Os sentimentos da Princesa Guerreira escrita por Kori Hime


Capítulo 13
Capítulo 13 — Reparação e incerteza


Notas iniciais do capítulo

Hoje não tem capinha pq não estou conseguindo abrir meu programa do Photoshop hehe
Então, vamos dar continuidade a história. Boa leitura.



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A cafeteria Mary Mary era um dos lugares favoritos de Diana em Washington. Assim que você passava pelas portas da cafeteria, mergulhava em uma máquina do tempo e caía diretamente nos anos vinte. A decoração minimalista, a música ambiente e até mesmo o uniforme padrão dos funcionários eram pensados para levar o público a crer que estavam em outra época.

Diana, que viu a transformação entre as décadas ao vivo, sentia-se como uma daquelas peças de decoração, observando as mudanças do tempo ao seu redor.

Ela chegou à cafeteria, vestindo um sobretudo preto, estava chovendo e o clima outonal chegara mais cedo à capital do país. Os cabelos, como sempre, soltos e naturais, moldando seu rosto. Ela usava calça jeans azul marinho e, embaixo do sobretudo, uma blusa de cashmere vermelho.

Assim que entrou, Diana vasculhou o lugar para ver se a sua companhia naquele final de tarde já havia chegado. E ela o encontrou na última mesa, ao lado da janela.

Diana caminhou até a mesa, tirando o casaco pois estava um clima mais agradável e quente lá dentro.

— Estou atrasada? Sinto muito. — Ela falou logo que sentou no banco acolchoado. Não usava relógio de pulso e também não carregava celular. Do outro lado da mesa, Steve Trevor organizava os objetos em cima da mesa, para liberar mais espaço.

— De maneira alguma, eu que cheguei mais cedo. Pedi café e uma torta para ir comendo enquanto isso. Não tive tempo para almoçar. — Ele falou, terminando de arrumar tudo e limpando a gravata manchada com geleia de blueberry. — Você aceita um pedaço?

— Sim, eu vou querer. Também não tive tempo para almoçar.

Steve chamou alguém para anotar o pedido e, logo que ficaram sozinhos, ele começou a falar, parecendo atrapalhado com as palavras, mas logo conseguiu dizer o que queria.

— Fiquei surpreso quando me ligou. Você raramente usa um telefone.

— É, mas achei que era por um bom motivo. — Diana ouvia uma canção familiar tocar, algo que a remetia para uma época que Trevor com certeza não conhecia. — Queria falar com você, mas pessoalmente. Também não queria incomodá-lo, então decidi marcar um encontro aqui.

— Você ainda costuma vir aqui? — Ele perguntou, e sua expressão deixou revelar que ele parecia sentir um pouco de saudade. — Lembro quando eu a trouxe aqui pela primeira vez e você ficou entusiasmada, como se tivesse voltado no tempo.

— Ainda me sinto assim todas as vezes que venho aqui. — A amazona revelou, esperando ser servida com um pedaço de torta e café. Ela experimentou, aprovando o gosto, era sempre muito bom.

Trevor ainda fez alguns comentários sobre os encontros passados naquela cafeteria, após a guerra, quando retornaram ao Estados Unidos. Diana possuía as mesmas lembranças, embora os relatos dele fossem tão pessoais que destacava em seus olhos um brilho casual da época.

— Desculpe, eu estou aqui divagando sobre o passado. Não deve ter sido para isso que você me chamou. — O Major ergueu a mão, segurando um guardanapo para limpar a boca.

— Eu o chamei exatamente para isso. — Diana falou, notando a surpresa de Trevor. — Queria conversar sobre nós. O que aconteceu até chegar onde estamos. Acho que não demos esse momento de refletir juntos. Foi tudo muito abrupto.

Ele sorriu, só que um riso sem emoção.

— Uma noite eu cheguei em casa e você não estava mais lá. Disse que era melhor ficar na Torre de Vigilância, pois a Liga precisava de você. — A voz de Steve era fraca, como se as lembranças o tivesse pego desprevenido de sua posição sempre séria. Ele olhava para a xícara de café, com os olhos perdidos. — Achei que você precisava de um tempo para conciliar tantas missões. Só que, com o passar dos meses, eu entendi que o problema era eu.

— Não, Steve. — Diana interveio. — Você não era o problema.

