Inevitavelmente Sua escrita por Nah


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Fiquei andando de um lado pro outro pelo apartamento. Já fazia mais de meia hora que ele havia ido. Estava nervosa – ridículo! – e me odiando por isso. Liguei pra Carol e deu caixa postal, me deixando pior. Acabei parando no meu quarto – que só percebi porque me bati na cama. Parei e respirei fundo.

— O que é isso Mariana? Se controle. É só mais um cara. E você o odeia. – falei pra mim mesma, como um mantra.

Quando comecei a retirar minha roupa para ir pro banho, ouço meu celular tocar. Saí em disparada, sabendo quem era.

— Carol, me ajuda. – falei afobada. É, eu estava pirando.

— Calma Mari, o que aconteceu? Não tô pronta ainda.

— Não é isso. Não vou poder sair com você, não passei muito bem o dia todo. Mas isso não importa. Ele quer sair comigo, Carol. Ele tá me obrigando, na verdade.

— Quem? O gostosão do seu funcionário? – soltei um grunhido irritado e ela riu. – O que tem de ruim nisso? Na verdade, tô achando maravilhoso.

— Não, não tem nada de maravilhoso nesse cara tentando entrar na minha vida.

— Como você pode ter certeza que ele vai ser um babaca? – revirei os olhos.

— Porque ele é homem?! – falei como se fosse obvio e ouvi barulho de louça e Carol bufando do outro lado.

— Tá bom. Então dispensa ele, como você faz com todos.

— Ele é teimoso, e está com o meu carro. Só vai me devolver depois que me levar pra não sei onde.

Podia sentir seu sorriso do outro lado. Carol estava amando aquilo. Desgraçada.

— O que ele quer fazer?

— Tomar café da manhã.

— Então vai e aguenta uns minutos só. Ou dá um jeito nele, você sabe bem como colocar medo nas pessoas.

— Ele não tem medo de mim, Carol. Posso ser grossa o quanto for e ele não afasta. Sou a chefa dele e isso não é motivo suficiente pra ele manter uma distancia razoável entre a gente. Eu fiz ele beijar meu pé na frente do pessoal todo e ele tentou me beijar depois, Carol! E não foi no pé dessa vez.

Carol soltou uma gargalhada.

— Meu Deus... O cara tá muito na sua. – ao ouvir isso senti um frio na barriga. Fiquei brincando com a barra do meu vestido, pensativa.

— Você acha que é um encontro, Carol?

— As pistas indicam que sim. Mas você só vai ter certeza se for.

*

Revirei pela milésima vez na cama. Onde havia ido parar meu cansaço? Estava alerta. Apavorada, pra ser mais exata. Por que ele não podia ser só mais um cara? Não conseguia tratar ele como tratava os outros. Eu teria simplesmente sido o mais rude possível, mas com ele apenas fiquei calada, deixando ele tomar conta da situação. Parece que nada o tira de perto, que ele não quer sair de perto. Isso tá tão errado. Não quero um homem na minha vida.

Na manhã seguinte, acordei com o toque do interfone.  Abri os olhos, desejando não estar fazendo isso. O relógio ao lado da minha cama marcava 7h45. Muito cedo para um sábado.

Me arrastei até a cozinha, praguejando esse porteiro e qualquer que fosse o motivo pra ele estar me ligando.

— O que? – esbravejei, irritada.

— Tem um Felipe aqui, senhora. Disse que está te esperando.

Arregalei os olhos, sentindo de novo aquela agonia na barriga. Eu havia esquecido! Ele veio mesmo, não acredito nisso. Por que comigo, Senhor?

— Ahn... Diga a ele que espere.

Fui para o banho quase arrancando os cabelos, querendo na verdade arrancar a cabeça do Bragança. Ainda estava com muito sono, lá fora estava muito frio e era um sábado, cara.

Me arrumei lentamente, só de marra. Coloquei jeans com uma blusa simples, um casaquinho por cima e botas cano médio nos pés. Deixei o cabelo solto e apenas um rímel nos cílios, pra dar uma acordada. Quase 1 hora mais tarde eu apareci na portaria. Felipe estava com uma cara enorme, puto da vida. Me senti bem pela primeira vez no dia.

— Caramba, que demora foi essa garota?

— Não me diga que você estava quase indo embora, porque senão vou me arrepender de não ter demorado mais. – ele revirou os olhos, irritado. Sorri com implicância. – Agradeça por eu não ter chamado a polícia pra conseguir meu carro de volta.

Foi a vez dele de sorrir.

— Eu sei que você quer sair comigo, querida.

Bufei enquanto entrava no meu carro. Enquanto ele dava a volta para a porta do motorista, parei para reparar nele. Estava com uma bermuda – ele tinha pernas bem bonitas, não dava pra negar – e uma camisa polo azul. Não consegui não notar como seus braços eram musculosos e odiei ele mais ainda. Com um tênis slip on e óculos escuros, ele parecia muito confortável naquele frio. Estava um solzinho, realmente, mas frio mesmo assim.

Quando entrou no carro, senti seu cheiro. Uma mistura de perfume com sabonete e cheiro de homem. Maravilhoso.

— Nem pense que isso aqui vai demorar. Te dou meia hora pra devolver meu carro. – falei, quando ele começou a conduzir o carro. Felipe soltou uma risada, passando a mão na barba por fazer.

— Relaxa, querida. Vai ser bom.

— Bom seria se você me deixasse em paz. – ele ficou sério. Olhou pra mim por alguns segundos e depois voltou a olhar a rua.

— Eu sei que você não quer isso.

