Butterfly escrita por Lady


Capítulo 3
03 - Lágrimas de Primavera.


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Será que eu demorei para atualizar?
Bem, acho que não, levando em consideração que tenho outras fanfics bem atrasadas e que eu queria fazer logo o capitulo dessa.... De qualquer forma eu quero esclarecer algumas coisas sobre essa história.
Primeiro: eu tenho essa historia planejada quase completamente e eu a dividi em Arcos de poucos capítulos. Atualmente estamos no Arco I que se chama Caminhos Distantes.
Segundo: Existem no momento cinco Arcos, semi-planejados, de nove capítulos cada o que nos dá uns 45 capítulos, e eu posso vir a fazer alguns spin-off's pelo meio da historia então posso fechar uns 50 capítulos no total. Então, basicamente, ainda vamos ter muita história pela frente.
Terceiro: estou pensando em fazer capas para o inicio de cada Arco, mas eu ainda estou com um probleminha no computador, então se alguém quiser se oferecer para fazer... É apenas para o capitulo 1 por enquanto.
Enfim, boa leitura.



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Butterfly

 

Arco I

Caminhos Distantes

 

03 – Lágrimas de Primavera.

 

Heisei

Soul Society

 

Ultimamente eu não consigo passar um dia inteiro sem pensar em você.

— Abarai Renji –

 

— Cara, isso é um saco. – resmungou o ruivo, o haori de capitão destacando as exóticas vestimentas de Shinigami. Voltou-se para o amigo notando os cabelos alaranjados um pouco maiores, mesmo que ainda permanecesse um caos completo e absoluto, fez uma nota mental para falar com Rukia para que ela ensinasse o noivo a, ao menos, arrumar o cabelo decentemente, ou talvez seu capitão, Kuchiki Byakuya, pudesse o fazer de forma até mais direta. Suspirou ao ouvir o amigo bufar antes de tomar mais um gole de saquê. – O velho também não larga do meu pé. – Ichigo tornou a reclamar virando mais um gole de sua bebida enquanto apoiava um dos braços sobre o joelho. – Já estou considerando aceitar uma luta contra Zaraki!

Engasgou-se com a risada que não pode segurar, o desespero do Kurosaki diante do tédio – e do pai irritante – já aparentava estar no ápice. Quase sentia pena de Hisagi por ter o ex-Shinigami substituto como Capitão.

— Se isso melhora seu humor, - começou. – Eu vi sua irmã algumas vezes enquanto estava no mundo humano. – murmurou. - A Karin, quero dizer. – informou, depositando a bebida sobre a mesinha à frente e cruzando os braços logo após tal feito. Kurosaki Ichigo teve a atenção completamente desviada do foco de seus resmungos apenas pela menção de sua adorada irmãzinha rebelde.

— Você a viu!? – gritou agarrando o Tenente ruivo pelos ombros, e quase derrubando as bebidas que havia sobre a mesa a sua frente. – Como ela esta? Ela esta bem? Onde a viu? – bombardeou-o com questões, algumas que até soaram ininteligíveis, e incrivelmente desnecessárias, para Renji; e o ruivo até pensou em socar o suposto melhor amigo, entretanto uma cabeleira negra o fizera em seu lugar, jogando o morango de volta em seu lugar com um grande galo na cabeça.

— Acalme-se, Bakemono! – o grito de Rukia era até comum no quartel do 9° Esquadrão e apesar disso o Tenente, Hisagi Shuuhei, e o restante dos Shinigamis que haviam por ali não deixavam de ser pegos de surpresa pelo mesmo, ao menos já haviam se acostumado ao fato de que a Capitã da 13° divisão tinham a adorável mania de socar ou chutar o noivo sempre que o mesmo fazia algo desnecessário, o que acabava por ocorrer com uma frequência quase diária.

