Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 5
A vizinha


Notas iniciais do capítulo

Mudei a capa da fanfic por motivos muito importantes: eu quis.
Meu deus, 2 lindas recomendações num dia só?? É isso mesmo, produção?? Eu tô morta com essa fofura!! Muito obrigada, Safsafsuf e Bia, me ajudaram muito e me deixaram super feliz com seus textos. Esse capítulo vai, em especial, para vocês ;)
Boa leitura!!



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— Que tipo de conversinha você quer ter? – perguntou a coelha no momento em que Nick fechou a porta, estavam sozinhos em seu escritório, e considerando que os outros policiais estavam nos escaninhos, ninguém poderia ouvir.

Nick ainda mantinha aquele olhar estranhamente sério, expressão que era bastante rara vinda dele, que nunca perdeu uma única oportunidade de fazer piada sobre tudo. A raposa virou-se totalmente para a sua colega de braços cruzados, tirou seus óculos espelhados do rosto e os prendeu na gola de sua camisa azul.

— Você está passando dos limites, cenourinha – disse sem mudar a expressão, fazendo-a levantar uma sobrancelha e mexer as orelhas.

— Que quer dizer com isso?

Ele suspirou, procurando as melhores palavras possíveis. Sabia que ela não era do tipo que encarava uma bronca com tanta facilidade, sempre contestava tudo, e ele, que não tinha lá muita paciência, via isso como o lado mais irritante dela.

Eis o preço de uma amizade íntima demais, você deve aprender a lidar com todos os lados da pessoa. Ou animal, no caso.

— É o seguinte, sei que você está se envolvendo demais nesse caso, mas... – fez uma pausa, tentando transmitir o máximo de firmeza para aqueles grandes olhos violeta que ela tinha – infelizmente... é burrinha demais para saber separar as coisas.

Judy arregalou mais os olhos e juntou as sobrancelhas, sentindo-se ofendida. Ela abriu a boca para contestar, mas Nick prosseguiu sua linha de pensamento:

— Entenda, você não pode simplesmente sair por aí peitando cada um que fizer um comentário preconceituoso envolvendo aquela gente. Se esqueceu do seu tamanho? É burrice.

Mesmo com todas as ofensas, Judy olhou no fundo dos olhos da raposa e notou a vontade de ajuda-la, mas, apesar de saber que ele tinha a melhor das intenções, não pode deixar de se impor. Ela nunca deixava.

— Você tem uma maneira estranha de demonstrar preocupação, Nick – este se intimidara um pouco com o tom determinado da coelha. – Agradeço, mas sei o que estou fazendo.

— Ah, é? – mudou a expressão para uma mais sarcástica. – E o que foi aquilo agora a pouco? Você não parecia tão confiante assim.

— É, mas... – ela percebeu que não tinha tantos argumentos, mas se recusava a deixa-lo “ganhar” aquela discussão. – Você mesmo viu que eles estavam errados, eu não poderia apenas ouvi-los dizer aquelas coisas horríveis e ficar parada. Se você não tivesse aparecido, eu poderia tirar satisfação com-

— Chefe Bogo? – ela não respondeu, e ele riu sarcasticamente, como se ela tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. Judy abaixou suas orelhas sem perceber. – Ah, claro, o búfalo que se mostrou o animal mais preconceituoso do mundo em sua última entrevista, com toda certeza iria lhe defender.

— Mas... – ela se cala, agora não tinha mais nenhum argumento, e nenhuma sobra de ânimo para levantar suas orelhas.

Com vergonha de olhar para o amigo, fincou os olhos no chão, procurando qualquer resposta que fosse. Deu-se por vencida na discussão, “Ele tá certo,” pensou, “se ele não tivesse aparecido, provavelmente eu teria sido ainda mais humilhada por aqueles três.”.

Não podia se culpar daquela forma, ainda era nova naquele assunto, mas sentia-se um lixo por se impulsionar tão facilmente. Ela e seu instinto de justiça extremo.

— Isso se chama vida real, meu amor – Nick cortou o silêncio, e se agachou com as patas no joelho, para olhá-la mais de perto. Era tão pequena. – Infelizmente esse papo de Zootopia ser uma cidade moderna, onde todos podem ser o que quiser, não passa de um bordão para atrair turistas.

Ela ainda permanecia cabisbaixa e com um olhar desapontado, coisa que Nick detestava ver em cores. Suspirou, e lhe deu um tapinha no ombro.

