Inevitavelmente Sua escrita por Nah


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/685007/chapter/2

Ele não tinha o direito de ser tão lindo.

Cabelo escuro liso com alguns fios caindo sobre a testa, barba por fazer, profundos olhos castanhos que me encaravam de volta. Não daria mais de 30 anos a ele. Vestia uma roupa social, mas as mãos nos bolsos da calça e a sombra de um sorriso nos lábios quebrava qualquer ar sério nele. Cara, que gato.

E, que merda... Eu não tinha que estar pensando nisso. Meu Deus, o que deu em mim?!

Desviei meu olhar, fingindo voltar a me concentrar nos papéis a minha mesa. Tinha quase certeza de que estava com cara de choro, mas não me importei. Por que deveria?

Joyce pigarreou e entrou na sala, sendo acompanhada pelo... hã... cara.

Esse é o Felipe Bragança, de quem falamos mais cedo. Já realizei a entrevista com ele. – Joyce falava para mim. Manti minha melhor cara de desdém para eles, tentando não transparecer meu desconforto. Por que esse cara tá me olhando desse jeito?

Joyce virou para ele e continuou. – Essa é a senhora Mariana Albuquerque, administradora e dona da Acesso Publicidade. Ela vai conduzir a partir de agora.

O Bragança fez um pequeno aceno com a cabeça para Joyce, que pediu licença e se retirou da sala. A acompanhei sair com o olhar. Eu amava o trabalho daquela mulher, ela foi um grande achado.

Voltei minha atenção para o homem a minha frente. Homem. Precisei me segurar para não revirar os olhos. Ele permaneceu em pé onde estava. Me olhava de um jeito estranho, parecia desconfiado. Suspirei e fiz um gesto desdenhoso com a mão para que sentasse na cadeira a minha frente. Ele o fez imediatamente, me oferecendo um sorriso. Desviei o olhar.

— Então... Felipe Bragança. – falei olhando seu currículo, fingindo ter lido o seu nome, quando na verdade eu já sabia qual era. Olhei para a idade e confirmei. 26 anos. – O que te trouxe até a minha empresa?

— Bom, sua empresa é uma das mais renomadas do mercado. Venho me preparando muito para a minha profissão, então eu quero trabalhar na melhor. – sua resposta me fez sorrir. Um pouco. Ele parecia relaxado e seguro em cada palavra que dizia, e seu olhar permanecia fixo ao meu. Castanhos contra castanhos. Talvez os dele fossem um pouco mais escuros que os meus.

Balancei a cabeça, voltando meus pensamentos para o lugar certo.

— E por isso devo te contratar?

— Deve me contratar porque se me der essa oportunidade, farei o meu melhor para te mostrar que sou o que você procura. Não garanto que acertarei sempre, mas garanto que vai tirar coisas muito boas de mim. Do meu trabalho, digo.

Ele mantinha um sorrisinho nos lábios. Franzi o cenho. Ele estava tentando dar segundas intenções naquilo? Eu, sinceramente, espero que não.

Continuou. – Estou disposto a acrescentar aqui tudo que sei e aprender com vocês também.

Eu o quero.

Como funcionário, é claro. Ele tinha o perfil da empresa, ótimas recomendações e parecia muito bom no que fazia.

— Você sabe que diretor de criação é um dos cargos mais importantes, não sabe?

— Sei, completamente. Estou pronto para isso.

Suspirei.

— Você parece ser bom, mas isso não é o suficiente para mim. Eu não quero bom, eu quero o melhor. Espero que não se esqueça disso. Bem vindo a Acesso. Não decepcione. – ele se levantou estendendo a mão para mim, um sorriso enorme no rosto, bonitinho até, mas ainda era um homem. Alternei meu olhar de sua mão para seu rosto, com cara de tédio, deixando bem claro que eu não tinha nenhuma intenção de aperta-la. – Caso o contrário, corto você no mesmo segundo.

Forcei um sorriso meigo para ironizar, enquanto via o dele sumir e sua mão ir abaixando aos poucos. Antes que falasse alguma coisa, continuei.

— Vá até o RH e fale com a Joyce sobre a sua contratação. Você pode começar amanhã. – ele abriu a boca para falar algo e eu o cortei. – Não, você deve começar amanhã.

— Sim, senhora. – falou, parecendo sem graça.

Voltei minha atenção para os meus papéis, deixando bem claro que agora ele era bem vindo a se retirar. Ele permaneceu parado alguns segundos, e soltando uma risadinha, saiu da minha sala. Quando ouvi a porta fechar, a encarei. Soltei um resmungo irritado, e voltei a organizar minhas coisas para ir embora. Depois da cena no banheiro eu estava me sentindo péssima.

Alcancei minha bolsa e saí da sala, indo em direção a Sabrina, minha secretária.

