cappuccino e guaraná, o que era estranho. Coloquei o frasco nas mãos de Thalia e gritei contra o vento:

— Beba tudo.

— O que é isso?

— Nosso plano B. Beba logo!

— Eu não vou tomar isso! — Antes que eu retrucasse, Blackjack inclinou e pousou na frente de Quíron, numa velocidade recorde. O grupo inimigo esbravejou enquanto Jason nos olhava em dúvida se nos matava ou não. Saltamos do pégaso e ele voou, enquanto o centauro pedia silêncio e começava seu discurso.

— Heróis! — chamou, e Jason se aproximou de nós, sussurrando:

— Onde estavam?

— Tivemos um contra tempo. — Respondi o loiro e me virei pra sua irmã, que estava ainda nervosa e apertando o frasco na mão. — Thalia beba logo isso!

— Que contratempo? — Jason perguntou, não prestando atenção na outra Grace.

— As gêmeas. Eles sabem da ponte.

— Era questão de tempo até descobrirem. Conseguiu ativar o plano A? — Assenti e virei pra Thalia que ouvia as instruções de Quíron, ainda sem beber.

— Todos os itens mágicos são permitidos. O jogo só acaba quando um grupo capturar a bandeira e levar até o riacho… — O centauro continuava seu costumeiro discurso.

— Grace, — Ela se virou pra mim, me fuzilando com os olhos azuis. — beba logo! Ou tá com nojo da minha boca? — Brinquei, fazendo-a revirar os olhos e engolir tudo de uma vez.

— Você deu a poção pra ela? — Jason perguntou um pouco surpreso, me fazendo balançar a cabeça que sim. O plano era que Cecil fosse meu parceiro, ativando a maquinaria e tomando a poção pro plano B, mas por causa da confusão com Lou Ellen mais cedo ele ainda estava na enfermaria.

— Tomou a sua? — Perguntei e ele negou.

— Alguém roubou.

— Não se preocupe, Grace. Nem vamos precisar usar. — Sorri com a leve desconfiança de que Will estava por trás disso.

— O que isso faz? — Thalia perguntou, apontando pro vidro vazio.

— Te deixa acordada.

Ela abriu a boca pra retrucar, mas o som da corneta soou, iniciando o jogo. Os grupos teriam cinco minutos pra se organizar, incluindo esconder a bandeira, até o toque da segunda corneta.

Jason saiu, literalmente, voando com a bandeira azul nas mãos, enquanto me juntava com Thalia ao nosso grupo que avançava pela floresta.

Quando a terceira corneta soou, uma saraiva de flechas começou a ser distribuída de cima das árvores. Nosso grupo tentou se esquivar, acionando as armadilhas que deviam enviar uma nuvem densa de fumaça para o topo das árvores, onde os filhos e Apolo estavam protegidos por casulos de galhos. A fumaça os cercou e nosso grupo avançou pela floresta. Vi alguns companheiros caindo em armadilhas quase primitivas, como em um buraco no chão repleto por folhas e em redes de cipós.

Isso nos atrasava um pouco porque tirávamos nossos aliados das armadilhas antes de seguir. No sincronismo quase calculado, nosso grupo (repleto de filhos de deuses menores e de Hermes) alcançou uma campina extensa bem no meio da floresta, junto aos filhos de Ares e Atena que estavam no outro grupo.

A batalha começou, todos os semideuses lutavam quase em igualdade, desarmando uns aos outros. Ouvi um grito pelas costas no momento em que desarmei Ellis Wakefield¹, um filho de Ares. Olhei na direção e vi um bando de garotos e garotas loiros vindos em nossa direção: os filhos de Apolo que haviam descido das árvores.

O semideus que os guiava veio diretamente na minha direção, o elmo protegendo o rosto, mas aqueles olhos azuis denunciavam sua identidade. A espada de Will chocou-se na minha e ele alargou o sorriso. Eu não era o melhor esgrimista do acampamento, mas o Solace não era páreo pra mim, não demorando mais que um minuto pra ser desarmado. Infelizmente, estávamos em menor número, o que fazia cada um do nosso time lutar com, pelo menos, dois. Logo Ellis voltava a investir, junto à Sherman Yang¹, um de seus irmãos.

Já havia conseguido desarmar Ellis novamente quando enfim aconteceu: o chão começou a tremer e uma sombra nos cobriu.

