Inevitavelmente Sua escrita por Nah


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!♥



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Entrei no carro de Felipe e seus olhos grudaram em mim. Ele continuou assim por bons segundos, estragando meu plano de não ter que olha-lo por muito tempo.

O olhei irritada.

— Podemos ir? O evento já começou. – me esforcei para manter minha expressão de desgosto, mas por dentro estava boquiaberta. Ele estava incrível! De terno, cabelo levemente molhado, aquele cheiro – de perfume, banho e homem – por todo lugar, me inebriando, a barba sempre por fazer. Arrisquei olhar para sua boca, e ao lembrar que ela já esteve na minha – 2 vezes –, em meu pescoço, senti um arrepio percorrer meu corpo.

Na mesma fração de segundo, desviei meu olhar para frente. De relance pude ver sua boca se torcer em um sorriso, enquanto ele saía para o transito.

— Sim, senhora. A proposito, você está linda.

Senti meu rosto queimar. – Obrigada.

Ele permaneceu com aquele sorrisinho no rosto boa parte do caminho. Era difícil de ignorar. No meu banco, eu implorava para que chegasse logo no evento e ao mesmo tempo me amaldiçoava por ter o chamado pra ir comigo. Onde eu estava com a cabeça? Deveria ter ficado em casa, embaixo das cobertas. Agora estava aqui, presa nesse carro com ele, seu cheiro e minha vontade louca de pular em seu colo e arrancar fora sua boca com um beijo.

O que?

Eu pensei mesmo isso?

— Sabe, você me surpreendeu. – Felipe começou a falar, me assustando. – Não esperava que me chamasse para te acompanhar, muito menos que o motivo disso fosse fazer algo bom para mim. Você vive tentando me afastar e é bem detestável...

Bufei, um sorriso irônico no rosto. – Até os monstros tem seus momentos de insanidade e ironia.

— Você não é um monstro, Mariana. – o olhei, o desafiando com o olhar.

— Como você sabe? Você não me conhece.

— Porque você não deixa.

— É verdade. Há um limite rígido nesse ponto entre os homens e eu.

Ouço sua risada.

— O que você tem contra os homens? – Felipe falou, e em seguida ficou serio. – Espera, você é lesbica?

Revirei os olhos. Fala sério. – Não, não sou. Apenas detesto vocês.

Um sorriso bem sugestivo, malicioso até, foi surgindo em seus lábios. – Também não acho que seja. Do contrario, não me beijaria com tanta vontade como fez da ultima vez.

Tive certeza que meu rosto ficou vermelho. Ele estava me provocando. Babaca!

Bufei irritada, e ao perceber que ele já havia estacionado, pulei para fora do carro, o deixando pra trás, rindo. De mim.

*

O salão em que acontecia o lançamento do perfume estava lindo. Cada parte decorada em dourado e branco, exatamente como o perfume. Alguns banners e propagandas feitos pela Acesso estavam em pontos do salão. Não pude conter meu sorriso de orgulho.

Muitas pessoas estavam espalhadas pelo salão, bem vestidas e com ­– provavelmente – o champanhe mais caro em mãos. Antes de irmos até elas, me virei para Felipe, que seguia caminho ao meu lado.

— A Acesso fez a campanha desse perfume. A maioria das pessoas aqui é importante. Então seja um bom garoto e tome cuidado com o que vai falar da empresa. Não estamos aqui à toa.

Ele revirou os olhos. – Não sou uma criança, Mariana.

— Não vou correr o risco.

— Você é muito chata. – sorri para ele com falsa meiguice, o provocando. Ele revirou os olhos novamente, mas havia a sombra de um sorriso em seus lábios.

Passei os minutos seguintes cumprimentando várias pessoas e apresentando o Bragança para elas. Ele parecia se dar bem com todas elas, principalmente com as mulheres. Revirei os olhos mentalmente ao constatar isso.

— Os homens estão te comendo com os olhos. – Felipe sussurrou pra mim, cortando minha linha de pensamento. Sorri irônica.

— Com ciúmes?

Ele sorriu de um jeito deliberadamente forçado, como se eu tivesse dito uma piada sem graça, mas não disse nada.

Quando finalmente paramos, roubei a ultima taça de champanhe da bandeja de um garçom que passou por nós. Dei um longo gole, enquanto Powerful, do Major Lazer, começava a tocar.

Levantei a taça até a boca novamente, mas Felipe a tirou da minha mão antes que eu pudesse beber, e depositou na bandeja do primeiro garçom que passou.

— O que você tá...

— Dança comigo. – ele me interrompeu. Meu rosto se contorceu confuso.

Mas antes que eu pudesse dizer algo, Felipe já havia agarrado minha cintura e colado meu corpo no dele. Aos poucos, foi me conduzindo, nossos corpos se movimentando juntos, em perfeita sincronia, nossos olhos não se largando jamais. Eu me sentia embriagada, zonza – tamanho clima que rolava entre nós – o jeito que ele me olhava, me tirando de orbita. Eu conhecia aquela musica, sabia o que a letra queria dizer. Parecia uma ironia estarmos dançando ela. Felipe me girou, duas, três vezes. Parecíamos dominar o salão. Parecia não haver mais ninguém ali. Sua presença dominando meu mundo.

Quando a musica acabou, permanecemos nos encarando. Suas mãos em minha cintura, meus braços envolta do seu pescoço. Seu olhar desceu até encontrar minha boca, e isso me despertou. Me desvencilhei de seus braços, me afastando.

— Vou ao banheiro.

E corri pra longe dele. Demorei um pouco para encontrar o banheiro, e quando o fiz, me debrucei sobre a pia, respirando fundo varias vezes. Havia algumas mulheres lá, mas não me importei em parecer uma louca. Eu estava enlouquecendo mesmo. Quando elas saíram, me encarei no espelho. Meu rosto estava levemente vermelho e eu estava com calor.

