Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 18
Chuva quente


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu sugiro que vocês preparem o coração porque esse capítulo... bem, vou deixar vocês descobrirem.
Boa leitura!!



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Era sábado, e Nick acordou desesperado com o horário, mais uma vez havia esquecido de ligar o seu despertador. O costume de ser acordado por Judy toda manhã o tranquilizava nessas situações, porém dessa vez ela não veio, coisa que também não fora surpresa. Mas já estava quarenta minutos atrasado, então não teria tempo pra pensar nesse tipo de coisa.

“Se o céu não estivesse tão escuro, eu não teria perdido a maldita hora!” amaldiçoou Nick enquanto vestia seu uniforme o mais rápido que podia, o céu estava tão nublado que indicava uma grande chuva se aproximando, talvez uma tempestade. Sequer teve tempo de tomar o seu sagrado café, assim que ajustou sua gravata e pegou um casaco saiu de seu apartamento como um foguete, e correu para a DPZ como um meteoro.

— Atrasado, Wilde – resmungou Bogo no momento em que a raposa pisou na delegacia.

— Por favor senhor, me perdoe – suplicou Nick, quase de joelhos para o chefe que estava no andar de cima. – Prometo que isso não irá se repetir.

— Tô nem aí. Pra minha sala, agora – ordenou o delegado. – Eu e sua parceira o estamos aguardando há uns dez minutos.

Nick soltou um suspiro aliviado por não ter sido demitido, subiu as escadas rapidamente e entrou na sala do delegado, pela cara do búfalo, coisa boa não era. Judy estava sentada em uma das poltronas que ficavam de frente para a mesa de Bogo, e mesmo com Nick ao seu lado, ela o cumprimentou. Agora o suspiro de Nick fora de desconsolo.

O búfalo sentou em sua cadeira e pôs seus óculos, tendo ampla visão dos policiais a sua frente que estavam com o rabinho entre as pernas. Ele pegou o calendário que ficava ao lado do computador, e o deslizou na mesa para perto dos policiais. Nele, haviam vários rabiscos e anotações de compromissos, e no que deu pra eles lerem, tratavam-se de entrevistas.

— Dois meses – foi o que a voz séria de Bogo disse, cortando o silêncio. – Hoje faz dois meses que lhes entreguei o caso. Confesso que, vindo de uma das minhas melhores duplas de policiais, estou surpreso. – antes que qualquer um dos dois pudesse se orgulhar da fala de Bogo, ele interrompeu com – E decepcionado.

Nick olhou para Judy, que se encontrava cabisbaixa e com um olhar de vergonha. Nick detestava vê-la assim, mesmo naquelas circunstâncias.

— Chefe Bogo – disse Nick –, por favor, nos deixe explica–

— Cala a boca, Wilde! – ordenou o búfalo, alterando sua voz para uma mais furiosa. Nick se contentou em abaixar a cabeça. – Eu não tô nem aí para qualquer explicação de vocês, tudo o que eu quero é este caso resolvido já!

O búfalo se levantou e caminhou até a janela, balançando o seu rabo ferozmente, se segurando para não arrastar seu pé no chão.

— Vocês tem ideia do que é ter a mídia na minha cola fazendo as mesmas perguntas e publicando horrores ao meu respeito? A respeito da nossa delegacia? – brigou Bogo, encarando o próprio reflexo no vidro da janela que mostrava o tempo ficando cada vez mais escuro. – Está faltando isso aqui— fez um gesto com os dedos como se estivesse segurando um arroz – pra aquela sociedadezinha de híbridos fecharem o departamento, e vocês acham que eu tenho tempo pra explicações?! – Bogo se voltou para a mesa e deu um soco nela, fazendo um barulho estrondoso a ponto de quase toda a delegacia escutar.

O berro do delegado fez com que Judy e Nick tornassem trêmulos, com os olhos arregalados e o coração na mão. Bogo tinha chamas nos olhos, e fungava com força como se soltasse fumaça. Se conteve, cruzou os braços, e fez postura para os policiais.

— Dou uma semana para resolverem este caso. Do contrário, estão demitidos.

Judy finalmente olhou para Nick, que virou-se para ela com a mesma expressão incrédula de desespero. A coelha voltou-se para o búfalo e deixou escapar:

— Mas chefe Bogo!

— Não pode fazer isso! – exclamou Nick em desespero.

— Ah, não posso? – perguntou o delegado em deboche, que se agachou para ter o rosto mais perto dos policiais. – O que eu não posso é ficar sentado esperando com a mídia me entrevistando três vezes por semana, apodrecendo a minha imagem enquanto vejo a DPZ ir para o buraco – ele voltou a se sentar e tirou os óculos do rosto sem mudar aquela expressão séria e furiosa. – Procurem aquela competência que vocês costumavam ter e resolvam essa porcaria de caso de uma vez por todas. Fui claro?