Tomando uma respiração profunda, o que fizera o homem de cabelos vermelhos erguer a sobrancelha, e retomando a postura no sofá Ichigo fitou o amigo com expectativa, ato que a futura Kurosaki aprovava com um aceno simples – um Capitão deveria saber manter a compostura afinal - isso antes de voltar sua atenção para o amigo de infância. E então Renji os contou onde a viu e como ela parecia estar aos seus olhos, e em vista de que não teve tempo – nem pode – de interagir com a garota, soube dizer bastante sobre a mesma apesar dos poucos dias em que esteve do outro lado do Sekaimon. Surpreendera o irmão da mesma ao informar que a morena estava trabalhando e estudando, mas abandonara de vez o futebol – ela amava o esporte, afinal -, não soube informar no que os estudos da garota focavam-se, entretanto afirmou que ela gostava do que quer que fosse e se concentrava de forma quase assustadora no assunto; o trabalho era simples e o lugar que ela habitava sozinha também o era; e apesar de todas as informações que deu Renji não conseguiu dizer as mudanças físicas da menina, não queria que o amigo entendesse errado ou visse qualquer pretensão para com a mais nova; não que o ruivo não houvesse visto interesse nela, pelo contrário, a garota ficara impregnada em sua mente desde algum tempo, mas omitir aquilo era uma medida de autopreservação que o Abarai não estava disposto a se desfazer de, e isso significava omitir o fato de que a menina estava mais bela e feminina. Talvez a distância daquela cidade interiorana e da família houvesse feito algum bem para ela, definitivamente o fizera do ponto de vista de Renji; mesmo que machucasse a mais nova com aquilo, o Tenente sabia, todos sabiam, uma hora Yuzu teria de aprender a se desprender da irmã, ou nunca cresceria como pessoa.

Quando tornou a erguer o olhar para o casal a sua frente pode ver Rukia lhe transmitir um breve sorriso curioso enquanto, ao lado da mesma, Ichigo possuía um brilho nos olhos que o ruivo só via quando se falava algo sobre as irmãs do mesmo; o Tenente sabia, por mais idiota que seu amigo e o pai do mesmo fossem, quando se tratava das mais novas eles não podiam conter o orgulho, o ruivo principalmente, ainda mais quando se tratava de Karin.

— Parece que está tudo bem com ela. – resumiu à morena, o sorriso de seus lábios não se desfazendo, pelo contrário, alargando-se. Gostava das cunhadas, da morena um pouco mais devido à personalidade única que ela possuía e também por ela ser, aparentemente, uma boa atriz quando se tratava de esconder alguns assuntos, estes que a Kuchiki ainda não teve a chance de descobrir a respeito, mas Rukia respeitava o desejo de silencio sobre o que quer que fosse. Mas não era apenas a personalidade da morena que agradava a futura Kurosaki, Rukia  havia visto a forma estranha como Renji agia nas poucas vezes em que cruzaram caminho com a garota e, ainda mais, ficara intrigada com o brilho nos olhos do amigo de infância enquanto falava da mais nova.

Definitivamente havia algo ali e ela descobriria, pelo bem do ruivo.

 

(...)

 

Edo, 07 de Julho de 1636

Quioto, Japão

 

Não importa quanto tempo passe, a dor da perda de alguém importante nunca desaparece. Você fica em uma solidão para sempre.

— Yukimura Toushirou –

 

Quatro meses. Os quatro mais longos meses de toda sua vida, meditou enquanto fitava o céu escuro sob si. Havia prometido vinga-la, e o fez, agora podia descansar em paz, podia unir-se a sua amada na outra vida, ou onde quer que ela estivesse; por que Toushirou a procuraria e a encontraria, nem que tivesse que cruzar céus e mares, e desafiar os deuses.

Por sua doce Karin ele faria o impossível.

Suspirou, as pálpebras pesadas desejavam ocultar as jades de seus olhos, entretanto, mesmo com o corpo cansado e dolorido, a audição falha, o albino ainda pode notar a movimentação a sua esquerda. Os fios negros ondularam junto às peças do kimono de seda vermelha e dourada; e em meio ao crepitar vago e distante ouviu passos, mas não desejava saber quem estava a se aproximar, simplesmente não se importava mais, não agora que podia tornar a encontrar-se com sua amada. E fechando os olhos deixou as sombras o engolirem, mas diferente do que imaginou a dor não fora embora, havia uma dormência enjoativa e um cheiro de ervas que lhe era familiar. E a espera... Parecia uma eternidade naquela escuridão.

Quando abriu os olhos novamente percebeu encontrar-se, não numa cabana simples – sua esposa sempre gostou de coisas simples, não que eles tivessem tanto dinheiro assim no fim de tudo -, mas num quarto grande, quente e desconfortavelmente familiar. Havia um aperto suave em sua mão esquerda, mas movimentos bruscos lhe provocavam dores desconhecidas; o calor dos tecidos e a suavidade dos mesmos o fez ter a certeza de que não deveria estar ali, muito menos de que deveria estar vivo – por que na morte certamente não havia dor, era nisso que fora levado a acreditar por anos.