Que diabos estava acontecendo comigo? Homem desgraçado!

Retoquei o batom e saí do banheiro. Não encontrei Felipe onde o deixei, e antes de conseguir ir procura-lo, algumas pessoas me pararam. Cumprimentei todas elas, fiz alguns joguinhos de marketing sobre minha empresa. Quando finalmente a conversa acabou, me virei para ir atrás de Felipe, mas não precisei ir muito longe.

O encontrei entre duas mulheres, conversando animadamente. Elas eram lindas, muito mais lindas que eu – a comparação foi inevitável. Ele parecia bem à vontade, elas mais ainda, tocando em seu braço e ombro, balançando-se a cada riso. Aquela cena desceu amarga. Me manti longe, observando enquanto ele acabava a conversa com uma e encontrava outra. Ele levou bem a serio o lance de expandir a network.

Peguei uma taça de champanhe e virei de uma só vez. Repeti isso com muitas outras, entre conversas banais com algumas pessoas que se aproximavam de mim. Tentei parecer interessada, mas meus olhos não largavam o babaca Bragança. Ele nem havia se preocupado em ir me procurar. Que ódio desse cara!

Fui até o bar, já me sentindo um pouco alta, e pedi mais álcool. Bebia com raiva, estava irada. Meus olhos observando a cena, em minha mente estrangulando o Felipe e a mulher peituda com quem ele conversava agora.

Muito álcool depois, eu estava pra lá de bêbada. Minha mente girava, tudo girava. Tentei andar, querendo ir embora, mas quase dei de cara com o chão, tropeçando em meus saltos, me fazendo rir alto de uma forma bem tosca. Não fazia ideia de que horas eram, mas aquele salão estava tão quente, me sentia sufocada.

Senti mãos me agarrando quando, mais uma vez, quase fui ao chão.

— Você está bêbada? – ergui o olhar, encontrando um Felipe parecendo horrorizado. Soltei um risinho.

— Claro que não. S-só bebi um copinho só. – falei, mostrando dois dedos pra ele, enrolando as palavras.

— E você ainda vem me falar de passar boa impressão. – ele parecia com muita raiva. Fechei a cara, tentando ficar brava para imitar a sua, mas desatei a rir descontroladamente. Felipe bufou e segurou meu corpo contra o seu.

— Vamos embora.

Me colocou no carro e tentava colocar o cinto em mim.

— Não faça essa cara pra mim. Você que é o ba-babaca aqui. – tentei falar mais alguma coisa, mas o jeito que ele me olhou me fez calar. Joguei minha cabeça contra o encosto do banco, me sentindo enjoada, e apaguei assim que o carro ganhou movimento.

*

Acordei sentindo um movimento em meu ombro. Alguém me sacodia. Bufei irritada, minha cabeça latejava demais.

— Vamos Mariana, acorda. – ao reconhecer a voz de Felipe, acordei instantaneamente. Arregalei os olhos, encontrando a claridade do sol que entrava pela janela. E um quarto que não era o meu.

Felipe riu e tentou me puxar, mas me agarrei à cama, e tudo que ele conseguiu foi tirar o edredom de cima de mim. O olhei, pronta para xingar – ou bater – nele por ter me trazido para sua casa – ou por ter me acordado –, mas minha reação morreu ao ver para onde seu olhar se dirigia. Meu vestido estava embolado em minha cintura, deixando minhas coxas e parte da calcinha amostra. Mas o olhar confuso e assustado de Felipe estava nas minhas cicatrizes.

— Mariana, o que... O que foi isso? – me levantei apressada, tombando com ele ao pegar meus saltos no chão. Isso não podia estar acontecendo. – Fala comigo, Mariana.

— Me deixa. – falei, quando achei minha bolsa ao lado da cama. Corri para fora do quarto. Felipe assustado, eu desesperada. Ele veio atrás de mim, tentou me parar, mas eu estava uma pilha. Só queria sair dali.

Apertei o botão do elevador varias vezes seguidas, enquanto sentia ele se aproximando de mim. Felipe agarrou meu braço, me virando bruscamente pra ele.

— O que aconteceu com você, Mariana?

— Isso não é da sua conta.

— Você está me preocupando. Você não come, chora no trabalho, e agora vejo isso. Eu quero saber o que está acontecendo.

— Pega uma daquelas mulheres para se preocupar. – tentei me soltar de seu aperto, mas ele me segurou mais.

— Que mulheres, cara?

— Pensa bem quem foi sua companhia da noite passada. Dica: do sexo feminino, mas não sou eu. Não fui eu, a idiota que te levou naquela festa pensando no teu futuro profissional. Bem feito pra mim!

Felipe me encarou por alguns segundos e franziu mais o cenho.

— Foi por isso que você encheu a cara? Ciúmes?

Bufei, tentando parecer incrédula com o que ele disse. Nesse momento, ouço a porta do elevador abrir, e é a deixa perfeita para eu sair correndo dali. Para longe dele.

*

Ignorei minha mãe chamar quando apareci no apartamento. Apenas corri para meu quarto e tranquei a porta. Jogada na cama, permaneci encarando o teto, o rosto inexpressivo, lagrimas escorrendo. Ele era um idiota. Eu era uma idiota. Talvez até mais, por estar o deixando fazer isso comigo. Por estar me deixando envolver. Alcancei meu celular na bolsa e, numa atitude quase inconsciente e incontrolável, coloquei Powerful para tocar. À medida que a letra me embalava, aumentava o aperto que sentia no peito.

“Eu não poderia ir embora, nem se quisesse,

Pois algo continua me empurrando em sua direção...”.


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