— Se Gaia tentar nos engolir de novo, eu juro vai se arrepender disso! — Ouvi Will ralhar. Olhei em volta e percebi que a maior parte dos duelos haviam sido desfeitos, enquanto todos olhavam para o lado confusos. Avistei Thalia há cinco metros, cercada por três semideuses e me encarando.

— Não se preocupe, Will. Em cinco minutos você vai sentir falta do chão.

Sussurrei vendo Thalia vindo em minha direção e os semideuses começarem a se cutucar apontando para o céu, provavelmente surpresos vendo quatro colunas de metal se erguerem e se expandirem na ponta, formando uma plataforma prateada que cobria toda a campina e parte da floresta.

— Vocês não querem nossa bandeira? — A voz de Jason ecoou e dessa vez até eu olhei.

O chão parou de tremer e na região leste da floresta, acima das árvores, era possível ver uma grande estruturada metal de que estava sendo iluminava por raios que estralavam no céu — que o filho de Zeus dramaticamente havia feito surgir — e tochas com fogo grego. Havia uma espécie de torre bem alta e iluminada em um dos extremos da plataforma, nela fincada a bandeira azul.

— Venham buscar! — Jason gritou e estendeu a mão, fazendo vários minitornados descerem criando uma ventania terrível que dificultava a visão.

— Isso é contra as regras! — Will reclamou, tossindo pela poeira.

— É mesmo, Solace? — Questionei divertido. — Bandeira visível: ok. Guardas à nove metros: ok também. Nós só interpretamos as regras de maneira diferente.

Não consegui ver sua expressão por causa da nuvem de terra que os tornados causavam, mas podia jurar que não era nada legal.

Aproveitei da confusão e corri para a floresta, em busca da bandeira vermelha. A boa notícia é que não demorei muito para achá-la; A má é que eu estava errado ao pensar que a colocariam nos campos de morango: Ela estava dentro do antigo limite do riacho, em uma das extremidades do bosque, em cima de um monte alto e cercado por um labirinto feito de plantas.

Gemi em frustração: Filhos de Atena eram ótimos para criar coisas assim, Dédalo que o diga, o que significa que demoraria um bom tempo até chegar ao final. Avancei xingando, tentando cortar as plantas que pareciam se regenerar, tendo que correr pelos corredores e perdendo a noção de pôr onde seguir.

Ouvi outra pessoa xingando e se embrenhando ali, reconhecendo a voz da garota que eu realmente não queria ver. Não demorou para que nos encontrássemos em uma bifurcação, e Thalia parecia prestes a me matar.

— Vocês estão loucos?! — A garota gritou, sacando a lata de spray do bolso e fazendo se transformar em uma lança afiada.

— Calma! — Pedi, erguendo as mãos em rendição e andando para trás. — Somos do mesmo time, lembra?

— Somos do mesmo time? SOMOS DO MESMO TIME? — Ela gritou mais alto, realmente com raiva. — Vocês dois são uns psicopatas que não entendem nada de espírito esportivo! — Ela vinha em minha direção, gritando vários palavrões que prefiro não repetir.

— Thalia, calma! — Pedi novamente, enquanto ela ainda apontava a lança pra mim. — Pelos deuses, vamos acabar com o outro time e depois nos matamos!

Ela abriu a boca pra retrucar novamente, mas calou-se, com os olhos arregalados e apontando pra algo nas minhas costas. Virei-me e gritei — talvez como uma garotinha —, ao dar de cara com um escorpião preto gigante, preste a me picar. Fiquei estático por um segundo e senti Thalia me puxar pelo braço, fazendo com que voltasse a realidade e corresse atrás dela pelo labirinto.

Corremos até chegar em um beco sem saída, sendo encurralados pelo monstro. Instintivamente saquei minha espada e me coloquei em posição de ataque, vendo Thalia fazer o mesmo com sua lança. Por um momento invejei a garota: minha única arma era a lâmina de ferro estígio, enquanto ela estava armada com a lança que se transformava em uma lata de spray, o bracelete que se tornava aegis, duas facas e podia invocar um arco, além das flechas.

— Eu distraio e você ataca. — Ela falou ao dar um passo à frente.

Ignorei suas instruções e invoquei três esqueletos que avançaram sobre o escorpião, cada um em uma direção. A morena se virou pra mim, me fuzilando com os olhos. Thalia podia ser um arsenal ambulante, mas eu ainda tinha meus truques.