E com muita dificuldade virou a cabeça a fim de fitar a pessoa que lhe fazia companhia, e que ate aquele momento não havia se pronunciado. Uma cabeleira escura fora o que lhe tomara a visão de primeira, embolada entre os fios segurando-os num coque desarrumado estava uma presilha de ouro, prata e rubis; mãos pequenas agarravam-se a sua mão, e a face angelical parcialmente escondida com olhos avermelhados e um rubor não tão saudável denunciava as lágrimas tanto choradas da moça.

Shirou... – o sussurro lhe pegara desprevenido, a princesa não devia chamar seu nome enquanto adormecida, ela sequer deveria estar ali, mas tal fato, aparentemente, não a impediu de adormecer desconfortavelmente e ainda agarrada a sua mão.

Suspirou. Ela era tão teimosa que não conseguia definir em palavras exatas, ainda mais agora depois do que ela fizera. Permitiu-se franzir o cenho diante da lembrança dos longos cabelos negros seguindo entre chamas e escombros, fora ela quem lhe salvara, mas o porquê e o para que estavam além do conhecimento do samurai.

Voltou a fitar o teto. Queria tanto sua amada ali, sua linda Karin, a única dona de seu coração.

— Karin... – sussurrou, fechando os olhos para o desconhecido, entretanto não notara quando a moça próxima a si abrira levemente os olhos estes que brilharam em fúria, apagando a beleza daquela face angelical.

Por que ele tinha que chamar por aquela mulher morta?

 

(...)

 

Heisei

Soul Society

 

O tempo passa e as pessoas mudam.

— Kuchiki Byakuya –

 

Conteve o suspiro enquanto, inutilmente, tentava concentrar-se no documento a sua frente; resistiu ao impulso de remexer-se sobre sua cadeira quando a voz de Rukia insistiu em mais informações sobre uma garota chamada Karin, não que ele estivesse interessado no que sua irmã mais nova estava conversando com seu Tenente; não, ele não estava interessado no que o ruivo tinha com uma garota humana e que estava deixando sua irmã mais nova quase eufórica de uma forma perigosa.

Respirou profunda e lentamente.

— Vamos lá Renji, eu sei que tem algo mais nessa história com a Karin. – repetiu a única mulher presente no escritório, pressionando ainda mais o ruivo, este que, por sua vez, recuou mais de seu lugar sob o sofá. – Eu prometo que esse assunto não sairá desta sala, e o Nii-sama não está nem prestando atenção em nós! – tudo bem, agora Kuchiki Byakuya estava definitivamente curioso. – Vamos lá... Por favor... – Talvez agora não houvesse escapatória para Renji.

E então um suspiro fez-se presente, um tanto quanto suspeito, na verdade, aos olhos do Capitão.

— Eu já disse tudo, Rukia, não há mais nada a acrescentar! – afirmou. – Ou o que, você acha que eu tenho algo com aquela pirralha? – riu nervoso, e fora a vez do moreno ali presente cerrar o olhar para tal ação. – Ela é só uma pirralha e humana ainda por cima! – exclamou. – Isso sem contar a diferença de idade... – o murmúrio, mesmo não passando de um suave mexer de lábios, ainda fora pego pela audição de ambos os Kuchiki’s.

— Isso me parece um conjunto de desculpas, Renji. – contra-argumentou a morena. – Eu vi como você a olhava... – e perante tais palavras o Tenente empalideceu. – Além do mais você parecia um pouco animado demais quando falava dela mais cedo. – finalizou e tudo o que Abarai Renji pode fazer diante daquela informação fora prender a respiração. – Bom, depois continuamos com essa conversa. – informou. – Tenho algumas coisas para resolver com a Capitã Isane. – e assim ergueu-se, mas não sem antes deixar o aviso: - Ainda não acabamos essa conversa! – e partiu, fechando a porta suave e silenciosamente logo ao passar pela mesma, e apenas quando Rukia desaparecera atrás da madeira que separava a sala do corredor fora que o ruivo de tatuagens permitira a si mesmo soltar a respiração e relaxar os ombros; a morena definitivamente era alguém persistente e, por deus, que essa conversa nunca chegasse aos ouvidos de Ichigo ou Isshin!!

