Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 10
Capítulo IX




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Giuseppe

Passou o dia completamente absorto dos assuntos presentes, tinha quase certeza que havia sido ríspido com uma senhora que reclamou sobre suas dores nas costas e quando ele sorriu, foi embora muito irritada, não sabendo qual a graça em suas queixas. De fato, não havia nenhuma graça, mas Giuseppe não fez por mal, apenas não conseguiu evitar o sorriso ao longo das horas. Ainda estava com seu gosto nos lábios, sua voz ao ouvido e, se fechasse os olhos, a veria em sua frente. Quase podia tocá-la... E finalmente, o fim do dia chegou.

Foi o primeiro da feira a desarmar a barraca e correr para casa. Se refrescou no poço nos fundos da pequena casa e se pôs o mais apresentável que pôde, vestindo uma camisa de crepe branca e uma calça de lã marrom. Pediu a mãe para usar o cavalo da casa, embora fosse o único meio de transporte da família, a saúde do pai parecia estável no momento, então ela permitiu sem mais ressalvas. Enquanto selava a montaria, notou que suas mãos suavam, parecia que toda sua confiança o abandonara, nunca havia se sentido tão inseguro. Não sabia o que dizer ou como se portar... “Prussiya, o que estou pensando? É uma princesa. E eu sou... Giuseppe. Só Giuseppe”, decidiu afastar os pensamentos negativos e apenas cavalgar.

Quando chegou ao Porto dos Juramentos, tudo ao seu redor já estava imerso na escuridão da noite, e só uma grande e bela Lua brilhava no céu estrelado. Desmontou, deixando o garanhão solto para que pudesse saciar a sede e foi procura-la, se dando conta de que ela não estava ali.

É claro que não viria, prometeu apenas para que eu saísse do quarto. Estava com medo, do contrário jamais retribuiria o beijo”, interrompeu o lamento ao ouvir o barulho de gravetos se quebrando no chão, talvez apenas tivesse chegado cedo demais. Ao olhar para trás, a viu e a euforia tomou conta de seu corpo.

Estava com o olhar distante, sabia que o procurava, mas não pôde chama-la, não ainda. Precisava contempla-la por um instante. O vermelho do vestido ressaltava seus longos cabelos caídos pelos ombros até encostarem levemente em seu colo, o luar fazia com que os fios brilhassem feito fogo. A pele pálida contrastava, fazendo-a parecer uma doce boneca de porcelana. Tinha vontade de toma-la nos braços e jamais soltar. O pensamento o fez sorrir e então ela virou o pescoço em sua direção, seus olhos se encontraram e ela também sorriu.

— Princesa — disse Giuseppe, dobrando o braço direito à altura da cintura e inclinando-se, em uma sutil reverência.

— Estranho — respondeu ela, segurando levemente as saias e abaixando-se, a fim de retribuir o cumprimento.

A princesa soltou um risinho diante do embaraço do rapaz.

— Permita que me apresente — ele se aproximou, segurando a mão dela na sua. — Meu nome é Giuseppe — fez com que os lábios tocassem suavemente os finos dedos da princesa.

— É um prazer conhece-lo, Giuseppe — o olhou de forma gentil. — Sou M-Marey. Princesa Marey.

A princesa puxou sua mão, se libertando da dele, e de repente parecia um pouco nervosa.

— Gostaria de pedir perdão por invadir seu quarto daquela forma, Princesa — Giuseppe se sentiu envergonhado pelo comportamento atrevido daquela manhã.

— Arrepende-se? — ela o olhou com cautela.

— A bem da verdade? Não — Giuseppe se permitiu sorrir. — Mas achei que seria apropriado desculpar-me.

— O que pretendia com essa invasão? — a princesa parecia desconfiada.

Giuseppe não sabia bem o que responder, os pensamentos que antecederam sua decisão de escalar a árvore foram confusos.

— Entrei no torneio por... — começou, gaguejando um pouco.

— Pelas honrarias da Coroa — ela o interrompeu.

— Na verdade, por meu pai. Mas precisava vê-la para decidir se minha motivação seria somente essa.

— E então? — a princesa tinha firmeza na voz, mas seus olhos a traíam. Estava tão insegura quanto ele.

— E então... a vi — uma estranha calmaria o atingiu, como se agora o que o levou a invadir a Torre da Princesa não mais importasse. — E se me pedisse para descrever o rosto de meu pai agora, não conseguiria. Somente sua imagem toma conta da minha mente desde então.