— Você é surdo?! — Perguntou, avançando sobre o monstro, que ao vê-la tentou acertá-la com o ferrão. Felizmente, ela agiu rápido, desviando para o lado e ativando aegis antes que ele tentasse a atingir novamente.

— Posso até ser surdo, mas não burro. — reclamei, vendo o escorpião avançar sobre os esqueletos. — Faça com que ele acerte o chão ao seu lado, vou cortar o ferrão.

Thalia grunhiu, desviando do ataque novamente e, por um milagre, fazendo o que pedi. A lâmina da minha espada ceifou a ponta da cauda do bicho assim que ele acertou o chão. Ele guinchou e se virou pra mim, as presas abrindo e fechando, deixando escapar uma gosma fétida e branca.

— Thalia! — Chamei por ajuda, tentando ir pra trás e batendo na parede de plantas. O escorpião teve um empasmo e se ergueu sobre quatro patas, guinchando novamente. Aproveitei e finquei a espada no tórax e no momento seguinte o monstro se dissolveu em poeira, deixando apenas a carapaça negra com uma lança enfiada no meio e uma garota querendo me matar.

Ela pulou de lá, vindo em minha direção marchando, as botas de combate quase afundando no chão. Revirei os olhos já adivinhando a discussão, mas antes que falasse qualquer coisa senti um soco no estômago. Um soco que, devo dizer, doeu demais.

— Por que você fez isso?! — Reclamei, contorcendo meu corpo em dor.

— Porque você não sabe seguir uma ordem sequer!

Respirei fundo ignorando a dor e lhe dei uma rasteira. Despreparada, ela caiu no chão xingando.

— O problema, Grace, é que eu que estou no comando.

Passei por cima dela, acenando pros esqueletos desaparecerem. Thalia segurou no meu calcanhar no momento em que ia dar outro passo, me fazendo ir ao chão também. Tentei chutá-la pra me libertar, enquanto nós dois preenchíamos o ambiente de palavrões.

— Nossa! A mãe de vocês nunca lavou suas bocas com sabão, não?! — Uma voz vagamente familiar reclamou, me fazendo olhar pra cima e dar de cara com um garoto de Hermes de uns quinze anos. Parei de me debater contra Thalia, que fez o mesmo, e nós colocamos em pé, vendo o menino sorrir. — Jason está precisando de ajuda, parece que conseguiram passar pelas armadilhas dos garotos de Hefestos e agora estão enfrentando o segundo nível.

Balancei a cabeça, assentindo. O segundo nível consistia em passar por alguns semideuses de Morfeu, Hipnos e Afrodite — Parece que namorar a conselheira deu a Jason a chance de trazê-los pro nosso lado —, que trabalhavam com um labirinto de névoa e sono, adormecendo e confundindo os oponentes. Se uma das gêmeas ou alguma feiticeira conseguisse entrar, não demoraria chegar até nossa bandeira guardada por Clóvis e sua irmã, e seria necessário o plano B.

— Quem mais está tentando alcançar a bandeira vermelha? — Perguntei, pensando que não adiantaria nada ir ajudar a só defender a nossa bandeira azul,

— Todos os meus irmãos. Deixa com a gente, já estava bem lá na frente quando ouvi vocês brigando.

— Tomem cuidado, tenho certeza que esse não foi o único monstro que colocaram.

— Relaxa, cara. Eu consegui roubar a maquiagem de Drew, desviar de alguns escorpiões é fácil. Mas se fosse você tomava cuidado na subida. Não duvido que seu amiguinho juntou todos os irmãos dele lá em cima pra derrubar qualquer que tentar subir, principalmente você.

(...)

 

Tive que repetir a mim mesmo, enquanto subíamos, que era só a névoa fazendo parecer mais alto do que realmente era — um presentinho de Hécate para assustar mais os semideuses. Mas realmente era difícil se concentrar quando Thalia quase furava meu estômago com as unhas, abraçada a mim e com medo de altura, e Blackjack dando investidas rápidas e acentuadas, tentando se manter estável com a forte ventania dali. Aparentemente o chalé sete nem precisou se preocupar em derrubar os inimigos que queriam subir, os ventos tentavam matar qualquer um.

