Inevitavelmente Sua escrita por Nah


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Segue então mais um draminha para inquietar nosso shipp... Boa leitura!!



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Passei o resto do dia escondida na casa da Carol. Não me dei o trabalho de ir para empresa – não no meu estado -, não sei se o Felipe foi. Mesmo a Carol trabalhando o dia todo, preferi ficar jogada na cama dela a ter que aguentar minha mãe, ou pior – ter que encontrar Felipe.

Ele não iria me deixar em paz depois de ver as cicatrizes, e não era um assunto que eu estava afim de acordar. Muito menos com ele. Não entendia sua preocupação comigo, mas dado o fato de que ele é um galinha cafajeste, não deve ter motivo emocional.

Grunhi irritada ao lembrar a noite passada. Como pude ser tão idiota? Ficar bêbada no meio de todas aquelas pessoas por causa de um babaca. Estava tentando bloquear os pensamentos das possíveis consequências do aconteceu ontem a noite e, obviamente, falhando. 1º consequência: provavelmente – e muito possivelmente – manchei a imagem da empresa com a minha atitude ridícula e inapropriada. Não sabia se tinha chamado muita atenção – estava embriagada demais pra notar –, mas isso não seria difícil de descobrir. 2º consequência: elevei o ego do Felipe, porque agora ele com certeza está achando que eu estou de 4 por ele. Mas claro que não estou. Não mesmo.

Não sei o que deu em mim. Sempre fui tão controlada, ainda mais em relação a homens. Nunca deixo que eles me afetem, e sim faço o possível – e impossível – para que eles sejam os que saem mal na historia. Mas com Felipe não é assim. Não consigo me manter indiferente. Só seu olhar direcionado para mim já consegue me afetar.

Argh! Por isso odeio os homens. Por isso odeio Felipe. Só trazem dor de cabeça.

— Cheguei, Mari. – ouço a voz da Carol vinda de algum lugar da casa. Me obrigo a levantar da cama. Estou apenas em pijama e meias. Deprimente.

Ao me ver, Carol abriu um sorriso carinhoso e seus braços para mim. A abracei apertado. – Ah, minha amiga tá sofrendo por amor. Não imaginei que esse dia ia chegar tão rápido.

— Vou demiti-lo. – falei, com o rosto ainda apoiado em seu ombro. Carol segurou meus braços e me afastou, apenas para me encarar com o rosto surpreso.

— O que? Mas por quê?

— Como assim por que Carol?

— Mas você falou que ele é bom no trabalho. Demitir ele porque você está apaixonada por ele não é nada profissional.

— Nossa relação não tem sido nada profissional, Carol. Já passou da hora de dar um fim nisso. – volto a me sentar na cama e abraço um travesseiro, meu olhar perdido. – Ele realmente é bom, então não vai ter grandes problemas. Posso até fazer uma carta de recomendação, sei lá. Só o quero longe.

Carol suspira e senta ao meu lado, sua mão aperta minha perna. – Eu sei que isso tudo é medo. Mas Mari, você pode tá perdendo uma grande oportunidade de ser feliz e...

— Chega, Carol. Não insista. Não vou me jogar de cabeça nessa loucura. Acabou.

Isso mesmo. Acabou. Amanhã ele estará longe da minha empresa e tudo voltará ao normal. Pelo menos é o que espero. Quando penso nisso, sinto um vazio enorme, como se algo estivesse sendo arrancado de mim. Com certeza é fome.

Salto da cama, indo em direção à cozinha da Carol, e grito. – Você tem sorvete?

*

Volto para casa no final do dia. Estranhamente, sinto vontade de passar em todos os lugares que detesto. Shopping, supermercado, até vou atrás de brigadeiro. Estou tendo uma seria crise de necessidade de açúcar. Quando finalmente estou no caminho de casa, percebo que, no fundo, eu estava tentando enrolar, me enganar para não ter que voltar para casa logo e então amanhã chegaria mais rápido. Bufo para mim mesma. Como se isso fosse fazer o tempo parar.

Já demiti outras pessoas antes, não tenho qualquer problema com isso. Felipe é só mais um. Só mais um. É o que eu tenho pensado dele desde o começo, mas ele tem me provado teimosamente ser o contrário.

Quando chego, antes que eu consiga entrar no prédio, o porteiro me para.

— Senhora Albuquerque. Um homem esteve aqui mais cedo, a sua procura. – continuo o encarando interrogativamente. – Se não me engano, é o mesmo que veio aqui da outra vez.

O Felipe esteve aqui? Por quê? Será que aconteceu alguma coisa na empresa? Pesco meu celular na bolsa e não há chamadas perdidas. Não, ele só quer me irritar mesmo.

