Inevitavelmente Sua escrita por Nah


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura pessus!



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Pressionei minhas mãos contra seu peito e o empurrei com toda força que consegui. Felipe cambaleou para trás, sem deixar de me olhar. Parecia ofegante, os olhos arregalados. Eu estava do mesmo jeito, parecendo um animal assustado. Tentei pensar em algo para dizer, ou gritar, na cara dele por ele ter sido tão abusado, mas só conseguia encara-lo. As palavras me abandonaram.

Por que ele ia me beijar?

Por que o clima ali estava tão pesado? O beijo nem havia acontecido.

Eu sentia meu corpo quente, estava prestes a suar. Felipe não demonstrava nada, apenas me olhava, os braços jogados ao lado do corpo. Não consegui identificar o que aquele olhar queria me dizer. Ajeitei a bolsa no braço, com grosseria, e me virei caminhando – quase correndo – em direção ao meu carro. Entrei nele e saí com pressa daquele estacionamento.

Estava assustada e meio perturbada. Aquele cara me tirava do sério, e isso estava começando a me assustar de verdade. Eu podia conseguir controlar minhas ações perto dele – algumas, pelo menos –, mas não conseguia controlar minhas emoções. E isso estava errado. Muito errado. Ia contra tudo que eu prezava. Não podia deixar esse cara entrar na minha vida, precisava mantê-lo longe.

*

Passei a noite toda em minha cama, travando um dilema comigo mesma. Não sabia o que fazer. Precisava bloquear minhas emoções em relação a ele, mas não sabia como começar a fazer isso. Eu sempre conseguira, com todos os homens, e nem precisava de muito esforço. Mas com ele eu estava fracassando. Mesmo ele me dando motivos para detesta-lo, eu não conseguia me manter indiferente.

No dia seguinte, eu fui me arrastando para o escritório. Estava estranha, com um misto de cansaço e desanimo. Me limitei a ficar em minha sala, mal levantei da cadeira. Trabalhei em alguns projetos no computador, falei com fornecedores, fechei mais 2 contratos.

Mais ou menos perto do horário de almoço, o Bragança bateu na minha porta. Queria falar sobre a campanha e me mostrar alguns avanços. Trabalhamos à minha mesa, quietos e tensos um com o outro. Ele agiu como se nada tivesse acontecido, eu entrei no jogo, mas não dava pra negar que ele estava distante. Tudo que eu queria. Mas e se eu dissesse que não me senti do jeito que esperava?

No meio de nossa conversa comecei a me sentir mal. Um calor absurdo do nada, minha visão ficando turva. Olhei para ele, que continuava falando sobre trabalho, e não conseguia ver nada com nitidez. Levei a mão a cabeça, apoiando o braço sobre a mesa.

— Acho que podemos continuar com isso depois. – falei com a voz embargada. Me encostei a cadeira deitando minha cabeça no encosto, sufocada, inquieta. Arrisquei abrir os olhos e só estava piorando.

— Tá tudo bem? – Felipe perguntou, sua voz soando preocupada.

— Está, só saia.

— Não, não está. – o ouvi arrastar a cadeira e senti que estava se aproximando. Eu até queira continuar teimando, não queria que me visse assim, mas eu não estava pensando direito mais.

— Minha pressão está baixando. – falei, derrotada. Passei a mão pelo rosto, incomodada com o calor. Senti braços me envolvendo. Felipe estava me erguendo da cadeira – O que você está fazendo?

— Fique quieta.

Abri os olhos e ele havia me deitado no pequeno sofá que havia em minha sala. Retirou meus saltos, os deixando cair no chão.

— Você não tem que fazer isso. – falei, começando a me sentir melhor.

— Não importa. – Felipe se agachou ao meu lado, me analisando. Voltei a fechar os olhos. – Tá melhorando?

Fiz que sim com a cabeça. Senti sua mão por minha testa, afastando meus cabelos. Abri os olhos no mesmo segundo, como se tivesse levado um choque. E de novo, estávamos nos encarando, enquanto minha visão normalizava. Felipe me olhava sério, sua mão sobre minha cabeça, o polegar acariciando minha testa. Ficamos assim por não sei quanto tempo, até que ele quebrou o silêncio.

— Você come?

Franzi o cenho.

— O que?

— Perguntei se você come. Você está magra e passando mal assim.

Não respondi. Não sabia o que dizer. Ele fez cara feia e se levantou.

