Resident Evil: Esquadrão Alfa escrita por Rossini


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Uma brisa fria e silenciosa atravessava os prédios, espalhando o cheiro de morte por toda a cidade. O vermelho do sangue pintava as ruas e paredes. Vez ou outra o silêncio era cortado por um lamento gutural ou pelo som de carne sendo rasgada e mastigada.

Mesmo com a iluminação dos poucos postes que ainda funcionavam, a noite despertava o lado mais sombrio de Raccoon.

Com os olhos fechados, Ivana tentou se mover. Aos poucos, ela removeu alguns dos pedaços de concreto que a cobriam. Quando tentou mover o braço direito, uma dor latente percorreu seu corpo, fazendo-a gritar.

Lutando contra a dor, para acalmar sua respiração, a médica levou a mão esquerda ao ombro direito. Estava deslocado. Ela sabia disso, mas precisava se levantar para colocar o ombro no lugar. Em uma tentativa de se sentar, ela caiu sobre o ombro deslocado. Mais uma vez, o grito da mulher preencheu a noite.

Um ruído estranho. Ivana, ainda arfando, abriu os olhos e não pôde crer no que via: uma pessoa, ou o que sobrara de uma, se arrastava em sua direção. Os olhos vazios em um rosto dilacerado. A boca aberta em um eterno e inaudível lamento. O braço se esticava, na tentativa de alcançá-la.

Assustada, Ivana tentou se levantar novamente, mas não tinha forças. Toda a parte inferior de seu corpo ainda estava sob a pilha de entulho. Ela se moveu bruscamente, tentando se soltar daquela armadilha na qual estava presa. A dor aumentava a cada movimento que fazia, deixando-a cada vez mais fraca.

Os dedos podres da criatura estavam a centímetros de seu rosto. Era o fim.

A médica gritava com toda a força que lhe restava. Não de medo, mas sim de dor. Ela olhava a criatura nos olhos quando, de repente, a cabeça podre e fedorenta explodiu, manchando seu rosto com um sangue enegrecido e fétido.

Sem entender o que acabara de acontecer, Ivana olhou para os lados. O rosto deixava transparecer a mais pura surpresa.

Ao ouvir passos se aproximando, ela virou a cabeça e viu a silhueta de um homem alto se aproximando. Ele parecia carregar uma grande arma, apoiada em seu ombro:

— Nada tema! – a voz familiar chegou aos ouvidos da mulher. Ela já sabia quem era aquela figura – Com o Randy não há problema. – a frase foi seguida de um riso discreto e satisfeito.

Ela permaneceu em silêncio, enquanto o atirador se aproximava. Assim que o homem parou ao lado dela, Ivana esticou o braço esquerdo, para que ele a ajudasse.

Randy sorriu – É isso? – começou, com o costumeiro tom zombeteiro e irritante – Nenhum “Obrigado, Randy” ou “Você é o meu herói”? – ele olhou para a mulher parcialmente enterrada – Acho que só uma mãozinha não vai ser suficiente. Você vai precisar de ajuda para sair debaixo de tudo isso, então...

Impaciente, Ivana girou os olhos e bufou – Obrigada, Randy... – ela levou a mão esquerda aos pedaços de concreto que a cobriam – Pode me ajudar a sair daqui?

— Mas é claro que sim, milady. – ele respondeu fazendo uma breve reverência, enquanto colocava o grande rifle nas costas – Será um prazer ajudá-la novamente.

Com a ajuda de Randy, foi uma questão de segundos até que Ivana estivesse livre da pequena prisão de escombros. O homem a ajudou a se levantar, sendo fortemente repreendido quando tentou segurar o braço direito da médica.

Já em pé, ela segurou o braço direito flexionado e rente ao corpo.  Randy abriu a boca para sugerir algo, mas foi interrompido pelo gesto negativo que a mulher fazia com a cabeça. Ela respirou fundo e, com um movimento rápido e preciso, recolocou o ombro no lugar.

O estalo abafado do osso sendo encaixado fez o atirador torcer o rosto em aflição:

— Meu Deus, mulher! – ele pareceu realmente incomodado com a cena – Você é um robô, ou o quê?

Ignorando os comentários do companheiro, Ivana se endireitou e tentou mover o braço. Ainda doía um pouco, mas a movimentação havia voltado ao normal.

Ao baixar seus olhos para a criatura da qual Randy a havia salvado, ela constatou que, além das grandes feridas e da aparência de podridão do corpo, aquela “coisa” não tinha as pernas. Era como se toda a parte inferior do corpo tivesse sido arrancada, deixando os intestinos expostos como se fossem uma cauda grotesca. Ivana se abaixou, pegou um par de luvas descartáveis em seu colete e, deixando de lado as reclamações do atirador, começou a examinar as feridas da criatura.

Quanto mais ela avaliava a disposição dos cortes e a coloração do pus, mais ela se lembrava de Robert Richardson e em como a infecção o havia matado rapidamente. Não havia dúvida. Era o mesmo vírus.