Ainda em silencio sob sua cadeira, Byakuya balançou levemente a cabeça, tanto alvoroço e no fim não conseguiu nenhuma informação boa o bastante para justificar tudo aquilo em sua sala. Quase suspirou de frustração por ter perdido tanto de seu precioso tempo com futilidades. Assinando a folha que enfim conseguira terminar de ler e depositando a mesma sob uma pequena pilha ao canto esquerdo da mesa, e logo após tomar a próxima – e última – folha permitiu-se erguer o olhar para seu Tenente este que fitava pensativamente a mesa de mogno que havia a sua frente; se observasse com mais firmeza poderia até notar as engrenagens girando na mente do Abarai. Tornou a baixar o olhar para a folha, a nota ao canto do papel exigia que fossem tomadas medidas rápidas para resolver o problema que encontrava-se no documento as mãos do capitão. Passando o olhar rápido pela folha Byakuya deduziu que seria uma boa oportunidade para o seu Tenente ser, mais uma vez, interrogado pela Kuchiki mais nova.

— Renji. – sua voz soara firme e seria, e rapidamente o ruivo encontrou-se frente a sua mesa esperando ordens. – Tem uma nova missão. – e com isso entregou o papel ao Shinigami que se limitara a acenar a seu superior antes de desaparecer no shumpo.

Piscou diante da rapidez com que o Tenente acatara sua ordem, não que Renji não fosse alguém dedicado a seu serviço e posto, pelo contrário, o ruivo não chegara a onde estava por benefícios familiares, mas sim pelo próprio esforço e treinamento; entretanto esse tipo de dedicação apenas por uma simples missão no mundo humano era algo estranho... Ou talvez o ruivo estivesse mesmo interessado em algo no mundo dos vivos... Ou em alguém.

Fechou os olhos repassando em sua mente todo o comportamento de seu Tenente desde a última missão – alguns dias atrás – e surpreendendo-se ao perceber que Renji parecia diferente de alguma forma.

 

(...)

 

Heisei, 15 de Abril de 2016

Karakura, Japão

 

A jornada não acaba aqui. A morte é apenas outro caminho que todos temos que tomar.

— Kurosaki Yuzu –

 

Ergueu o olhar para o céu de fim de tarde que se estendia sob si, isso antes de suspirar e arrumar a bolsa sobre o ombro direito; fazia alguns dias que a irmã havia partido para Tokyo deixando nada menos que uma simples carta de despedida informando aonde iria, dando vagas explicações do por que e informando que não precisaria de nenhuma ajuda, e pedindo para ninguém ir atrás dela pois já havia se decidido sobre aquilo e não havia nada que pudessem fazer a respeito.

Não conseguia compreender o porquê daquilo, muito menos como ela se inscrevera para Todai sem que a própria Yuzu soubesse e ainda mais fizera as escondidas o teste de admissão. Por deus ela havia sido aceita numa das universidades mais prestigiadas e difíceis do país, e o fizera sem qualquer ajuda sua!

Franziu a testa. A ruiva sabia que a irmã era inteligente – genial na verdade -, mas dava preferência aos esportes ao invés dos livros e apesar da pouca dedicação e da total falta de atenção em aula, ela ainda conseguia passar de ano sempre. Fixou o olhar no meio fio e chutou uma pedrinha imaginária enquanto as pessoas passavam a seu redor. Karin era tão inteligente e boa nos esportes, até sabia cozinha melhor que a si própria, apesar de tê-lo o feito somente uma vez e fora quando a ruiva ficara doente, ela chegava até a ser mais popular que a gêmea mais nova isso porque os garotos não estavam interessados nela romanticamente o que não gerava um grande numero de meninas se aproximando de si apenas para espalhar fofocas depois. Tornou a suspirar antes de começar seus passos pelo asfalto já frio, avançara apenas três passos antes de um chamado alto lhe despertar do torpor de autopiedade, sequer teve chance de erguer o olhar e o mundo ao seu redor já girava, preenchido de dor e manchas. Vozes distantes lhe indagavam algo, mas mal pode encontrar força para respirar, quanto mais falar. Sentiu algo quente lhe subir a garganta, enquanto o frio apossava-se de sua pele, o céu acima de si parecia tão negro naquele momento e as gotas de chuva que caiam sobre si tão frias; puxou o fôlego com dificuldade e quando o soltara fora para ver toda a dor desaparecer.