— Tem certeza? — Ele a encarou seriamente. — No dia que você conheceu o Superman, vi nos seus olhos algo que eu jamais poderia oferecer. Vocês dois se entendiam e combinavam de uma forma quase que enjoativa. Eu confesso que senti ciúmes cada vez que ele chegava perto de você. Mas ele não foi o único. Depois vieram mais deles. Batman, Flash, o Lanterna... todas essas pessoas com superpoderes. Cada um com seu dom especial, e eu, o que eu era? Um mero piloto. Porque a Princesa Amazona iria ficar com um simples Major, se poderia conviver com deuses?

— Sinto muito, eu não sabia que você pensava assim. — Diana lamentou coisas chegarem naquele ponto. — Você poderia ter me dito.

Trevor riu, batendo a ponta da colher no prato, o que chamou a atenção da garçonete.

— O que eu poderia fazer? Ligar para a Torre da Liga e falar Caçador de Marte, pode chamar a Mulher Maravilha para mim? — As mãos de Steve não paravam. — Era quase impossível falar com você a sós. Estávamos sempre acompanhados de outros heróis e havia sempre uma chamada de emergência para atrapalhar nossos rápidos encontros.

— Como você esperava que eu compreendesse seus sentimentos naquele momento? — Diana aguardou que a garçonete lhe servisse mais café, mas Travor a dispensou, falando que não precisava.

— Tem razão. Como poderia eu pensar que a Princesa das Amazonas iria entender os sentimentos de um homem. — Aquele tom sarcástico feriu Diana. — Você dizia que havia aprendido coisas boas comigo. Coisas que desejava compartilhar com suas irmãs.

— E eu não menti. — Ela ponderou, segurando a xícara de café, levando até os lábios e bebeu. — Você sempre foi um homem muito corajoso, mas também gentil. Interessado nas pessoas, no mundo e com uma visão incrível sobre igualdade e respeito. Sempre admirei o fato de você ser um soldado de coração nobre.

— E tudo isso não foi o bastante para nos manter juntos. — Trevor olhou para a janela. A chuva havia se intensificado. — Obviamente não existe nenhum outro soldado de coração mais puro do que o Superman.

Diana não gostava do rumo que a conversa seguia. Ela não estava ali para fazer comparações ou dar falsas esperanças a Trevor, muito menos para ver uma cena de ciúmes. Apenas queria estreitar os laços de amizade que havia se rompido com o passar dos anos.

— Superman é um homem realmente admirável, mas ele não está aqui para se defender de suas acusações, acho indigno mencioná-lo em nossa conversa, quando ele apenas foi, e é, um amigo muito importante na minha vida.

— Claro, peço perdão pela minha indiscrição. — Steve balançou a cabeça com um riso fraco, demonstrando cansaço.

— No final das contas, Steve, o fato de você não possuir esses tais dons que diz alguns heróis possuírem, não faz de você menos importante para mim. — Ela revelou, ressaltando a importância da amizade dos dois em sua vida.

— Eu concordo. Você não tem apenas amigos heróis, mas também é grande amiga dos humanos como nós. — Trevos passou a mão nos cabelos, sua ansiedade parecia falar mais alto, principalmente quando estava sob pressão e com lembranças que o fazia se recordar de porque Diana foi se afastando. — Afinal, você parecia muito feliz dançando com o tal Bruce Wayne. Aquela viagem deve ter sido bem mais produtiva do que os jornais mostraram.

Diana achava as atitudes de Trevor infantis quando estava com ciúmes, e não compreendia porque um homem adulto agia daquela maneira. E se a ideia inicial seria machucá-la, o Major vinha ganhando vantagens.

— Isso realmente não é um assunto que eu quero discutir com você. — Diana falou paciente. — Eu achei que poderíamos voltar a nossa amizade como era antes. Jamais desejei afastá-lo da minha vida, como aconteceu. Passamos por momentos muito importantes, não queria que tudo fosse em vão.

Trevor levou alguns minutos para voltar a encarar Diana, seus olhos ainda estavam cravados na janela, observando a chuva.

— Deve ser muito mais fácil para você me pedir isso. — Nessa altura, Steve já não parecia mais preocupado em esconder os sentimentos guardados. Ele esfregou o rosto com as mãos, seu rosto adquirindo uma tonalidade avermelhada. — Nos últimos anos foram tantas as piadas que eu ouvi entre meus colegas. Nunca me importei na verdade sobre o fato de você ser uma mulher muito forte e incrível. Esses pensamentos machistas não passavam pela minha cabeça. Mas, o que você pode tirar quando vem sendo constantemente motivo de chacota e piadas infames, apontado como um homem que achou que tinha chances com alguém como você. Rebaixado e subjugado.