— Vou te trazer alguma coisa pra comer.

— Não precisa se incomodar, Felipe. Já tô bem. – falei, me levantando. Ele segurou em meus ombros, me fazendo deitar de novo.

— Só fique aqui quieta, Mariana.

— Sou eu quem dá as ordens aqui.

— Não dessa vez. – e saiu, me deixando assim.

Fiquei encarando o teto. Ele estava tentando cuidar de mim? Que estranho.

Alguns minutos mais tarde ele entrou na minha sala, carregando um pacote de comida e um copo com água. Não, eram dois pacotes. Espera, ele vai comer comigo?

Me sentei, tentando ficar em uma posição em que ele não visse minha calcinha. Meu vestido não era comprido, e sentada ele embolava na coxa, mostrando mais pele do que devia.

— Vai mais pra lá. – ele falou. Me afastei, dando espaço para ele sentar. Ele me entregou o copo com água, que eu não bebi mais que a metade.

Eu sabia que estava com uma expressão desconfiada, mas aquilo estava estranho. Ele estava muito perto.

Me entregou a comida, que eu olhei com desanimo.

— Pode comer. – Felipe disse, notando meu desgosto. Ele começou a comer a comida dele e eu fiquei o observando. Ele era tão lindo. Isso era um saco. Olhou pra mim, me pegando o encarando. – Pare de olhar pra mim e coma.

Bufei e voltei minha atenção para a comida. Não estava com apetite nenhum, como sempre. Felipe começou uma conversa – um sermão na verdade – de que eu precisava me cuidar. Eu sinceramente não estava com animo nenhum para rebater as coisas que ele dizia. Ele notou.

— Você está quieta. É estranho não te ver me alfinetando.

— Só estou cansada. – falei, beliscando a comida.

Ele ficou mais sério.

— Você deveria ir para casa mesmo.

— Não, tenho trabalho a fazer.

— Você não está bem Mariana.

— Não importa.

— Para de ser teimosa, garota. – revirei os olhos. – Onde estão as chaves do seu carro?

— Por que?

— Vou te levar pra casa.

— Ah, mas não vai mesmo. - ele fechou a cara e se levantou, pegando minha bolsa para procurar as chaves, que achou com facilidade. Me levantei, indo até ele e tentando pegar as chaves. – Devolve minhas chaves Felipe.

Ele as ergueu no alto e eu não alcançava. Sorrio irônico. – Vou tirando o carro do estacionamento. Quero você lá embaixo, ou vou fazer o favor de sumir com seu carrinho.

E saiu. Revirei os olhos irritada. Que cara mais cheio de marra! Quem ele pensa que é?

Arrumei minhas coisas a contra gosto. Eu tinha trabalho a fazer, não tinha que ir pra casa. Desci no elevador me perguntando por que eu estava o obedecendo. Eu mandava aqui.

Ele estava na porta do prédio, no meu carro. Entrei no mesmo, de cara feia, e cruzei os braços. Felipe soltou uma risadinha e entrou no transito. O fui guiando até estarmos em frente ao meu prédio.

— Como vai voltar para a empresa? – falei, me preparando pra sair do carro.

— O que? Não estou dispensado? Te tratei tão bem e não mereço uma tarde de folga? – ele falou, tentando parecer ofendido.

— Como é que é? Claro que... – ele riu, me cortando.

— Estou brincando. Vou voltar com seu carro, ué.

Soltei um “ha ha” forçado. – Não vai mesmo.

— Vou, e amanhã passarei aqui com seu carro para tomarmos café da manhã juntos. Depois você pode me levar pra casa e ficar com seu carrinho. – gelei no lugar. Olhei pra ele, com a testa franzida. Ele tinha um sorriso nos lábios.

— Você costuma marcar as coisas assim sem saber se a pessoa quer?

— Se eu pedisse você ia dizer não, porque é marrenta. Então não estou pedindo, estou ordenando.

Comecei a rir descontroladamente. Ele não mandava em mim, não mesmo.

— Ordenando? Você não manda em mim, idiota.

Felipe revirou os olhos, abrindo minha porta para eu sair.

— Até amanhã, querida.

Fiquei olhando pra ele, atônita. Ele estava falando sério. Soltei um grunhido irritado, e saí do carro, batendo a porta em seguida.

Havia jurado a mim mesma que ia afastar ele e agora ele está invadindo mais ainda a minha vida. O que eu faço?


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