Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 12
Orgulho e preconceito


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, a maior demora da vida. Vou deixar para explicar tudo nas notas finais, então não deixe de lê-las ;)
Boa leitura!



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Nenhum dos dois, em especial Nigel, fazia ideia do que estava acontecendo. Houve o incidente com o frisbee, e após um diálogo estranho e desconfortável, a oficial Hopps arrastou o senhor Wolfgang para um café logo ao lado do parque. Motivos? Desconhecidos.

“Mas por que diabos eu fiz isso?”, ela se perguntava freneticamente enquanto o lobo a encarava com curiosidade e certa irritação. De certa forma, pensou que o único motivo por tê-la seguido fora o fato de tê-la atingido um frisbee na testa. Mas, ainda assim, não faziam ideia como e porque estavam ali, sem dizer nada um para o outro na situação mais desconfortável possível.

O garçom se aproximou deles e trouxe seus pedidos, um chocon up para Judy, e um cappuccino para Nigel. No momento em que ele se afastou, a coelha sentiu uma necessidade imensa de quebrar aquele silêncio torturante.

— Então... o que estava fazendo no parque? – nem ela conseguia acreditar que essa era a melhor pergunta que lhe viera em mente. Estremeceu quando o lobo bufou em tédio.

— Brincando com meu afilhado – disse ele com o olhar gélido, talvez o cappuccino o esquentasse um pouco. – Ele tem cinco anos e adora brincar com frisbee.

— Oh, eu... – começou a coelha, um tanto constrangida – atrapalhei?

— Não. Ele dorme cedo, seus pais já o levaram pra casa – ele bebeu mais um gole de seu copo, e enfim, olhou para ela não tão ameaçador. – Me desculpe pelo que aconteceu, aliás. Machucou?

— Hein? Ah... – levou a pata à testa, já não sentia mais nada. – Imagina, não foi nada.

O silêncio retornou, e o desconforto parece ter aumentado. Ao menos aquela situação estranha estava fazendo a policial esquecer completamente porque estava estressada, não pensava mais em Nick, tão pouco em Venus.

Na verdade, tudo o que vinha em mente eram os motivos de ter chamado Wolfgang para tomar um café. Certamente ele aceitou o convite por cortesia, o lobo era orgulhoso demais para aceitar o convite de uma policial, sem dúvida aquele frisbee veio a calhar. Seria aquela a oportunidade perfeita para provar a Wolfgang que não era como os outros policiais?

Mas, mesmo com tudo aquilo na cabeça, não poderia esquecer que precisava falar alguma coisa.

— E-E o trabalho, como vai? – perguntou, meio tímida e gaguejando sem querer, escondendo a vergonha enquanto provava de seu doce. – Você é advogado, não é? Deve ser dureza.

— Não é pra tanto – o lobo deu de ombros, tentando parecer o mais indiferente possível. – Eu gosto do que faço, por mais complicado que seja.

— Entendo.

— Tsc – agora ele tinha uma expressão um tanto irritada, coisa que assustou a coelha.

Nigel levou a pata ao queixo, apoiando-o, enquanto encarava a vista da janela num ar distante. A cada minuto que passava com ele, mais se convencia de que estava diante de um animal misterioso.

— A parte difícil está na minha vida de detetive – Nigel voltou a olhar para a policial, como se, de certa forma, a culpasse por sabe-se lá o quê. – Se já não tinha muito tempo sendo apenas advogado, este é reduzido mais ainda com tantos casos para desvendar.

— Sei – ao mencionar sua vida dupla, a coelha já esperava uma bronca, e fez cara de paisagem enquanto ele parecia se enfurecer com os próprios pensamentos.

— Devo isso à ZDP – Nigel juntou mais suas sobrancelhas grossas, “Pronto. Eu sabia que ele diria algo assim”, pensou Judy que continuava disfarçando. – Se aquele departamento incompetente movesse as patas e deixasse de tanta hipocrisia, a minha vida, e a de todos híbridos seria-

— Mais fácil, eu sei – Judy o interrompeu num impulso, de início, não tendo a mínima ideia de porquê fez aquilo. – E concordo plenamente com você.

A coelha preencheu a boca com chocolate e o silêncio reinou outra vez, mas as posições pareciam invertidas. Judy aguardava uma reação do lobo enquanto este ficara sem palavras, realmente, não esperava essa resposta de uma policial.