— Falo isso pro seu bem, cenourinha – sorriu para a coelha que ainda mirava o chão. – Não vale a pena se arriscar dessa forma. Sei que você não suporta preconceito, e com toda razão, é uma droga. Pensa que eu não sofro por ser uma raposa? – ela criou coragem para olhá-lo nos olhos de novo, surpreendeu-se com a forma como o amigo falava daquele assunto com tanta naturalidade. – Você ouviu o que Klakson disse, raposas são vistas como falsas, nunca me levam a sério.

É claro que havia certa tristeza naqueles olhos verdes que ele tinha, porém, quando ela o conheceu, este assunto era uma fraqueza tão grande que ele era incapaz de manter o sorriso no rosto. Agora, de certa forma, parece que ele havia encontrado seu porto seguro, e a dor não lhe era mais tão grande assim.

Por isso, mesmo com aquele assunto sob a mesa, ele lhe deu um sorriso gentil de sobrancelhas curvadas.

— Você deve ser a única animal no mundo que realmente confia em mim. Se dependesse do resto... nunca teria chegado ao posto de policial.

Nick lhe deu as costas e se dirigiu à mesa deles, sentando em sua cadeira e organizando toda aquela papelada. Para ele a discussão havia acabado ali, para ela, sequer havia começado. Era incapaz de conter tudo aquilo que estava preso em sua garganta, implorando para sair.

Virou-se para a raposa, cerrou os punhos, e com um olhar confiante disse:

— Agradeço o conselho, Nick, mas... não posso segui-lo – ele desviou da papelada, olhando para ela com um olhar surpreso. – Um policial deve servir e proteger a qualquer animal. Fingir que nada está acontecendo é o mesmo que desprezá-los como animais – respirou fundo. – Ouvir outros policias desejando a morte de inocentes... vai contra tudo no qual acreditei minha vida inteira.

Houve alguns minutos de silêncio, mas foi cortado por um suspiro cansado e impaciente da raposa, que se espreguiçava na cadeira.

— Coelha teimosa – resmungou num tom irritado. – Vá em frente, quebre a cara, só não diga que eu não avisei.

— Nick – ela o chamou numa expressão séria, fazendo-o tirar aquela cara emburrada do rosto. – Você disse que sou a única que confia em você... então confie em mim.

A última frase o fez arregalar os olhos.

— Confie no que eu digo, defender esses animais é o mínimo que podemos fazer por eles. Eles já sofrem tanto por serem tratados dessa forma – ela lançou lhe um olhar mais confiante e determinado ainda, de sobrancelhas juntas. – E você deve saber como ninguém o que é ser tratado com desprezo pelo simples fato de ser o que é.

A fala de Judy soou como uma bomba, que extingui qualquer possibilidade de Nick contestar o que a amiga dissera. Reinou o silêncio, e um clima meio desconfortável, principalmente à raposa, que agora se encontrava um tanto envergonhado.

Tudo o que a coelha pode ouvir de resposta fora um suspiro, Nick ligou o computador ao lado e puxou a cadeira vazia de Judy para perto de si, como se estivesse a convidando para sentar.

— O que está esperando? Temos um assassinato em nossas mãos – foi o mesmo que dizer “você venceu”.

A coelha sorriu e sentou-se ao lado de seu parceiro, tirando de sua mochila tudo o que era necessário para o trabalho. No meio disso, Nick voltou a falar com os olhos grudados na tela do computador:

— Eu só não entendo como você, mesmo não sendo híbrida, está com tanto gás pra defendê-los dessa forma.

— É como eu lhe disse mais cedo, Nick – ela sorriu para si mesma, pensando em Venus. – Não é preciso pertencer a uma causa para defendê-la.

E voltaram ao trabalho, Judy pensando em como tudo o que acontecera nos últimos três dias parecia ter mudado a sua vida para sempre, e Nick, numa grande confusão em sua mente, de certa forma, considerando ter julgado mal toda aquela situação.

Pobres animais, ainda tinham tanto a aprender...

—-X---

Após a “surra” que Nick dera nos colegas de trabalho, nenhum policial sequer ousou olhar para a dupla de maneira esquisita novamente. Ficaram algumas horas fazendo pesquisas, planejando formas de agir, organizando suas programações, mas nada muito eficiente lhes veio à cabeça. Ainda precisavam de mais informações, e só havia uma forma de consegui-las: visitar o bar Hibring de novo, ou, esperar um retorno de Venus.