Os policiais nada puderam fazer além de assentir. Bogo os mandou voltarem ao trabalho e eles saíram da sala, em choque, ficaram parados no corredor sem dizer nada. Judy foi a primeira a se mover, e caminhou lentamente até a escada, Nick a seguiu.

— Eu não acredito que o chefe Bogo está fazendo isso com a gente – comentou Nick, mesmo sabendo que Judy não iria respondê-lo. – Tudo bem que estamos demorando, mas... Porra! Ninguém quis pegar o caso! Ninguém! Nós já fizemos o favor de pegá-lo, e agora vamos ser demitidos por isso?! Isso é ridículo!

Ele realmente estava falando sozinho. Quando terminaram de descer as escadas, chegou mais perto de Judy e viu que no rosto dela tinha uma expressão de extremo desconsolo. Talvez xingar a situação não fosse a maneira certa de chegar até ela.

— Escuta, cenourinha... fica fria – disse ele, tentando acompanhar os passos dela e colocar a pata sobre seu ombro. – A gente vai dar um jeito nisso. A gente sempre dá. É só... não perdermos o foco e tentar descobrir onde as pistas estão sendo examinadas, aí–

— Não perder o foco, você disse? – ela finalmente se pronunciou, parando de andar quando chegaram na recepção. – Nisso abandonar o caso para sair com a sua namoradinha é incluso?

Nick preferiu que ela não tivesse falado, agora seu orgulho fora ferido. Suspirou e procurou alguma resposta que não piorasse a situação.

— Cenourinha, eu–

— Aquela raposa só nos atrapalhou – a voz de Judy era baixa, porém, trazia uma aura furiosa mesmo que ele não pudesse ver seu rosto. – Ela só nos atrasou com aquela história que iria nos ajudar... que ia se contatar com Nigel... que era pra a gente relaxar, por que ela ia resolver tudo ao nosso favor...

— Ei, ei, está falando da Venus? Isso é sério?! – perguntou Nick, incrédulo e de bom tom. Nem percebeu quando aquela cena começou a chamar a atenção de todos na delegacia. – Judy, nunca mais diga isso! Nunca mais! Se não fosse por ela, sequer teríamos encontrado as pistas!

— Sempre encontramos tudo sozinhos – disse Judy, ainda cabisbaixa e sem olhar para ele. – Por que nos demos o luxo de confiar até o nosso precioso tempo a ela?

— Judy, você tem noção das coisas que está dizendo??

A forma séria como ele chamava seu nome a fazia se sentir ainda pior, fazendo-a cerrar os punhos numa maré turbulenta de fúria e desespero. Nick ficou de frente para ela e pôs as mãos sobre seus ombros, sacudindo-a levemente.

— Chefe Bogo fez o que fez porque está furioso e descontou na gente, agora não venha fazer a mesma coisa com a Venus, ouviu? Ela nos ajudou muito, aquele tal do Wolfgang que piorou as coisas! – a forma como ele defendia Venus, de alguma razão, atiçava mais sua fúria, que estava tomando conta de tudo em seu corpo. – Ainda temos uma semana, Judy, ou vai me dizer que você vai desistir? Você não é de desistir, esqueceu? Hein?? – a sacudiu com mais força, e ela tirou suas patas de sou ombro abruptamente.

Judy finalmente o olhou nos olhos, e o que ele viu não fora o mesmo violeta que lhe trazia paz e o confortava em momentos como esse. O violeta que viu fora um violeta escuro, sem brilho, e em chamas. Não era o violeta de sua Judy.

— E quem é você pra dizer alguma coisa, Nick?! Quem é você pra defendê-la? Vocês dois são da mesma raça! – a voz de Judy ecoou pela recepção, assim como repetidas vezes na cabeça de Nick. – Você sempre levou a vida enganando os outros, não me admira que Venus também não passe de uma golpista! Ou até mesmo...! – ela foi incapaz de continuar a frase, pois uma hipótese acabara de nascer em sua mente corrompida pela fúria. E, em momento como esse, a razão é a última que fala. – Acho que acabo de resolver o caso.

— O quê?... – Nick não teve resposta, pois Judy saiu correndo da delegacia numa rapidez fora do comum. Nick sempre captou as coisas rapidamente, e sentiu o peito apertar ao sacar o que Judy estava prestes a fazer. – Não... Judy, não faça isso!