Piscou para a si mesma, ou ao menos seu corpo, desfalecido, sujo e quebrado sob o asfalto; alguns metros distante uma ambulância aproximava-se, mas ela sabia que já era tarde.  Olhou para as próprias mãos só então notando a corrente que escapava de seu externo. O que seria ela? Baixando as mãos voltou a fitar o próprio corpo. Os socorristas tentavam a custo reanima-la, mas nada parecia surtir qualquer efeito. Deu de ombros, afastando-se do local e seguindo pelas ruas úmidas da cidade, sabia para onde deveria ir, só não sabia como seria a reação do namorado ao saber que ela estava, bem, morta.

— Vamos ver pelo lado bom, certo? – indagou-se enquanto passava por um corredor meio escuro que se ligava a rua que havia frente à loja de Urahara. – Pelo menos poderei ver Ichi-nii e Otou-san com mais frequência...

 

(...)

 

Heisei

Soul Society

 

Em cada lágrima que rolava o rosto, eu podia ouvir meu mundo desmoronar, e acredite, eu pensei em morrer.

— Hinamori Momo –

 

Finalizou o relatório de sua missão já seguindo para depositar o documento na mesa de seu Capitão, mas quando se preparava para sair do escritório de seu superior fora surpreendida por um chamado do mesmo. Imaginou ter feito algo errado – em algum momento do qual não se recordava – entretanto o sorriso nos lábios do Capitão indicava que estava tudo bem, ou ao menos que não havia feito nada de errado. E então veio a questão que já estava tentando evitar a algum tempo.

— Esta tudo bem, Hinamori-san? – fora uma pergunta simples, mas a diminuição do sorriso nos lábios do capitão loiro fora um indicio de que este podia ver além da mascara utilizada pela Momo.

— Está tudo ótimo Capitão. – sorriu doce para o homem a sua frente, entretanto ela sabia que seu superior podia facilmente distinguir seu tom de pele natural do tom da base que estava utilizando para cobrir suas olheiras. Engoliu em seco. – Por que a pergunta, senhor?

Houve um muxoxo por parte do homem e o sorriso do mesmo quase se desfizera.

— Estava apenas me perguntando o porquê de suas olheiras, senhorita. – riu.

— Ah, eu... Hm, estava treinando até tarde. – deu um riso nervoso. – Kidous mais complexos, sabe? – e seu puxar de lábios fora tão falso quanto às palavras a pouco pronunciadas. Não eram treinos que estavam deixando-a acordada até tarde, mas sim a própria consciência a xingando e se flagelando madrugadas adentro, acabando com suas forças e despedaçando seu psicológico. O fato de que Toushirou a estava, parcialmente a evitando também não ajudava tanto e saber disso apenas a fazia concordar com a própria consciência.

Engoliu em seco diante do olhar cerrado sobre si e resistiu ao impulso de fugir da sala, limitando-se a depositar uma mexa de seu curto cabelo atrás da orelha.

— Não se desgaste muito, Hinamori-san. – riu o loiro, desacreditando completamente na mentira da mais jovem. – Se precisar de qualquer ajuda basta me pedir, sou muito bom com kidous e com varias outras coisas. – e mais uma vez o sorriso tornou a alargar-se, e com uma mensura simples a morena saiu da sala desconhecendo a malicia por trás das palavras de seu superior, este cujo sorriso desfizera-se no momento em que a mais nova sumira de vista. Suspirou. – Você é um pouco tola, Momo-chan. – murmurou recordando-se do choro que ouvira em seu escritório ainda naquela manha, por isso resolvera chegar um pouco mais tarde, ela precisava de um tempo, isso era mais que obvio, e não era apenas ela que necessitava desse tempo. Hitsugaya também estava bem consumido por pensamentos desde a luta contra Aizen que, mesmo já tendo sido há algum tempo, o ressurgimento do mesmo na batalha contra Ywancha não fora lá tão benéfico para o Capitão do 10° Esquadrão nem para a Tenente do 5° Esquadrão, estes  que ainda guardavam recordações amargas e dolorosas sobre o Shinigami Traidor. O fato de que Aizen Sousuke desaparecera – tal como o Rei Quincy – após a batalha também não era nada animador.