A princesa fitou o chão e deu um tímido sorriso, parecia tentar evitar que a visse corando. Tocou-lhe as maçãs do rosto em um carinho brando e se aproximou ainda mais.

— Dá última vez que chegou tão perto de mim, roubou-me um beijo — ela sussurrou, ainda fitando o chão.

— Estou prestes a fazê-lo novamente, lhe confesso — podia sentir sua respiração acelerar.

— Não é necessário — olhou-o nos olhos. — Eu o entrego a você dessa vez.

Mal podia acreditar que isso estava acontecendo, que ela estava ali recostada sobre seu peito, sentados sobre as rochas que beiravam o rio. Contou-lhe sobre sua vida, sobre a doença do pai e de como não queria competir no começo. Por um momento achou que ela sairia correndo ao saber de suas origens, mas não, ela não pareceu se importar. Falou pouco sobre a família e o castelo, mas Giuseppe não a julgava. Ouviu histórias sobre a rainha, como havia enlouquecido e mantido a filha aprisionada durantes quase duas décadas. Podia facilmente compreender a razão pela qual ela pouco tocava no assunto.

— Aquele é o seu cavalo? — apontou o garanhão malhado em marrom e branco, a crina trançada e o rabo esvoaçante, trotando livre à beira das águas.

— Sim... — Giuseppe fitou sua fiel montaria. — Aquele é Guardião.

— Por que não o amarrou? Ele parece ser bastante valioso.

— De fato é — confirmou. — Meu pai era marceneiro em sua juventude, foi ele quem construiu o altar da Grande Catedral de Prussiya, com a prata que recebeu, comprou Guardião quando ainda era um potro. O treino há muitos anos, princesa — respondeu-lhe, enquanto afagava seus cabelos. — Minha mãe costuma dizer que aprendi a cavalgar antes de caminhar. Uma antiga paixão. Logo, posso confiar nele. Ele não é apenas o cavalo da família, somos amigos!

Ela soltou uma sonora gargalhada: — Então já tem o parceiro perfeito para as competições!

— Ao menos o cavalo, sim — percebeu que ficava cabisbaixo, mas não conseguiu evitar.

— Te deixei triste, Giuseppe? O que disse de errado? — a princesa preocupou-se.

Giuseppe havia esquecido as preocupações ao longo do dia, com a ansiedade de vê-la. Mas agora todas o invadiram como uma sequência de golpes dados em seu estômago.

— Você não disse nada de errado, apenas estou preocupado em como custearei tudo que preciso para o torneio — de repente percebeu o quanto aquilo poderia soar oportunista de sua parte. — Mas não pense que estou lhe pedindo algo, eu darei um jeito.

— Oh! Não pensei... e também não poderia lhe dar nada — ela parecia se embaralhar nas palavras. — Digo, não que eu não queira, entende? Mas teria que contar ao meu pai, você sabe... o rei... a razão de querer ajudar um dos cavalheiros, e isso nos traria problemas, e...

— Tem toda razão — a tranquilizou. — Não precisa explicar-se, eu realmente não tinha intenção de falar sobre isso, queira me perdoar.

O relógio da praça começou a badalar... uma... duas... dez vezes. Indicando o quanto perderam a noção do tempo.

— Já é tão tarde! Preciso partir! — ela disse, já se levantando.

— Eu estive pensando... — Giuseppe começou a dizer, um pouco sem jeito. — Entendo que não queira falar disso, mas... sei que passou muito tempo sem sair para passeios ou algo assim. Pensei... pensei que talvez pudesse leva-la cavalgando até o castelo, as ruas estão vazias agora, é seguro. E você sentiria o vento em sua pele... é realmente uma das sensações que mais gosto na vida.

— Mais do que me beijar? — o provocou.

— Oh! Muito mais. Sem dúvidas — mentiu, provocando-a de volta.

Ela cruzou os braços e se virou, tentando parecer zangada. Giuseppe girou-a novamente pela cintura e a beijou mais uma vez.

— Sinto que não fui sincero... — disse, a boca encostando na dela enquanto falava. — Nada é melhor do que isso.

Chamou o garanhão e foram à galope para a Fortaleza dos Caillot.

A pegou no colo para ajudá-la a descer do cavalo.

— Talvez haja uma forma de lhe ajudar — ela disse de súbito. — Onde fica sua venda?

— Ao lado da Torre da Lei, mas o que pretende fazer? — a fitou, curioso.

— Amanhã verá. Boa noite! — e ficou na ponta dos pés para alcançar seu rosto, dando-lhe um suave beijo.


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