Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 19
Estaca zero


Notas iniciais do capítulo

Demorei, e MUITO, mas espero que entendam os seguintes motivos: minha avó me visitou, não via ela há anos e precisava dar atenção a ela. Aulas voltaram, já fiz três provas e nem sei como consegui tempo pra escrever já que na semana que vem eu terei sete provas. E gente, se não respondi os comentários novos, foi por isso também Ç_Ç.
OUTRO AVISO IMPORTANTE:
Pelos comentários que li, vi que muitos de vocês imaginaram que eu fizesse o processo de resolução do caso. Porém, eu nunca tive isso em mente, coisa que vocês verão nesse capítulo. Espero que não desanimem por isso e entendam, eu não seria capaz de criar algo que sequer me planejei do nada, e como eu sempre digo, quero trazer pra vocês qualidade, se eu escrevesse qualquer coisa, seria bem forçado.
Ah, e deixo meu agradecimento para O Caçador de Historias, que deixou uma recomendação LINDA para a fanfic. O capítulo é seu, filhote!
Boa leitura!



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(Fanart feita por ninguém menos que EUUU! Para mais desenhos, vá no meu instagram nicoleli.m)

Duas semanas depois:

Embora o natal estivesse chegando, o espírito em Zootopia não estava muito natalino. Por toda a cidade, falava-se apenas em mais um caso resolvido por Judy Hopps e Nick Wilde, os xodós da DPZ. Assim como em todas as questões polêmicas que este caso trouxe consigo.

Foram duas longas semanas até que o caso fosse, enfim, encerrado. Com a ajuda de Nigel, os policiais conseguiram uma amostra do pelo do tigre policial, e por seus cargos estarem com os dias contados na mão do chefe Bogo, foi necessário uma pressa maior para quanto ao teste de DNA.

O resultado deu-se como positivo na manhã de sábado, o que deveria ser o último dia de seus cargos na DPZ. Tyronne nem pode cantar vitória e já foi encaminhado para a prisão temporária, na espera do tribunal. Este que se realizou na sexta-feira seguinte.

Judy ainda lembrava da expressão de ódio ardente que o tigre a lançou quando ele foi declarado culpado, lhe dava calafrios, às vezes a tirava de seu sono. Aquilo lhe dava a sensação de que algum dia voltaria a ter problemas com o preconceituoso e assassino Tyronne... talvez...

—-X---

Tyronne Harimau, tigre de 1,29m, trinta e quatro anos, ex-agente do DPZ (Departamento de Polícia de Zootopia), declarado culpado pelo crime de homicídio sobre o casal Thomas Boris e Jeanette Gloria após exames de DNA, foi levado à cadeia municipal condenado a vinte anos de prisão.

Era isso o que diziam as manchetes de sábado, cada palavra digna de dar muita dor de cabeça ao delegado, que se já estava tendo que lidar com um monte de entrevistas, agora havia se duplicado. Todas lhe fazendo a mesma pergunta: “Então o ato de Tyronne Harimau é um reflexo do preconceito de todo o departamento de polícia?”.

Agora, dava a abertura de todo o caso no palco da delegacia na presença do prefeito Leãonardo, quase cegando-se por todos os flashes em sua direção. Judy e Nick se encontravam na espreita, ansiosos para que fossem chamados ao palco, mas, com todas as perguntas “polêmicas” circulando o delegado, sentiram um certo arrepio na espinha.

— A coisa tá feia pro chefe Bogo – comentou Nick baixinho, olhando para a expressão cansada e com um certo desespero do búfalo, que suava horrores.

— Nem me fale – disse a coelha, meio trêmula. – Tô meio nervosa...

— Por quê? Você sempre se sai bem nas entrevistas. Quer dizer... apesar que você falou aquelas besteiras no caso das uivantes – Nick disse num tom brincalhão, na intenção de descontraí-la. Mas Judy não esboçou um sorriso sequer.

— Eu sei, mas... – ambos ainda evitavam olhar nos olhos um do outro por muito tempo – este caso é... diferente.

— É... – a raposa suspirou, um tanto cansado, um tanto desesperado por dentro. Mas alguém ali tinha que manter o senso de humor. – Qualquer pergunta delicada, é só respondermos daquele jeitinho.

— Que nem jogador de futebol quando sai do gramado?

— Exatamente! – enfim, ele a fez rir. Encostou-se contra a parede e cortou o silêncio, embora ainda ficasse meio nervoso ao se dirigir a ela. – E... cadê o Wolfgang? Ele evaporou desde que o teste de DNA saiu.