A raposa correu para a porta de vidro, e antes que ele pudesse sair, ele ouviu ao fundo:

— Problemas com a namoradinha, Wilde? – era Tyronne, que zombava às gargalhas na companhia de Francine e Klakson.

— Vai se ferrar, Tyronne! – berrou, e foi para o lado de fora. Havia começado a chover fortemente, e no meio de tudo aquilo, encontrar a direção que Judy tomou se tornara um desafio.

E entre os carros e sinalizantes, lá estava a pequena coelha correndo no meio da multidão. Nick não perdeu tempo e, tomando cuidado para não escorregar naquele chão molhado, correu até ela empurrando qualquer um que estivesse na sua frente.

Judy corria como se sua vida dependesse disso, e quanto mais perto chegava de seu prédio, mais longe ele parecia. Tudo no qual ela conseguia pensar, ou sua fúria a permitia pensar, era no quão certa a ideia de Venus ser a responsável pela morte de Thomas e Jeanette parecia ser. Tudo se ligava no único fato: ela os atrasou demais.

A razão diria que isso não fazia sentido algum, e quem disse que Judy estava usando a razão.

— Eu vou pegar essa desgraçada! – exclamava para si mesma, enquanto fazia a volta, se aproximando do parque. – Ela não vai enganar mais ninguém!

“Será que só estou fazendo isso por que sinto ciúmes dela com o Nick?” sua consciência finalmente se manifestou, e a desconcentrou de modo que a fez escorregar e cair de cara no chão.

Descoordenada, confusa, envergonhada, Judy estava entre as árvores do parque e não conseguia se levantar. Olhando para o próprio reflexo na poça de água que se formara sobre o chão, e nela, derrubou sua primeira lágrima. Judy estava, de longe, assustada.

— Mas o que é que deu em mim? – perguntou para si mesma com a voz fanha, sentindo mais e mais lágrimas chegando. – Qual é o meu problema?...

— Judy – uma voz a chamou atrás dela, deixando-a mais estática.

Era a voz que a tirava o sono, assim como deixava-a nas nuvens. Sua tormenta, e sua calma. Sua prisão, e seu lar. E quando se virou para encontrar aqueles olhos verdes, pode enfim começar a chorar.

— Nick... – disse com sua voz rouca.

A raposa estendeu sua pata para a coelha, e a ajudou a se levantar. Tinha ralado o joelho e o cotovelo com a queda, mas pouco se importava. Agora que a coelha se dera conta das coisas que havia dito para Nick, sequer sabia como olhá-lo nos olhos.

Nick, magoado, preocupado, muito confuso, não tinha a menor ideia de como chegar à Judy, que parecia a cada minuto mais inalcançável mesmo tendo ela parada bem à sua frente. Não sabia onde sua Judy poderia estar. Sua cenourinha. E tudo que queria era encontra-la, e tê-la sorrindo ao seu lado e trazendo esperança para os seus dias novamente.

— O que esse caso está fazendo com a gente, cenourinha? – perguntou ele, que tirava o seu casaco. – Desde quando somos assim?

Ele vestiu o casaco nos ombros dela para que ela não pegasse um resfriado com a chuva, e é claro que ficou grande de mais. Judy, que não sabia como encarar aqueles olhos verdes, se manteve cabisbaixa a todo momento.

— Por que tinha que ser assim? – ela perguntou baixinho, de modo que ele não entendeu direito.

— O que disse?

Ela nada respondeu por alguns segundos, com as orelhas baixas e os olhos se inundando em lágrimas mais que o próprio corpo molhado pela chuva.

— Por que eu tinha que pegar esse caso? – ela aumentou o tom da voz, ficando cada vez mais incrédula com as próprias perguntas. – Eu podia ter ficado na minha. Eu podia ter deixado meu instinto de heroísmo falar sozinho, e agora...

Nick soltou um suspiro e pôs as patas sobre os ombros de Judy, abaixando um pouco o rosto tentando roubar seu olhar. Mas ela ainda se recusava a olhar para ele.

— Se tivesse deixado pra lá, não seria você, cenourinha – tentou usar palavras doces que a confortassem. – Você é assim, sempre pensa nos outros, e em como tornar o mundo um lugar melhor. Por isso que, se Bogo nos demitir, vai perder a melhor policial daquela droga de delegacia.

— Eu sequer me reconheço mais, Nick – ela finalmente levantou o rosto, com os olhos brilhando e o focinho escorrendo, mas ainda sem olhá-lo nos olhos. – Eu penso em coisas estranhas, e... e agora eu disse as coisa que mais poderiam magoar você sem pensar duas vezes, porque... eu tenho medo das coisas que penso, eu tenho medo de serem verdades, e... e... acabei de chamar a Venus de assassina! – levou a pata à boca, tentando evitar possíveis soluços de choro. – Meu Deus, eu sou tão horrível...

