Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 6
Misteriosa Venus


Notas iniciais do capítulo

Mais uma recomendação, vocês realmente querem me matar do coração, né?
Lady Íris, sua linda, muito obrigada pela ajuda! Esse capítulo é seu.
Tem bastante coisa aqui, então espero que gostem.
Boa leitura!!



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“Por volta de mil e quinhentos anos, o acasalamento era totalmente instintivo, realizado única e exclusivamente para a reprodução de espécies”— Nick entrou na sala nesse exato momento. – “Era um processo doloroso, de fato. Mas com o passar do processo evolutivo, junto com o nascer da racionalidade, os mamíferos começaram a sentir prazer no meio do ato, e isso de certa forma tornou-se uma instigação para que reproduzissem em maior quantidade”.

— O que é isso? Pornografia? – perguntou a raposa num tom brincalhão, deixando-a envergonhada.

— É um documentário histórico, seu idiota – disse ela num suspiro impaciente, no momento em que ele se juntou a ela no sofá.

A noite chegou voando, e seus planos de visitar o bar mais uma vez foram por água abaixo. Venus estava ocupada com a mudança, e mais tarde iria ao velório do casal assassinado, e usaram isso como desculpa, dizendo que não haveria ninguém melhor que ela para coletar informações, mas, na verdade, só estavam cansados demais para trabalhar.

E agora estavam no apartamento de Judy, mesmo após fazer as compras, Nick decidiu jantar com ela. Eles eram assim, largavam tudo para ficar um momento do dia juntos. Não que chegassem a admitir isso, é claro. Não era preciso, de qualquer forma.

“Esse prazer é sentido em qualquer tipo de relação, seja entre machos e fêmeas, machos e machos, fêmeas e fêmeas, e vice versa. Assim como em relações inter-espécie, híbridos, pode-se assim dizer”— o programa começou a mostrar algumas imagens antigas de casais em acasalamento (hétero, homo, e hibridamente), coisa que os deixou um tanto envergonhados, em especial Judy. Foi no momento que se mostrou a imagem de um coelho acasalando com uma raposa que o maior disse:

— Isso faz você se sentir tão desconfortável quanto eu? – perguntou Nick, em tom deboche e certo desconforto. – Muda de canal, pelo amor de Deus.

— É pra já – ela pegou o controle e começou a mudar os canais. Desviou o olhar para o pequeno relógio ao lado da televisão, viu as horas, e soltou um suspiro desapontado consigo mesma. – Somos péssimos policias – disse –, temos um assassinato pra desvendar e estamos aqui, sentados no sofá sem fazer absolutamente nada.

— Não estamos fazendo nada, estamos vendo imagens pornográficas na TV – brincou, mas ela não pareceu se alegrar tanto assim. – Relaxa, é noite de sábado.

— Injustiça não tem hora, Nick.

— Judy – a fez olhar para ele, um tanto surpresa, não era sempre que ele a chamava pelo nome –, você é a policial mais competente daquela droga de departamento, em seu primeiro mês de trabalho desvendou o caso das uivantes.

— Tendo a sua ajuda.

— Por isso mesmo eu sei que mereço uma folga de vez em quando – disse com convicção –, se dê o luxo de uma, também.

Ela finalmente parou de mudar os canais, no programa que parecia ser o menos ruim. Tornou a ficar pensativa a respeito do que acabara de ouvir, olhou para as horas mais uma vez e suspirou. “Ele está certo,” pensou “eu mereço uma folga”.

— Podemos tirar o dia de folga amanhã.

— É assim que se fala – disse ele, com um sorriso aliviado no rosto. Não teria que ouvi-la tagarelar sobre o trabalho num domingo.

— Faz um bom tempo que não nos divertimos.

— Pois é – ele pôs uma expressão brincalhona no rosto mais uma vez –, sinto saudade das noites em que fazíamos as unhas uma da outra e falávamos de machos.

Judy não pode evitar de rir.

— Suas garras ficam lindas pintadas de verde – ela entrou na brincadeira.

— Por combinar com meus olhos, talvez – ambos riem mais. – Mas falando sério, tô meio sem grana, então se estiver pensando num programa que gaste dinheiro, pode esquecer.

— Eu também não tô lá essas coisas.

— Vida de policial é uma maravilha, não? – a fez rir de novo. – Mas, podemos retornar às noites de filme em casa.

— Passo numa locadora.

— Locadoras ainda existem? – ele fez uma expressão surpresa.

— Claro que existem – ela respondeu –, ninguém mais vai, mas existem.

— Pra quê ir em locadoras se você pode baixar qualquer filme pela internet de graça?

— Artigo 184, Nicholas Wilde – começou a coelha, fazendo uma pose orgulhosa de si mesma –, violar os direitos do autor que não lhe são conexos é crime, três meses de prisão.

— Quem liga pra essa lei? – riu em deboche.

