Linhagem escrita por Dreyfus


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Bem, eu estou realmente muito nervosa e não faço a menor ideia de como começar. Essa fanfic é um verdadeiro tiro no escuro, algo totalmente novo para mim, no quesito escrita, enredo e até mesmo no universo. Pesquisei e trabalhei muito para começar a escrever e com certeza vou trabalhar e pesquisar muito mais ao longo dela.
Peço que antes de qualquer coisa leiam os avisos da história, lá terá uma breve contextualização do gênero e da ambientação da fic.
Esse prólogo não deveria existir, mas algumas ideias surgiram e eu achei que seria interessante começar com nossa protagonista. Alguns acontecimentos podem parecer um tanto desconexos ou sem sentido, porém tudo será explicado no decorrer da história. Além disso, o prólogo está repleto de spoilers, se bem interpretado.
Espero que gostem!



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Os sonhos sempre arrumavam um jeito de achá-la, assim como a areia que todas as noites transpassava as frestas da porta e cobria sua pequena cama. Nas noites de maior exaustão, quando trabalhava demasiadamente nas dunas, os sonhos pareciam não vir: era só fechar os olhos e despertar para mais um dia de trabalho. Preferia ignorá-los a ficar com eles na cabeça tentando incessantemente descobrir porque sonhava sempre com a mesma coisa. Mas, em noites como aquela, era impossível evitá-los.

No início seu campo de visão era tomado pelo céu mais estrelado e vivo que ela já vira, quase tão próximo que ocasionalmente ela experimentava agarrar as estrelas com as mãos. Em seguida, a escuridão a envolvia sinuosamente como as cobras que encontrava na areia, os feixes de luz surgiam, cada um esporadicamente posicionado com as constelações anteriores.

Fluindo por entre o verde e o azul das luzes, ela descobria uma terceira cor: vermelho, intenso e poderoso. A limpadora de Jakku assistiu inquieta ao jogo de cores cada vez mais forte, como se uma lutasse com a outra para permanecer brilhando solitária na escuridão, resultando em um único sobrevivente. O brilho linear e triunfante da última luz vermelha era tudo que a separava da escuridão mais uma vez, até que segundos depois começou a falhar, soltando diversas faíscas e perdendo a forma homogênea, tentando manter a chama viva e falhando miseravelmente.

A escuridão não demorou muito, o cenário rapidamente tomou forma bem na frente dos olhos cor avelã dela. Estava na base de uma grande montanha com o Sol nascendo aos poucos e iluminando a parte oriental do cume nevado. O vento soprava de forma agradável quase a abraçando, não como o vento cortante de Jakku. Nada lá era como o deserto em que morava, ela poderia viver naquela montanha entre as pequenas gramíneas que conseguiam sobreviver em meio as rochas. Contudo, aquilo não era real. Rey nunca estivera realmente em uma montanha, nunca tivera tanto verde ao seu redor.

Ao seu lado, uma figura conhecida surgiu. Era alto de postura ereta e rosto transbordando em seriedade, o que o deixava com um aspecto mais velho do que deveria ser. Próximo à parede pedregosa, o homem que observava atentamente o nascer do Sol enquanto seus cabelos loiros e compridos eram jogados pelo vento parecia fazer parte da paisagem. Sua forma era compacta nas sombras e translúcida em meio à luz. A menina não sabia seu nome, não sabia quem ele era, e mesmo assim o homem não lhe era um completo desconhecido.

— Feche os olhos – ele pediu calmamente sem nem olhar para ela. – Sinta o que está à sua volta.

Ele sempre lhe pedia para fazer isso e a limpadora sempre tentava realizar a tarefa com êxito. De olhos fechados e concentração aparente, ela podia sentir a brisa gelada em suas costas, passando por entre os dedos de sua palma aberta; um pouco de calor vindo do Sol a leste; as gramíneas que pinicavam seus pés descalços e a faziam ter vontade de rir; sua própria respiração; e, caso se concentrasse, também conseguiria escutar as batidas de seu coração. E mais nada. Rey sabia que não era só isso, sentir para ele era muito mais que o vento ou o calor. Você deve sentir a essência de tudo que é vivo fluindo, ele dissera uma vez. Ela realmente queria ser capaz de fazer o que fora pedido, sentir que tudo estava interligado, sentir que de alguma forma não estava só.

— Então, o que você sentiu?

