Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 43
Uma receita peculiar...


Notas iniciais do capítulo

Sentiram minha falta, pipopinhazinhas?!
Espero que gostem!


Thalia e Nico precisam e até concordaram em se casar, mas querem o divórcio logo depois.
Pra isso, precisam parecer um casal de verdade.
Com isso, Nico beijou Thalia na frente do acampamento todo.
Will se afastou de Nico, mas com a intervenção da Thalia, voltou a agir normal.
Por outro lado, Thalia também quer se aproximar mais de Jason agora que não é mais caçadora.
Estamos em pleno verão e o aniversário do nosso Supermen Loiro chegou!

Divirtam-se!



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Narração: Nico Di Ângelo

— Thalia, pode me explicar outra vez por que estamos aqui há essa hora?! — resmunguei, arrastando-me no escuro perto da colina meio-sangue.

— Porque o aniversário de Jason é hoje e quero dar um presente especial pra ele. — A filha de Zeus explicou, verificando as flechas e seu arco. — Um presente que não consigo encontrar no acampamento.

— Mas precisa ser às quatro da manhã?! — reclamei, olhando para a lua ainda brilhando no céu.

— Sim, Di Ângelo, nós realmente precisamos madrugar para sair escondidos do acampamento. 

Revirei os olhos e cruzei os braços, me perguntando porque Thalia estava me arrastando para aquilo e como eu havia deixado: — Então vamos logo. 

— Falta alguém.  

— Quem? — ergui a sobrancelha, sabendo que a filha de Zeus não tinha muitos amigos no acampamento.

— Eu! — Will surgiu entre as árvores, os cabelos ao vento e um sorriso muito radiante para um momento que o sol sequer havia nascido. 

— Solace? Por que chamou ele?!

— Porque três é o melhor número para ir em uma missão. — Thalia suspirou, terminando de encaixar o arco no ombro. — E eu gosto do Will.

— E eu evito que você se mate. — Will sorriu, jogando o corpo contra o meu. Já não bastava me acordarem de madrugada, ainda precisava do meu médico particular me vigiando.

— Vamos logo, então. — retruquei, me preparando para nos levar nas sombras. — Me dêem as mãos.

— Nananinanão! — Will balançou o dedo na frente do meu rosto. — Não vai levar ninguém pelas sombras, mocinho, você ainda precisa se recuperar!  Seus dias de taxista acabaram!

— E como vamos?! — reclamei. — Andando? Ou vai querer pedir um táxi de madrugada no meio da floresta?

— Isso mesmo, conheço um que é vinte e quatro horas!  — Will sorriu, brincando com um dracma entre os dedos e começando a subir a colina.

— Ah não, Will. — Thalia reclamou com uma cara de quem não queria ter entendido e muito menos concordado com a ideia.

— É o melhor meio de sair daqui sem chamar muita atenção e QUASE em segurança! — O filho de Apolo retrucou, dando ênfase no quase. 

— Você está falando da Carruagem da Danação? — arregalei os olhos ao entender, pensando em tudo o que ouvi falar sobre o táxi comandado por três senhoras com um olho e um dente. —  Eu sempre quis conhecer as Irmãs Cinzentas, dizem que elas são nojentas!

— É a sua vez de conhecer. —  Will riu, me jogando o dracma.

Sorri pela primeira vez animado com nossa missão secreta. Will me ensinou como invocar e, em questão de segundos, nos esprememos no táxi cinzento com as três velhas mais nojentas que eu já havia visto.

— Para onde vão, crianças? — Uma delas perguntou, enquanto Will me obrigava/ajudava a colocar o que parecia ser o cinto de segurança, uma corrente grossa e enferrujada em que eu provavelmente escorregaria e iria parar no banco da frente se houvesse qualquer batida.

— Central Park. — Thalia explicou, descrevendo exatamente o ponto que deveriam nos deixar.

