Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 11
Capítulo X




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Cateline

O silêncio tomava conta da escuridão, apenas o coaxar distante de alguns sapos podia ser ouvido, Giuseppe já devia estar longe o suficiente para que ela pudesse ir embora. “Estúpida! Mil vezes estúpida! Que ideia foi essa de aceitar ser trazida ao castelo na calada da noite?”, indagou a si mesma. Teria que voltar até o porto caminhando, pegar Amuleto nas ruínas da antiga ponte e só então ir para casa.

Tinha tudo planejado, havia cavalgado até o encontro um pouco mais cedo, escondeu a montaria nas ruínas, do outro lado do lago, e só então procurou o rapaz. Quando chegasse a hora de ir embora, o despistaria, cavalgando pela mata ao invés de pegar as estradas. Mas, não... Ele tinha tido a brilhante ideia de leva-la a cavalo para o castelo. “E você sentiria o vento em sua pele...”, ele disse. Teve vontade de gritar com ele por atrapalhar seus planos assim. “Sinto o vento na minha pele todos os dias, seu idiota! “, disse para ninguém além dela mesma, mas desejando ter dito para ele. Porém, no fundo sabia que, se ele aparecesse ali naquele instante, não conseguiria continuar zangada. “Por que tinha que ser tão belo?”, lembrou do seu sorriso gentil enfeitando o belo maxilar quadrado.

Estava ofegante, o vestido pesava sobre seus ombros, não era leve como as túnicas que costumava usar para andar por aí, na verdade, era tão pesado que por um instante agradeceu não ser parte da nobreza do reino. Quando finalmente alcançou o lago no lado oposto ao que encontrara Giuseppe, quase chegando às ruinas, sentiu o coração parar.

Na Taverna, gritando e rindo com alguns amigos e serviçais, estava Hudde. Se a visse ali, naquela hora e com aquelas roupas... não era nem capaz de pensar no que ele faria. Deu meia volta e se escondeu atrás de um grande salgueiro. Teria que espera-lo sair de lá, mas quando sairia? Se havia uma coisa que Hudde gostava, era de uma boa cerveja, logo, era impossível prever quando se levantaria e partiria para casa. Decidiu apreciar as estrelas enquanto esperava.

A claridade fazia com que seus olhos ardessem. “Quem diabos abriu as janelas?”, de repente, se deu conta de que não estava em seu quarto. Adormecera ali, deitada na grama, tendo a copa da grande árvore como abrigo. Não fazia ideia de que horas eram, mas devia ser bem cedo, ainda não havia ninguém perambulando pelas ruas. “Ao menos um pouco de sorte”, pensou.

Correu até as ruínas e soltou o cavalo.

— Sinto muito, Amuleto — disse, alisando sua crina. — Não pretendia demorar tanto.

Levou-o até o lago para que pudesse beber um pouco de água e então cavalgou o mais rápido que pôde de volta para casa.

Após se lavar e vestir um de seus vestidos simples, respirou fundo e foi pôr em prática a ideia que tivera na noite anterior. De início parecia brilhante, agora não tinha mais tanta certeza, mas precisava tentar. Sabia bem aonde ia, era o belo casarão branco ao fim do grande jardim, que ficava há poucas quadras da casa de Hudde. Atrás do casarão havia um labirinto verde, onde há anos atrás Hudde a tomara nos braços e lhe dera seu primeiro beijo. Ainda se lembrava de como a encurralara entre os muros de folhas, com seu riso faceiro a provoca-la. Cateline tentou resistir, mas sem sucesso, Hudde sabia bem como ser irresistível. Lembrar disso a deixou desconfortável, mas antes que pudesse pensar melhor no assunto, o jardineiro estava lhe falando no portão.

— Quem é você e o que quer? — indagou o velho homem, sem muita paciência.

— Preciso falar com Kazimir — ela usou um tom de voz gentil. — Meu nome é Cateline, mas talvez ele não saiba disso, diga apenas que...

— Se o senhor não a conhece, apenas dê o fora daqui — interrompeu-a com péssimo humor.

— Perdão. Mas devo insistir — disse com a maior calma que conseguiu manter. — É realmente importante o assunto que me traz aqui.

O homem segurou a pá que trazia com ambas as mãos, e por um instante Cateline podia apostar que a usaria para expulsa-la dali. Até mesmo os empregados dos grandes senhores do reino se achavam superiores a pessoas como ela. Sentiu uma profunda amargura deixar seu gosto em sua boca.

— Deixe-a entrar — Kazimir surgiu de súbito atrás do homem.

— O senhor a conhece? — o jardineiro parecia realmente surpreso.

— Eu disse que o conhecia! — Cateline protestou, já sem conter os nervos.

— Ela disse que me conhecia, não? Vamos, abra o portão, homem — Kazimir a recebeu já com um pedido de desculpas pela falta de modos do criado.

Ao caminharem em direção à casa, e já há alguns metros do jardineiro, Cateline perguntou: — Afinal, qual o problema dele?