A menor analisa a expressão de Wolfgang, sem cantar vitória, aproveitou a brecha para tentar o impossível.

— Sabe... pra ser bem sincera, nem sempre eu apoiei o hibridismo – começou ela, enquanto fitava seu próprio reflexo em sua xícara, agora vazia. Wolfgang não tirou os olhos dela. – Na verdade, sempre estive em cima do muro. Mas depois de ficar de frente com essa realidade, com o preconceito e tudo mais, percebi que... é tão errado julgar um animal apenas por amar uma espécie diferente da sua.

As palavras simplesmente saiam da sua boca, acabou levando aquilo para um lado mais pessoal que deveria. Wolfgang, sempre com um pé atrás, retrucou:

— Se está me dizendo essas coisas para que eu colabore com o caso, desista – disse, seca e friamente. Ele tinha o dom de ser rude, mas Judy pouco parecia estar ligando.

— Sabe, senhor Wolfgang, nem tudo nessa vida é trabalho – olhou para ele e sorriu, mesmo que um tanto forçado. – Apesar de que... tudo começou com esse caso – começou a brincar com a colher, girando-a por todo o formato da xícara. – Acho que ele... quebrou meu orgulho.

— Orgulho? – ele estranhou.

— Sim, orgulho – os olhos violeta vidraram-se na paisagem da janela, assim como os azuis do lobo. – Zootopia é um lugar onde tem de tudo, animais de mente aberta, e os de mente fechada. Acho que é injusto dizer que estava em cima do muro, por mais que eu não quisesse admitir, também era uma mente fechada – para dizer uma coisa dessas, devia ter esquecido completamente com quem estava falando. Mas tudo o que ela esqueceu foram as formalidades, naquele momento, não via Wolfgang apenas como a solução para o caso. Era um animal como qualquer outro. – Mas – sorriu sem motivo –, não percebi que tudo isso não passava de orgulho.

— E preconceito – complementou o lobo, involuntariamente.

— Orgulho de admitir que era um preconceito – eles voltaram a se olhar. Nigel nunca pareceu tão sereno para ela. E Judy nunca pareceu tão inocente para ele. – Esse mesclado de orgulho e preconceito é o que impede o mundo de evoluir, abraçar o novo, mesmo numa sociedade tão utópica como Zootopia.

Estava um clima realmente agradável de se aproveitar, a essa altura, ambos haviam se esquecido completamente do caso, se perdendo na sinceridade dos olhos do outro. Toda aquela conversa de orgulho o fez enxergar o próprio que sempre sentia quando olhava para a pequena policial à sua frente. Tão pequena, mas com tanto a dizer.

Pela primeira vez, Nigel Wolfgang esboçou um sorriso. Assustador, de fato.

— Orgulho e preconceito – olhou para a coelha, ainda surpresa pelo sorriso, com um olhar reflexivo. – Parece até o nome de um filme.

Um sorriso e um gesto simpático de Wolfgang, realmente, aquilo não poderia ficar mais estranho. Tudo o que Judy pôde fazer fora rir da situação.

— E é mesmo um filme – respondeu.

— Sabia que já tinha ouvido esse nome em algum lugar.

Os dois trocaram risadas simples, sinceras e um tanto confortantes. De todas as pessoas, nunca se imaginariam ali, às cinco da tarde, fazendo um lanche na cafeteria do parque central, na companhia do outro.

No momento, tudo no qual Judy conseguia pensar era na possibilidade de Wolfgang absorver toda aquela conversa do orgulho e, por um acaso, tornarem-se amigos.

— Oficial Hopps – ele a tirou de seus devaneios, pedindo sua atenção.

— Judy – disse ela, sorrindo. Ele ficou um tanto surpreso. – Me chame de Judy.

Após alguns segundos de silêncio, Wolfgang atendeu o pedido e ignorou as formalidades, enfim. Mas ele ainda estava com cara de quem estava prestes a dizer algo sério.

— Ju-

Antes que ele pudesse, ao menos, dizer seu nome, seu celular vibrou em seu bolso e ele xingou baixinho. Era uma mensagem, o lobo leu rapidamente e soltou um suspiro cansado, levantou-se da cadeira e olhou para a menor.