Assim que saíram da delegacia, planejaram visitar o bar à noite, agora, Nick precisava urgentemente passar no supermercado. Estava desde aquele dia sem nada na geladeira, sustentando o estômago apenas com pizza, é o que dava ser muito preguiçoso.

Judy, por sua vez, estava contando as horas pra chegar em casa e tomar um banho. Mas, pelo visto, não conseguiria chegar a seu apartamento tão facilmente. Havia um caminhão de mudança logo à frente do seu prédio, com vários animais de uniforme levando as caixas para dentro.

Um deles, o único sem uniforme, estava com caixas demais nas patas para ver por onde estava andando, e não viu o último degrau, caindo de cara no chão junto com tudo que segurava. Judy não pensou duas vezes antes de correr para socorrê-lo, estendeu sua pata para o ser de pelo vermelho e grandes olhos surpresos pairaram sobre os seus.

— Oficial Hopps? – disse a criaturinha de olhos dourados, enfim, segurando sua pata. Judy também teve a baita de uma surpresa.

— Venus?! – ambas não puderam evitar de sorrir, jogando de lado a formalidade, Judy empilhou rapidamente todas as caixas que a raposa derrubou no chão. – O que está fazendo a...? – não terminou sua pergunta, percebendo que era estúpida demais.

— O que parece – a maior respondeu, subindo o degrau e levantando a pilha de caixas –, me mudando.

— Santa coincidência! – exclamou a policial com a pata na testa, mas Venus não entendeu de primeira. – Acredite ou não, eu moro neste prédio.

— É sério? – Venus fez uma expressão mais surpresa ainda, e sorriu simpaticamente. – Que mundo pequeno, não?

— Nem me fale.

As duas continuaram a trocar sorrisos e olhares gentis, Judy, percebendo a falta de modos, tirou umas duas caixas da pilha da maior e as segurou.

— Deixa que eu te ajudo com isso – ofereceu, sem mesmo perguntar.

— Que gentileza, obrigada – as duas passaram sobre a portaria e caminharam até o elevador. Por sorte, não havia sinal de sua vizinha preguiça. – Moro no sexto andar.

Judy fez a gentileza de apertar no botão do sexto andar para a nova vizinha, antes de chegarem lá, a coelha explicou algumas coisas sobre o prédio, os vizinhos, e em poucos segundos estavam de frente ao apartamento 602.

Estava repleto de caixas, alguns móveis espalhados, e vários machos, de diversas espécies, entrando e saindo da casa. A única coisa que já estava na tomada era um frigobar, afinal, com todo aquele trabalho, precisavam se refrescar de alguma forma. Venus tirou duas garrafas de Foca-Cola e entregou uma delas à coelha.

— Em que andar você mora mesmo, Judy?

— No décimo – respondeu enquanto abria sua garrafa. – Meu colega de trabalho, Nick, mora no apartamento ao lado.

— Aquele de ontem? – Judy fez que sim com a cabeça, e a maior não pode conter um risinho. – Não esqueço a expressão que ele tinha no rosto, era hilária.

— Quando conhece-lo melhor, vai ver que ele é mais engraçado de conversa que de expressões – a coelha riu um pouco, lembrando-se de algumas palhaçadas do amigo. – Pelo pouco que vi de você, lembra muito ele.

— Deve ser coisa de raposa – Venus bebeu o primeiro gole de seu refrigerante, e encostou as costas na parede. – Se conhecem há quanto tempo, vocês dois? Parecem muito amigos – a raposa tentou jogar conversa fora.

— Um ano – respondeu a coelha, ainda aos sorrisos. – Mas parece mil.

— Os melhores relacionamentos são assim – Venus pôs um olhar um tanto desapontado no rosto, mas sem desmanchar o sorriso encantador que ela tinha. – Eu era vizinha da minha melhor amiga antes de vir pra cá, acho que agora só teremos tempo de nos ver nos fins de semana.

Uma certa curiosidade fez os olhos da coelha brilharem, de algum modo, a raposa não parecia estar muito contente com a mudança. Tossiu um pouco e fingiu fazer uma pergunta como qualquer outra:

— Só pra saber... por que se mudou?