— Ninguém. Mas não deixa de ser uma lei.

— Eu mexia com pirataria, “fofa” – ele alargou o sorriso, rindo do próprio comentário. – Essa é a lei mais ignorada do universo, nem o pessoal da constituição liga pra ela.

— Independente, vou passar na locadora.

Após uma troca de risadas mútuas, Judy deitou a cabeça sobre a coxa do amigo, que pareceu querer recuar no mesmo instante. Ele não era muito fã de contato físico, mas, decidiu se concentrar em outra coisa e deixa-la do jeito que estava. O que não fazia por ela?

A coelha gostava quando tinham um momento assim, de paz, conversando sobre coisas aleatórias e rindo sem motivo. Era a melhor parte do dia, quando ficavam juntos. A companhia de Nick era a melhor para Judy, e a companhia de Judy era a melhor para Nick. Se por acaso algum dos dois decidisse partir... bem, eles preferiam nem pensar nisso.

Judy, tentando puxar conversa, perguntou:

— E aí, o que achou da Venus? – coçou a cabeça, ainda deitada sobre a coxa dele.

Nick levou a pata ao queixo, apoiando-se na borda do sofá. Tinha um olhar pensativo no rosto.

— Legal – respondeu –, simpática, parece divertida,... bonita.

Judy arregalou os olhos e sorriu com certa euforia, Nick dissera que achava alguém bonita, isso não era coisa que se via todo dia.

— Eu falei, não falei? – ela se sentou para poder encará-lo melhor, ele estranhou no mesmo instante e se sentiu desconfortável. – Por que não a chama pra sair?

— Ah, sai dessa – ele a empurrou, um tanto desconfortável com a proximidade. Revirou os olhos, tentando fingir que não acabara de ficar meio tímido. – Eu só disse que a achei bonita.

— Nick, eu realmente estou começando a me preocupar com você – ela mantinha o olhar brincalhão, deixando-o mais desconfortável ainda à medida que ia aproximando o rosto. – Não quero que você passe o resto dos seus dias encalhado, solitário, carente, e eu sendo obrigada a suportar sua chatice.

— Não é por ela ser uma raposa que eu vou magicamente me interessar por ela, queridinha – respondeu, no típico sorriso e tom de deboche. Pôs a pata sobre a cara da coelha, empurrando-a mais uma vez. – E eu já falei, eu estou sozinho por opção.

Judy quase caiu do sofá com o empurrão, cruzou os braços e fez um biquinho emburrado com os lábios.

— Já vi que você nunca vai largar do meu pé – resmungou, zombando da cara dele. – Pensei que, com uma raposa na jogada, me livraria um pouco de você.

Ele riu. Judy olhou para ele e viu a expressão de mais puro deboche, aquela que ela se recusava admitir que adorava.

— Pode esquecer, coelha tosca – ele disse, sem mudar o deboche do sorriso. – Solteiro ou não, você nunca vai se livrar de mim.

—-X---

— Nada, Nick? – perguntou a coelha, revirando cada mísero pedaço de saco plástico jogado no chão.

— Nada – o tom da raposa era o mais impaciente e irritado possível. Num ataque de fúria, chutou a grande lata de lixo ao lado e a fez bater contra a parede do beco estreito. – Como pode uma cena do crime estar tão limpa assim?

Era quinta-feira, uma semana após o assassinato, e já era a quarta vez que visitavam a cena do crime. Com Venus ocupada com muitas coisas, tiveram uma semana mais “calma”, mas quando o assunto era o caso, se contentaram com as armas que tinham. Mas era muito estranho uma cena do crime não ter prova alguma, qualquer que fosse.

É claro que a ideia de voltar todos os dias naquele beco sujo e escuro fora de Judy, que nunca se dava por vencida quando o assunto era encontrar provas. Ao mesmo tempo que aquele assassinato fosse um caso “fácil”, isso dificultava as coisas.

Nick, como esperado, já estava com a paciência no limite. Judy, cada vez mais intrigada. A coelha bateu a pata no chão rapidamente e levou uma pata ao queixo.

— Isso não faz sentido – disse a policial menor. – Thomas e Jeanette foram encontrados ensanguentados, não há uma mancha de sangue sequer.

— Ótima observação, Judy. Sem você, não teria percebido – disse sarcasticamente, num tom grosseiro e arrogante. Mas a coelha estava ocupada demais em seu raciocínio para ligar.

— E este lugar esteve sendo observado por oficiais até chegarmos para dar uma olhada, e desde segunda, isso aqui parece um beco qualquer.

— Vai que os fantasmas de Thomas e Jeanette querem pregar uma peça na gente e fizeram uma limpa com as provas – disse a raposa, ainda naquele tom sarcástico.

Apesar de Nick já não estar parecendo levar aquilo tão a sério quanto deveria, provavelmente por estar cansado de voltar àquele beco por quatro dias consecutivos e não conseguirem nada, seu comentário deixou a coelha mais intrigada.

