Resident Evil: Esquadrão Alfa escrita por Rossini


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Demorou (muito) mas chegou.

Espero que gostem.



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A sala de reuniões, antes limpa e intocada pelo terror da cidade, agora tinha as paredes e o chão cobertos por grandes manchas de sangue escuro. O cheiro de carne em decomposição tomava conta do cômodo.

Caídos próximos aos pés de Yuri, estavam dois cães monstruosos. Mais ao fundo da sala, encontravam-se outros três. Os corpos eram cobertos por grandes feridas, deixando o tecido muscular à mostra. Todos estavam com coleiras, indicando que eram cães policiais.

Brian estava parado perto da porta, com o rifle em mãos. Vigiando para o caso de outras criaturas aparecerem.

Yuri checou a espingarda. Somente um cartucho havia sobrado. Em silêncio, ele xingou os cães asquerosos por serem tão rápidos e ágeis.

— Tudo limpo? – o veterano perguntou ao se aproximar da porta.

O jovem respondeu com um aceno de cabeça, sem desviar a atenção dos corredores. Ele estava visivelmente tenso e assustado.

Com um leve tapa no ombro esquerdo do soldado, o russo indicou para que prosseguissem.

Eles atravessaram o corredor, em silêncio. Logo antes da escada, havia uma pequena porta onde lia-se “Evidências”. No chão, podiam ser vistas algumas marcas de sangue.

O veterano sinalizou, solicitando cobertura e se aproximou da porta de madeira. Nenhum som vinha do lado de dentro. Com um movimento rápido e preciso, ele abriu a porta e saiu do caminho para que o companheiro entrasse, exatamente como haviam feito na sala anterior.

Brian entrou na pequena sala e rapidamente constatou que não havia qualquer tipo de ameaça. Então sinalizou para que o comandante entrasse.

A sala de evidências era pequena. Havia uma grande prateleira de cada lado e uma pequena mesa ao fundo. Sobre ela, viram algumas pastas e papeis, muito bem organizados.

O jovem se aproximou e começou a verificar os papéis, enquanto Yuri permanecia de guarda na porta.

Brian passou pelos papéis rapidamente – Nada além de relatórios das evidências. – ele disse com a voz baixa – Tudo nessa sala está catalogado.

— Alguma coisa interessante? – perguntou sem desviar a atenção.

— Vejamos... – o rapaz começou a buscar nas linhas e colunas. Após pouco mais de um minuto ele jogou os papéis sobre a mesa – Nada. Apenas amostras de digitais, algumas drogas e uns dois revolveres sem munição.

Na porta, o veterano conteve um riso nervoso e saiu da sala – Vamos.

Chegando aos pés da grande escada de madeira, eles olharam para cima. As luzes estavam acesas, mas não haviam muito o que pudessem ver daquele ângulo.

 A madeira rangia sob as botas dos soldados. O som era ritmado e constante, aumentando ainda mais a tensão do ambiente. Yuri seguia na frente, a espingarda apontada para o andar de cima. Brian ia atrás, voltado para o andar de baixo. Ambos estavam prontos para reagir, caso algo se aproximasse.

O segundo andar estava vazio. Um corredor estreito se estendia até uma espécie de antessala. Lá se encontrava apenas uma estátua, exatamente no centro do cômodo, e uma porta.

Yuri observou a estátua por alguns segundos. Era um busto de um homem com o braço direito erguido. Talvez estivesse segurando alguma coisa, mas o veterano não deu importância. Ele nunca teve muito olho para arte. Deu uma fungada e se dirigiu para a porta, com Brian logo atrás.

Dessa vez a porta foi aberta sem cerimônias, mas com a mesma destreza e agilidade de sempre.

— Esse lugar está acabando com a minha paciência. – o jovem resmungou, enquanto atravessava o batente e se via em outro corredor estreito.

Yuri achou um pouco de graça da impaciência do outro – Calma, garoto. – disse ao assumir novamente a liderança – Ainda temos muito chão pra andar.

