Missão Secreta escrita por Apenas eu


Capítulo 2
Senger, a Terra dos Desalmados (Finnie)


Notas iniciais do capítulo

Para deixar claro, essa história se passa uns vinte e poucos anos, ou trinta (não sei) depois de "O País Secreto" :3



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MEUS OLHOS SE ABRIRAM lentamente e, com eles semicerrados, notei a figura à minha frente. Era um rapaz alto e esguio, com cabelos caramelo e olhos escuros. Suas roupas eram simples: regata roxa e jeans folgado. Seu sorriso foi imenso ao me perceber acordada. Ele virou-se para traz e gritou.

— Killy, Poly, ela acordou!

Duas garotas adentraram o cômodo entusiasmadas. E juntaram as mãos. Ambas usavam aventais floridos e shorts jeans. Uma delas, a mais baixa, era muito branca e tinha belos cabelos ondulados e escuros que ela tratava de manter preso em um rabo de cavalo e olhos muito azuis. Esta usava uma blusa de manga amarela e chinelos de dedo laranjas. A outra, a mais alta, parecia mais velha. Não tão mais velha, apenas alguns anos. Ela se parecia muito com o rapaz, tanto nos cabelos caramelos, quanto nos olhos escuros. Usava uma camiseta branca e sandálias azuis.

A loira secou as mãos no avental e se aproximou. Ela encostou as costas da mão em minha testa e franziu os lábios.

— Febre - ela disse - Mas vai ficar tudo bem.

— Finnie, essas são Poly - ele gesticulou para a de cabelos negros - e Killy. - apontou para a loira, que sorriu - Me chamo Cazz.

Franzi o cenho.

— Do que me chamou?

— Finnie - Cazz repetiu. Depois ele trocou olhares com as garotas, que deram de ombros - Hanna me disse que se chamava assim.

— Hanna? - Me sentei e o esforço fez minha cabeça latejar.

— Olhe, Finnie, eu sei que está sendo difícil para você - Poly, a menina de grandes olhos azuis, se aproximou de mim e sentou ao meu lado. - achamos você e a Hanna no jardim desmaiadas hoje de manhã. Eu não sei o que houve com vocês, mas devem estar traumatizadas. As únicas palavras que Hanna disse até agora foram seus nomes.

— Eu... Eu... - senti vontade de chorar, de gritar. Mas não consegui. - Me lembro de lobos. De caveiras, de árvores... Mas eu não deveria estar aqui.

Killy sentou-se do outro lado da cama.

— Não faz ideia de onde está, não é? - ela disse.

Balancei a cabeça, frustrada.

— Senger - ela respondeu - Terra dos Desalmados.

Eu praticamente caí da cama quando ela disse aquilo. Senti um medo incontrolável, que logo se tornou pânico. Olhei em volta em busca de me acalmar, mas as estantes velhas com livros empoeirados, velas gastas em castiçais, crânios decorando as mesinhas e fogo crepitando e tremeluzindo na lareira, só almentavam meu desespero. Eu quis falar, quis perguntar, quis parecer calma. Mas estava obvio que eu me apavorara.

— Finnie, por favor não se assuste. - Pediu Poly, segurando meus ombros. Ela era fria. Como um cadáver.

Tarde demais, pensei.

— Eu não estou... Não, o que é isso. - engoli em seco - vocês... Não têm alma?

Killy estudou-me.

— E você têm?

Na verdade eu não sabia. Provavelmente eu era como eles, uma Desalmada, fria como gelo. Talvez eu não fosse uma pessoa normal como achava que era, fosse apenas um corpo vazio.

— Killy! - Cazz ralhou - Quanta insolência. Isso não deve ser perguntado aos nossos convidados!

— Finnie, querida, nós de fato não possuimos alma - Poly explicou - Não temos sentimentos. Não fazemos coisas normais. Não temos coração. Somos um corpo ambulante.

— Como zumbis? - perguntei, curiosa.

— Ah, por favor. - Killy revirou os olhos. - Zumbis são mortos em decomposição que vivem de cérebro humano. Não somos mortos, e nem podemos morrer. Fomos amaldiçoados a vivermos para sempre sem sentimentos e sofrer por toda eternidade. Costumávamos viver em paz, na Terra dos Mutantes. Até que, com um erro imperdoável, aquelazinha condenou a toda a nossa tribo, se apaixonando por aquele sem-dom estúpido. Depois, Dill amaldiçoou nossa tribo, e nos exilou para cá. Lugar horrível, a propósito.

Cazz pareceu inquieto. Ele começou a olhar em volta e depois a balançar a perna sem parar.

— Cazz? - chamei.

— Hm? - ele me olhou. Os lábios eram muito pálidos e as olheiras, profundas. Não parecia tão estranho, descontando o fato de que, em seus olhos castanhos, não haviam pupilas.

— Tudo bem?

Ele não respondeu. Começou a roer as unhas impaciente.

— Finnie, eu preciso ver como anda Hanna - avisou Poly.- Cazz e Killy ficarão aí com você.

Ela se retirou do cômodo.

Ficar ao lado de Cazz e Killy o dia inteiro não pode ser considerado a melhor coisa que já fiz. Não parava de pensar em sua ausência de alma, e isso me incomodava muito.

À noite, quando finalmente pude dormir, sonhei com o grande lobo do mal. Em meu sonho ele me espreitava em meio as árvores, aguardando o momento em que poderia atacar. Hanna, a garota ruiva, estava parada ao meu lado, trajando uma bela armadura e portando uma espada longa e afiada. Mas eu estava completamente desprotegida e com muito medo. A parte seguinte do meu sonho foi a mais assustadora. O lobo se aproximava de mim e lambia minha testa. Ao invés de ficar inconsciente como deveria acontecer, eu simplesmente perdia minha alma e me tornava um corpo vazio. Hanna, apavorada, cortava fora a cabeça do lobo, que caía aos meus pés.


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Notas finais do capítulo

Beijos, fofos e fofas :*



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