O que preocupava o Capitão loiro era que a garota estava tão consumida por seus pensamentos e por suas dores, estava profundamente absolvida na autopiedade que não percebeu que estava perdendo sua única, talvez, oportunidade para ser feliz e para amar novamente. O que acontecera entre ela e Toushirou já não possuía mais concerto, isso era obvio a todos, entretanto havia alguém que ainda não estava disposto a dar o braço a torcer, mas ele não esperaria para sempre, Hirako não seria tolo; se apaixonar era desejar a felicidade da pessoa amada mesmo que não fosse consigo, todavia se Momo só conseguia sofrer e sofrer pelo passado, ele não podia deixar-se puxar para aquilo, ele não se envolveria em algo unilateral e se feriria no fim. Hirako Shinji era mais inteligente que isso e iria apenas até onde achava que podia, não seria tolo, não novamente.

Indo de telhado em telhado a garota quase não conseguia conter as lágrimas, e o coração acelerado em seu caixa torácica não ajudava muito, o desespero estava rachando sua mascara e se não chegasse em algum lugar vazio o mais rápido possível todos veriam como ela era patética e fraca.

Não, eles não podiam, não de novo.

Engolindo o choro viajou no shumpo por mais alguns telhados, isso antes de encontrar um lugar alto e vazio, distante de olhares curiosos; um lugar onde pudesse deixar a mascara cair, onde podia chorar e se destruir, onde, por um momento, podia voltar a ser uma garotinha qualquer que caíra e se ferira, e não uma Tenente que tivera o coração destroçado das mais diversas forças e que, apesar disso, ainda tinha de mostrar-se forte devido ao cargo que possuía.

Como sua vida era patética, era tudo o que podia dizer sobre si naquele momento.

 

(...)

 

Heisei, 15 de Abril de 2016

Tokyo, Japão

 

Eu simplesmente amei o sorriso dela bem antes de amá-la.

— Abarai Renji –

 

Parou, fitando o céu noturno por alguns segundos; a lua gorda e prateada brilhava por entre nuvens faceiras que escondiam as estrelas, e o ruivo nunca havia se sentido tão bem quanto naquele momento. Havia exterminado um pequeno grupo de Hollows que estavam se escondendo numa mansão abandonada que se encontrava nos arredores da cidade, isso a tempo do jantar o que lhe dava a oportunidade de ir checar se a irmãzinha de seu melhor amigo estava bem.

Conteve o sorriso, Rukia não podia nem mesmo suspeitar do que estava fazendo ou o questionamento que antes ocorrera passaria para uma afirmação e mesmo que ela guardasse segredo as coisas tendiam sempre a fugir do controle e facilmente algum boato estúpido chegaria aos ouvidos de Ichigo e Isshin. Engoliu em seco não conseguindo nem imaginar a reação de pai e filho sobre, pelo menos, uma parcela da verdade. Pigarreou voltando ao foco da questão, veria Karin e até ai estava tudo bem, só iria vê-la mesmo, não era como se fosse fazer qualquer outra coisa, certo?

Acenou para si próprio antes de retomar o caminho pela calçada, facilmente avistando a frente da lanchonete em que a morena trabalhava. Um grande conjunto de janelas envidraçadas permitia que as pessoas de fora vissem o movimento do lado de dentro – e vice-versa -, e fora através da janela do lado esquerdo da porta de entrada/saída que o ruivo a vira vestindo uma camiseta laranja de mangas pequenas listradas de vermelho com um calção curto vermelho de babados brancos na barra com um avental branco por cima onde a logomarca da lanchonete era estampada em vermelho e vinho, nos pés um par de patins negros com laranja deslizavam com facilidade pelo piso limpo que refletia da mesma cor que o laranja das meias sete oitavos. Os cabelos presos num rabo de cavalo alto dançavam junto aos movimentos perfeitamente calculados da garota, esta que esbanjava um sorriso para cada cliente que atendia, encantando os mesmos.

