Inevitavelmente Sua escrita por Nah


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!♥



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Me joguei contra minha cadeira, levando minhas mãos à meus cabelos. Escorreguei os dedos por eles e respirei fundo diversas vezes. O que deu em mim? O que deu nele? Como posso me afastar se ele não deixa? Se uma parte de mim não quer isso?

Sinto meu coração disparar ao constatar isso. Eu tô ferrada. Na verdade estou desde que esse homem entrou na minha sala, sorrindo pra mim. Homem, argh! Eles sempre são problema.

Ouço meu celular vibrar contra a mesa e isso quebra a minha linha de pensamento. O atendo sem nem ao menos me dar o trabalho de ver quem é.

— O que? – disparo.

— Advinha quem veio te ver? – desperto imediatamente ao reconhecer a voz. Ah não, por favor não!

— Mãe? – falo sem saber se realmente perguntei ou afirmei, atordoada.

— Sim querida. Estou no seu apartamento, doida pra te ver. A que horas você chega?

Olho para as horas em meu computador. 16h01. Eu poderia dizer que havia trabalho a fazer ainda, mas agora eu não sabia mais o que era pior: ficar aqui com o Bragança por perto ou em casa com a minha mãe.

— Estou indo, mãe.

— Ótimo! Até daqui a pouco, má cherie. – reviro os olhos ao ouvir o falso sotaque francês dela.

Ela havia se mudado para a França depois de tudo que aconteceu e de eu ter ido embora da nossa cidade. Nunca fiz ideia de onde ela conseguiu o dinheiro, mas tinha algumas suspeitas – e elas me causavam repulsa só ao pensar. Desde então, havíamos nos limitado a poucos e-mails. Até agora. Tudo que eu menos precisava agora era de uma lembrança ambulante do meu passado pela minha casa – e era isso que qualquer um da minha família representava.

*

Cheguei ao meu apartamento meia hora depois. Não vi o Bragança quando saí da empresa, o que foi um alívio. Minhas bochechas queimavam só de lembrar do que eu havia feito. Você às vezes é muito sem noção, Mariana!

Assim que abri a porta, fui recebida por minha mãe correndo em minha direção, me prendendo entre seus braços. Permaneci imóvel.

— Que saudades, minha filha! – sua voz tinha um tom de choro. Vendo que eu não iria devolver o abraço, me soltou, mas segurou meus braços, me mantendo afastada o suficiente para que pudesse me analisar da cabeça aos pés. – Olha só pra você, está tão linda.

A observei também. Ela estava mais gordinha do que eu me lembrava, e seus cabelos mais escuros e curtos. Me soltando, passou os dedos por baixo dos olhos, fingindo enxugar lagrimas inexistentes, e saiu sala afora, de um jeito que só ela sabia. Jeito esse que fazia a sala parecer minúscula.

Minha mãe era excêntrica – egocêntrica também –, escandalosa. E muito materialista. Desde sempre o dinheiro e o status foram umas das coisas mais importantes na sua vida – se não a mais. E isso foi uma das coisas que a cegou para o que estava acontecendo comigo. Ou a fez querer cegar-se. Provavelmente ir para a França foi um jeito de mostrar aos outros que ela ainda estava por cima, mesmo depois de toda bagunça.

Ela parecia bem e radiante. Enquanto eu estava cansada e destruída.

Caminhei devagar para meu quarto, com a bolsa e os saltos na mão. Podia a ouvir falar – muito alto – na cozinha com Cecília. Parecia reclamar de algo. Respirei fundo, tentando controlar meus nervos. Eu não precisava disso agora.

Joguei os saltos e bolsa sobre o chão, começando a retirar meus brincos. Precisava de um banho.

— Sua empregada é uma incompetente, filha. Você precisa urgente de outra. Posso procurar pra você, sei quais são as melhores. – Helena, vulgo minha mãe, entrou de vez no meu quarto, praguejando a Cecília. A olhei com tédio, sem parar de retirar minhas joias. É claro que isso iria acontecer. Claro que ela iria entrar na minha casa e querer mandar em tudo.

Sua postura foi afrouxando, seu rosto amolecendo.

— Como você está, Mariana? – podia ver a pena em seu olhar. Que ela não comece com isso, por Deus!

— Ótima. – me voltei para meu espelho, retirando meu relógio.

— Mesmo? Olha, filha, eu sinto muito. Eu...

— Não comece com isso, por favor. – ela tentou se aproximar, mas eu desviei rápido, como se ela tivesse alguma doença contagiosa. Ela continuou olhando para mim daquele jeito estranho.

Corri para o banheiro e me tranquei lá. Pude ouvir seus saltos se aproximando da porta e em seguida sua batida na mesma. Me sentei na borda da banheira, encarando meus pés.

— Por favor, não faça assim Mariana. Eu cheguei aqui esperando te encontrar com alguém, com um bom homem pra cuidar de você. – bufei. Cuidar como ele cuidou?— Você parece muito sozinha, filha. Você pode conversar comigo. Sobre aquilo, sobre tudo.