— O mesmo que das outras vezes – não era necessário elaborar mais, mas ao contrário do que ela pensava o homem não estava desapontado.

— Paciência, você sentirá quando for a hora certa – com essa fala o homem deu um sorriso divertido, o que parecia indicar que ele era tudo menos paciente ou costumava não ser assim.

Sorrir o fazia mais jovem, suavizando todo o seu rosto, ao contrário daquele primeiro momento em que ele observava o horizonte. Rey nunca soubera se o loiro era real ou não, duvidava que sua mente fosse capaz de criar uma pessoa com personalidade, trejeitos e um rosto tão tangível. Queria questioná-lo sobre isso, mas no fundo preferia não saber a resposta. Talvez ele nem responda, não costuma responder a todas as minhas perguntas, só as que lhe convém.

Hesitou por um instante, sem saber o que fazer ou perguntar. Tinha necessidade de tantas respostas que não sabia por onde começar. Sentia a leveza do corpo da garota de cinco anos que fora deixada no deserto olhando para o homem alto com expectativa e ao mesmo tempo sentia o peso da bagagem de seus dezenove anos em sua mente.

— Então, o que estamos esperando? – indecisa e com um tanto de expectativa perguntou. Seus sonhos poderiam passar sempre pelas mesmas etapas, mas ao menos naquela determinada parte eles eram completamente novos, havia sempre uma pergunta sem resposta para fazer.

— Você está, eu não – ele respondeu, dessa vez voltando a face toda para olhá-la e ela fez o mesmo, tentando não focar  a visão na cicatriz que riscava seu rosto. – Depois de tanto tempo ainda se lembra do porquê de estar naquele deserto? – a última palavra foi dita com agressividade, despertando sentimentos negativos nele.

— Eu sei pelo que estou esperando – a raiva também era evidente em sua voz, não gostava nem o um pouco da dúvida que ele estava gerando. Ela sempre soubera o que estava fazendo, sua família estaria lá afinal. Eu vou voltar para você, querida. A voz no fundo de sua mente sempre lhe dizia isso.  – Pela minha família.

A última frase foi dita com convicção. Se ela não acreditasse, quem mais iria? A resposta pareceu apaziguá-lo e um sorriso triste surgiu em sua face tomada pela melancolia. Seus olhos se voltaram para o ponto mais alto da montanha e um brilho diferente tomou conta deles. Um tempo muito longo se passou com Rey apenas observando aquele homem que lhe parecia tão imponente e cheio de si hesitar diversas vezes tentando lhe dizer algo.

— Você entenderá, Rey – dessa vez seu nome nos lábios dele soava estranho, errado. — Quando despertar você entenderá.

Com um tapa em seu ombro, que mais parecia outra brisa de vento, a limpadora começou a caminhar sem olhar para trás. A conversa tinha acabado e seu sonho prosseguiria o percurso já conhecido por ela. Oculta entre as pedras havia uma escada que percorria toda a montanha, devidamente posicionada para ser uma construção humana e aleatoriamente esculpida para ser obra do vento. Aparentava não ter fim, porém Rey a conhecia e sabia aonde o caminho de pedregulhos a levaria. Memorizara tudo, por mais que a única coisa que dependia dela no sonho fosse seguir em frente.

Sinuosamente o percurso contornava o monte. Após a terceira curva a largura da escada aumentava de tamanho, permitindo o crescimento de pequenos vegetais por entre as pedras. Além do musgo e da grama havia uma flor. Miúda e de aparência muito delicada, como se cada pétala azulada fosse feita do mais fino e brilhante material, tão pequena e indefesa que Rey sentia uma necessidade absurda de cuidar para que nada acontecesse.

Essa era outra parte confusa de seus sonhos, por experiência própria ela sabia que a flor não passava de uma ilusão e sabia o que aconteceria depois, mas mesmo assim os mesmos sentimentos eram despertados. Observou impotente as rajadas de vento começaram a balançar o caule e as pétalas, e uma a uma as rodelas azuis foram arrancadas com brutalidade. Era quase demais assistir, era como se a flor fosse algo a mais e sua destruição acarretasse uma dor profunda em seu peito.