“Mas por que esse aqui continuou vivo?”

Um flash rápido fez a médica se lembrar da mulher que haviam matado no prédio.

“...Já estava morta...”

Randy, que assistia enojado aquela cena, achou estranho quando percebeu que Ivana havia interrompido subitamente suas análises. Ela ficou lá, ajoelhada ao lado do corpo, com as mãos imóveis sobre uma grande e úmida ferida. Os olhos se movimentavam rapidamente, tentando focar algo invisível, e um discreto sorriso se esboçou em seu rosto:

— O que aconteceu? – perguntou enquanto se aproximava da mulher.

Ivana levantou a cabeça e olhou para o companheiro – O quê? Nada. – ela pareceu perdida, mas rapidamente suas feições voltaram ao padrão sério e focado de sempre – Não é nada. Apenas fiz algumas associações, na minha cabeça. – ela afirmou enquanto se levantava.

— Associações? – Randy pareceu confuso. Ele tirou o chapéu e coçou a cabeça por alguns segundos, antes de colocá-lo novamente – Como assim?

— Isso aqui... – ela começou, apontando para a criatura morta – foi causado por um vírus. O mesmo vírus que matou Richard, no prédio. – ela tirou as luvas descartáveis e as jogou no chão – Mas... O que não tivemos a chance de ver, é que, de algum jeito, esse vírus reanima os corpos sem vida e os transforma em canibais mutantes.

Randy estava boquiaberto. Não tinha certeza se tinha entendido tudo o que a médica havia dito, mas o pouco que conseguiu assimilar o deixava assustado:

— Zumbis... – ele disse em voz baixa, voltando seus olhos para a própria arma.

Sem dar atenção à reação do atirador, Ivana começou a conferir suas armas. Nenhuma delas parecia ter sido danificada e ela ainda tinha bastante munição – Onde estão os outros? – ela perguntou após guardar a pistola no coldre.

— Eu não sei. – Randy parecia realmente incomodado – Eu acordei, embaixo de uma pilha de lixo, e não encontrei ninguém. Só você.

— Bom... – começou – podemos chamá-los pelo rádio – ela levou sua mão ao aparelho, somente para descobrir que o mesmo estava completamente destruído. Ivana abaixou a cabeça, ainda sem alterar sua face e colocou as mão na cintura – Alguma coisa deve ter caído em cima dele....

— Eu... Tentei contato pelo rádio, antes de te encontrar. – ele disse com a voz calma e séria – Mas não tive resposta. Apenas um chiado forte.

A médica cruzou os braços. Não era possível ver em seu rosto, mas ela estava irritada e impaciente. Ela arrancou o rádio danificado do colete e o atirou no chão – Talvez seja apenas um problema de sinal. – ela disse, se referindo ao aparelho do companheiro – Talvez, se encontrarmos um aparelho mais potente, possamos contatar o Sr. White.

Randy concordou com um aceno de cabeça – Podemos tentar o rádio do departamento de polícia. – sua voz já havia voltado ao costumeiro tom brincalhão – Se eles não estiverem usando, podemos pedir emprestado.

Eles começaram a andar, mas Ivana parou rapidamente. Ela olhou para o atirador:

 - Você sabe chegar na delegacia?

A pergunta foi seguida de uma gargalhada que misturava graça e nervosismo – Achei que você soubesse. – ele disse, ainda rindo – Estava apenas te seguindo.

A médica pensou por alguns instantes, mas não conseguiu chegar à nenhuma solução.

— Bem... - ela disse enquanto se virava para seguir andando – Provavelmente veremos alguma placa, ou sinalização que irá ajudar a chegar lá.

Eles andaram, ao redor do prédio, procurando algo que indicasse a localização da delegacia.

Após alguns passos, sentiram a temperatura aumentar e o ar ficar mais seco. O cheiro de fumaça era sufocante. Eles chegaram ao ponto onde o caminhão e o carro haviam batido no prédio.

As chamas ainda queimavam com vigor. A cena era, ao mesmo tempo, impressionante e assustadora.

Em meio ao brilho dourado do fogo, uma silhueta chamou a atenção dos dois. Parecia uma pessoa deitada sobre outra.

Ivana gesticulou para Randy, que respondeu com um aceno de cabeça. Eles se separaram. A médica seguiu, com a pistola em mãos, em direção à estranha silhueta, enquanto o companheiro se posicionava para dar cobertura.

Com passos leves e cuidadosos, Ivana se aproximou da silhueta. Estava muito perto do fogo. O calor era quase insuportável. Ela parou a pouco mais de um metro do que lhe pareceram dois corpos sobrepostos. O que estava por cima apresentava várias feridas pelo corpo e a roupa rasgada. O detalhe mais marcante, contudo, era a posição em que a cabeça se encontrava. Estava completamente voltada para trás, em uma posição impossível para um ser humano. Ao olhar com mais atenção, ela percebeu alguns ossos perfurando a pele. O pescoço havia se partido com violência.