— Central Park? — O Solace perguntou após se aprisionar também e as velhas começarem a brigar pelo dente, moeda e olho. Senti meu estômago embrulhar quando viraram subitamente em uma rua estreita, não estava tão divertido quanto achei que seria. — Afinal de contas, o que você vai dar de presente? 

— É um espelho especial, meu informante está nos esperando no parque. 

— Um presente especial? — A senhora do passageiro gritou animada.

— Presente?! — A do meio ecoou feliz, como se também fosse ganhar um presente. — Eu adoro presentes!

— Eu também quero um presente! — A motorista retrucou resmungando.

— Você não precisa de um presente, Vespa, o que você precisa é virar à direita, vamos perder a entrada! — A passageira e detentora do único olho disse.

— E nem você precisa, Ira! — A do meio, que deduzi ser Tempestade,  também se opôs. — Você tem o olho e a Vespa o dente, não me sobra nada! Eu quero o presente.

— O presente é para nosso amigo Jason, sinto muito. — Will explicou calmamente, como se falasse com crianças. — É aniversário dele.

— Oh, um aniversário?! — Vespa exclamou feliz. — Eu adoro aniversários!

— Aniversário me lembra festa e festa me lembra bolo! — Ira completou, batendo palmas.

— Eu conheço a melhor receita de bolo! — Tempestade completou esquecendo-se até da briga por olho e dente. — Esmague uma pétala da flor que nasce com um coração quebrado, embebida na dor de um jovem apaixonado…

— Que veneno forte é esse! — Ira suspirou. — Pouquíssimas vezes seu mau pode ser sarado! 

—  … e cubra a  ponta da flecha envenenada pelo Sol. — Tempestade continuou, ignorando a irmã. — Use para rechear a serpente em seu ponto vital e asse por mil e um segundo com a energia do raio e das sombras perdidos no tempo… 

— Esse é um bolo um tanto quanto estranho… — Will se remexeu, nervoso. 

— Suas tolas! — Vespa brigou com as irmãs. — Isso não é receita de bolo, é como fazer assado de serpente!

— É claro que é bolo, lembro muito bem quando li a receita naquele templo em Delfos! — Tempestade retrucou. — Aquele oráculo bobo sempre se exibia de ter o melhor bolo!

— Mas ele tinha o melhor bolo! — Ira repetiu. — E você precisa virar a esquerda agora, Vespa!

 — Vocês ficam falando de bolo e não prestam atenção no caminho! — Vespa reclamou, obedecendo a irmã. — Agora me dê o olho!

— Então me dê o dente! — Ira replicou. 

— Ei, agora é minha vez de ficar com o dente, me dê aqui! — Tempestade avançou na irmã, esquecendo-se de presentes e bolos, felizmente. 

Mas, infelizmente, as irmãs cinzentas voltaram a discutir sem parar, dirigindo cada vez pior e quase nos matando diversas vezes.

— Ali está ele, podem parar! — Thalia por fim ordenou, apontando um carro cinzento estacionado em um beco escuro e suspeito. 

As senhoras acataram, freando bruscamente na velocidade atordoante, fazendo nossos corpos baterem no banco da frente e o carro girar diversas vezes, parando quase no final do quarteirão.

— Querem que eu volte? — Vespa perguntou, mas gritamos um sonoro não, tentando nos desvencilhar das correntes pesadas que em nada ofereciam segurança.

Thalia, que não foi obrigada a colocar o cinto, saltou primeiro do carro, com uma expressão de poucos amigos e sua lança já empunhada. 

— Veio encontrar seu traficante, Thalia? — Will perguntou apreensivo ao descer do táxi, olhando para a figura misteriosa com um casaco gigante que se escondia nas sombras ao lado do carro.

— O que? — Thalia ergueu a sobrancelha. — Claro que não!

— Não é por nada, mas parece. — Concordei, com todos os meus instintos me dizendo que logo teríamos problemas.