O corredor, eles perceberam, seguia por cerca de dez ou doze metros e então se dobrava para a esquerda. Mais ou menos na metade do caminho, havia uma porta com a inscrição “S.T.A.R.S.”. O comandante e o jovem soldado trocaram um olhar rápido. Ambos se lembraram do corpo na entrada da delegacia.

Yuri girou a maçaneta. Trancada. Ele encostou o ouvido na porta, mas não conseguiu ouvir nada.Com a cabeça apoiada na porta, ele resmungou.

Brian ouviu um som estranho e rapidamente se virou para o corredor, com o rifle pronto para atirar. Percebendo a movimentação repentina atrás de si, o russo levantou sua espingarda.

Um momento de silêncio se seguiu. Então eles ouviram novamente. Era uma espécie de rosnado medonho, seguido por um som grotesco. Um som que remetia a algo úmido.

Com cuidado, para não emitir ruídos, eles seguiram pelo corredor, parando logo antes da curva. O som estava mais alto. Eles sabiam que a origem daquele rosnado estava bem próxima.

Brian gesticulou para Yuri, que respondeu com um aceno de cabeça. Ele levantou a mão esquerda rente à parede, com três dedos levantados. Em um ritmo quase perfeito, ele abaixou um dos dedos, depois outro. Quando a contagem chegou a zero, ambos se deslocaram para a curva. As armas em punho e prontas para disparar.

A visão que tiveram os fez congelar de pavor. No fundo do corredor, logo antes de uma porta de ferro, estava uma criatura bizarra. Era como um ser humano virado do avesso. Não possuía pele. A umidade do corpo refletia a luz. O cérebro estava exposto e cobria grande parte da cabeça. Não tinha olhos, apenas uma boca grande com dentes afiados. Ao final de seus braços e pernas, garras. Grandes como adagas.

A criatura estava debruçada sobre um corpo e arrancava vorazmente a carne dos ossos. Quando percebeu a movimentação dos soldados mais à frente, deu um único passo na direção deles e emitiu um som gutural ameaçador.

Assustado com o rugido medonho, Brian abriu fogo. O som das balas sendo projetadas do rifle preencheu completamente o ambiente. Não era possível ouvir mais nada. Os projéteis cortaram o ar em alta velocidade, mas, para a surpresa deles, a criatura jogou seu corpo monstruoso para cima e se prendeu no teto com suas poderosas garras.

— Filho da puta! – o jovem gritou em um misto de fúria e pavor.

Suspenso, o monstro abriu a boca e exibiu sua longa e nojenta língua, serpenteando, como que a provocar os soldados. Então, sem aviso, disparou em direção a eles. Saltava do teto para a parede, depois para outra parede, novamente para o teto... Se movia com velocidade e agilidade impressionantes.

Antes que pudesse reagir, Brian foi lançado ao chão, deixando cair sua arma. O monstro estava sobre ele, urrando e babando. O jovem torceu o nariz e virou o rosto ao sentir o fedor que unia carne podre e sangue fresco. Com a mandíbula assustadoramente aberta, a criatura atacou o pescoço do soldado. Brian fechou os olhos, se preparando para a morte inevitável. Então, uma explosão próxima o ensurdeceu. Ele sentiu uma forte dor na perna esquerda, na altura da coxa e gritou. Sentiu o peso do monstro abandonar seu corpo e então abriu os olhos.

Yuri estava em pé, com a espingarda apontada em sua direção. O cenho fechado. Os olhos cor de gelo focavam algo além do companheiro.

Ao girar a cabeça para o lado oposto, o jovem viu o ser bizarro caído. Se contorcendo de agonia e dor. Em suas costas, próximo ao ombro direito, havia um grande buraco. O sangue brotava da ferida em abundância, fazendo inúmeros fios avermelhados escorrerem pelo braço e pelas costas do monstro.