Nigel se absteu de qualquer contato com a mídia ou as autoridades, diz ele que prefere manter sua privacidade e continuar seguindo a vida como um detetive anônimo. Sequer apareceu no tribunal, mas, sendo um mestre da advocacia, sabia muito bem que Tyronne seria declarado culpado uma hora ou outra. Por isso, fez um pedido à Judy.

— Ele me pediu para revogar os créditos – respondeu a coelha, fazendo Nick levantar a sobrancelha. – Coisa dele. Quem somos nós pra contrariar?

Judy o ouviu resmungar coisas como “Então tá, né”, assim como alguns xingamentos sem necessidade. Quem sabe um dia entenderia todo esse ódio que Nick sente por lobos.

— Agora, passo a palavra para meus oficiais – disse a voz do delegado ecoando pelo microfone ao fundo – Judy Hopps e Nick Wilde, eles lhes darão mais informações sobre o caso – as câmeras se direcionaram para os dois policias que se aproximavam, e o búfalo que se agachava para sussurrar alguma coisa aos dois. – Por favor – suplicou o búfalo antes que Judy e Nick subissem o palco para dar mais informações do caso à imprensa –, não importa o que eles perguntem, fujam do assunto preconceito! Entendido?

Os dois policiais fizeram que sim com a cabeça, se entreolharam confiantemente, e caminharam até o palco, já sendo recebido por flashes e um grande alvoroço de repórteres, câmeras e perguntas embaralhadas. Ao chegar no microfone, escolheram a dedo a qual pergunta atender primeiro, e Nick apontou para um leopardo que parecia ansioso com o braço vibrando.

— Oficial Wilde, Hopps, a sociedade híbrida está sendo ameaçada pelo departamento de polícia? – todos os olhos presentes vidraram nos dois policiais, que já sentiram as patas suarem ao já terem que lidar com uma pergunta delicada.

— Fora de cogitação – respondeu Nick, ainda um tanto aflito –, o nosso departamento está aberto para todos os cidadãos de Zootopia, sejam eles híbridos ou não. Por isso, eu e minha parceira Hopps – pôs a pata sobre o ombro da coelha, tentando acalmar seu nervosismo – nos encarregamos do caso para fazer justiça, como sempre fizemos.

Enquanto os repórteres anotavam o que ele havia acabado de falar, a raposa deu uma espiada na expressão do chefe Bogo, que pareceu se aliviar bastante com a resposta de Nick. Judy apontou para uma ovelha que balançava seu microfone.

— A sociedade híbrida sofre recriminação ainda nos dias de hoje, o departamento de polícia demonstra não fazer muito a respeito – e lá vinha outra bomba, fazendo com que as patas dos policiais, inclusive do delegado, começassem a suar novamente –, então, o que estão tentando nos dizer é que o departamento está declinando ao incluir híbridos como animais normais?

Desse jeito estava sendo difícil atender ao pedido de chefe Bogo, aparentemente, o assassinato pouco importava para a imprensa. Esta estava muito mais interessada no escândalo entre o departamento e a sociedade híbrida, coisa que deixou Nick um tanto irritado.

Judy, por sua vez, procurou com cautela as palavras certas.

— Bom – começou a coelha, acalmando-se pela pata de Nick em seu ombro –, o departamento, sim, por muitos anos ocultou todo o apoio para a sociedade híbrida. Contudo, os tempos mudaram, e também temos ajuda de detetives especializados no assunto.

— Vocês tiveram a ajuda de algum detetive? – perguntou uma onça sem pedir permissão.

— Err... – a imagem que veio à sua mente fora a expressão raivosa de Nigel caso ela revelasse sua participação no caso, e engoliu seco. – Sim... mas.... ele não quer se pronunciar.

— Oficial Hopps – um castor se manifestou enquanto outros repórteres se ocupavam com anotações –, o departamento é a favor da aprovação da lei dos direitos de proteção e defensão aos híbridos?

— Bom – a coelha começou a brincar com os dedos –, eu, pessoalmente, sou a favor.

— Então quer dizer que todo o resto do departamento é contra?

— N-Não foi isso que eu quis dizer... – gaguejou, começando a ficar mais nervosa. Nick, que também estava com a cauda entre as pernas, perdeu a fala. – O-O departamen–

— Vocês dizem apoiar a bandeira híbrida – uma onça pintada ergueu mais o seu microfone, interrompendo a policial –, contudo, seu delegado Bogo demonstrou em várias entrevistas um claro preconceito e intolerância quanto à inclusão de híbridos na sociedade – com aquilo, tudo pareceu ir pro brejo. Agora os policias suavam frio, e o delegado já procurava um buraco pra se enterrar. – Isso tende a alterar alguma coisa em seu depoimento de que “o departamento está aberto a todos os cidadãos”?