Sem conseguir ver o rosto ou qualquer característica relevante do corpo que estava por baixo, a médica se abaixou, pegou as pernas pútridas do cadáver e começou a puxá-lo.

Randy observava através da luneta de sua arma, sem entender. Quando viu a mulher movimentando um corpo inerte, ele se levantou e foi ao encontro dela:

— O que você está aprontando aí? – ele perguntou sorrindo, para provocar a companheira.

Sem alterar suas feições, Ivana indicou o corpo que examinava. O corpo que ela havia acabado de revelar.

Ainda com um sorriso jovial no rosto, Randy voltou seus olhos para o corpo, próximo a seus pés. Tão logo viu aquele rosto manchado de sangue, seu sorriso desapareceu por completo – Takashi... – disse em um sussurro quase inaudível. Ele abaixou e se pôs ao lado da médica, que continuava a analisar o corpo do companheiro – O que aconteceu?

— Ainda não sei. – ela respondeu indicando as mãos e braços cobertos de sangue – Ele tem apenas algumas feridas nos braços, como arranhões. Nada grave o bastante para causar uma hemorragia séria. – ela indicou o rosto e o pescoço – Algumas mordidas mais profundas, mas duvido que seja a causa da morte.

— Mas então, o que foi? Porque de cansaço não deve ter sido! – a voz do atirador era agressiva e carregada de sarcasmo.

Sem dar atenção ao companheiro, a médica continuou – Ele lutou contra aquela coisa. – ela apontou para o corpo jogado atrás deles – Com certeza foi enquanto se defendia que foi ferido. Takashi quebrou completamente o pescoço da criatura, matando-a de vez. – ela olhou para o atirador – Se minha teoria estiver correta, ele morreu devido à infecção. – ao ver os olhos confusos do companheiro, ela achou melhor explicar – Acredito que a transmissão do vírus seja pelo sangue. Acho que uma mordida, ou mesmo um arranhão é o suficiente para ser infectado.

 Randy se lembrou do que ela havia dito sobre o vírus – Ele... Vai virar um zumbi?

— É bem provável. – ela respondeu, sem tirar os olhos do companheiro falecido. Ela ouviu o som de uma pistola sendo engatilhada – Não faça isso! – disse, sem se virar, com a voz autoritária.

O atirador, que já estava em pé apontando a arma para o cadáver, olhou curioso para a companheira.

— Espere um pouco. – ela continuou, sem se preocupar com o julgamento que sofria na mente de Randy – Quero ver se ele vai mesmo se transformar. Sem a resistência dos anticorpos, o processo deve ser ainda mais rápido.

Um longo silêncio se seguiu, enquanto o atirador assimilava o que acabara de ouvir.

O som do vento soprando entre os prédios se misturou ao estalar agressivo do fogo. Um lamento se fez ouvir, distante. Logo outro, mais próximo deles. Depois outro. Logo, estavam ouvindo um coro de lamentos, vindos de todos os lados.

— É do nosso companheiro que você está falando. – a voz do atirador era estranhamente séria e impaciente. Parecia uma pessoa completamente diferente falando – Ele estava no helicóptero com a gente. Você já esqueceu?

Ivana se levantou, olhou para ele com o cantos dos olhos e permaneceu completamente calada. O rosto frio e inabalável.

— Porra! – gritou, irritado com o silêncio da mulher – É um ser humano!

— Era... – ela disse em voz baixa. Sem alterar suas feições.

Randy não conseguia acreditar na frieza daquela mulher. Ele guardou a arma e buscou por alguma outra opção – Olha... – ele começou – Vamos embora. Temos que ir para a...

— Pra que a pressa? – ela o interrompeu – Nem sabemos como chegar à delegacia.

Forçando-se a pensar em algo, ele se lembrou do mapa da cidade. Randy abriu um sorriso jovial, se abaixou e começou a procurar nos bolsos do companheiro morto.

— O que está fazendo? – Ivana não parecia estar realmente interessada, somente curiosa.

— O mapa. – ele respondeu sem olhar para ela – Yuri o entregou para o Takashi. Com ele, vamos saber o caminho até a delegacia.

A médica manteve-se parada, apenas observando Randy procurar pelo mapa.

— Achei! – ele puxou um papel dobrado de um dos bolsos, enquanto dava uma grande e vitoriosa risada, que silenciou assim que um ruído estranho se fez ouvir.

Os olhos de Takashi, agora abertos, estavam vazios e sem vida. Ele se moveu desengonçado e pegou o braço direito de Randy. A boca se abriu, fazendo um som grotesco.

Assustado com a cena, o atirador gritou e puxou seu braço, conseguindo se soltar da mão fria. Ele deu alguns passos para trás e levou a mão até a arma. Mas antes que pudesse retirá-la do coldre, viu a cabeça do japonês ser atravessada por um tiro. Ele olhou para o lado e viu Ivana com a arma apontada para o corpo que caía no chão.


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