— Deve ter acordado de mau humor — respondeu o menino. Abaixando a cabeça, continuou — Acho que se surpreendeu por uma moça me procurar. Você sabe, eles dizem algumas coisas sobre mim por aí...

— Na verdade, não sei — Cateline mentiu, não desejava constrange-lo. — E também não me interesso por fofocas.

Kazimir sorriu, abrindo a porta e indicando o caminho para que ela entrasse.

— Gostaria de um chá... perdão, qual é mesmo seu nome?

— Cateline.

— Muito prazer, Cateline — estendeu-lhe a mão. — Gostaria de um chá? — perguntou, enquanto a cumprimentava gentilmente.

— Seria ótimo — Cateline aceitou com um sorriso.

— Sente-se, vou pedir para nos trazerem....

— Na verdade, seria melhor que falássemos à sós — sugeriu.

— Certo. Eu mesmo pegarei, um minuto — ele parecia um rapaz doce, não conseguia entender o motivo de Hudde trata-lo tão mal, às vezes.

Sentou-se e observou ao seu redor. Uma bela sala, móveis em madeira escura contrastando com almofadas brancas e vermelhas. Na parede, uma bela moldura. Um senhor de aparência imponente, cabelo grisalho, com uma barba espessa e olhos de um azul profundo, ao lado dele havia uma bela mulher com um sorriso encantador, olhos castanhos e uma bela trança repousada sobre seu ombro direito, em seus braços segurava um bebê que, assim como ela, tinha cabelos muito negros, mas os mesmos olhos azuis do senhor.

— Sou eu, papai e mamãe — disse Kazimir, colocando as xícaras de chá sobre a pequena mesa de centro.

— Você se parece muito com ela, exceto pelos olhos. Esses são do seu pai — comentou Cateline. — Não me lembro de já tê-la visto, embora conheça de vista o seu pai.

— Ela morreu há muito tempo, quando eu ainda tinha três anos — os olhos dele lacrimejaram. — O navio naufragou em umas de nossas viagens.

— Sinto muito — Cateline nunca sabia o que dizer nessas ocasiões.

— Tudo bem, não se preocupe — ele sorveu um gole de chá. — O que a traz aqui?

Cateline respirou fundo, juntando toda a coragem que havia dentro de si para entrar no assunto.

— Lembro-me que da última vez que nos encontramos, você comentou ter certa dívida comigo — começou, um pouco embaraçada.

— E você veio cobrar, como disse que faria. Receio que tenha que falar com meu pai antes, qual a quantia...

— Não quero seu dinheiro — o interrompeu. — Olhe, Kazimir, eu falei aquilo da boca para fora, não pretendia cobrar. Mas algumas coisas aconteceram e agora realmente preciso da sua ajuda.

— Se não é dinheiro, como posso ajuda-la? — o jovenzinho parecia confuso.

— Há um vendedor na feira, o nome dele é Giuseppe. Ele irá disputar o torneio e precisa de alguém que o ajude a conseguir uma boa armadura, espada, e essas coisas todas que ele precisará — o menino a olhava com muita atenção. — Ele é bom com cavalos e espadas, poderá ensinar você, em troca você só precisa...

— Está ficando louca? — Kazimir a fitava com os olhos arregalados. — Hudde me ensina! Se eu procurar outro mestre de armas, ele me mata!

Cateline não esperava aquela reação, mas era completamente compreensível que o menino estivesse assustado. Hudde realmente se empenhava na função de aterroriza-lo.

— Se eu não tivesse aparecido na última aula de vocês, ele teria mesmo te matado — ela respondeu. — Sei que é difícil ouvir isso, mas... Hudde não suporta você. Ele acha que você o faz perder tempo e só aceitou ensiná-lo pelos incansáveis pedidos de seu pai. Giuseppe é mais paciente e gentil, não baterá em você cada vez que segurar sua espada de forma errada, ou gritará contigo quando golpear o ar.

Kazimir se permitiu relaxar um pouco.

— Não sei se meu pai permitiria...— ponderou.

— Seu pai se preocupa com você, certo? — Cateline quis saber, e ele assentiu. Ela então continuou — Diga-lhe que não consegue acompanhar o ritmo de Hudde, que se sente envergonhado e gostaria de ter aulas com outra pessoa que seja mais... calma. Seu pai conhece Hudde, certamente entenderá.

Kazimir deu alguns goles em seu chá, pensativo. Cateline manteve silêncio para não atrapalha-lo. Quando ela estava quase esvaziando sua xícara, ele disse:

— Certo. Aonde posso encontrar esse tal de Giuseppe?

— Te explicarei aonde ir e o que falar. Mas antes, precisa me prometer uma coisa — ele a fitou com certa desconfiança. — Terá de prometer que nunca falará que o mandei até lá ou quem eu sou.

Ele fitou a mesa de centro, pousando sua xícara vazia ao lado da dela. Quando voltou a olha-la, disse: — Tudo bem... eu prometo.


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