A audição começou a voltar e, aos poucos, Brian pôde ouvir o som abafado do lamento daquela criatura grotesca. Ao fundo, ele ouvia a voz do comandante, mas não conseguia entender. Voltou-se para Yuri e viu que este olhava diretamente para ele enquanto sua boca se movia. Os olhos nervosos, as veias do pescoço se tornando salientes. Ele parecia estar gritando, mas Brian ainda não conseguia compreender o que estava sendo dito.

Yuri jogou a espingarda descarregada no chão e levou as mãos ao rifle em suas costas, enquanto continuava a gritar para o soldado.

Como uma nova explosão, a audição de Brian voltou por completo. Ele se assustou um pouco com a volta repentina dos sons.

— Sai daí moleque! – A voz de Yuri sobrepunha até mesmo os urros do monstro – Sai! Sai daí!

Alarmado pela urgência na voz do outro, se virou bem a tempo de ver a criatura com as garras erguidas, prontas para desferir um ataque contra ele.

Brian se moveu puramente por reflexo, rolando para longe do monstro. Ouviu a madeira do piso ao seu lado ser destruída com a força da criatura. Sentiu uma dor pungente quando rolou sobre a perna esquerda. Gritou. Não pôde terminar o movimento. Ainda estava perto do monstro. Perto da morte.

O ar foi preenchido pelo som ritmado de disparos. A criatura urrou ao sentir algumas balas perfurando seu corpo. Desengonçada, ela tentou se levantar sem sucesso. O sangue brotava das novas feridas, tingindo o piso de vermelho.

Um clique metálico interrompeu os disparos. Com maestria, Yuri desprendeu o pente vazio, ao mesmo tempo que apanhava um novo do colete.

Apoiada somente pelo braço esquerdo, a criatura rosnou para o russo. A longa e nojenta língua se projetou para fora da boca, com uma velocidade surpreendente.

Sem tempo de reagir, Yuri teve seu braço esquerdo envolvido pela língua do monstro. Ele sentiu a saliva quente e espessa escorrendo sobre sua pele. Em sua mão direita, o rifle permanecia sem o pente. Um tranco forte e repentino o fez ir ao chão. A língua o puxava. A bocarra aberta, já preparada para devorar o veterano.

— Bicho desgraçado! – gritou, soltando a arma. Ele levou a mão até a faca, no colete.

Yuri golpeou com a lâmina, tentando cortar a língua do monstro. Não foi tão fácil quanto ele havia imaginado. A língua era extremamente forte. O golpe abriu um corte profundo, fazendo sangue respingar nos braços do homem. A criatura urrou enraivecida. O segundo golpe partiu a língua.

— Engole essa língua, filho da puta! – rosnou enquanto se levantava.

A criatura guinchou e se contorceu. Tentou se levantar novamente e, mais uma vez, foi ao chão. A mandíbula abria e fechava, ameaçando os homens.

O comandante se aproximou cambaleando, com a pistola em mãos. Mirou e disparou três vezes, abrindo três grandes buracos no cérebro exposto. Um espasmo e a cabeça do monstro atingiu o chão. Morto.

Yuri foi ajudar Brian a se levantar, então percebeu a poça de sangue que se formava embaixo da perna dele – Aquele bicho te arranhou? – perguntou enquanto ajudava o soldado a se sentar.

—Não sei. – a voz era fraca – Não lembro...

— Aguenta aí, garoto. – Yuri tentou acalmá-lo – Deixa eu dar uma olhada.

Brian gemeu quando o russo tocou sua perna. A calça, empapada de sangue, estava praticamente colada à pele. Em um movimento rápido, Yuri rasgou a calça do jovem para ter acesso à ferida. Ele sentiu os músculos sendo contraídos pela dor. O som de um grito contido chegou a seus ouvidos.

