Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 5
Capítulo IV




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MAREY

Tac! Tac! Tac! Os pregos acertavam impiedosamente a madeira. Já era a segunda janela a ser quase completamente coberta, quando Marey entrou em seu quarto.

— O que diabos está acontecendo aqui? — seus olhos arregalaram-se de pavor.

No canto do cômodo estava a doce Cecil, acendendo algumas velas. A dama de companhia sempre tentava amenizar as situações com o que era possível ser feito por ela, por menor que fosse o ato. Com seu semblante sempre gentil, se aproximou e tocou-lhe o braço, entregando à Marey um carinho sutil intentando consolá-la.

— Foi sua mãe, princesa — disse, cheia de pesar na voz. — Ela ordenou que pregassem madeiras nas janelas.

Tac! Tac! Tac! Mesmo com as velas que Cecil acabara de acender, a escuridão possuía pouco a pouco o quarto.

Queriam lhe tirar a luz do Sol.

Em meio ao desespero que descompassava seu coração, não ouviu os passos se aproximando e quando percebeu, a Rainha Aldith já estava ao seu lado. Esguia e imponente, uma verdadeira majestade.

— Deixe-nos à sós — ordenou à criada, e com uma rápida reverência, Cecil obedeceu. Assim que a porta se fechou, sua mãe depositou sobre a cama um pacote cuidadosamente embrulhado. — É para você. Espero que seja de seu agrado.

Marey desatou a fita feita com cetim vermelho, o embrulho se abriu e descobriu dentro dele algo ainda mais belo. Um lindo vestido feito de seda azul. Passou delicadamente uma das mãos sobre o colete cravejado de turquesas, admirando-o.

Tac! Tac! Tac! As marteladas continuavam, lembrando-a de quão inútil parecia ganhar algo tão maravilhoso quanto aquilo era.

— Por que espera que me agrade se não haverá oportunidade de vesti-lo, minha mãe? — a voz estava embargada com as lágrimas que lutava para conter.

— Pode vesti-lo quando quiser, Marey, nunca ordenei que ficasse nua — a voz da rainha era cortante como chicote.

Tac! Tac! Tac! Sentia como se afundasse nas trevas ao lado de Rodeiky, era como se fosse soterrada ainda em vida, sendo punida por um pecado mesmo sem carregar nenhuma culpa.

— Não! — a raiva aquecia seu sangue e tornava seu pálido rosto rubro. — Apenas ordenou que eu nunca saia dessa parte do castelo, que não veja ninguém além de ti, meu pai e Cecil… Exiges que eu cubra o rosto até mesmo para falar com Vynnel, o Alto Juramentado do Rei! Me negas o direito de conhecer o meu reino e agora ordena também que eu seja privada da luz do dia!

— Não é da luz do dia que quero te privar, é dos curiosos, Marey! Aquele rapaz foi visto novamente nos arredores da torre. É por pouco tempo, querida — a mãe sorriu com uma animação quase débil. — Logo as reformas no subsolo ficarão prontas para lhe acomodar, lá há entrada de luz e…

— Você quer dizer que logo os calabouços ficarão prontos! — interrompeu a rainha, aos gritos. Perdeu o controle sobre as lágrimas e sentia o gosto salgado nos lábios. — Não cometi nenhum crime para me aprisionar assim. Não é justo!

— Quando quiser, experimente o vestido. Me avise se precisar de ajustes — Aldith se retirou do quarto, ignorando seu apelo.

Tac! Tac! Tac! As marteladas agora pareciam estar cada vez mais distantes.

— Não me tire também a luz do Sol! — implorou, enquanto mais uma madeira era pregada. — Não faça isso! Por favor! Não!!!

— Princesa! Princesa! — a dama de companhia a chamava quando abriu os olhos assustada. — Teve pesadelos novamente?

Sentou-se em um pulo, agarrando ferozmente os lençóis abaixo de si. Respirando com dificuldade e assimilando a realidade ao seu redor. Tudo bem, estou em meu quarto. Foi só um sonho…

— Sim — respondeu por fim, limpando os olhos enquanto o suor escorria pelo pescoço. — O mesmo pesadelo de sempre… abra as janelas — ordenou.

Conforme a luz invadia o quarto, tornava-se possível ver as marcas dos pregos recém removidos. O pai ordenou que tirassem as madeiras após a morte da mãe, mas ainda não havia tido tempo de trocar as janelas.

— Pegue o vestido azul em meu guarda-roupa, Cecil, quero experimentá-lo — decidiu de súbito.

Sem questionar, Cecil abriu uma das portas e retirou de lá o belo embrulho, ainda com a fita de cetim vermelha. Marey vestiu o último presente que recebeu da mãe e olhou-se no espelho. Estava belíssima. A seda cintilava sobre sua pele, a pedraria tinha um brilho único e o caimento era perfeito… se permitiu sorrir.

— Aquele rapaz… foi visto de novo? — perguntou com sutileza.

As batidas na porta interromperam o assunto antes que a dama de companhia pudesse lhe responder.

— O Rei manda chamar a Princesa com urgência. Vossa Majestade a aguarda na Sala do Trono — disse o mensageiro do lado de fora do quarto.

Olhou para Cecil com um misto de surpresa e excitação.

— Já estou indo, obrigada — respondeu ao servo. — Me ajude a tirar isto e me recompor, Cecil. Deve ser algo relacionado ao baile! — disse, tomada pelo entusiasmo.

As mãos da dama de companhia eram hábeis, em um instante Marey não só estava livre da seda azul, como já vestia um belo modelo de veludo púrpura.

— Irá vestir o azul na ocasião? — indagou Cecil enquanto a penteava.

— Penso que sim — Marey deu um meio sorriso, um pouco tristonho. — É uma forma de leva-la junto comigo… Mas agora vamos, quero que participe dos preparativos.

— Não acha melhor o guardarmos antes? — a dama acariciou a pomposa saia.

— E deixar meu pai esperando mais? — a princesa balançou negativamente a cabeça, fazendo a delicada coroa cintilar. — Até parece que não conhece seu Rei!

Saíram, deixando o vestido sobre a cama.


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