— Ele é só um informante. — A filha de Zeus replicou, começando a caminhar em direção ao cara estranho. Isso poderia até ser reconfortante, se todo o corpo da garota não estivesse tenso e seu olhar calculista. — Há muito tempo um caçador acertou a corça sagrada de Lady Ártemis, então ela transformou ele também em uma corça, claro. Mas ele chorou e suplicou por três dias e três noites, então a deusa desfez metade da maldição.

— Como assim metade? — Will questionou.

— Bem… Vocês vão ver. — Thalia respondeu evasiva. — De qualquer forma, ele prometeu que nos ajudaria  sempre que nós precisássemos.

— Nós quem? — Foi a minha vez de perguntar, cada vez mais apreensivo.

— As caçadoras, claro.

— Então vamos encontrar um cara amaldiçoado por Ártemis, de madrugada, em um beco escuro de Nova Iorque?  — debochei incrédulo. — Um cara que você acha que vai nos ajudar. 

— Ele prometeu pelo rio Estige e tudo mais que jamais machucaria uma caçadora. — A filha de Zeus revirou os olhos. — Relaxem.

— Mas nós não somos caçadoras, Thalia. — A lembrei. 

— Não, mas estão comigo. Agora andem!

Não mencionei o fato de que ela também não era mais uma caçadora. 

Continuei apreensivo enquanto nos aproximávamos do 4x4 que me lembrava os carros do Acampamento Júpiter. O homem estranho estava recostado na porta do passageiro, os braços cruzados e um casaco de inverno longo e marrom. 

Quando estávamos há três passos de distância, entendi o conceito de "meio amaldiçoado": Ele era alto e esguio como um poste, no mínimo dois metros de altura, com uma pelagem castanha no rosto, como se fossem costeletas, e um focinho alongado como o de uma corça. 

Seus braços pareciam igualmente finos, com mãos humanas cobertas pelo o que parecia uma casca grossa e preta, como se usasse uma luva feita do mesmo material de cascos. Me perguntei se seus pés também seriam assim, mas a mistura de calça longa e sapatos fechados escondiam a informação.

— Senhorita Thalia. — O homem disse cortes, tirando o chapéu coco e mostrando chifrinhos. — Que prazer enfim conhecê-la nesse agradável quase amanhecer.

— Kataramenos. — Thalia balançou a cabeça em um aceno, sua expressão pouco amigável.

— Por favor, me chame de Kata, agora que somos amigos. — Ele ofereceu um sorriso, o que o deixava ainda mais estranho com sua boca como a de uma corça, mas com dentes humanos. — Aliás, se permite, você é mesmo a senhorita Thalia, Tenente das Caçadoras, certo? Perdoe a pergunta, é que não vejo aquela gélida tiara em sua cabeça.

 — Encontrou o que eu precisava? — Thalia o cortou sem responder a pergunta. 

— Ah sim, está logo ali. — O homem gesticulou para um prédio velho e decrépito, com as paredes cinzentas, como se tivesse sobrevivido a um incêndio. — Me acompanhem, por favor. 

Ele foi o primeiro a entrar no prédio, sendo seguido de perto por Thalia. Will me esperou, ficando há três passos de distância.

— Ei, Nico, isso não é uma entrada para o reino do seu pai não, né? — O filho de Apolo sussurrou.

— Não que eu saiba, Solace. Mas também não estou gostando nada disso. Se mantenha em alerta, algo aqui fede. — Lentamente desembainhei a espada, segurando com força o cabo. Kata virou-se para trás e sorriu maliciosamente, me fazendo sentir um arrepio na espinha. — Melhor sacar a espada também.

Will me imitou, caminhando com cuidado e chegando mais perto de Thalia. Permaneci um pouco distante, na retaguarda, atento a qualquer ruído ou movimento brusco.

Kataramenos nos guiou pela entrada do que parecia um prédio residencial em ruínas, com vigas aparentes no teto com buracos que davam para os andares superiores. Pouca luz entrava pelas aberturas no prédio, o que tornava a sensação de armadilha e perigo ainda maior.