— Ei, ei, já passou – disse ele, enxugando as lágrimas dela. – Eu sei que você não quis dizer nada daquilo.

— Eu me sinto tão sozinha...

— Sozinha? – Nick ficou um tanto surpreso, assim como incrédulo. – Mas... eu estou sempre com você, cenourinha. Você sabe disso.

— Não, Nick – ela continuou a chorar, já não conseguindo conter os soluços. – Você não entende...

— E o que eu preciso entender? – perguntou, sacudindo-a um pouco. – Me diga, Judy!

— Nem eu entendo, Nick! É isso! – ela alterou o tom da voz, cerrando os punhos. – E a culpa é toda sua...

— Como é que é, minha culpa?!

— Sim, é sua! – ela finalmente o olhou nos olhos, mesmo ainda estando envergonhada. – A culpa é sua por me fazer pensar coisas que não são verdade! A culpa é sua por me olhar de um jeito que me faz pensar coisas estranhas que não condizem com o que eu sempre fui, e... e...

— Judy, essa é a coisa mais estúpida que você já disse! – a forma como ele a olhava no fundo dos olhos a fazia chorar ainda mais. – Quando foi que eu te fiz pensar essas coisas? E que coisas são essas?

— Não interessa! – resmungou ela com uma voz estrondosa, que fez todos que passavam ao redor deles tomarem um susto. – Eu nem sei porque eu estou tentando chegar a algum lugar com isso... Por que não vai atrás da Venus?

— De novo falando da Venus? Mas que droga, Judy! Por que isso te incomoda tanto?!

Aquela pergunta foi como uma facada em seu peito. A resposta estava bem guardada em algum lugar no seu coração, mas ela não tinha coragem o suficiente para procurá-la. O mesmo para Nick, que se perguntava constantemente o que que tipo de sentimento o levara a relevar as coisas que Judy disse, coisa que ele jamais perdoaria em circunstancia alguma.

Judy, mais uma vez, soltou as patas pesadas de seus ombros com brutalidade. E voltando a ficar cabisbaixa, ela disse:

— Você me faz sentir e pensar coisas estranhas, Nick... Eu tenho medo do que isso possa significar... – ele sentiu o corpo arrepiar com aquilo. Judy se virou para ele de repente e disse – Por isso... é melhor nos afastarmos. – agora fora a vez de Nick de levar uma facada em seu peito. – Eu só não aguento mais fingir que está tudo bem...

Para Nick, de todas as possibilidades, aquela seria a mais inadmissível e impensável. Nunca, jamais nessa vida, cogitaria tê-la longe. E quando ele a viu dar seus primeiros passos, seu corpo se moveu por conta própria, e pela primeira vez, abandonou todo o orgulho que tinha e fez um apelo.

— Judy, não!

A segurou pelo braço e a puxou para perto de si novamente, a mesma, que virou-se para ele no mesmo instante que a chamou, percebeu que Nick mantivera uma proximidade extremamente absurda de seu rosto. Coisa que ele também não demorou muito para perceber.

Antes que pudessem dizer qualquer coisa, se encontraram nos olhos um do outro, e dessa vez, não enxergavam apenas o outro como a si mesmo. Seu verdadeiro eu, não o que as consequências haviam moldado. E nos olhos do outro, não se sentiam mais sozinhos ou desamparados.

Há poucos minutos estavam se perguntando onde o outro estava em seus momentos mais desesperadores, e agora, tudo o que queriam saber é por que, de todos os caminhos de tomavam, sempre voltavam para os braços do outro.

Mas nunca tão perto assim.

— Eu tenho medo das coisas que sinto, Nick... – sussurrou ela ainda em lágrimas, colocando as patas sobre o peitoral dele. – Muito medo...

— Eu também, cenourinha... – disse ele pondo a pata sobre o rosto dela, enxugando as lágrimas com o polegar. – Eu também...

E lá estavam eles, com todo o orgulho esfregado no chão e todo o preconceito esquecido. Temos muito orgulho para assumir o preconceito, e muito preconceito para assumir o orgulho, mas estando ali, tão perto nos braços um do outro, de que importava tanto orgulho? E o que era esse tal preconceito?