— Estou indo para casa mais cedo. Só desvie as chamadas para mim se forem realmente urgentes.

Virei sem esperar resposta – afinal, era uma ordem – e continuei seguindo caminho para o elevador. Quando estava quase lá a porta do RH abriu e aquele ser incomodo saiu de lá. Quando me viu, deu um sorrisinho. Revirei os olhos para ele e continuei andando, sentindo seu olhar queimando em mim.

Pressionei o botão para descer e senti a presença de alguém perto de mim. Me virei, dando de cara com ele.

— Você não tá pensando em descer comigo né?

— E por que não? O elevador cabe muito bem nós dois. – soltei uma risada forçada.

— Com certeza não. Vou descer sozinha.

— Ah não vai não.

— Com quem você pensa que tá falando? Sou sua chefa agora, o prédio é meu e se eu quiser descer sozinha eu vou descer sozinha. – agora os outros funcionários já olhavam para nós, mas eu não estava ligando. Ir nesse cubículo sozinha com ele? Que absurdo. Quero distância desse cara.

Nesse momento, o elevador abriu e eu entrei rápido, pressionando para fechar na mesma fração de segundo. Ele até tentou entrar, mas não deu tempo. Me encostei na parede espelhada, sorrindo e assistindo enquanto a porta fechava e eu o deixava lá de boca aberta.

*

Cheguei ao meu apartamento tirando os sapatos, a blusa de dentro da saia. Precisava de um banho urgente. Meu estomago começava a reclamar novamente, dessa vez acho que por estar vazio.

Passei pela cozinha e a empregada ainda estava lá.

— Eu estava começando o jantar, senhora. – Cecília disse, como se estivesse se desculpando. Passei por ela, enchendo um copo com água.

— Não importa. Pode ir pra casa.

— Mas senhora, a comida...

— Apenas vá Cecília. Quero ficar sozinha. – falei irritada. Quanta teimosia.

Entrei em meu quarto, jogando minhas coisas sobre a cama. Coloquei a banheira para encher com água quente, joguei alguns sais de banho e comecei a retirar minha roupa. Me olhando no espelho, franzi o cenho com tristeza. Eu estava mais magra do que me lembrava.

Desci o olhar para meu quadril e coxas. Lá estavam elas. Pequenos cortes cicatrizados espalhados pelo começo das minhas coxas e algumas no quadril. Os toquei levemente com as pontas dos dedos e algo doeu e queimou dentro de mim. Fechei os olhos, a raiva correndo por mim novamente. Ergui os braços, para amarrar o cabelo em um coque, sem deixar de encarar meu rosto – esse torcido com raiva, mas os olhos tristes.

Depois do banho, me deitei no sofá enquanto esperava meu jantar no microondas. Iria comer um congelado qualquer, isso se conseguisse comer. Ouvi meu celular vibrar na mesinha de centro e o nome “Carol” estava na tela.

— Carol.

Oi Mari. Como você tá?— franzi o cenho com a pergunta.

— Estou bem. Por que?

Por nada. Só liguei para saber. Vou sair com o Bruno.— sorri e revirei os olhos imaginando os pulinhos de felicidade dela.

— Então a coisa tá seria mesmo?

Quase. Mas eu tô doida por ele, Mari. Sério, ele é perfeito comigo, um amor.

Soltei uma risada pelo nariz.

— Por favor, Carol, não se esqueça do mais importante.

Camisinha?

— Ele pode ser tudo isso com você, mas ainda é um homem.

Ai amiga, nem vem com seu pessimismo.

— Estou falando sério Carol.

Eu sei. Tá bom. Vou ficar atenta.

— Bom. – Carol soltou uma risada em seguida, não estava levando a sério. A única coisa em que ficaria atenta era na boca do cara. – Se cuide.

Você também Mari, por favor.

Terminei a conversa com “divirta-se” e o barulho do beijo que a Carol mandou me fez sorrir um pouco. Ela sempre tivera sorte com os caras. Era raro a ver mal por causa de algum homem, todos os poucos namoros que ela teve terminaram numa boa para ambos os lados. Por isso não enxergava os homens do mesmo jeito que eu. E também não entendia por que eu era assim.

Nunca contei a ela motivo. As únicas pessoas que sabem desse segredo são a minha família, que, felizmente, estão bem longe agora. Quero evitar que essa sujeira e humilhação se espalhem. Ninguém, jamais, pode saber.

O barulho do microondas cortou meus pensamentos. Retirei a comida e a olhei por alguns segundos. Meu estomago embrulhou. Minha próxima ação foi virar a comida no lixo.

Voltei para o quarto, e me encolhendo sob os cobertores, adormeci, com um par de olhos castanhos assombrando o meu sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!