Ah, com certeza você não sabe de nada. Eu quero. Não quero?

Felipe nos levou para o restaurante de um hotel na praia. Respirei fundo quando desci do carro, sentindo o cheiro do mar e a maresia. Sorri um pouco.

O lugar era muito bonito. Havia uma parte com mesas que não era coberta, e foi para lá que ele me conduziu. Conforme passávamos, as mulheres ali paravam pra olhar Felipe, e quando me viam o seguindo faziam cara feia. Revirei os olhos.

Ele escolheu uma mesa e afastou uma cadeira para eu sentar. Bem cavalheiro, mas eu continuei parada de braços cruzados.

— Tá de brincadeira? Tá muito frio pra ficar aqui fora. – Felipe revirou os olhos, e segurando meus ombros me fez sentar de uma vez. – Quanta delicadeza.

Ele sorriu, irônico também. – Você fica bem mais linda calada, mesmo fazendo essa cara feia.

Senti minhas bochechas queimaram. Cruzei os braços. Cara chato!

— A gente pode acabar logo com isso?

Felipe não fez questão de responder, só ergueu as sobrancelhas enquanto olhava o menu que o garçom havia deixado. Duas mulheres passaram por nós e eu prestei atenção abismada em como elas estavam conseguindo ficar naquele frio com biquíni e aqueles vestidos transparentes. Voltei a olhar pra Felipe, e ele estava com os olhos grudados na bunda delas. Inacreditável!

— Cuidado pra não quebrar a lente dos óculos com tanta concentração, querido. – falei, irritada. Ele riu, voltando a atenção pra mim.

— Com ciúmes, querida?

— Ah vai se danar, querido.

— Quanta delicadeza.

Eu estava de mau humor, mas aos poucos Felipe foi amolecendo isso. Conversamos amenidades enquanto comíamos. Ele tentando tirar informações de mim, eu não dando nada. Ele com certeza não tinha que saber da minha vida. Acabamos que só falamos dele. Felipe tinha 2 irmãos mais novos, que moravam no interior junto com os pais dele. Havia se mudado pra capital pelo trabalho. Ele era muito ligado na carreira, era até bonitinho de ver.

— Como você conseguiu a bolsa pra estudar fora? – falei, tomando meu café com leite em seguida.

— Me inscrevi num programa de bolsas e fui um dos escolhidos. Quase perdi essa oportunidade. Minha mãe estava passando por uma barra na saúde dela. Meu pai encheu o saco pra que eu fosse desde o primeiro segundo. Já o meu irmão ficou colocando pressão, dizendo que eu não devia larga-la. Fiquei dividido.

— E como você decidiu ir?

— Minha mãe me convenceu. Ela era a única que conseguiria isso.

— Você parece bem apegado a sua família. Me surpreende que tenha conseguido deixar eles. – falei, ignorando a pontada de tristeza que me deu. Eu não era assim com minha família...

— Eu sou. Os amo demais. Mas também tenho uma vida.

Fiz que sim com a cabeça, colocando a xicara de volta na mesa.

— Acho que você ultrapassou sua meia hora. – Felipe soltou uma risadinha, com um sorriso enorme no rosto. E que sorriso...

— Estava torcendo pra que você não percebesse.

Fomos o caminho todo em um silencio confortável. Felipe dirigiu até sua casa, onde ficaria e eu pegaria meu carro de volta. Precisei admitir pra mim mesma que não havia sido tão ruim.

Felipe estacionou em frente ao seu prédio. Nem esperei ele começar com as gracinhas e desci do carro, pronta pra ocupar o lugar dele. Pude ver de relance seu sorriso. Fiquei parada de braços cruzados enquanto ele saía do carro. Ele parou em frente a mim. O Bragança era uns bons centímetros mais alto que eu. Não havia percebido isso porque sempre estava de salto.

— Obrigado por não ter me matado durante o café.

Revirei os olhos e ele riu, estendo a chave do carro pra mim. Quando fui pegar de sua mão, a mesma agarrou meu pulso e me puxou pra ele. Minha mão foi de encontro com seu peito e sua boca de encontro com a minha.

Tentei resistir, mas sua outra mão agora estava na minha cintura, apertando e pressionando meu corpo no dele. Felipe aos poucos ia me envolvendo naquele beijo, e eu me vi cedendo ao movimento dos seus lábios nos meus, a ponto de ele poder soltar meu pulso e eu não fugir. Pelo contrário, levei essa mão pra sua nuca, puxando seu cabelo de leve. Com a mão na lateral do meu rosto, seu polegar acariciava ali. Ele me beijava sem pressa, como se tivéssemos todo tempo do mundo, e eu, sem perceber, apenas tentava devolver tudo que ele me dava.

Quando Felipe mordeu meu lábio inferior – tão suavemente que pensei ter imaginado – algo despertou dentro de mim. Coloquei as mãos em seus ombros e o empurrei pra longe de mim. Nos encaramos, olhos arregalados, respiração difícil.

Meu Deus, que isso tudo tenha sido imaginação minha.

— Mariana... – ele tentou falar, mas puxei a chave de sua mão com certa ignorância e ele parou.

— Nunca. Mais. Faça. Isso.– falei pausadamente com raiva, passando por ele e entrando no carro. Arranquei dali, tão rápido que não sei como não bati num carro que estacionava a frente.

Como ele pode fazer isso? O que deu em mim pra eu corresponder desse jeito? Porra, sou a chefa dele. Sou a mulher de quem ele deveria querer ficar longe.

E ele é o cara que está me tirando do sério.


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