— Tirando a parte de fantasmas – ela ainda batia a pata no chão –, até faz sentido alguém estar com as provas... Mas quem?...

—-X---

Chegaram no prédio ao anoitecer, e no mesmo estado que estavam há algumas horas atrás. No caminho para o elevador, cruzaram com a nova vizinha que sorriu gentilmente para os dois.

— Boa noite – ela acenou, e os três entraram no elevador. – Tudo bem?

Não demorou para Venus reparar o olhar cansado dos policiais, na coelha havia mais desapontamento, na raposa, mais fúria.

— Já vi que não – ela sorriu um pouco, tentando animá-los. – Alguma coisa a ver com o trabalho?

— Sim – Nick respondeu seca e rapidamente, cerrando os punhos. Judy tentou explicar:

— Fomos à cena do crime, mas-

— Pela quarta vez. Quarta— resmungou a raposa maior, irritado, interrompendo a coelha que tentou relevar as atitudes do colega.

— Não conseguimos prova alguma – ela completou a frase interrompida.

Venus encarou as expressões cansadas dos pobres policiais e suspirou, com certa pena.

— Eu já imaginava – ela disse baixinho.

Os policiais a encararam, um tanto confusos. “O que ela quer dizer com ‘já imaginava’?” os dois pensaram sincronizadamente, mas antes que pudessem perguntar, a porta do elevador se abriu no sexto andar e Venus lhes deu um último sorriso.

— Amanhã terei tempo livre, enfim – ela caminhou para fora do elevador. – Lhes direi tudo o que sei. Boa noite.

— Boa noite – eles responderam, e a porta se fechou.

— Você acha que ela sabe de alguma coisa? – perguntou Nick, começando a voltar ao seu estado normal.

— Não sei – a porta se abriu novamente no décimo andar. – Venus é bem misteriosa, se quer saber...

—-X---

Quando Judy abriu os olhos naquela manhã de sexta-feira, já começou o dia saltando da cama. Pela terceira vez em um ano sendo policial, estava atrasada para o trabalho. Ignorou qualquer possibilidade de tomar um banho ou escovar os dentes de forma apropriada, tirou seu pijama, pôs seu uniforme, e ao trancar seu apartamento, correu para o vizinho. A porta estranhamente destrancada, coisa que ela nem deu atenção no calor do momento.

— Nick, acorda! Estamos at...!

Ela se calou ao focalizar bem a cena. Nick, de pé e pronto para o trabalho, e bem ao lado dele, Venus, charmosa mesmo tão cedo, o acompanhando num café da manhã. Judy sentiu um nó se formar em sua cabeça, afinal, o que diabos estava acontecendo ali? Ou melhor, será que algo aconteceu ali?

Venus sorriu enquanto Nick deu mais um gole em seu café.

— Agitada assim mesmo às sete da manhã, Judy? – brincou a maior, também bebendo um gole do caneco que ele emprestara a ela.

— M-M-Mas, mas... – a coelha estava sem palavras, e, por alguma razão, com o coração na boca. – O-O quê...?

A raposa menor riu, como se estivesse lendo os pensamentos de Judy. Pôs seu caneco vazio sobre a mesa e se aproximou da porta.

— Adoraria ficar, mas preciso ir embora – bagunçou os pelos da cabeça de Judy com a pata, e, dando uma última olhada em Nick, sorriu. – Obrigada pelo café, sr. Nicholas Wilde.

Ele riu.

— Nick, por favor – ele acenou para Venus, e ela foi embora, os deixando a sós novamente.

Judy, ainda boquiaberta e com os olhos extremamente arregalados, não conseguiu dizer uma palavra sequer. Não sabia o que pensar, muito menos o que estava sentindo. Mas Nick a fez o favor de tirá-la de seu transe.

— Que cara é essa, cenourinha? – perguntou, com seu típico sorriso que inala deboche. – Algum bicho te mordeu?

— O que ela estava fazendo aqui? – sem perceber, seu tom parecia de desespero. – Aconteceu... alguma coisa entre vocês, ou-?

— Pff. Você só pensa besteira – respondeu com um ar de quem acabara de ouvir algo absurdo, dando mais um gole em seu café. – Ela só estava sendo gentil.

— Às sete da manhã? Meio suspeito.

— Ciúme?

— Sai fora – ela bufou, ele riu.

— Tudo bem, então não vai querer saber a solução dos nossos problemas – ela descruzou os braços e se tornou toda ouvidos, com olhos brilhantes que imploravam para que ele falasse. Nick suspirou, e riu mais. – Hoje à noite, no bar Hibring. Ela vai nos apresentar a alguém.


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Notas finais do capítulo

Algo a declarar? Deixe nos comentários tudinho o que achou, o que não achou, enfim, o que quiser escrever.
Até a próxima o/
Kissus ♥