— Então, esse espelho que está procurando… Sabe quais são suas propriedades mágicas? — Kata puxou assunto, sua voz ecoando pelo prédio. — Achei ele há alguns anos com um telquine pouco amigável, mas dentre todos os objetos, esse parecia bem normal. Não entendo porque está procurando ele há tanto tempo.

— Digamos que ele tem valor sentimental. — Thalia respondeu cautelosa. — Mas se já está com ele, porque simplesmente não nos trouxe?

— Ah… Bem… porque ele está preso. Aquele maldito preparou uma caixa muito segura, mas tenho certeza que vocês podem resolver isso.

Após adentrarmos mais dois aposentos, a escuridão era total. O homem pescou uma lanterna pequena e com luz fraca, iluminando parte do caminho enquanto descia por uma escada íngreme para o que parecia ser o porão.

Um cheiro fétido infiltrou em minhas narinas, aumentando o enjoo causado pelo táxi, e me despertou um arrepio. Aquele cheiro era vagamente familiar: cheiro de morte.

— Thalia, cuidado. — Murmurei em voz alta e a filha de Zeus olhou para mim por sobre o ombro, acenando em seguida.

Por fim, entramos em mais um cômodo pequeno, escuro e completamente fechado, com um púlpito de mármore branco no centro e, sobre ele, uma caixa transparente em que se podia ver dentro um pequeno espelho, pouco menor que a palma da minha mão, ornamentado em prata sobre uma almofada de veludo verde.

Do lado de fora havia um cadeado simples e pequeno, que me deu mais calafrios.

— Só isso? — Thalia perguntou. — Um simples cadeado?

— Eu também não queria danificar o produto. — Kata deu de ombros. — A embalagem é tão importante quanto o presente.

— Thalia, acho melhor irmos embora. — Will resmungou, olhando em volta à procura de perigos. — Esse lugar está me dando calafrios.

— Pegue essa caixa e vamos. — ordenei. — Kata pode carregá-la, certo? — Ergui a sobrancelha para o homem, esperando uma negação e armadilha.

— É uma excelente ideia. — Kataramenos bateu palmas sorridente, me deixando ainda mais desconfiado. — Vamos abrir lá fora.

— Não dá. — Thalia retorquiu, também desconfiada enquanto olhava em volta da estrutura da caixa. — Está presa, terei que abrir aqui.

— Cuidado. — Me aproximei da filha de Zeus e ergui a espada, apontando para Kata. Por sua vez, Will apontou a sua lâmina para a caixa.

Com cuidado, Thalia tirou um grampo do cabelo e o inseriu na abertura do cadeado, movimentando-o até que ouvisse o clique e abrisse.

— Pelo menos Luke me ensinou alguma coisa útil. — A ouvi resmungar.

Aproximei mais a espada do pescoço de Kata, que segurou as mãos em rendição, um sorriso terrível em seu rosto.

— Ops! — Ele murmurou e deixou cair a frágil lanterna no chão,  que quebrou, deixando-nos no completo escuro.

Forcei minha espada para a frente, na esperança de acertá-lo, mas ele já não estava ali. Mal tive tempo de xingar quando o local foi preenchido por barulhos sibilantes e os gritos de Thalia e Will.

— Will, fecha a caixa, elas estão saindo! — Thalia gritou em pânico. Tentei enxergar no escuro, mas não havia nenhum resquício de luz, além do suave brilho da espada de Will.

— O que está acontecendo? — Gritei.

— Cobras! — Will respondeu. — Aqui está cheio de cobras!

Vi sua lâmina fazer movimentos bruscos e em seguida o grito de Thalia:

— Cuidado! Você me acertou!

— Desculpe! Não consigo enxergar nada! Se machucou? — O filho de Apolo questionou em pânico. 

— Só um pouco, passou rente ao meu braço.

Tentei me aproximar deles. Contudo, assim que dei um passo, senti algo se enroscar em minhas pernas. Chutei com força o ar, mas mais cobras se enroscaram.