Olho para o porteiro, que me encara assustado. Suspiro, e lhe dou as costas, voltando a seguir meu caminho. Ouço um resmungo, e no momento que me viro ele se endireita. O olho desconfiada e ele sorri sem graça. Mereço.

Mamãe está jogada no meu sofá, com uma caixa de bombons no colo. Isso explica seu ganho de peso. Ela sorri abertamente pra mim.

— Chegaram essas flores para você. – ela aponta para um buquê sobre o balcão da cozinha. Franzo o cenho. E meu coração dispara ao imaginar que talvez sejam dele. – E esses bombons. Desculpe querida, estava precisando de um doce.

Me aproximo das flores e pego o pequeno envelope nele. “Se me der outra chance, juro fazer essa ser a melhor escolha que fez na vida. Victor.” Reviro os olhos. Nem sequer me lembrava de quem era Victor. Provavelmente, mais um babaca da minha lista.

— Esse Victor é aquele com quem você saiu ontem?

— Leu meu cartão?

Claro que leu. Helena não consegue manter as mãos longe do que é dos outros. Pego um bombom da caixa e me sento na poltrona ao seu lado, com as pernas cruzadas. Pelo menos o babaca acertou no chocolate.

Olho para minha mãe, que está entretida em um programa qualquer na TV.

— Você tem saído com outros caras?

Ela para o chocolate no ar, encarando a televisão, permanece em silencio por um bom tempo, tanto que acho que não me ouviu. Quando vou perguntar novamente, ela finalmente fala.

— Mas é claro. Os homens da França são magnifiques. — não sinto segurança na sua voz, mas apenas a observo. Desde que ela foi embora para França tento imaginar se mais caras caíram na lábia dela. – Você deveria voltar comigo.

— Porque eu não tenho uma empresa pra cuidar, não é mesmo?! – digo com ironia, limpando meu dedo sujo de chocolate com a boca.

Ela resmunga. – Então, como está indo entre esse Victor e você?

— Não tem nada indo. Esse Victor não foi o cara com quem saí ontem. Na verdade, nem sei quem é.

Ela me olha, seu rosto um misto de surpresa e felicidade. – Então minha filha está cheia de pretendentes? Eu sabia que você não era tão linda pra nada.

Reviro os olhos, suspirando pesadamente, e fecho meus olhos, me encostando à poltrona.

— Mas me conta sobre o de ontem. Qual o nome dele? – por que ela simplesmente não para de insistir?

— Ele não é ninguém.

Um silencio se instala e eu abro os olhos, para a encontrar me encarando.

— Eu conheço esse tom. Está apaixonada por ele, não está?

— Me poupe, mãe. – me levanto e começo meu caminho para o quarto. Realmente não preciso dessa conversa agora.

— Estou falando isso porque o vi hoje. – paro imediatamente. – Felipe não é? Ele é tão lindo, filha. Ele é rico? Parece ser um bom partido, e parecia preocupado com você. Não tem porque fugir.

Encaro a janela a minha frente e de repente sinto meus olhos marejarem.

— Você não entende. Nunca entende.

E vou para o meu quarto.

*

5h30. Estou acordada às 5h30, uma pilha. A tentação de fingir estar doente para não pisar naquela empresa é enorme. Estou nervosa em relação à reação dele, ao que aconteceu e com medo das possíveis perguntas que não quero ter o desprazer de responder.

Me arrumo lentamente (por que será?!). Coloco uma saia preta com blusa branca de seda, meia-calça e sapatos de salto pretos. Deixo meus cabelos soltos, levemente ondulados e desarrumados.

Como lentamente uma fruta, encarando o movimento da cidade lá embaixo. Ando lentamente até meu carro. Dirijo lentamente até a empresa. Ridículo! Estou chegando num estado de calamidade emocional. É só mais um. É só mais um.

Quando a porta do elevador se abre no meu andar, logo o noto. Encostado a beira da mesa de Fabricio, eles conversam animadamente com outros dois caras. Assim que notam minha presença, todos se calam, e vejo de relance alguns funcionários tentarem conter a risada. Ótimo, só me falta esse babaca estar espalhando o que aconteceu naquela festa. Felipe se vira, seus olhos encontram os meus. Desvio o olhar e sigo para minha sala.

— Felipe. Na minha sala. – ordeno quando passo por ele, sem nem ao menos olha-lo. Não seria capaz.

Estou tremendo até os pés quando me sento a minha mesa. Poucos segundos depois ele entra, fechando a porta atrás de si. Ele me olha com cautela, e faço o que pode ser uma das loucuras mais insensatas que já fiz em toda minha vida profissional, minhas emoções me cegando. E quando abre a boca para dizer algo, eu o corto.

— Você está demitido.


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