A noite estava quase sem estrelas, somente os raios e o fogo grego iluminavam a plataforma de metal. Nossos adversários haviam feito crescer uma parede de plantas para que pudessem alcançar, mas agora ela estava quase completamente em ruínas e o barulho de espadas se chocando e gritos identificava que a batalha ainda era acentuada no primeiro nível.

Assim que alcançamos a plataforma, pulei do pégaso junto à Thalia, deixando que ele voltasse para baixo. A peguei pelo pulso e desviei das principais armadilhas de entrada, a maioria já desmontada pelos nossos oponentes, até chegar ao centro da batalha.

Eram tantos semideuses que era impossível contar, havia uma corrente de aliados nossos formando uma barreira ao lado das tochas de fogo grego, além de vários semideuses do nosso time mais à frente, provavelmente teriam feito uma corrente que já havia se dispersado. Todos estavam em duelos, lutando até com mais de um, de vez em quando um inimigo nosso conseguindo ultrapassar a barreira formada e indo pro segundo nível, que não recebia nenhum tipo de iluminação.

Deveria ser difícil achar Jason, principalmente tendo que desviar de pessoas querendo me espetar, mas havia um número grande de semideuses avançando sobre ele, sendo dispersados pela espada de ouro imperial e os ventos que o rodavam e empurravam os inimigos.

— Jason! — Gritei, me aproximando o suficiente para ouvi-lo.

— Estamos em menor número! — Berrou. — Precisamos de alguns esqueletos!

— Não estamos mais no chão! — Gritei também, desviando de uma garota loira que tentou me acertar com uma lança. — Não é fácil invocar defuntos no céu!

— Não tem como dar um jeito?

— Posso tentar puxar das sombras, mas isso seria loucura!

— Então faça!

— Não! — Ouvi o grito de Thalia, e só então me dei conta de que ela lutava ao meu lado. — Podemos vencer sem isso!

— Nico! Eles estão passando pela barreira! — Jason gritou novamente, fazendo com que a irmã o mandasse calar a boca.

— Isso é perigoso! Você já fez isso? — A filha de Zeus tentou me convencer, derrubando um filho de Ares no chão e o chutando. Ela parecia mais pálida que o normal, os cabelos negros chicoteando no rosto por causa do vento e dos movimentos bruscos, a tiara ameaçando cair a qualquer momento. Não entendia porque ela estava se preocupando, por acaso achava que eu ia acabar nos sugando para um buraco negro?

— Me dá cobertura! — Gritei pra Jason e tentei me afastar da batalha, para me concentrar, indo pra trás da barreira. Inspirei fundo e prendi a respiração, tentando juntar todo o meu poder em um único ponto. Meus ouvidos entupiram e um zumbido irritante começou, enquanto minha visão escurecia e a sensação de frio me dominava. Cerrei os dentes, tentando aumentar o poder, e senti meu coração acelerar e a cabeça doer.

— Nico, não! — Ouvi um grito abafado e depois um safanão em meus ombros, me fazendo ficar desequilibrado. Podia sentir toda aquela massa pesada de escuridão dentro de mim, tentando se libertar, enquanto alguém me impedia de controlá-la. — Você está sangrando! Para, você vai se machucar! — Os gritos histéricos continuavam, me fazendo ficar tonto e uma sensação de ardência tomar conta de mim.

Cerrei os punhos e os dentes com mais força, tentando adormecer meus sentidos e me controlar antes de fazer uma bobagem, a lembrança do que fiz à Bryce Lawrence² me invadindo. Eu não podia fazer isso de novo, não podia matar mais ninguém, condenar mais um ao esquecimento.

— Nico! — Senti outro puxão nos meus ombros e desta vez não aguentei: toda a quantidade de poder acumulada se expandiu do meu peito, me deixando completamente zonzo. Cambaleei e tentei respirar fundo, até minha visão começar a clarear e meus sentidos despertarem. Quando meu corpo voltou a funcionar, o pânico tomou conta de mim.

Não havia nenhum ruído de espadas se chocando, ou gritos de euforia nem dor, não havia o timbre de nenhuma voz; Havia parado de ventar como antes, e as chamas pareciam brilhar ainda mais ao iluminar todos os corpos caídos no chão.

— Não… — Sussurrei, não acreditando no que via. Ouvi um grito ao meu lado e me virei pra Thalia, que apertava o peito completamente assustada.

