Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 4
Capítulo III




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GIUSEPPE

O Sol há pouco havia surgido do Leste, mas já brilhava com toda força sobre Hawktall, fazendo parecer que o dia há muito havia começado, ainda que a maioria do reino nem ao menos tivesse saído da cama àquela hora. Em dias como esse, Giuseppe sentia profunda inveja dos tritões que usufruíam do oceano ao lado de Prussiya.

Foi nesse clima demasiado quente que mais um dia de trabalho estava começando na grande feira. Sua barraca localizava-se ao lado da Torre da Lei, e nada poderia deixar Giuseppe mais grato naquele dia. A gigantesca construção não servia somente para demonstrar o poder que garantia aos seus administradores, mas também para proporcionar uma agradável sombra que amenizava o calor, permitindo que ele trabalhasse o dia todo sem ter que voltar para casa ensopado de suor.

— Me passe a lona! — gritava para um menino que o ajudava a montar a barraca, quando o irmão chegou.

Louis possuía a metade da idade de Giuseppe, a metade de seu tamanho e também a metade de seu coração… talvez mais. Nunca teve nada de grande valor na vida, mas sempre viu o irmão como seu maior tesouro. Possuíam uma relação verdadeiramente especial. Quando o pai adoeceu e a mãe tivera que trabalhar nos grandes casarões do reino para sustentar a família, Louis mal acabara de dar seus primeiros passos. Foi Giuseppe quem cuidou dele até conseguir a barraca, então a mãe pôde voltar a dedicar-se ao pai e ao pequeno garoto, mas seus laços já eram tão estreitos que com frequência Louis preferia passar o dia ajudando na feira do que em casa com os pais.

— O que diabos está fazendo aqui, Giuseppe? — a expressão de Louis era de incredulidade. Sua indignação era tamanha que até parecia maior com os braços cruzados, em uma postura que Giuseppe julgava ser uma tentativa falha de amedronta-lo.

— Trabalhando, oras. De onde acha que vem o pão que come toda manhã, irmãozinho? — respondeu Giuseppe. Normalmente ele daria boas gargalhadas do descontentamento do irmão, mas estava sem paciência para o diálogo que sabia que viria a seguir.

Desde que a maldita proclamação real fora lida em praça pública, a família não o deixava em paz. Estavam obstinados a convencê-lo a participar do torneio e pareciam não entender quando ele dizia “não”. Mesmo depois de ter repetido a palavra mais de trinta vezes.

— Você vai mesmo perder essa oportunidade? Julguei que fosse mais inteligente, irmão! — Louis sabia bem como cutucar a fera. Giuseppe respirava fundo e engolia várias ofensas vinda de todos os lados, mas jamais permitia que menosprezassem sua inteligência, seja lá quem fosse a fazê-lo. Isso já era demais.

— Fui inteligente ao aprender por mim mesmo um ofício. Fui inteligente ao servir de ajudante de toda a feira até conseguir dinheiro para nossa própria barraca e tirar disso não só o meu sustento, mas o seu também. E isso com uma inteligência que me permitiu fazer tudo praticamente com um braço só, enquanto te carregava no outro, pirralho. Quem pensas que é para falar assim comigo? — indagou Giuseppe, profundamente ofendido.

O arrependimento tomou conta de Louis instantaneamente. O menino nutria não só amor pelo irmão mais velho, mas também profundo respeito.

— Não quis deixá-lo zangado, irmão. Mas é que é mesmo uma oportunidade única. Queria eu poder participar em seu lugar… — Louis agora assumia o semblante tristonho.

— E quem disse que não pode, afinal? — afagou os belos cabelos castanhos. — A única exigência era ser solteiro, ninguém falou nada sobre idade.

— Deixe de besteira, Giuseppe! Ninguém deixaria a princesa se casar com um menino de dez anos. — era a vez de Louis se zangar.

Giuseppe soltou uma sonora gargalhada.

— Mas olhe só a petulância! Eu achei que fosse dizer que com tantos cavaleiros mais velhos, fortes e experientes, você seria derrotado. Mas, não! Te preocupa não poder desposar a princesa! — voltou a rir.

— Ninguém ganharia de mim — retrucou o garoto inflando o peito orgulhoso. — A não ser você. Você ganharia de qualquer um, irmão! Pode ao menos me dizer por que não quer tentar?

Era a primeira vez que alguém lhe perguntava suas razões, por isso decidiu explicar-se.

— Tenho medo de ganhar, irmãozinho. Ninguém nunca viu a princesa. E se… — abaixou o tom de voz até que virasse um sussurro. — ela tiver bigodes? — soltou outra gargalhada.

Louis agora estava por demais irritado, o nariz se avermelhou tanto que Giuseppe temeu que o pobre garoto fosse explodir.

— Ela não tem bigodes! Ela é uma princesa! Todas as princesas são lindas!!! — bradou, confiante de sua sabedoria.

— Oh! Perdoe-me. Desconhecia essa parte das regras — respondeu Giuseppe, tentando conter o riso. — Louis… Você sabe que nem ao menos está em jogo a mão da princesa, isso não passa de especulação do povo. O vencedor a acompanhará à uma festa, não ao altar — embora ele também achasse suspeito que o prêmio fosse uma pequena fortuna e um cargo no Conselho do Rei. Tudo parecia indicar que o intuito do torneio era garantir que o vencedor se tornasse um bom partido, mas não queria alimentar a imaginação do caçula. — E mesmo que fosse assim, não seria o que desejo.

Louis franziu o cenho, processando a declaração por um minuto, até chegar à conclusão de que a achava absurda.

— Não deseja uma princesa? Como alguém não desejaria uma princesa? — o que antes parecia impossível, aconteceu: o nariz do irmão atingiu uma nova tonalidade de vermelho.

— Quero me casar quando conquistar o coração da dama que despertar o meu amor, não com uma mão desconhecida que ganhei após algumas justas. A Fortaleza Negra é uma tentação, admito, mas quero o que nossos pais construíram, não grandes paredes escuras e uma coroa brilhante e dourada.

A conversa foi interrompida quando a senhora Annele parou ao lado deles, ofegante e com os olhos arregalados.

— O que houve, mulher? — Giuseppe perguntou, assustado. — Diga de uma vez!

— Precisa vir, meu menino. — a vizinha nunca havia deixado de tratá-lo como criança, mas hoje era com a verdadeira criança que ela se preocupava mais. Sem tirar os olhos do pequeno Louis, continuou: — É seu pai. Precisa vir comigo agora.


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