Renji nunca a vira daquela forma, esbanjando aquela alegria enquanto fazia movimentos levando bandejas com comidas e bebidas; seus movimentos o estavam hipnotizando e seus cabelos o atraindo, pelos céus, se não fosse um fantasma, ou melhor, um Shinigami, podia facilmente ser comparado a um pervertido, ou ate a um perseguidor pela intensidade em que estava observando-a. E então ele a viu parar para atender um cliente, este cuja mesa estava perfeitamente em seu campo de visão, ela curvou-se levemente para o mesmo e sorriu quando este finalizara o pedido, e quando ela se ergueu novamente, seus olhares se encontraram e o sorriso, desta vez, fora dedicado a si, isso antes dela virar-se e seguir para o balcão passar o pedido ao cozinheiro. Mas o ruivo sabia que não esqueceria aquele sorriso tão cedo, ou talvez nunca.

O tempo voou para si e antes que percebesse ela passava por si e lhe acenava em reconhecimento a sua presença, isso antes de atravessar a rua, acenando sutilmente para que ele a seguisse, o que não hesitou em fazer apesar de sua Zampakutou lhe sussurrar para não o fazer. Pela primeira vez em anos ficara agradecido por não ouvir Zabimaru, pois naquela noite, mais do que em qualquer outra, Karin precisaria de alguém, de consolo.

A noite se seguiu tranquila, eles jantaram e conversaram, o que nunca tinham feito antes; e para o ruivo fora bom evoluir de algumas simples troca de cumprimentos para uma conversa casual e até algumas brincadeiras oportunas, claro que nem tudo pode ser um mar de rosas e as exatas onze horas da noite o telefone dela tocara, uma ligação do Hospital Geral de Karakura, informando que sua irmã Yuzu havia sofrido um acidente aquele fim de tarde e que varias vezes tentaram ressuscita-la no tempo que se seguiu, mas infelizmente a garota falecera meia hora atrás, a enfermeira dera mais alguns poucos detalhes através do telefone e a morena, congelada, apenas ouviu e confirmou presença no dia seguinte para cuidar do restante dos procedimentos pedidos; quando a chamada fora finalizada e o telefone redepositado no gancho, quando Renji retornava pelo corredor após ter deixado sua Zampakutou resmungona no quarto da garota, Karin jogou-se nos braços do ruivo, e mesmo sem compreender o porque daquilo, o Abarai a acolhera ouvindo entre os soluços e as lágrimas a confissão de que a irmã mais nova morrera num acidente.

Chorara até dormir no sofá, nos braços do Shinigami que não sabia realmente o que pensar sobre tudo aquilo. A Kurosaki estava abalada e mal conseguia pensar na reação do melhor amigo quando recebesse aquela noticia, Isshin provavelmente reagiria melhor que o filho, mesmo que tenha sido uma perda dolorosa a ambos.

Suspirou passando os dedos pelos fios negros do cabelo, afastando aqueles que ousavam cobrir o rosto delicado - um pouco inchado pelo choro – e marcado pelas lágrimas. Tomou-a nos braços, a levando com facilidade para o quarto e a depositando com suavidade sobre a cama de solteiro e quando se afastou pretendendo voltar à sala a fim de pensar numa desculpa cabível o suficiente para quando ela o encontrasse ali pela manha, uma mão pequena e delicada agarrara a ponta da manga de seu haori, e um par de olhos negros chorosos o fitaram implorando para que ficasse.

— Fica... Por favor... – o murmúrio fora rouco e dolorido, e o ruivo não podia dizer não a aquele olhar tão desolado e magoado; e quando ela afastara-se de si, aproximando-se da parede ao lado da cama enquanto o puxava para mais perto do móvel, fora que o Tenente percebera que ela o queria ali, mais próximo, ela queria ter a certeza de que não estaria só. Engolindo em seco sentou-se sobre o colchão macio, curvando-se apenas para tirar sua zori e tabi, abandonando-os ao pé da cama enquanto virava-se para deitar-se de frente para a garota, por ser maior que a morena quase não havia espaço para si, mas não chegou a se importar o suficiente com isso quando Karin o puxou para se aconchegar contra si e rapidamente adormecer.

— Parece que desejos tornam-se realidade. – ouviu Zabimari afirmar ao fundo e um par de risadas fazer-se presente. Trincou o maxilar enquanto sua face avermelhava quase do mesmo tom de seu cabelo, mas mesmo o rubor desconfortável e as risadas estúpidas ao fundo o impediu de passar o braço pela cintura fina e manter o corpo feminino, e um tanto quanto pequeno, próximo de si.

A única coisa que o ruivo esperava era que ninguém descobrisse sobre isso ou morreria antes do fim do século.