— Will, feche a caixa! — Thalia suplicou novamente. — Eu estou presa, não consigo fechar!

— Eu não sei onde está a caixa, Thalia! — Will resmungou. — Droga, não acredito que vou ter que fazer isso!

— Fazer o que? — gritei confuso, vendo meu amigo resmungar.

— Por favor, não riam!

— O que, por Hades, você está fazendo, Solace?! — Perguntei. 

Antes que Will me respondesse, um súbito brilho iluminou a sala, fazendo com que eu fechasse os olhos e ouvisse o guincho das serpentes e sentindo elas me apertarem mais.

Com cuidado abri os olhos, percebendo que uma luz forte emanava de Will, iluminando todo o cômodo. Thalia estava próxima, enrolada por inúmeras serpentes,  como se fosse um cobertor reptiliano.

Por outro lado, as cobras guinchavam e se afastavam de Will, machucadas pela luz.

— Um maldito filho de Apolo?! — Kata disse, parado em um canto observando tudo com uma lâmina pesada em sua mão direita. — Pois meu mestre vai gostar ainda mais do lanchinho!

— Will, as cobras estão com medo de você! Chegue perto da Thalia.

O filho de Apolo obedeceu e, como eu previa, as cobras se afastaram.

— Ora, suas malditas! Vão deixar que um pouco de luz vença vocês?! Achei que seriam melhores! — Kata gritou e aparentemente as cobras obedeceram, pois enroscaram-se mais forte perto do meu tornozelo e em volta de Thalia, porém ainda evitavam  Will.

Com raiva, passei a espada perto dos meus pés, cortando algumas e afastando outras.

— Thalia, o que acha de fazermos churrasquinho de  cobra? — Gritei, as serpentes se enroscando cada vez mais nas minhas pernas.

— Ótima ideia, mas estamos no subsolo, viraremos churrasquinho juntos!

— Precisamos subir! — Olhei em volta, mirando nosso destino. — Para a porta!

— Não tão rápido! — Kata se colocou em frente à entrada, uma espada longa e afiada em suas mãos. — Só vão sair daqui por cima de mim!

— Tudo bem, então! — Will retorquiu, avançando em direção ao homem com a espada na mão, projetando um golpe que foi aparado e revidado por Kata.

Kataramenos parecia ter dificuldade de segurar a espada com as mãos grossas, mas avançava em Will com rapidez e pouca precisão, deixando espaço para o filho de Apolo se esquivar. Infelizmente, as cobras aproveitaram a distração do filho de Apolo para se enroscarem ainda mais em nós dois.

— Vamos acabar morrendo com o veneno. — resmunguei, levando uma picada feia no braço.

— Elas não tem veneno. — Will replicou se defendendo com dificuldade dos golpes de Kata. 

— Menos mal. — respondi com dificuldade, puxando uma serpente que se enroscava em meu pescoço. — Mas ainda precisamos sair daqui!

— E rápido. — Thalia grunhiu com dificuldade, as cobras pareciam atacar mais ela, enrolando-se em seus braços. Com dificuldade, ela ativou o escudo e a escultura medonha da Medusa se expandiu, fazendo as cobras guincharam e se afastarem.

Até mesmo Kata se assustou, levando um golpe na perna que o fez se abaixar com um grunhido.

— Para fora! — Thalia gritou e não precisei de uma segunda ordem. 

Empurrei Will para fora da sala, com Thalia logo atrás. Kata xingou e se levantou, as cobras também se recuperando e nos seguindo. Subi as escadas correndo e, quando estava quase no topo, ouvi um grito feminino e um baque.

Olhei para trás e Thalia havia caído no meio das escadas,  Kata a segurando pelo tornozelo. Ela o chutou com força no focinho, rasgando a pele e o deixando tonto. Foi o suficiente para a filha de Zeus se desvencilhar do aperto e subir as escadas engatinhando, comigo descendo alguns degraus em pé, protegendo sua retaguarda. 