— Acho que o Steve Trevo que conheci não se deixava levar pelos pensamentos das outras pessoas.

Steve acabou batendo a mão na xícara, o café derramou sobre a mesa até o chão.

— Começo a achar que as pessoas estavam me abrindo os olhos. Você é apenas uma guerreira. Será que não tem sentimentos? — Trevor a encarava com seus olhos verdes, uma característica que Diana não imaginou que poderia ver era seu olhar mais frio. — Se isso aqui é um joguinho para me fazer pegar leve com a Liga da Justiça, pode falar com seus amigos que enviar a Mulher Maravilha não é o bastante.

Ele se levantou e jogou uma nota de vinte dólares sobre a mesa. Pegou o casaco e deixou a cafeteria. Diana podia sentir os olhares direcionados para ela, assim que a porta do estabelecimento foi fechada. Logo a garçonete se aproximou, com um pano para limpar tudo, perguntando se ela sentia-se bem.

Não, a amazona não estava bem. As duras palavras de Steve Trevor, sua ignorância quanto aos seus sentimentos e a desconfiança, causaram em Diana um misto de sensações ruins. Sentia o estômago revirar e a cabeça latejando. Seus olhos se anuviaram, enquanto as mãos suavam. Diana respirou pausadamente, tentando controlar o coração acelerado. Poderia descarregar toda a energia daquele momento destruindo alguma coisa. Mas nada mudaria em seu interior.

— Onde posso fazer uma ligação? É importante. — A garçonete levou Diana até o balcão, onde liberou o telefone digitando o asterisco e três números. — Obrigada. — Diana não gostava de telefones, mas ela não se recusava de usá-los quando necessário, ou guardar os números dos telefones de algumas pessoas.

— Kent falando.

A voz de Clark do outro lado da linha trouxe um pouco mais de tranquilidade para a confusão de pensamentos que assolavam a cabeça de Diana.

— Sou eu, Diana. — Ela falou, esperando o reconhecimento que veio de imediato. — Eu... sinto te incomodar agora, mas preciso falar com alguém. — Diana enrolou os dedos no fio do telefone. — Por favor, Kal...

— Me diga onde você está, já estou a caminho. 

Diana adorava voar. O presente de Hermes, sem dúvida, foi uma das maiores coisas que poderia receber de um Deus. A liberdade de ir para onde desejava era sedutora. Diana poderia voar rápido o bastante para atravessar os mares e chegar antes do imaginado. Muitas vezes ela testou o limite de seu poder, mas sabia que, quanto mais se esforçava, maior eram as chances de aumentar seus limites, quebrando as barreiras.

Naquele momento, ela voava ao lado de Superman. Eles cruzavam os céus, sobre o Oceano Pacífico em direção ao Sul do continente, sem um destino específico. Apenas sentindo o vento erguer os cabelos.

Os dois desceram num voo rasante, alcançando a água dos mares com suas mãos. A água se espalhava conforme a velocidade do impulso de ambos para virarem em outra direção e, quando menos imaginavam, encontraram uma ilha. O lugar não parecia habitado. Possuía rochas e palmeiras enormes, com o mato crescendo por todos os lados. A praia, com mais pedras do que areia, era banhada pelas ondas. No meio da ilha, a entrada de uma gruta chamou a atenção dos dois.

Eles exploraram o interior, flutuando no ar com tranquilidade, até ouvirem o barulho de água. Diana foi na frente, sabendo que o Superman, com sua visão de raio-x, deveria saber que o caminho estava livre.

— Veja só. — Ela desceu até uma pedra. — Será que alguma pessoa já esteve aqui para ver tamanha beleza?

— Creio que não. — Superman apareceu atrás dela. — Somos os únicos na ilha, e não vi nenhum sinal de atividade humana aqui.

— Ainda bem. — Ela sorriu, virando-se para Clark. — Um lugar protegido de todo o resto. Quantos mais devem existir pelo mundo?

— Espero que mais do que nós podemos imaginar. — Ele devolveu o sorriso.

O barulho de água que ouviram vinha de uma pequena cachoeira que desaguava em um tímido lago com água cristalina.