— Eu sempre fui sozinha. – falei, alto o suficiente para que ela pudesse ouvir. Por favor, vá embora.

— Isso não é verdade.

Soltei uma risada irônica.

— Não é verdade? Onde você estava quando eu precisei de você? Provavelmente experimentando suas roupas caras ou indo a lojas de grife. O que você falava quando eu implorava por ajuda? Que eu estava louca, inventando coisas. Isso quando não me ignorava. Colocou os outros e o dinheiro na frente. – minha respiração começou a alterar, assim como meu tom de voz. – Agora que você possivelmente caiu na real e quer consertar o que fez, eu sinto muito mamãe, é tarde demais. Eu sempre estive sozinha, e pretendo continuar assim. Para evitar que mais pessoas erradas entrem na minha vida.

Quando terminei de falar, estava sem folego, meus olhos marejados. Encarei a porta, esperando sua resposta, mas tudo que ouvi foram os seus saltos contra o chão e a porta do meu quarto batendo.

*

Na manhã seguinte, tratei de sair mais cedo que o normal, para garantir que não daria de cara com Helena. Eu já estava péssima, havia chorado horrores até conseguir pegar no sono. A ultima coisa que eu precisava agora era vê-la.

Cheguei na empresa já sabendo que haveria poucas pessoas, mas não queria que ele fosse uma delas. Ao me ver, o Bragança abriu um sorriso.

— Bom dia, chefa. – falou, em tom provocativo. Desviei meu olhar e continuei caminhando em direção a minha sala.

— Não fale comigo.

Pude ouvir sua risadinha antes de eu entrar na minha sala.

O dia foi corrido. A entrega da campanha seria no dia seguinte, tudo estava a todo vapor com as ultimas checagens. Quando finalmente consegui sentar à minha mesa, Sabrina entrou em minha sala.

— Com licença senhora. Vim te lembrar do evento de hoje à noite. – franzi o cenho, sem conseguir lembrar do que ela estava falando. – O lançamento do perfume que a empresa fez a campanha. A senhora foi convidada.

— É essa noite?

— Sim, às 19. – eu havia me esquecido completamente. Não estava com nenhum saco para festas, mas não podia fazer essa desfeita. Precisava manter os bons clientes por perto. Foi quando algo passou por minha cabeça.

— Peça ao Felipe Bragança para vir a minha sala.

— Sim senhora.

Eu não sabia muito bem por que iria fazer aquilo, estava até tentada a desistir. Mas ao lembrar nossa conversa naquele café da manhã, tive a ideia de fazer algo profissional para ele. Eu precisava erguer esse muro nada pessoal entre nós. Sabia que poderia perdê-lo fazendo isso, e mesmo amando seu trabalho, seria bom para ele – e para mim. Não seria?

Em menos de 5 minutos, ele apareceu em minha sala.

— Me chamou?

— Sim. – suspirei, meio “não acredito que você está fazendo isso, Mariana”. – Hoje a noite vai haver uma festa em que fui convidada. Haverá pessoas importantes lá, e eu quero que você as conheça.

Felipe franziu o cenho, confuso. Surpreso, até. – Por que?

— É apenas um favor profissional. Você valoriza sua carreira, e eu quero aumentar sua network. – ele parecia não acreditar no que eu estava falando. Revirei os olhos, impaciente. – Você aceita ou não?

Pude ver o começo de um sorriso em seus lábios.

— Será um prazer te acompanhar. – senti o tom de segundas intenções em sua frase, mas fingi não notar. Ele não perde uma!

— Me busque às 19.

— Sim, senhora.

*

Me olhei no espelho pela vigésima vez. Havia optado por usar um vestido preto um tanto curto, no meio das coxas, todo em paetê. Nos pés um salto alto, e coloquei alguns brincos grandes. Fiz uma maquiagem mais elaborada e deixei meus cabelos soltos.

E eu estava nervosa. Que ridículo!

Abri a bolsa de mão que iria levar e peguei meu celular, checando as horas. 19h05. Onde ele estava?

No mesmo segundo, ouço uma batida na porta e minha mãe entra.

— O porteiro disse que tem um Felipe Bragança lá embaixo te esperando. Bragança é um sobrenome bem riche, ele é... – sua frase morreu ao me ver. Estava tão ruim? – Você está linda, filha.

Suspirei, um pouco aliviada. Ajeitei meus cabelos pela ultima vez e comecei a fazer meu caminho para sair. Quando passei por ela, vi seu sorriso aumentar.

— É um encontro?

— Apenas trabalho. – falei, acho que mais pra mim do que pra ela.

No elevador, me encarei no espelho. Senti o nervoso voltar ao lembrar que era Felipe Bragança que estava me esperando lá embaixo, o homem que anda bagunçando minha sanidade mental, minhas emoções e sentimentos. E agora eu estava indo de encontro a ele, por minha própria culpa.

O que eu estava fazendo?


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