Seguiu seu caminho depois da planta finalmente ser levada pelo vento. A segunda parada era a que mais lhe assustava, não pela escuridão em que se encontrava a face oeste da montanha, e sim pelo que ela trazia. De início não era possível enxergar muito além de um palmo de distância, e só quando o silencioso e triste boneco de madeira chegou à sua frente que o coração da menina se acalmou um pouco. Sempre a assustava, talvez mais pela face esculpida do boneco do que a chegada inesperada em si. A visão não era nada agradável, gelava sua espinha mais do que o frio da altitude e o vento maligno que a perseguia por toda aquela parte do sonho.  Com a mão estendida ele parecia clamar por apelo ou chamá-la, e só então ela percebeu as cordas que o prendiam e controlavam, e mais uma vez o vento surgiu e o levou também.

Subindo o mais rápido que podia para passar pelas últimas duas etapas, ela logo chegou ao seu primeiro destino. Diferente das visões realistas anteriores, aquelas não lhe causavam sentimentos tão ruins, e sim uma profunda tristeza que ela já conhecia de seus dias solitários em Jakku. A terceira etapa possuía uma grande boneca que abrigava quatro versões cada vez menores de si mesma. Eram bonitas e reluzentes com raios de Sol passando por elas e dando um ar mágico. Todavia o implacável vento sempre voltava para destruir suas visões, passando por ela com força, e a ventania levantou todas as bonecas do chão, fazendo-as rodopiaram em uma estranha dança ditada pelo zumbido feroz.

Enquanto uma a uma as bonecas caíam em direção ao abismo, a maior delas veio na direção de Rey com uma velocidade impressionante. Com esforço e rapidez ela conseguiu agarrar o objeto de madeira e o levou consigo sem saber bem o porquê, talvez pelo fato de que a boneca viera exatamente em sua direção.

Na última etapa havia um autômato inteiramente pintado de dourado, mas o tempo o tinha deixado gasto e sem brilho. Suas engrenagens devidamente alinhadas estavam completamente expostas, denotando que aquele era um modelo muito antigo. Suas feições lembravam as de um homem e eram tão suaves e acolhedoras quanto a boneca que levava consigo. Perto do abismo, o robô balançava em função da ventania, indo e voltando. Por fim, ele conseguiu se fixar, mas não antes de perder sua engrenagem central bem no meio do peito, tornando-se incompleto.

Deixando o robô e a estranha sensação de vazio que a seguia desde o patamar das bonecas, a menina finalmente chegou ao topo. Com o céu totalmente azulado cercado por finas nuvens que quase desapareciam, sua visão que estava mais clara com o Sol mais alto no céu. Por entre as pedras espalhadas pela grama estava um homem de costas para ela, observando o horizonte totalmente concentrado. Rey poderia ter ficado apreensiva com a visão um tanto sinistra do homem encapuzado próximo à borda, porém não era isso que sentia, e sim uma necessidade de chamá-lo.

— Ei! – clamou e, como sempre, ele nem pareceu escutar. Frustrada, ela tentou mais duas vezes sem obter respostas. Por fim, sem opções, a limpadora ficou parada, já que seus pés haviam criado raízes imaginárias que a deixavam fixa no chão.

— Você entenderá, Rey. Quando despertar você entenderá.

Seus olhos se abriram e tudo havia sumido como sempre. E mais uma vez o sonho estava errado, o despertar não trazia conhecimento nenhum e ela duvidava que um dia entendesse a natureza daquele sonho. É só um sonho, por que me importo? Parte dela dava tanta importância a ele pela verossimilhança que ele transparecia a outra parte, a realista e descrente que preferia ignorá-lo.

A única coisa que Rey insistia em crer era na volta de sua família. Como tinham prometido a Unkar Plutt quando a deixaram sob seus cuidados em Jakku, como aquela voz havia lhe prometido. Eles voltariam e, quando o dia chegasse, ela estaria em Jakku esperando como sempre fizera.

 A noite já havia chegado ao fim. Desde muito cedo a limpadora havia aprendido a tomar a Lua com aliada e o Sol como seu maior adversário no deserto. Vivendo catorze anos em Jakku, ela tinha um monte de lições aprendidas na prática, mas era vital não se esquecer da mais importante delas: viver um dia de cada vez e manter a esperança sempre viva.

 


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Notas finais do capítulo

Estou curiosa para saber a opinião de vocês quanto à fic, o capítulo, o design... Por favor, não esqueçam de deixar sua opinião, é muito importante para mim!Bem, espero que tenham gostado e até mais!



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