— Precisam de mim no cartório. Nos falamos qualquer dia – e dirigiu-se para o balcão para pagar seu cappuccino.

Judy ainda estava sentada com os olhos fixos no lobo. Não. Ela não poderia deixar as coisas acabarem assim. Se levantou e correu até ele com um cartão em sua pata.

— Espere, Nigel – este olhou para baixo, um tanto surpreso por ter sido chamado pelo primeiro nome. Aparentemente as coisas seriam assim daqui pra frente. – Por favor... me ligue se sentir que deve.

—-X---

Judy caminhou até seu prédio, saltitante e com o olhar radiante. Quem diria que a conversa com Wolfgang seria um sucesso? Caso se permitisse sonhar um pouco, em poucos dias ele estaria ligando para eles se encontrarem novamente e lhe ajudar com o caso.

Sentia-se feliz, útil. Oficial Hopps estava de volta à ativa.

Mas o sorriso só permaneceu no rosto até entrar no elevador e encontrar-se com Venus. Lembrou-se de como a tratou, do ciúme patético que sentia, e sentiu o rosto esquentar. A raposa, por outro lado, limitou-se em encará-la com certo desconforto.

Sem dizer nada, a coelha parou ao lado da vizinha e apertou o botão de número dez. A porta fechou, e o silêncio continuou. “Fala alguma coisa”, pensou Judy, a ponto de roer as unhas de vergonha e nervosismo. Por mais que tentasse, as palavras não saiam da sua boca. Estava cada vez mais desconfortável. Mais sufocante. Mais desesperador. Mais...

— Está tudo bem, Judy?

— O-O quê? – a coelha quase pula por tamanho susto, não esperava que Venus fosse dizer alguma coisa depois do que houve mais cedo, tão pouco naquele olhar preocupado que ela tinha.

A raposa estranhava cada ação da coelha, como se não fosse a mesma Judy, a mesma amiga. Mal sabia ela que Judy também não se sentia a mesma. Venus suspirou, e tentou acalmar a menor com um olhar sereno.

— Você tem andado estranha ultimamente – disse a maior, fazendo o possível para que aquilo não soasse ofensivo. – Está com raiva de mim? Eu fiz alguma coisa?

Aquilo, em conjunto com o olhar preocupado que Venus tinha, a apunhalou direto no peito. Agora tudo o que sentia era culpa. Culpa de fazê-la se preocupar, sentir-se culpada mesmo não tendo feito nada errado, e também por magoar a amiga. Como pode deixar um ciúme tomar conta até mesmo da amizade que tinha com Venus?

Ou melhor, como pode deixar o ciúme tomar conta de si mesma?

Fitou os olhos castanhos e preocupados de Venus, suspirou, e pensou “Eu sou mesmo uma idiota”. Fingiu um sorriso no rosto e disse:

— Você não fez nada, Venus – disse, sem coragem de olhar nos olhos da vizinha. – Só... Tenho tido muito trabalho. Estou sobrecarregada.

— Tem certeza? – Venus pôs a pata em seu ombro, involuntariamente forçando-a a tomar coragem para encarar seus olhos.

— Sim. Não precisa se preocupar – mentiu, sorrindo.

Venus sentiu um grande peso sair de suas costas, Judy sentiu o seu pesar ainda mais. A raposa sorriu no momento em que a porta do elevador abriu novamente, parando no sexto andar. Os belos da cabeça de Judy foram bagunçados pela pata de Venus antes da despedida.

— Então vamos sair algum dia pra você relaxar um pouco – deu uma última piscadela para a coelha, acenou, e a porta fechou novamente.

Judy jogou o corpo contra a parede e deu um suspiro cansado. O olhar preocupado de Venus não saia de sua cabeça, assim como a hipótese de se resolver com Nick.

Mas como se resolver com o outro quando não se está resolvido consigo mesmo?

—-X---

Pela primeira vez, Judy não foi para a delegacia na companhia de Nick. Quando acordou, ele já tinha ido na frente. De todas as coisas estranhas que ele já fez, certamente essa foi a pior delas.

Manteve a calma, respirou fundo, e correu para a ZDP, seu encontro com Nick fora em sua sala, ele já estava arrumando a papelada. A dupla trocou olhares rápidos, brevemente a coelha sentou-se em sua cadeira e começou a fazer o mesmo que ele.