— Eles… eles… — Tentava dizer. “Eles estão mortos?”, também foi a primeira coisa que havia pensando, mas vendo a garota acordada e de pé do meu lado, uma fagulha de esperança surgiu. Fui até Jason e toquei-lhe o pescoço, sentindo a pulsação constante e lenta. Suspirei, percebendo que não havia matado a todos, e sim, feito todos dormir., o que deveria ter sido o plano B. — Estão ou não?! — Thalia gritou novamente, enquanto a raiva tomava conta de mim.

Cerrei novamente meus dentes, desta vez pensando seriamente em acabar com a idiota que havia colocado todos em risco. Ouvi passos rápidos vindo do segundo nível e não precisei me virar pra saber quem era.

— O que aconteceu?! — A voz de Will soou alarmada.

— E-eu não sei… — Thalia gaguejou. — Eu não sei se eles… se eles…

— Eles estão vivos. — A Grace arquejou diante da resposta do Solace. — Só estão dormindo. Nico? — Sua voz desceu um tom para soar doce. — Você está bem?

Continuei abaixado ao lado de Jason, tentando me controlar, mas a cada segundo minha raiva aumentava mais, me fazendo morder o lábio inferior com força. Me levantei lentamente, a respiração pesada e profunda, virando-me para os dois, que arfaram.

— Você está sangrando! — A Grace murmurou, e pude sentir o filete de sangue escorrer pelo meu queixo, enquanto sentia meus lábios começarem a arder, provavelmente por causa da mordida.

— Nico… — Will falou suavemente, levantando as mãos como em rendição. Ergui meus braços, avisando pra que ele permanecesse onde estava, voltando minha atenção completamente para Thalia.

— Eu não vou perguntar o que você estava pensando… — Minha voz saiu rouca, lenta e dura, enquanto o gosto de cobre do sangue tomava conta da minha boca. — Porque eu já percebi que você não pensa. Você colocou todos nós em risco hoje, eu não sei como não matei todos. Você mais de uma vez nos colocou em perigo por pura estupidez. Agora eu sei porque todos ao seu redor morrem. — Continuei a encarando, enquanto ela me olhava completamente assustada.

— Nico… — Ela sussurrou e ergueu o braço pra me tocar meu braço, mas o puxei para trás, me afastando-me bruscamente.

— Pela última vez: Não toque em mim! Você é tóxica, Thalia Grace!

Ela permaneceu parada enquanto eu lhe dava as costas e sumia nas sombras.

(...)

 

Infelizmente, a primeira coisa certa que eu havia previsto naquela noite aconteceu: a magia das gêmeas iria me aprisionar se eu tentasse usar as sombras. Fui parar no meu chalé, dentro de uma rede apertada de bronze celestial, pendurado em um canto perto da porta, há alguns centímetros do chão. Fiquei me debatendo e xingando, colocando pra fora toda a minha raiva, até que a porta do chalé foi aberta.

Fiquei parado, vendo Will fechar a porta e se aproximar, o semblante completamente sério. Ficou em silêncio por alguns segundos, enquanto eu só o observava.

— Seu nariz ainda está sangrando. — Falou sem emoção, me fazendo ter vontade de passar a manga da camisa pra limpar, mas não o fiz.

— Vai me soltar? — Questionei, sem paciência pra ouvir outro discurso de Will à favor de humanos.

— Ainda não. — Ergui uma sobrancelha confuso. — Você só escuta quando está encurralado, Nico.

— Eu não estou com raiva de você, Will. — Revirei os olhos, não sabendo de onde ele poderia tirar uma dedução dessa. — Você não sabia como aquela garota é estúpida.

— Ela não é estúpida. — Revirei os olhos novamente, o que provavelmente deveria irritar meu amigo. — Ela só estava me fazendo um favor. — Pisquei os olhos sem compreender.

— Um favor? — Repeti, confuso. Ele balançou a cabeça que sim. — Que tipo de favor?

— Pedi que ela cuidasse de você. Que não te deixasse fazer nenhuma bobagem. Que, aliás, era exatamente o que você estava fazendo. — Permaneci em silêncio por alguns segundos, encarando Will e tentando filtrar o que ele dizia.

— Vai me soltar ou não? — Perguntei depois de um tempo, sem demonstrar emoção alguma.