Will ajudou Thalia a se erguer e Kata levantou-se sozinho com a espada em suas mãos, tentando me atacar entre os degraus.

— Continuem! — Gritei, recuando lentamente de costas com dificuldade.

Uma flecha passou perto do meu rosto, assustando também ao Kata que balançou para trás, inconsistente. Aproveitei para me virar e subir correndo, vendo Thalia parada em cima da escada, o arco em mãos e outra flecha sendo disparada. 

— Vão! — Thalia gritou, armando outra flecha, pronta para lançar. 

— Não vou te deixar sozinha. — Replique com a espada em punho, vendo Kata subindo a escada pingando sangue e uma flecha fincada em seu ombro.

— Também estou indo. — A filha de Zeus respondeu, soltando a nova flecha que acertou a mesma perna já ferida de Kata.

Ele grunhiu e tropeçou da escada, nos dando uma brecha.

— Vai! — Thalia gritou e dessa vez corri também, alcançando Will que tentava achar a saída, embrenhando-se pelos corredores.

— Acho que peguei o caminho errado. — Will resmungou quando entramos em um cômodo escuro, sem saída a não ser pela longa escada em espiral no centro do cômodo.

— Não tem como voltar, subam! — Thalia ordenou.

Prontamente obedecemos, ouvindo monstro e cobras atrás de nós. Thalia apontava seu arco enquanto subia de costas, porém uma rápida olhada me fez ver que só haviam mais meia dúzia de flechas na aljava. Chegamos ao primeiro andar superior quando Kata apontou no térreo, grunhindo e pingando sangue enquanto subia as escadas, as cobras enroscando-se em seus pés.

— Continuem subindo! — Gritei, vendo Thalia atirar mais uma flecha, que passou raspando pelo chifre de Kata.

A filha de Zeus armou outra flecha, subindo cautelosamente de costas, dois degraus abaixo de mim, quando vi seu pé pisar em falso e seu equilíbrio se prejudicar. Por reflexo, segurei seu braço, impedindo uma queda em direção aos nossos inimigos.

— Cuidado! — Ordenei, virando-a para mim.

— Subam rápido! — Will gritou, já no topo do segundo andar, um arco em suas mãos apontando para baixo. — Eu dou cobertura!

Não retruquei que meu amigo era um péssimo arqueiro, apenas puxei Thalia comigo para cima, correndo o mais rápido que podia na escada decrépita, desviando das flechas de Will e rezando para que pelo menos uma vez ele compartilhasse dos dons de seu pai.

— Continuem correndo! — Gritei quando chegamos ao último andar.

Meus amigos me seguiram por um corredor estreito, a madeira rangendo sob nossos pés, ameaçando desabar a qualquer momento.

— O que, por Zeus, está planejando, Di Ângelo? — Thalia gritou, quando abri  uma das portas, entrando em um espaço pequeno, com entulho e uma pequena janela que dava para as escadas de incêndio.

  — Nada que você vai gostar, Grace. — Arfei,  abrindo a ventana com dificuldade e passando minhas pernas pelo vão, pisando com cuidado na escada de incêndio que se sustentava precariamente. — Venham!

Chamei, descendo pelas escadas com cuidado, sendo seguido por Will sem pestanejar e uma Thalia temerosa e mais lenta.

Quando cheguei ao primeiro andar já não havia escada para descermos, mas havia um inimigo que alcançava a janela do quarto andar e nos olhava com ódio. Will me alcançou, no entanto, Thalia estava um andar atrás, o medo estampado na face pálida.

— Vai! — Pedi para Will. — Vou esperar Thalia, nos dê cobertura com o arco.

O filho de Apolo não esperou uma segunda ordem, saltando com maestria do parapeito, posou com delicadeza no chão e armou o arco, atravessando a rua para atirar em nosso inimigo que pulava a janela com dificuldade.

— Vamos, Thalia! — Supliquei, ajudando-a a descer os últimos degraus. 

