Acordei com o som de uma batida muito bruta e forte na porta. Olhei para o lado e não vi Mori ali. Instantaneamente senti um medo percorrer todo meu corpo. Só podiam tê-la pego, era o fim, iriam matá-la, como estavam fazendo com todos os elfos, eu não ia aguentar, não ia...

— Bu! - Mori praticamente caiu do teto. Eu nem me perguntava mais como ela chegava naqueles lugares.

— Mori! Quase me matou, achei que tivessem te pego!

— Desculpa, mas quando ouvi os passos dele, pensei que seria melhor me esconder, não?

— É...

— Bom dia. - Ela sorriu e me deu um beijo na testa.

— Bom dia.  - Sorri de volta.

— Dormiu bem? - Ela se sentou na cama, ao meu lado.

— Sim... - Apoiei minha cabeça em seu ombro. - E você?

— Muito. - Mori passou o braço pelo meu ombro.

— O que vamos fazer?

— Umh?

— Digo... Quanto a essa guerra... Não podemos viver assim pra sempre né?

— Que tal fugirmos pra floresta, além de tudo conhecido, e morarmos lá?

— Nos achariam de todo jeito...

— Deixa de ser tão pessimista. - Ela me deu um beijo na bochecha. - Vai ficar tudo bem.

— Com essa guerra? Duvido. Eles não vão parar dessa vez, Mori.

De repente a porta se abre e eu vejo o rei, meu pai, entrando desesperadamente, chorando, gritando, tentando fechar a porta. Um homem alto e aparente mente muito  forte abriu a porta, fazendo-o cair no chão. Esse homem foi em direção ao rei, levantando-o pela gola da camisa, ignorando nossa existência. Mori me puxou em direção a porta.

— Não! - Meu pai gritava.

— Seu reinado acabou, reizinho.

Eu reconheci a voz, era do amigo de infância do meu pai, chefe da guarda real... pai de Sophie... Ele estava com a espada na garganta do rei. Iria matá-lo?

— Não vai fazer isso, vai? Pensei que estivesse do nosso lado... Você que me alertou sobre a traição de Mireillè...

— Isso para finalmente tomar de volta o que é meu, irmãozinho. - Irmão? Eles eram irmãos? Como assim? - Acha que eu estava satisfeito como guarda? Só porque não posso usar magia me tiram o trono que deveria ser meu, como mais velho, mas me colocaram nessa posição ridícula. Mas... Se você morrer... tudo será meu... meu trono, meu título, minha amada mulher, tudo, tudo que você roubou será finalmente meu novamente. - Ele riu. Parecia um louco. - Sua hora chegou, peste.

Mori me puxou pela porta. Tudo que pude ouvir fora um grito alto e agoniante de dor vindo do meu pai. Mesmo que ele tivesse me colocado naquela escola odiosa, me taxado de traidora e me prendido... Mesmo sendo severo e irritante... Ele ainda era meu pai... O som do seu grito continuou ecoando nos meus ouvidos até Mori e eu chegarmos ao portão e saímos do castelo. Ela me parou e abaixou, para ficar da minha altura e olhar nos meus olhos, eu estava chorando como uma criança.

— Mira, Mira me escuta. - Ela segurou meu rosto gentilmente. - Para de chorar, isso não vai trazê-lo de volta ok? Para... - Seus olhos se encheram de lágrimas também, mas ela parecia diferente. - Estamos em meio a uma guerra, não podemos dar bobeira. Se ajeite! Cadê a garota forte pela qual me apaixonei? Sei que é difícil... Mas temos que continuar...

Ela estava certa, não era hora de lamentar nada, precisávamos fugir... Eu tinha que parar com aquilo e protegê-la.

— Eu tenho você, Mori. - Abracei-a. - A mais importante...

— É... - Ela me abraçou também, como se dissesse o mesmo para mim.

— Por isso chega disso e vamos! - Me afastei, limpando minhas lágrimas e engolindo o resto do choro.