O silêncio durou uns quinze minutos, até Nick dizer:

— Vai ficar sem falar comigo então?

Não teve coragem de olhar para ele, pelo tom sarcástico e de certa intimidação, com certeza não estava com uma cara bonita. A carapuça serviu tão bem que Judy ficou sem argumentos, deixando a boca falar por si só.

— Não estou sem falar com você.

— Não é o que parece – ele retrucou, um pouco mais irritado. Não houve resposta da coelha, aquilo o decepcionou mais do que ele mesmo imaginara. Bufou, e virou-se mais uma vez. – Ah, dane-se.

Aquilo foi como mil facadas nas costas. Eles sempre discutiam, mas nunca brigaram daquele jeito. A coelha sentia-se sem chão, pior, sem seu melhor amigo.

Pensou em Venus, na conversa que teve com ela ontem, lembrou-se de seus erros e tudo o que a estava alegrando. Respirou fundo, e para a surpresa de Nick, Judy virou a cadeira e olhou para ele com um sorriso no rosto. Mesmo que este fosse fingido.

— Está tudo bem, Nick. É sério – mentiu, com a cara mais lavada possível. Sem tanta coragem para encarar o verde dos olhos de Nick, revirou o olhar mais uma vez e manteve-o preso na papelada. – Eu só... ando meio estressada.

Houve um certo silêncio, apesar de conhece-la, e saber que ela não estava sendo lá muito sincera, ficou feliz em saber que as coisas se ajeitariam dessa forma. Suspirou aliviado e voltou-se para a papelada também.

— Podemos ir ao cinema nesse fim de semana pra dar uma descontraída do trabalho.

Finalmente Judy esboçou um sorriso sincero.

— Seria uma ótima ideia.

Voltaram a se olhar, sorrindo um para o outro. Nick se aproximou, levou a pata até a cabeça de Judy, e bagunçou seus pelos, ambos trocando risinhos.

— Só me fala, o que deu em você ontem? – perguntou o maior. Para ele era uma pergunta simples, para ela, um novo aperto no peito.

— Eu...

O celular de Nick tocou naquele mesmo instante, sem pedir licença, ele atendeu.

— Alô? – mesmo que involuntariamente, manteve-se atenta à conversa no momento que o viu sorrir de canto. – Oi, Venus.

A paz evaporou, agora toda a atenção de Nick estava voltada para aquele aparelho insignificante. O estresse de Judy voltou em questões de segundos enquanto as raposas conversavam por telefone, coisas que ela nem preferia ouvir.

Talvez as coisas seriam mais fáceis se um dos orgulhos de Judy não atrapalhassem.

Orgulho...

Seria isso o que estava sentindo?


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Notas finais do capítulo

LEIAM AS NOTAS FINAIS.
Então, como devem ter percebido, meu timing para a postagem deu uma desacelerada gigantesca. Mas explicarei tudinho agora. Bom... como já sabem, tenho uns probleminhas pessoais, esses me tiram da vida da escrita, fico meio desmotivada e sem inspiração. E me recuso a sentar a bunda na cadeira, escrever qualquer coisa e enviar para o site. Quero trazer pra vocês capítulos de qualidade, até verei o filme mais uma vez pela internet para pegar o gás mais uma vez. No momento, estou com vontade de escrever outras coisas, dar uma parada em Zootopia, não que a fic vá parar, muito pelo contrário. Agora estabelecerei um timing certo para a postagem, e lá vai:
OS CAPÍTULOS AGORA SERÃO POSTADOS A CADA DUAS SEMANAS TODO FIM DE SEMANA.
É claro que isso pode variar, mas por exemplo, postei esse capítulo hoje, então isso indica que daqui a duas semanas, sairá na sexta, sábado ou domingo. Esse é o prazo que estou me dando, é claro que pode haver destoamento de vez em quando, mas sou virginiana, tenho aptidão para me organizar kkkk. Então lembrem-se: A CADA DUAS SEMANAS, TODO FIM DE SEMANA.
(Aliás, nesse feriado planejo postar algumas shortfics ou oneshots de One Piece, quem curte o anime, fica de olho ^^).
Espero que entendam, e até a próxima o/
Kissus ♥