Seu último pensamento antes de cair no sono fora de que faria o possível e o impossível para que ela nunca mais ficasse da forma como ficou naquele dia, tão frágil e quebrada. Tão vulnerável.

E a última coisa que ouviu fora um obrigado murmurado tão baixo que facilmente poderia ser considerado a imaginação do ruivo, mas Renji sabia melhor, por que sua imaginação não era lá tão boa assim em acertar o timbre de voz da jovem Kurosaki.

 

(...)

 

Heisei, 17 de Abril de 2016

Tokyo, Japão

 

Não importa como você viveu sua vida, a morte é igual para todos.

— Kurosaki Karin –

 

Fitou o céu resplandecentemente choroso de sua antiga cidade. Nunca odiara tanto segunda-feira como naquele momento. O enterro ocorrera sem imprevistos, todos vieram, todos se foram, menos Ichigo e Isshin. Eles não precisavam vir, afinal, tinham de encontra-la em algum canto da Soul Socity, o resto Karin podia lidar com, era fácil; o que eram alguns olhares hostis e/ou pesarosos comparados aos Hollows e outras criaturas que ninguém mais via?

Suspirou fitando a terra úmida. Na lapide não havia frase alguma, optara por deixar o espaço em branco mesmo, o que poderia dizer afinal, não era ninguém para opinar qualquer coisa sobre a Yuzu; e então desviara o olhar para o grande anjo que se erguia segurando uma espada e a apontando para o céu, ironicamente ele se parecia com seu irmão mais velho.

Bufou ao olhar para o lado, a lapide onde o corpo de seu irmão repousava estava logo ao lado, e seguindo havia a de seu pai e então a sua mãe.

Patetico, era tudo o que podia pensar. Apesar de poder ver o irmão e o pai – e talvez a irmã futuramente -, ela ainda era a ultima Kurosaki viva.

Se era sorte ou azar, Karin não sabia dizer, mas que era uma droga, ah, certamente era.

— Eles a encontraram. – a voz viera detrás de si. Familiar e lhe dava certa saudade. Já tinha algum tempo que não via ou ouvia Rukia. – Karin.

Não sorriu, nem tinha motivos para isso, era um funeral afinal, e ainda estava num maldito cemitério. Virou um pouco a cabeça vendo, de canto de olho, a familiar figura morena, pouca coisa mais alta que a si própria, trajando um haori e hakama negros e tendo uma espada embainhada na cintura, o cabelo curto lhe era novidade, mas nunca Rukia seria uma desconhecida para si; entretanto o homem que vinha um pouco mais atrás de si o era, o olhar estoico, distante e desinteressado repousara sobre si, mas sequer demonstraram algo; da mesma forma como a si própria não se deixou abalar por quem quer que aquele homem fosse, apesar de que, pela vestimenta, ser claramente um Shinigami e, assim como aquele que não queria mencionar, um Capitão em vista do Haori branco que vestia.

— Obrigado, Rukia. – limitara-se a responder, voltando o olhar para o céu nebuloso.

— Minhas condolências por sua perda. – a voz masculina soara alguns segundos depois, quase pegando-a de surpresa. Quase. Entretanto Karin tinha um autocontrole que a fazia se orgulhar e só permitia-se abalar, verdadeiramente, na frente daqueles a quem confiava.

— Não há necessidade para isso. – murmurou-a. – O que é a morte, senão uma passagem só de ida para a Soul Socity? – murmurou. – além do mais, ela vai estar melhor lá do que aqui. – dito isso voltou-se para os visitantes, se é que poderia chama-los desta forma. – Entretanto, obrigado pela gentileza. – acenara, recebendo o mesmo ato em resposta por suas palavras, isso e ainda teve o grandioso prazer de ver a face surpresa de Kuchiki Byakuya.

Numa despedida breve afastara-se dos irmãos em passos silenciosos, não desejando retornar aquela cidade nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Para aqueles que não sabem:
Zori é basicamente as sandalias que eles utilizam e Tabi as meias.
Haori é a vestimenta superior, tanto a negra normalmente utilizada por todos os shinigamis, quanto a branca com o simbolo de capitão.
Hakama é a vestimenta inferior comum que os shinigamis utilizam.

Espero que tenham gostado, não esqueçam de deixar opiniões.
Bye, Lady.



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