Inevitavelmente Sua escrita por Nah


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura!!



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— É uma boa ideia. – levei a xícara à boca, tomando mais um gole do meu café com leite. Eram 9 da manhã, e eu tomava minha primeira refeição do dia. Acordei incrivelmente atrasada, o que era raro de acontecer. Fabrício me mostrava alguns projetos complementares da campanha. Estava ficando tudo tão legal que eu não conseguia conter o sorriso.

Fabrício era um dos meus assistentes gráficos, ou seja, trabalhava com o Bragança. Podia notar a mão dele no projeto que Fabrício me mostrava.

— Então, posso encaminhar esse projeto? – ele disse.

— Fale com o diretor.

— O Felipe né?

— É, acho que é esse o nome dele. – Fabrício deu uma risadinha e soltou um “tsc”, como se soubesse que eu estava fingindo. Ergui uma sobrancelha e ele se calou na hora, pedindo licença e saindo da copa. Ah se o Bragança fosse assim! Me economizaria muita irritação.

Me virei para a cafeteira, enchendo mais a minha xicara. Precisava de toda energia para enfrentar o dia. A campanha teria que ficar pronta dentro de 2 semanas no máximo. Muito trabalho pela frente.

Mas, graças a Deus, amanhã já era sexta-feira.

Quando eu rasgava o pacotinho de açúcar e despejava em minha xicara, duas mulheres entraram na copa. Não me dei o trabalho de olhar quem era, e elas pareceram não me notar ali no canto. Continuaram conversando animadamente sobre alguém. Um homem. Eca!

— Ele é maravilhoso, né? Foi tão simpático comigo na segunda, fiquei apaixonadinha.

— Eu te vi rondando o cara. Ele é muito lindo. – disse a outra.

— Felipe Bragança é muita areia pro meu caminhão, mas quero correr o risco. – e vários risos seguidos. Ao ouvir o nome dele, todos meus pelos se arrepiaram. Respirei fundo e me virei.

Elas – acho que por curiosidade – se viraram pra ver quem era. E arregalaram os olhos ao me ver.

— Interrompo a conversa de vocês? – falei, deixando claro meu desagrado.

— Ah, não se-senhora. Só viemos beber uma água.

— Sejam rápidas então. Tem muito trabalho a fazer, se vocês não notaram. – sorri forçado, despejei o resto do meu café na pia e saí batendo o salto no piso.

Palhaçada. Parando o trabalho pra falar de homem. Ainda mais dele— que nesse momento olhava pra mim enquanto eu passava por sua mesa em direção ao meu escritório. Virei meu olhar para ele e o vi encarando minhas pernas. Ele ergueu o olhar, encontrando o meu, e sorrio sem mostrar constrangimento algum por ter sido pego. Mas que cara de pau. Eu estava com as pernas de fora num tubinho preto, apertado demais no corpo até, valorizando minhas curvas.

Fiz cara feia pra ele e continuei andando, esperando que minha bunda não fosse o alvo da vez.

*

Estava procurando documentos importantes na minha gaveta, quando encontrei uma pasta que nem lembrava estar lá mais. Congelei. Como pude ser tão burra e ter esquecido de jogar aquilo no lixo?

A abri e lá estavam todas as receitas de remédios que eu tomava. Remédios psiquiátricos, para depressão e alguns porque eu não comia. Por baixo disso tudo, estava um email impresso que minha mãe me mandara quando fui embora da nossa cidade, implorando para que eu voltasse e a deixasse cuidar de mim.

Senti minha visão ficando embaçada. Eu não ia chorar. Não no trabalho, não em lugar algum.

Coloquei as lágrimas pra dentro e comecei a rasgar cada papel, com raiva, como se minha vida dependesse daquilo. Rasguei em pedaços tão pequenos que em pouco tempo minha mesa virou um emaranhado de papel picotado, bem como eu me sentia.

Liguei para Sabrina e mandei que chamasse alguém dos serviços gerais. Em poucos minutos, a mulher bateu na minha porta.

— Jogue fora esses papéis. – falei, indicando com a mão. – Somente os picotados.

— Sim senhora.

Enquanto ela fazia o trabalho, me tranquei no banheiro. Encarei meu reflexo no espelho. Estava meio pálida, com uma expressão cansada. Passei alguma maquiagem no rosto, ajeitei o vestido, apertei mais meu rabo de cavalo, tentando pôr um pouco de dignidade em mim. Qual é Mari, você já se sentiu muito pior e sobreviveu, não fraqueje agora.

Quando saí do banheiro, a mulher não estava mais lá. Eram muito poucos funcionários que eu decorara o nome. Ela era mais uma que não estava na lista. Olhei pra minha mesa sem aquela bagunça agora e suspirei aliviada, por agora estar, finalmente, longe daquele merda.