— Ah... – Venus começou, dando outro gole em sua garrafa. As duas tiveram que dar espaço pra dois porcos levarem uma caixa grande para o quarto. – Digamos que o bairro onde eu morava tenha ficado um pouco... violento— o tom meio rouco da raposa entregou que ela não estava nem um pouco a fim de falar sobre aquilo. – Resumindo, meus pais me compraram este apartamento porque acharam que aqui eu estaria segura, e a estadia seria melhor, e agora estou aqui – ela forçou um sorriso maior, Judy percebeu, mas retribuiu. Não poderia simplesmente pressiona-la, afinal, se conheciam há poucas horas.

— Bom... fico feliz que tenha vindo no meu prédio.

— É meio longe do trabalho – confessou a maior –, mas, tudo dá-se um jeito.

— Vai gostar daqui. Quer dizer... temos uma vizinha preguiça idosa, que é bem lenta e não é muito agradável dividir o elevador com ela, mas tirando isso, é um ótimo lar – fez Venus rir, não tinha percebido que havia sido engraçada.

— Gosto de preguiças, são engraçadas. Todos perdem a paciência com elas muito facilmente, é hilário – o comentário de Venus pareceu ter saído da boca de Nick, era uma típica coisa que ele falaria.

— Vocês raposas são tudo farinha do mesmo saco – Venus não entendeu, mas riu mais uma vez, ambas beberam mais um gole de suas garrafas.

E ficaram ali por horas, jogando conversa fora, se conhecendo melhor, deixando de lado todo o lado profissional de uma policial investigando um caso. Venus era uma raposa muito engraçada e gentil, certamente seriam boas amigas, e aquela mudança poderia trazer muitas coisas boas.

Judy olhou para o seu relógio de pulso, nem vira o tempo passar.

— Eu adoraria continuar a conversa, Venus, mas tenho que trabalhar.

Venus fez uma expressão um tanto desapontada, mas compreendeu, e sorriu para a vizinha.

— Quando eu terminar de arrumar esta casa, quero que venha aqui – disse. – Coletei algumas informações interessantes ontem à noite que podem lhe ajudar na investigação.

— É sério? – os olhos da coelha brilharam. – Que horas posso vir?

— Eu te chamo.

A porta do apartamento ainda estava aberta, e viram quando a porta do elevador se abriu. Saíram os dois porcos de antes, traziam mais uma caixa grande, e logo atrás deles, estava Nick com sacolas de supermercado e uma expressão surpresa ao ver a colega ali. Judy pensou que aquela seria a oportunidade perfeita de apresenta-lo a sua nova amiga.

— Venha cá, Nick – ele se aproximou das duas. A coelha ficou no meio deles, que sorriam gentilmente um para o outro. – Nick, Venus. Venus, Nick.

— Prazer – Nick estendeu a pata para a raposa, que mostrara suas presas num sorriso encantador.

— O prazer é todo meu – tocou a pata dele com a sua num aperto de mão um tanto... longo.

Judy ficara no meio apenas observando as duas raposas que não tiravam os olhos da outra, em especial Venus, que parecia analisar o macho de sua espécie da cabeça aos pés, sem desmanchar aquele sorriso do rosto. Ela tinha um sorriso lindo, sem dúvidas. Nick deve ter reparado, pois não tirou os olhos dele.

Venus finalmente soltou a pata do maior, mas continuaram sem dizer nada, apenas se olhando. A coelha, sentindo-se um tanto desconfortável, cortou o silêncio.

— Hum... boa sorte com a arrumação, Venus.

A maior sorriu para ela, e acenou enquanto eles se afastavam.

— Obrigada, Judy. Até mais. – e a coelha caminhou até o elevador, acompanhada de seu colega, ambos pararam quando a outra raposa disse – Até mais, Nick. A gente se fala qualquer dia.

Eles voltaram a olhar para ela, Nick sorriu e acenou, com as sacolas na pata livre, enquanto esperavam o elevador chegar.

— Até, Venus.

O elevador chegou, e eles entraram. A última visão que tiveram foi da raposa encostada na porta, de braços cruzados, e um sorriso encantador no rosto. Judy pode jurar que ela estava com os olhos fixos em seu amigo. “Deve ser minha imaginação”, pensou, suspirando.

A porta do elevador fechou.


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Notas finais do capítulo

E lá vou eu começar a gerar umas tretas.
Espero que tenha gostado. Deixe seu comentário dizendo o que achou, não se esqueça de favoritar a fanfic, e até a próxima o/
Kissus ♥