Na lateral da coxa, vários pequenos furos formavam uma grande e profunda ferida. O veterano achou aquilo estranho. Não se parecia um corte. Deixando de lado as reclamações do outro, ele tentou examinar mais de perto. Sentiu o cheiro adocicado do sangue fresco que brotava e escorria pela perna. Após alguns segundos, pensou ter visto uma pequena esfera metálica enfiada na carne de Brian. – “Merda” – ele se lembrou do momento em que havia disparado contra o monstro. Uma parte do chumbo que se dispersara acertou a perna do jovem soldado. Ele praguejou em silêncio. Com a faca, cortou um grande pedaço da manga de sua camisa e fez um curativo improvisado, colocando bastante pressão sobre a ferida, a fim de estancar o sangramento.

— Me desculpe, garoto. – Yuri disse ao ver o jovem se contorcendo com a respiração acelerada e o rosto vermelho devido ao esforço para suportar a dor.

— Sem...problema... – ele respondeu com certo esforço – Foi...muito...feio?

Yuri se levantou. Cabeça baixa e expressão séria – Um pouco do chumbo da espingarda atingiu sua perna. Me desculpe. Deveria ter mirado melhor...

— Tá brincando?... – Brian interrompeu – Você salvou...a minha vida!... – um sorriso sincero se formou em seu rosto – Melhor com...dor...do que morto...

Yuri sorriu, impressionado com a atitude do companheiro que, até então, ele julgava ser apenas um moleque. Ele pegou o rifle que Brian havia derrubado – Fique aqui um pouco. – disse entregando a arma ao jovem – Vou checar o próximo cômodo e já volto. Grite se precisar de ajuda! – se virou e seguiu em direção à porta. O som metálico do pente sendo encaixado ecoou. O rifle estava carregado.

— Estarei aqui, se precisar de mim. – brincou, enquanto o comandante desaparecia na porta de metal.

Yuri se viu em um novo corredor. Este com algumas estranhas obras de arte. Permaneceu em silêncio por um longo momento, então, quando constatou que não havia ameaça de qualquer tipo, se ajoelhou. Estava exausto, mas não havia tempo para descansar. Tinha que ser rápido. Não podia deixar Brian sozinho.

Yuri seguiu pelo corredor. À direita, em uma pequena curva, estavam duas portas de madeira. Em uma delas, em uma placa de metal, lia-se: “Apreensão”.

“Finalmente!” – pensou recuperando um pouco do ânimo. Se posicionou na frente da porta e a abriu. O cheiro de podridão o atingiu como um soco. Dentro da sala, ele viu os restos despedaçados de dez ou doze pessoas. Braços e pernas dilacerados, restos de órgãos, ossos quebrados e roídos, cabeças separadas dos corpos. Tudo isso espalhado sobre uma gigantesca poça de sangue fétido.

Um lamento surgiu no fundo do cômodo. Um homem andava vacilante, em direção ao russo. Os olhos vazios. Boca e queixo manchados de sangue. A barriga estufada, como se fosse explodir a qualquer minuto.

*****

Brian respirava com mais calma. Estava conseguindo aguentar a dor na perna. Com o rifle em punho, olhou em volta. Nenhum movimento, nenhum som.

O silêncio o assustava um pouco. Estava ferido e sozinho. Sentiu que precisava se levantar para não se sentir completamente indefeso. Ele usou o rifle de apoio para se manter em pé. A dor se tornou mais forte quando seu pé esquerdo tocou o chão, mas mesmo assim ele se manteve firme. Tornou a empunhar o rifle, se apoiando apenas nas pernas.

O som de um único disparo cortou o silêncio. Alarmado, o jovem tentou se deslocar até a porta – “Aconteceu alguma coisa...” – a perna ferida fraquejou ao sentir o peso apoiado sobre si. Em um baque surdo, Brian atingiu o chão.

A porta de metal se abriu e ele pôde ver Yuri caminhando em sua direção, com respingos de sangue cobrindo seu rosto.

— Vamos sair desse lugar. – disse sem animação, enquanto ajudava Brian a se levantar.


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Notas finais do capítulo

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