— E-Err... Bem... – a coelha gaguejou mais uma vez, como se implorasse aos céus uma resposta que não comprometesse seu emprego. Mas toda aquela demora pra responder parecia falar por si só. – Quanto a is–

— Por exemplo – a repórter onça a interrompeu mais uma vez, ajustando seus óculos –, caso algum animal híbrido entre para o departamento, ou melhor, caso algum policial assuma estar num relacionamento híbrido — Judy e Nick sentiram todos os pelos do corpo se arrepiarem –, como o departamento irá recebê-lo?

O que houve foi o silêncio total, o único barulho fora o dos flashes que pareceram se intensificar pela petrificação dos policias. Bogo lhes fazia sinal para cortar as perguntas, fugirem, arrancarem os pescoços, daria na mesma. Judy, que nunca estivera diante de uma pergunta tão difícil, respirou fundo e abriu a boca:

— Nós–

— N-Nós demo tudo de si, e... viramo o jogo! – dessa vez fora interrompida por Nick, que causou um alvoroço com sua bela frase de efeito, como um feitiço encantado, fazendo todos os repórteres ali presentes vidrarem os olhos em seus blocos de anotações. – Agora passaremos para o prefeito, Leãonardo.

Puxou Judy pelo braço, e ambos ignoraram qualquer outra pergunta dos repórteres, o prefeito sorriu para a dupla que descia o palco, e assumiu o controle, mandando todo aquele alvoroço embora. Os dois policiais levaram as patas ao peito, tentando acalmar o nervosismo.

— Bom trabalho – disse Bogo, depois de um longo e tenebroso inverno, esboçando um sorriso no canto do rosto. – Não sei o que seria desse departamento sem vocês.

—-X---

“Não sei o que seria desse departamento sem vocês”— Nick fez uma voz engraçada enquanto despejava café em sua xícara. – Disse o cara que quase nos demitiu porque estava nervosinho.

Judy ria das imitações de Nick deitada no sofá, um tanto incomodada pela bagunça que Nick fazia em seu apartamento. Como um chão poderia ter tantas blusas e cuecas espalhadas? Preferiu ignorar a desorganização do vizinho e limitou-se a pensar em algo para quebrar o gelo.

— Imagino que o chefe Bogo tenha aprendido a sua lição – comentou Judy, enquanto mudava desleixadamente os canais da TV. – Deve estar sendo dureza responder a essas perguntas todos os dias, um policial assassino não cai nada bem pro departamento.

— Ainda mais com essas questões sociais envolvidas – comentou Nick, concentrando-se em seu café quente, do jeito que ele gostava.

— Acha... – a coelha hesitou – acha que o chefe Bogo pode ter repensado seus conceitos com tudo isso?

Aquela pergunta, de alguma forma, lhes dava um calafrio na espinha. E sentiam todo o corpo suar quando tocavam num assunto parecido. Talvez por causa... daquilo.

— Pouco provável – Nick pegou sua xícara, saiu da cozinha e sentou na beirada do sofá, dando à coelha a visão de seu corpo desleixado se espreguiçando. Ela ainda tentava não olhá-lo por muito tempo. – Chefe Bogo deve ser o animal mais teimoso que já conheci, e... esse tipo de pensamento não muda facilmente.

— É... – suspirou Judy, um tanto decepcionada. – Tem razão.

E voltaram a ficar em silêncio. Nunca houve período mais silencioso em suas vidas, e ao mesmo tempo, inquieto. Quando a coelha e a raposa estavam juntas, era apenas o desconfortante silêncio, e a imensa necessidade de falar alguma coisa. De falar daquilo.

Nunca houve tanta hesitação.

Nunca houve tanta incerteza.

Nunca houve tanto medo.

Medo... pensar naquilo era assustador. Do que teriam medo?

Daquilo?

Ou do amigo?

E mesmo ali, tão assustados, perdidos, ainda sentiam a necessidade de escutar a doce voz do outro.

— Judy...

— Nick–

*DING-DONG*

A nova tentativa de diálogo foi interrompida pela campainha, que começou a tocar desenfreadamente quando os policiais começaram a demorar.

— Já vou – respondeu Nick, impaciente e sem a mínima vontade se receber visitas. E quando a porta se abriu, houve o estouro.