*

Com tanto trabalho, acabei almoçando quase no final da tarde. Havia me esquecido completamente de comida – não que eu fizesse muita questão. Almoçara em meu escritório mesmo e depois de escovar os dentes no banheiro, fui até a copa, atrás de um copo d’agua. Quando fui me aproximando da porta, notei o Bragança de costas pra mim, conversando animadamente com alguma funcionária. Havia melhorado minha carranca, mas ao ver aquela cena – os dois juntinhos, conversando e rindo, a mão dela indo de encontro ao braço dele toda vez que ela ria – ela voltou com força total.

De certeza ele estava gostando da situação.

Fechei a cara no mesmo segundo e me aproximei bem das costas dele, soltando um pigarro falso bem alto. Ele se assustou e virou com tudo pra trás, entornando o café que segurava todo no meu vestido. Arregalei os olhos, com a boca aberta, indignada, horrorizada, puta da vida. Levantei o olhar pra ele, que estava tão assustado que parecia a ponto de sair correndo.

— Mariana, cara... Me desculpa. E-eu não te vi, eu... – ele pegou um pedaço de guardanapo e tentou limpar meu colo, onde o café havia derramado e escorrido por dentro do sutiã. Aquela merda estava queimando. Dei um tapa daqueles em sua mão, a tirando me mim, o fuzilando com os olhos. A amiguinha dele também parecia horrorizada.

Respirei fundo. 1. 2. 3 vezes.

— Eu vou demitir você, seu babaca. – falei baixo, arrastado, soando com ar ameaçador.

Dei meia volta, indo para minha sala, soltando fogo. Ele veio atrás de mim, me chamando freneticamente. Um silêncio se instalou ali, todos pararam pra assistir.

Parei e virei lentamente para ele. Não consegui identificar a expressão em seu rosto, mas seu cenho estava franzido e seus olhos meio desesperados.

— Me perdoa, por favor. Não me demite, Mariana. – eu respirava com força, meu peito subindo e descendo, tamanha raiva.

— Você quer continuar trabalhando aqui?

— Por favor. – eu sorri e coloquei as mãos na cintura.

— Então você vai se ajoelhar e beijar meus pés.

— O que?

— Você ouviu. Se ajoelha e beije os meus pés. – ergui o pé direito em sua direção. – Anda.

Ele parecia não acreditar no que eu pedira, mas mesmo assim foi se abaixando lentamente, até estar aos meus pés. Ele abaixou o rosto e beijou levemente o dorso do meu pé. Sorri satisfeita. Fez menção em levantar, mas eu ergui o outro pé.

— O outro.

Ele levantou o olhar pra mim. Ergui as sobrancelhas ao ver que ele estava furioso. Me abaixei, chegando o rosto mais perto do dele.

— Esse é o lugar de vocês, homens babacas.

Felipe se levantou com rapidez e saiu quase derrubando tudo em direção ao banheiro masculino. Fiquei o olhando sumir e em seguida fiz o mesmo, em direção a minha sala. Estava irritada, toda suja e grudenta de café, querendo matar o Bragança. Joguei minhas coisas de qualquer jeito dentro da bolsa e saí em disparada para o estacionamento. Só queria sair dali.

Quando passei, ele não estava em sua mesa. Todos me olhavam assustados, como se tivesse crescido um chifre no meio da minha testa. Apertei diversas vezes o botão pra descer do elevador, como se isso fosse o fazer chegar mais rápido.

Saí dele no estacionamento do prédio quase correndo, atrás do meu carro. Ouvi passos e me virei, vendo Felipe vir da escada, andando rápido em minha direção. Ele se aproximou, agarrando meu pulso com força e me puxando pra ele, tanto que precisei colocar a mão em seu peito pra impedir que batêssemos a cara um no outro.

— Você não vai me humilhar assim, tá entendendo? – ele estava irado, chegou até a me assustar. Tentei puxar meu braço de seu aperto.

— Me solta, seu idiota! Quem você pensa que é pra falar assim comigo?

— Você pode tá acostumada a tratar os outros do jeito que quiser, mas comigo não. Não sou qualquer um pra você fazer isso. – eu continuava me debatendo, tentando me livrar de sua mão, ele não folgando momento algum. – O que eu te fiz pra você ser assim comigo? Absolutamente nada. Então não vou admitir.

— Me solta, Felipe! – tentei me soltar e dessa vez ele me segurou mais, me puxando de encontro ao seu peito. Apertei sua camisa entre meus dedos, sentindo o calor do seu peito na palma da minha mão. O coração dele estava disparado, se assemelhando ao meu. Estávamos próximos demais, nossos rostos a poucos centímetros de distancia, sua respiração sapecando no meu rosto, e ele lentamente se aproximava mais. Arregalei os olhos ao perceber sua intenção.

Socorro, ele vai me beijar!


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