A chuva incessante caia sobre os rostos dos policias que se recusavam a se soltar, apreciando estarem presos no braço do outro como nunca estiveram. Ensopados, confusos, e envolvidos, com o peito vibrando forte. E sem tirar os olhos do outro, Nick finalmente encontrou o violeta de sua Judy, este brilhava como nunca havia antes. Judy reencontrou o conforto que tanto buscava nos globos verdes de Nick, e pela primeira vez, sentiu-o se acomodar nos seus também.

A raposa nunca havia notado o quão macio era o pelo de Judy, assim como a coelha nunca sentiu aquele peitoral tão quente e vibrante. Pela primeira vez, Nick parecia implorar pelo contato de Judy, e a mesma nunca se sentiu tão segura e retribuída ao tocá-lo.

Tudo o que parecia de melhor e de mais raro mostrava-se viver nos lábios do outro, e deles, ambos não conseguiam mais tirar os olhos. E quando estes foram se aproximando aos poucos, nunca pareceu tão real. Nunca pareceu tão certo o que, em toda sua vida, soou tão errado.

E no momento em que os lábios estavam prestes a se tocar, pensavam única e apenas em uma coisa. Ter o outro nos braços enquanto a realidade é simples.

E isso apenas.

O celular de Judy tocou em seu bolso uma música tão alta que os fez abrirem os olhos, e arregala-los pela tamanha proximidade que se encontravam. O transe foi-se embora junto com tudo aquilo que parecia os hipnotizar nos lábios do amigo, e olhando para si mesmos, e no que quase fizeram, empurraram-se dos braços do outro.

Era inevitável corar ao olhar para o outro, afinal, que diabos havia acabado de acontecer? Ou quase aconteceu?

— É-É melhor v-você... – começou Nick, totalmente sem jeito – a-atender o telefone.

— A-Ah, sim... claro...

Judy tirou o telefone do bolso e o pôs sobre sua orelha encharcada, Nick, por sua vez, sentia-se cada vez mais desconfortável ao reparar como os outros animais no parque os olhavam com desprezo, alguns tampando os olhos dos filhotes e resmungando coisas nada agradáveis.

Ambos não conseguiam acreditar na situação que se colocaram. Simplesmente não conseguiam.

— A-Alô? – atendeu Judy, ainda com o coração quase saindo pela boca.

Judy, sou eu, Nigel— dizia a voz do outro lado do telefone. – Vim para informar que os resultados de DNA saíram hoje, mas apenas da amostra de pelo. Garras realmente levam mais tempo.

Por um segundo, tudo o que havia acabado de acontecer pareceu ter sido esquecido, pois a fala de Nigel foi como a luz no fim de uma escuridão completa. Olhou para Nick com brilho nos olhos, coisa que ele, ainda envergonhado e confuso, não entendeu.

— E quais são os resultados?? – perguntou ela, ansiosa.

Bem, aparentemente, trata-se de um tigre.

— Tigre?...

É, eu também fiquei surpreso. Havia me esquecido completamente que pelos castanhos alaranjados também se encaixavam no-...

Nigel continuou a falar coisas lógicas no telefone, fatores biológicos e hipóteses. Enquanto isso, Judy apenas conseguia pensar numa coisa com os olhos arregalados e o coração a mil por hora:

“-... esses híbridos só aprendem na base da porrada mesmo – suas orelhas levantaram numa velocidade insana, virou-se para o trio e viu que quem falava era Francine, elefante, o maior policial do departamento. Ele tinha uma expressão de puro desdém no rosto. – Aquele protesto estava um caos, minhas patas ainda estão dormentes de tanto que as usei.

— Pelo menos não foi você quem perdeu uma garra naquela noite – o policial Tyronne apontou para os colegas o dedo sem unha alguma. – Ficaram resistindo e tentaram me agredir. São uns nojentos.

...

— Presos? – e lá vinha o tigre, com o típico ar arrogante e uma expressão maldosa – Deveriam morrer de uma vez – Judy ficou boquiaberta -, voltar para o inferno, onde pertencem, e limpar toda a escória do mundo.”

... e há muitos tigres nessa cidade, é provável que levemos tempo pra... Hopps?

— Obrigada, Nigel – disse Judy. – Te ligo depois.

Quê?

E desligou o telefone, voltando-se para a raposa que, ainda trêmula, ficara bem curiosa com a ligação.

— Nick.

— O quê?

— Acho que acabo de resolver o nosso caso.


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Notas finais do capítulo

Preciso dizer alguma coisa? Acho que não, deixarei vocês dizerem por mim :3
(E PRA QUEM GOSTA DE ONE PIECE, ESTOU POSTANDO UMA MINI-FIC, QUEM GOSTAR, VÁ LER A "Improvavelmente provável", RETRATANDO UM CASAL NÃO-CONVENCIONAL)
Kissus ♥