Ele balançou a cabeça que sim e desatou o nó da rede, me fazendo cair de joelhos no chão. Will me ajudou a levantar, ficando em pé na minha frente há poucos centímetros. Antes que pudesse controlar, a raiva voltou a tomar conta de mim novamente, me fazendo empurrar o Solace para trás.

— Qual o seu problema, Willian? — Gritei. — Por que tem que sempre se meter na minha vida? Acha que sou um garotinho precisando de cuidados? Eu sei me cuidar! Não sou seu irmãozinho mais novo, Solace! Você não precisa me encher de babás!

Me afastei dele, prestes a sumir nas sombras, mas fui empurrado, batendo as costas contra a parede. Will me segurava com as mãos nos meus ombros, me prendendo com o corpo e o rosto a centímetros do meu, me permitindo ver como seus olhos azuis expressavam uma raiva que eu nunca havia visto antes nele.

— Chega Nico! Para com esse inferno! Eu não precisava fazer isso se você não fosse tão.. tão… — Ele trincou os dentes para se controlar.

— Tão o que? Diga, Solace! Rancoroso? É isso que você está pensando? Antissocial? Sombrio? Vamos! Diga logo! Diga todos os meus defeitos! Só por que eu não sou perfeito como você? Só por que não sou ingênuo e todo amoroso que confia em todo mundo? Só por que não sou idiota?! — Me calei, vendo o rosto de Will se contorcer em uma careta de raiva e mágoa.

Nossas respirações aceleradas eram a única coisa audível por alguns segundos, até que Will fechou os olhos por um segundo e quando os abriu falou na voz mais gélida e baixas que ouvi seus lábios pronunciarem.

— Medroso. — A palavra fez um arrepio passar por minha espinha, me deixando desestabilizado. — Tão medroso, Nico Di Ângelo. Se você não fosse tão medroso, se não tivesse tanto medo de você, de quem você é, de quem você pode ser, aí talvez eu não precisasse me preocupar tanto. Para de fugir, Nico! Para de tentar se esconder nas sombras!

— Medroso? — Ri exageradamente, levemente consciente que estava aumentando o tom da minha voz. — Eu sou medroso? Por que estamos aqui Solace? Porque você mandou uma idiota ser minha babá, não deixar que eu me cuide e eu quase matei todo mundo por causa disso! Você que tem medo! Você nem deixa eu usar meus poderes direito! E eu que tenho medo?!

— Eu tenho medo de perder você, seu idiota! — Will gritou novamente, seus braços me apertando mais contra a parede, causando uma leve dor que tentei não demonstrar. — Eu tenho medo que você morra! Não tem problema em ter medo da morte! O problema é ter medo dos vivos! Você tem medo dos vivos e se joga na morte e isso não é normal! — Dei um leve sorriso sarcástico, repleto de ódio.

— “Tão anormal” era o que você queria dizer antes, Willian. — Falei numa falsa calma, apesar de ainda queimar em raiva, vendo seu corpo se retesar mais, quase colado ao meu. — Eu não tenho medo de morrer, eu não tenho de me sacrificar, eu não tenho medo de ficar no meu lugar! — Mais uma vez meu tom estava subindo. — Eu sei o que todos pensam de mim…

— Já vai começar de novo?! — Will gritou tentando me interromper, mas continuei.

— Eu sei que nunca vou ser normal, e eu nem quero! Meu lugar não é aqui, meu lugar não é entre os vivos…

— Vai voltar pro inferno?!

— Pelo menos lá eu posso ser quem eu quero! Lá eu posso usar meus poderes, fazer algo de útil sem ter uma mamãe pra cuidar de mim!...

— Pois vá embora, Di Ângelo! — Gritou e me calei. Seu tom abaixou subitamente, tornando as palavras piores. — mostre como é um covarde. — Ele me largou bruscamente e marchou pra fora do chalé, batendo a porta em seguida.

 

¹ Semideuses de As Provações de Apolo. Não vou usar a história do livro, apenas algumas personagens;

² Bryce Lawrence - descendente de Orco expulso da Legião por matar o próprio centurião e reemitido a Legião in próbatio por Octavian para caçar Reynar. Quando se encontram em O Sangue do Olimpo, Nico se descontrola e o tona um espirito sem língua nem memória;


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Notas finais do capítulo

Hey pessoinhas, eu realmente preciso de um feedback desse capítulo: Vocês entenderam o que aconteceu?
Beijinhoskisskis