Diana tirou o sobretudo preto e a blusa de cashmere, não havia pensado em se trocar quando o Superman apareceu na cafeteria, alguns minutos depois que ela desligou o telefone.

Ela tirou as botas e a calça jeans, vestia uma lingerie preta de algodão, discreta e confortável. Pulou na água assim que se viu livre de todas as peças. Nada que já não tivesse feito na frente de Kal-El.

— Primeira pessoa a banhar nessas águas. — Ela gritou lá de baixo.

— Como se sente? — Superman vestia seu uniforme, a capa inquieta no ar, conforme o vento ganhava forças.

— Maravilhosamente bem. — Diana afundou na água, e retornou. — Vem. — Superman cruzou os braços, pensativo. — Ora, Kal. Você não está usando gravata e um par de óculos para se fazer de tímido.

A alfinetada surtiu efeito, então Superman saltou na água de uniforme e tudo. Apenas um sopro poderia secá-lo, não haveria problema. Eles mergulharam até o fundo da lagoa, explorando todos os cantos que ninguém nunca antes viu.

A água era de temperatura agradável e a força da cachoeira, mesmo ela sendo pequena, era gostosa de sentir nas costas. Diana saiu da água voando e, apertando os cabelos molhados para tirar o excesso de água, virou para o Superman e pediu uma ajuda.

Ele assoprou, fazendo o vento secá-la em alguns segundos.

— Muito mais eficiente do que o secador de cabelos de Elizabeth. — A amazona agradeceu, sentando na pedra.

Os braços apoiando seu corpo, com a cabeça jogada para trás. Ela observava o centro da gruta, aberta no topo, podendo ver o céu ser tonalizado com as cores quentes do pôr do sol.

Superman sentou ao seu lado, já seco. Como amigo que era, ele a cutucou com o cotovelo e a tirou de sua imaginação. Não era de pressionar, no geral, Kal-El era a pessoa mais tranquila e paciente que a amazona já conhecera.

— Gosto de vê-la assim, sorrido. — Ele apontou para o rosto de Diana, tocando sua bochecha com a ponta do dedo. — Fiquei muito preocupado com sua ligação. Você não tem esse costume.

— Eu sei. Me perdoe por isso. Mas não sabia a quem recorrer naquele momento.

— Talvez, Bruce?

Diana até teria ligado para ele, mas o momento não era oportuno.

— Digamos que ele deve estar cuidando de um problemin- ... — A amazona se corrigiu imediatamente. — Cuidando de algo importante.

Damian não era um problema, ele havia deixado isso bem claro, e Diana não queria repetir o mesmo discurso. E, além disso, o Superman possuía um certo encanto em deixar todos bastante à vontade. Nesse clima, Diana então contou o que havia acontecido na cafeteria. Ela também estava precisando desabafar sobre todo o resto, mas evitou falar sobre o filho de Bruce.

No final, Superman assobiou.

— Você anda mesmo atarefada nos últimos tempos. — Ele recebeu um empurrão como resposta. — Trevor se mostrou insatisfeito desde o rompimento do relacionamento, mas ele nunca superou isso. Só que você não pode se culpar.

— Será mesmo? Ele deixou claro que se sentiu rebaixado ao meu lado.

Clark pousou a mão no ombro de Diana.

— Ele está usando isso para se apegar a algo que acha que o protege. É algo muito horrível que os homens costumam fazer, só para que as mulheres pensem que elas são o problema. Quando está claro que ele é quem precisa de ajuda, no mínimo.

— Eu apenas queria resolver tudo, mas acho que piorei.

— Não se martirize, não por isso, não vale a pena. — Clark a beijou nos cabelos negros, envolvendo-a em seus braços, num abraço apertado e amigável. Diana não negava que era bom sentir-se acalentada por alguém que confiava. — Quer jantar comigo hoje?

Superman se levantou, oferecendo a mão para Diana.

— Só se você prometer fazer aquele frango com queijo. — A amazona aceitou a ajuda, embora não fosse necessária, mas era gentil da parte dele, e se levantou também.

— Vamos passar no supermercado na volta para casa.

A relação de amizade entre Superman e a Mulher Maravilha era vital e bastante concreta. E, naquele momento, era tudo o que ela precisava para se sentir bem.


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Notas finais do capítulo

Então, tudo bem aí? Me conta como vão e, é claro, o que acharam do capítulo.

Beijos.



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