A raposa invadiu o apartamento sem sequer se cumprimentar antes, deixando a dupla surpresa. Venus não era de deixar a formalidade de lado, e aquela expressão eufórica em seu rosto era, no mínimo, intrigante.

— Cadê o controle? – ela perguntou com certo desespero, procurando-o no sofá, no chão, na mesa, até que o encontrou na pata de Judy. Tomou-o sem permissão e começou a mudar os canais. Nick fechou a porta e se aproximou do alvoroço. – A Gazella está falando de vocês!

Eles nem puderam processar direito, pois foram tomados pela imagem da charmosa gazela sobre a TV, sorrindo para as câmeras, sempre carismática.

Então, Gazella— dizia o entrevistador do outro lado da tela –, está nos dizendo que é a favor da comunidade híbrida?

Não só sou a favor, como estou pondo em massa diversos projetos de conscientização— respondeu a cantora, convicta. – O que esses policiais fizeram foi algo incrível. Desafiaram o próprio departamento, por mais conservadoras que as ideologias do mesmo fossem, e ergueram a bandeira da justiça quando a comunidade híbrida mais precisou.

Por mais que a ficha ainda não tivesse caído por completo, os policiais não conseguiram evitar um sorriso involuntário no rosto. Venus, que já sorria desde que entrou no apartamento 1002, bateu algumas palminhas em comemoração.

O mundo é repleto de diversidades que devem ser acolhidas, principalmente quando estas interferem o amor— os policiais sentiram o coração aquecer. – Imagine o quão terrível seria se todos nós fossemos iguais. O mundo precisa de diversidade tal como precisa de amor. A comunidade híbrida sofre tanto com esse medo de não ser aceito apenas por amar quem amam — agora, o que os policiais sentiam era um certo aperto. – Imagine... imagine o quão terrível seria o mundo sem amor... é a única coisa que nos mantém vivos, e toda forma de amor deve ser válida.

São palavras muito bonitas, esperado de você, Gazella— comentou o entrevistador, fazendo a cantora sorrir. – Então você acredita que o feito de Judy Hopps e Nick Wilde foi um avanço para a interação entre comunidade híbrida e a justiça?

Com toda certeza— respondeu a gazela sorridente. – Zootopia precisa, e sei que terá mais exemplos de aceitação e respeito. O preconceito apenas fará com que a sociedade fique estagnada no mesmo lugar.

Depois dali, cortou para os comerciais, e as mentes de Judy e Nick, por mais que inquietas, estavam em festa. Venus abraçou os dois policias e lhes deu um beijo no rosto.

— Vocês são meus orgulhos! – exclamou, toda sorridente. Mas, os policiais ainda não reagiam. – O que há com vocês? A Gazella– A GAZELLA acabou de falar sobre vocês! Não estão nem um pouco felizes?

— Estamos sim, claro – respondeu Judy, que ainda ficava meio envergonhada perto de Venus, considerando tudo o que quase fez. – É que... foi uma surpresa muito grande.

— É... – concordou Nick, também meio sem jeito.

— Isso merece uma comemoração! – exclamou Venus, quase dançando de alegria no meio da sala. – O que acha de comermos um hamburgão mais tarde?

— Não acho que vou poder – respondeu Judy, se levantando do sofá cabisbaixa. Antes que Venus pudesse protestar, ela fingiu um sorriso e se dirigiu para a porta. – Estou com dor de cabeça... divirtam-se.

E deixou as raposas a sós, o que não melhorou muito o clima. Afinal, considerando aquilo, Nick também se envergonhava perto de Venus. A pobrezinha não entendia nada, e ficava cada vez mais sem graça.

Sentou-se perto de Nick, segurou em sua pata, e disse:

— Tem alguma coisa acontecendo, não tem? – ele nada respondeu. – Pode dizer...

Juntou toda a coragem que tinha e olhou para aqueles olhos castanhos, que pareciam esconder diversas lágrimas solitárias. Pobre Venus. Sempre se queimando em meio àquele incêndio. Sempre confusa. Sempre querendo ajudar.

E Nick não aguentava mais aquilo, não aguentava mais vê-la se machucando, não aguentava não retribuir. Agora seria a sua vez de ajudá-la. Respirou fundo, olhou-a no fundo dos olhos, e disse:

— Precisamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Então... curtiram? Deixem seu comentário, por mais que eu demora pra responder, amo ler todos eles ;w;
Espero que entendam que, por várias razões que já expliquei, talvez eu demore com o próximo.
Kissus ♥