— Eu não consigo, ok? — Ela arfou, seu corpo trêmulo e suado ao olhar para baixo e se agarrar no parapeito de metal. — Eu sei que sou uma filha de Zeus e que isso deveria ser fácil, mas… Eu não posso.

— Sim, você pode. — retorqui, tentando manter a calma. — Não porque você é filha de Zeus, mas porque você é forte e porque se você não pular, eu não vou te deixar sozinha, Kata vai alcançar nós dois e ninguém vai dar esse presente horrível para Jason. Além dele perder a irmã no dia do seu aniversário, não acho que seja uma boa levar um bolo para o seu funeral!

— Isso é pra eu me sentir melhor? — Thalia arfou, os olhos azuis arregalados. Apertei os lábios e olhei para Kata, dois andares acima de nós, descendo bruscamente as escadas, como se não houvesse medo de se machucar. Logo nos alcançaria, mesmo com as flechas que Will atirava e raramente o acertava o retardando um pouco.

— Você consegue, Thalia. — repliquei, subindo em cima do parapeito com cuidado, preparando-me para pular. — Nós conseguimos.

Equilibrando-me precariamente, estendi a mão para a filha de Zeus, as cargas elétricas me preenchendo quando ela o segurou, enchendo-nos de força e coragem.

— Quando chegarmos ao chão, prometa-me que vamos fritar esse cara. — Assenti com um sorriso e Thalia me imitou, sentando-se em cima da estrutura de metal, soltando minha mão e preparando-se para pular. 

— No três. — Comandei, vendo-a assentir. — Um… dois… três!

Thalia pulou com um grito, seus pés tocando o chão rapidamente, antes dela rolar, diminuindo o impacto. 

Respirei fundo e a imitei, alcançando-a quando Will atirou sua última flecha.

— Nico! — Thalia gritou, me estendendo a mão e assenti sem pestanejar, a energia fluindo com intensidade entre nós. 

As nuvens se fecharam ao nosso redor, o brilho dos raios tomando Nova Iorque e o medo de tempestades começando a crescer no meu peito.

Engoli em seco, fechando os olhos e tentando focar em outra coisa. Eu já havia passado por muitas chuvas antes e passaria por muitas outras ao lado de Thalia, de fato, a última havia sido provocada justamente pela filha de Zeus, no dia em que nos beijamos.

A memória do momento tomou conta da minha mente, as palavras suaves de Thalia ao me garantir que eu estava seguro, mesmo no torpor de energia que nos encontrávamos. Ela estava certa naquele momento e estava certa agora.

— Eu estou seguro… — Murmurei abrindo os olhos e encontrando Will ao meu lado.

O filho de Apolo me olhou com uma feição preocupada em seu rosto e a mão estendida em minha direção. Respirei fundo e a aceitei, a mão direita entrelaçada a de Thalia e a esquerda a de Will, de um lado a energia caótica e incompreensível, do outro uma paz e segurança que jamais senti com mais ninguém.

— Faça seu show, filha de Zeus. — Sussurrei para Thalia e ela sorriu, erguendo o olhar para os céus. 

O vento forte nos atingiu enquanto juntos, observamos o raio descer rápido e letal, atingindo Kata em uma fração de segundos e o transformando em poeira dourada.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Kataramenos e toda sua mitologia são criações minhas. O uso da personagem requer minha autorização.

Olá pipopinhazinhas!
Ainda sigo viva, assim como nosso casal favorito. Espero que vocês tenham gostado e adoraria saber se vocês ainda estão aqui comigo.
Muito obrigada as mensagens e comentários que vocês sempre mandam, me ajudam a tirar um tempo para escrever essa história que mora no meu coração. Vocês são incríveis!

Ademais, o que acharam dessa receita das irmãs cinzentas? Alguém aí quer testar?
E nossos personagens superando seus medo com a ajuda dos amiguinhos? São tão tiquinininhos que quero colocar em um pote!

Enfim, espero vê-los em breve!
Obrigada pela atenção :)



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